segunda-feira, 15 de abril de 2013

SÉRIE TRINDADE


Introdução


A doutrina da Trindade é uma das mais importantes doutrinas do cristianismo ortodoxo. Percebe-se, entretanto, que, pelo menos no contexto brasileiro, essa doutrina é tida em pouca consideração. A razão disso talvez seja o pragmatismo que a religião brasileira tem como base. As pessoas só se interessam por aquilo que entendem que pode ser útil para sua vida. Elas querem coisas práticas e estão enjoadas de teoria. Esse é justamente o motivo pelo qual não gostam de estudar teologia. Teologia sugere algo teórico, e as pessoas dizem que estão mais interessadas em “experiências” com Deus, e na prática demonstram que desejam “soluções” de Deus para seus problemas.

Não é o caso de que os cristãos não acreditem na veracidade da doutrina da Trindade, apenas, de forma geral, as pessoas não sabem para que ela serve. É aquela velha história de que para que algo seja importante, precisa “falar ao coração”. Talvez, para a maioria, pouco importa se Deus é um ou três.

Entretanto, esquecer-se ou descaracterizar a doutrina da Trindade é perder muito do que a Bíblia e especialmente Deus tem a nos dizer no real sentido da palavra. É perder de vista a coisa mais essencial de Deus que podemos saber. Na verdade, é ignorar a própria essência de Deus. Poucas pessoas pensam na Trindade hoje em dia, e quando pensam, não seria absurdo dizer que em muitos casos imaginam três deuses. Esse importante assunto precisa ser melhor estudado.

Num certo sentido, a doutrina da Trindade é de fato a mais misteriosa e também a mais difícil de todas as doutrinas bíblicas, porém, como afirma Lloyd-Jones:

“Ela é, em certo sentido, a mais excelsa e a mais gloriosa de todas as doutrinas, a coisa mais espantosa e estonteante que aprouve a Deus revelar-nos sobre Si mesmo” [1]

Ou como afirma Bavinck:

“O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a marca registrada de nossa religião, e o prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente crêem em Cristo. Essa confissão foi a âncora na guerra de tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã” [2]

Deus quis mostrar aos seus filhos esse detalhe tão impressionante de sua essência. Queremos demonstrar que a doutrina da Trindade não é apenas um conceito teórico ou desinteressante, mas um elemento essencial para a espiritualidade.
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terça-feira, 9 de abril de 2013

SABER, CRER E OFERECER

Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Isaías 43:10.
O capítulo seis de Romanos revela três condições básicas para se viver uma vida cristã significativa. A primeira condição é saber. Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos. Romanos 6:6. O verbo saber no grego expressa a idéia de um conhecimento experimental e não apenas saber algo a respeito da verdade, nem compreender alguma doutrina importante, tampouco um conhecimento intelectual. Na vida de Jó temos estes dois tipos de conhecimento bem exemplificados. Ele conhecia Deus apenas de ouvir e, provavelmente, tinha muitas idéias acerca do Senhor. A revelação de Deus trouxe à tona a verdadeira natureza de Jó, o que o levou a uma experiência verdadeira. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. Jó 42:5-6. Jesus fala a respeito de uma adoração sem conhecimento.Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. João 4:22. Em Atenas, o apóstolo Paulo lançou mão de uma inscrição, ao deus desconhecido, para apresentar o Deus verdadeiro. Apesar de toda a religiosidade dos atenienses, estes eram, na realidade, completamente supersticiosos.. Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. Atos 17:23.

