terça-feira, 2 de abril de 2013

CRISTO E REVELAÇÃO COMPLETA


Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles Hebreus 1:1-4.


T. Austin-Sparks disse: “
Não sei o que você procura agora, o que você está esperando, pelo que você está orando, mas Deus já tem dado tudo aquilo pelo qual você sempre orou ou pediu com relação a Ele. É presente, é agora. Ele não tem mais revelação a dar, apenas Aquele que Ele já deu. Revelação, agora e a partir de agora, não é uma nova verdade, mas apenas a luz sobre a Verdade”.
Tudo o que Deus tem para nós está em Cristo. Ele é a linguagem pronta e final de toda a sua revelação. A Trindade falou muitas vezes e de muitas maneiras, apontando para a realidade suprema do seu supremo propósito. Mas, hoje, nós temos na pessoa de Cristo, apresentado nas Escrituras, o discurso correto e completo e o sotaque perfeito de toda a comunicação divina à humanidade. Cristo é o herdeiro de todas as coisas e por meio dele nós somos feitos filhos de Deus e seus co-herdeiros. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Romanos 8:17. Se tivermos a Cristo como o herdeiro de todas as coisas, teremos, conseqüentemente, a herança de tudo. Mas é bom não esquecer que essa co-herança vem sempre acompanhada de sofrimentos. Na manifestação atual do evangelho não há glorificação sem tribula­ção. Como percebeu Joseph De Maistre ao dizer: “Creio no fundo da minha alma e sinto em minha consciência que, se o homem pudesse viver neste mundo isento de todo sofrimento, acabaria por se embrutecer”. E Sto. Agostinho também entendeu as­sim, “Deus teve apenas um filho sem pecado, mas nenhum sem sofrimento”, e o mundo tem progredido através daqueles que levam as marcas da dor. Alguém disse que “se seu cristianismo é confortável, está comprometido. Não existe cristianismo fácil. Se é fácil, não é cristianismo. Se é cristianismo, não é fácil”. Cristianismo é Cristo vivendo em nós, mas ele também disse que o seu fardo não era pesado. De fato, não é pesado, todavia, não é fácil. A vida de Cristo em nós exige renúncia e cruz. O cristianismo não é simplesmente um programa de conduta, mas o poder de uma vida que nasce da morte. O cristianismo é Cristo vivendo no cristão. Ele não é uma apólice de seguro para nos conduzir ao céu, mas a própria vida de Cristo nos assegurando pela graça uma eterna aceitação. Tudo o que Deus tem para nós é Cristo. E nele nós temos tudo o que necessitamos para a nossa vida espiritual em aceitação plena. O Pai não tem nenhuma revelação maior do que Cristo. A fé cristã não é um sistema de doutrina que deve ser estudado e compreendido, mas a manifestação sublime da suficiência de Cristo para a deficiência do ser humano. O cristianismo é o poder da vida de Cristo no espírito do crente, conduzido pelos efeitos da cruz. Sem a morte do velho homem juntamente com Cristo não há possibilidade da vida de Cristo se exprimir através do nosso espírito. Não é uma questão de conhecimento acadêmico, mas de experiência de fé. Não eu, mas Cristo é a única dimensão de Deus que o mundo pode conhecer através da igreja.
Cristo é o criador do universo. Esta é a outra grande riqueza do texto que estamos examinando. O herdeiro de tudo é o criador de tudo. Se tivermos o her­deiro como a nossa herança, teremos o criador do universo como o nosso bem su­premo. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus. 1Coríntios 3:21-23.
Aquele que recebeu a Cristo como o seu Salvador e Senhor, recebeu o herdeiro de todas as coisas como a sua herança e o criador da criatura como o seu patrimônio eterno. O Pai não tem mais nada a nos dar, uma vez que ele já nos deu todas as coisas no criador de tudo. Quem tem o Filho de Deus, o criador de tudo e herdeiro de todas as coisas, tem a herança de tudo e a propriedade de todo o universo a seu dispor. Cristo é tudo e em todos os que crêem. Isto é muito mais do que palavras. Isto é o Testamento da verdade. Quem tem Cristo tem o suprimento de todas as suas necessidades. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Joao 15:16.
Tudo isto é possível porque ele é o resplendor da glória divina e a perfeita imagem do ser eterno. Jesus Cristo é Deus na dimensão humana. Ele é totalmente Deus como se não fosse homem e completamente homem como se não fosse Deus. Nesta estatura humana e divina se constituiu o suporte de todas as coisas terrenas e sustentador de todas as coisas eternas, pelo poder da sua palavra imutável.
Como dizia C. H. Spurgeon, “o grande criador da vontade está vivo para levar a efeito suas próprias intenções”. Cristo é o executivo competente de todas as suas requisições, por isso suas realizações ultrapassam até mesmo as suas promessas. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! Efésios 3:20-21.
O herdeiro de todas as coisas, o criador do universo, o Deus-Homem sustentador de tudo pela palavra do seu poder é também o purificador dos pecados num só ato de misericórdia. “Tomando o lugar do pecador na cruz, Jesus tornou-se tão inteiramente responsável pelo pecado como se fosse totalmente culpado por ele”, e ao incluir o condenado em sua morte, fez com que o réu fosse justificado de tal forma, que nenhuma sentença poderá condená-lo. A obra da purificação dos pecados e justificação dos pecadores é tão extra-ordinária que Jesus acabou por assentar-se no seu trono de glória. Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu não o homem. Hebreus 8:1-2.
O escritor desta carta diz que o fundamental de tudo o que ele vem descrevendo até aqui é que temos um sumo sacerdote assentado. Isto significa que a obra deste sumo sacerdote está concluída e que não há mais nada a ser feito. O vocábulo Τετέλεσται (tetélestai) da língua grega, isto é, o brado final e conclusivo do Calvário, “está consumado”, fecha para sempre a possibilidade de qualquer apelação. Jesus Cristo, na sua pessoa e em sua obra, expressa tudo o que necessitamos para a nossa plena salvação, santificação e glorificação, tanto agora como na eternidade. Como bem disse T. S. Eliot, “Cristo é o ponto fixo de um universo instável”. A maré vai e vem, mas a rocha permanece estável. Por isso, o que precisamos não é de mais informações ou inovações, mas de maior revelação e intimidade com a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
A crise da igreja atual não é tanto falta do saber teológico como o colapso do relacionamento particular e íntimo com a pessoa viva de Jesus Cristo. Hoje se lê muito sobre ele, mas fica-se pouco tempo com ele. Lutero dizia que “uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno”.
A comunhão com Cristo é o principio do céu na terra e a resposta para os anseios de nossa alma. Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terrra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Salmos 63:1 e 73:25-26.
 
 
Soli Deo Glória.

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