O fato de saber que foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, pressupõe a revelação de Deus pelo Seu Espírito no nosso coração. Quando Hudson Taylor, o fundador da Missão para o Interior da China, entrou na vida cristã, foi da seguinte forma. Ele fala do problema que estava sentindo: o de saber como viver "em Cristo", como derivar da Videira a seiva para si próprio. Sabia perfeitamente que devia ter a vida de Cristo emanando através de si mesmo, e, contudo, sentia que não o tinha conseguido. Via claramente que as suas necessidades deviam ser satisfeitas em Cristo. "Eu sabia"- dizia ele, escrevendo à sua irmã, de Chinkiang, em 1869 – "que se eu apenas pudesse permanecer em Cristo tudo iria bem. Mas, eu não conseguia". Quanto mais procurava entrar em Cristo, tanto mais me achava como que deslizando, por assim dizer, até que um dia a luz brilhou, a revelação veio e ele entendeu tudo. "Sinto que está aqui o segredo: não em perguntar como vou conseguir tirar a seiva da videira para colocá-la em mim mesmo, mas em me recordar que Jesus é a Videira – a raiz, a cepa, as varas, os renovos, as folhas, a flor, o fruto, tudo, na verdade". Depois, ao dirigir-se a um amigo que o tinha auxiliado: "Não preciso fazer de mim mesmo uma vara. Sou parte dEle e apenas preciso crer nisso e agir de conformidade. Já há muito, tinha visto esta verdade na Bíblia, mas agora creio nela como realidade viva". Foi como se alguma verdade que sempre existiu se tornasse verdadeira para ele pessoalmente, sob uma nova forma. Outra vez escreve à irmã: "Não sei até que ponto serei capaz de me tornar inteligível a este respeito, pois que não há nada novo ou estranho ou maravilhoso – e, todavia, tudo é novo! Numa palavra, "Eu era cego, e agora vejo". Estou morto e crucificado com Cristo – sim, e ressurreto também e assentado... Deus me reconhece assim, e me diz que é assim que me considera. Ele é Quem sabe... Oh, a alegria de ver esta verdade! Oro, com todas as forças do meu ser, para que os olhos do teu entendimento possam ser iluminados, para que vejas as riquezas que livremente nos foram dadas em Cristo, e que te regozijes nelas". (Do livro de Watchman Nee: Vida Cristã Normal.)

Em Oséias, Deus fala do sofrimento de seu povo por uma única razão: falta de conhecimento da verdade. O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.Oséias 4:6.

O primeiro passo na caminhada da vida cristã é saber que o nosso velho homem foi crucificado. O que se segue de forma natural é o considerar, ou crer que significa descansar ou apoiar-se. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Romanos 6:11. Temos aqui dois fatos significativos: o primeiro revela que estamos mortos para o pecado. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo; o segundo fato é que estamos vivos para Deus em Cristo. Cremos que morremos e ressuscitamos. A fé que tem como ponto de apoio a palavra de Deus está segura. Fé + Palavra de Deus = experiência. Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram. Hebreus 4:2. O que é fé? É a nossa aceitação das verdades divinas. O Senhor Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4:3-4. Jesus poderia transformar pedras em pães? Sim. Por que ele não fez? Porque a prova de sua filiação estava na declaração feita por Deus, e não por uma demonstração externa. Como foi então que o homem Cristo Jesus venceu Satanás no deserto? Simplesmente pela palavra de Deus. Não foi pela demonstração de poder divino. O Senhor Jesus não discute com o tentador. Não apela para quaisquer fatos. Não diz, "Eu sei", "Eu sinto"; mas recorre simplesmente à palavra de Deus escrita. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Mateus 3:17. Não precisamos de um milagre ou de um feito grandioso para provarmos que somos filhos de Deus. A palavra de Deus nos basta, com as suas gloriosas e comovedoras garantias, e isto não tem nada a ver com o fato de freqüentarmos uma determinada igreja ou sermos batizados, ou mesmo, termos um bom comportamento. Não, é porque está escrito. Morremos e ressuscitamos em Cristo, quer sintamos ou não. Sabemos que morremos com Cristo, e pela fé com base na palavra de Deus, consideramos este fato como nossa experiência. O que se segue é uma entrega total. Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Romanos 6:13. Oferecer a Deus tudo o que temos e somos. Isto significa sair do controle e descansar inteiramente nos braços daquele que pode todas as coisas. Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele; nisto procedeste loucamente; por isso, desde agora, haverá guerras contra ti. 2Crônicas 16:9. Uma senhora crente, que tinha este mesmo sentimento, estava expressando a uma amiga o quão impossível lhe era dizer: "Seja feita tua vontade", e quão temerosa ficaria se tivesse que fazê-la. Ela era mãe de um único filhinho, herdeiro de grande fortuna, e o ídolo de seu coração. Depois de ter falado de todas as suas dificuldades, sua amiga disse: "Suponhamos que seu pequenino Charley, amanhã, viesse correndo para a senhora e dissesse: "Mamãe, eu resolvi permitir que, de agora por diante, a senhora realize em mim os seus propósitos. Estou disposto a obedecê-la sempre, e desejo que a senhora faça comigo exatamente o que a senhora julga ser o melhor. Eu confiarei no seu amor". Qual seria seu sentimento para com ele? Porventura haveria de dizer para si mesma: ‘Ah, agora eu terei oportunidade de fazer de Charley um miserável. Eu lhe privarei de todos os prazeres, preencherei sua vida de tudo quanto é penoso e desagradável. Obrigá-lo-ei a fazer exatamente as coisas que lhe serão mais difíceis, e lhe darei todas as sortes de ordens, as mais impossíveis’. "Oh, não, não, não!" exclamou a mãe cheia de indignação. "Você sabe que eu não faria tal coisa. Você sabe que eu o apertaria de encontro ao peito e o cobriria de beijos, e me apressaria a encher a sua vida das coisas mais doces e melhores"(Hanna W. Smith, do seu livro, O Segredo de uma Vida Feliz). Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus Romanos 12:1-2. Saber, crer, e se oferecer são passos significativos para a caminhada na vida cristã.
 
Soli Deo Glória.
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

FATOS DOS QUAIS PRECISAMOS SABER

Iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos. Efésios 1:18.



O pensamento que envolve o verbo saber, em grego, é de natureza experimental. Não é um conhecimento de natureza hipotética, mas de uma convicção real e experimental. Não é um assentimento mental, ou simplesmente um conhecimento teórico, mas sim uma realidade viva. Os fatos que precisamos saber são de grande importância para que Deus cumpra o Seu propósito na vida dos Seus.
O primeiro fato: Sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. 2 Pedro 1:20-21. Está aqui um terreno seguro para cada filho de Deus: que nenhuma profecia ou palavra revelada foi de particular interpretação ou de imaginação humana, mas fruto da revelação de Deus. Centenas de predições referentes a Israel, como a vinda do nosso Senhor e tantas outras, se cumpriram de forma tão detalhada e definida que nenhum mortal poderia tê-las antecipado.
A Palavra de Deus é como uma lâmpada que brilha sobre o nosso caminho de modo que não fiquemos confundidos. O nascido de novo sabe para onde está indo e, à medida que caminha, algo acontece em sua vida, o amanhã começa a aparecer. Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração. 2 Pedro 1:19. Cristo é a estrela da alva que já habita em nossos corações, embora tudo em nossa volta evidencie que ainda estamos no meio da noite. No nosso coração, o dia já começou a nascer e a estrela da alva já apareceu.
O segundo fato: Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado. Gálatas 2:16. A origem imediata do verdadeiro Evangelho anunciado por Paulo aos gentios era da total impossibilidade de se juntar a lei com a graça, de se ligar, num mesmo feixe, a religião da carne, com suas ordenanças, com a liberdade do Espírito que nos foi dada em Cristo. A nossa justificação, portanto, a qual obtemos, não é pelas obras mas sim pela fé, oferecida graciosamente por Deus. E é suficiente para comunicar paz às mentes humanas e estabelecer sua eterna salvação.
Os gálatas tinham perdido de vista que Cristo Se deu a Si mesmo por nossos pecados a fim de nos livrar do presente século mau. A justiça que o homem queria cumprir na carne é dirigida segundo os seus padrões. Cristo, pelo contrário, nos viu como pecadores, injustos, e sem esperança. Por isso, Ele Si deu por nós, para que Nele fôssemos feitos justos. Essa justificação é segundo a Sua graça. O propósito de Deus é adquirir para si um povo resgatado, em harmonia com essa graça, e, nos fazer andar na liberdade e na santidade que Ele nos deu em Seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo.Tudo o que há para nós está em Cristo.
A justificação do homem é pela fé em Cristo. Fé significa tomar a Palavra de Deus e simplesmente crer no que Ele diz. O homem passa a possuir uma justiça divina através da instrumentalidade da fé. A fé não é uma obra meritória; é simplesmente a mão que se apodera dos méritos de outro. Paulo relaciona diretamente a justiça de Deus com a obra redentora de Cristo. A glória do evangelho é que a justiça de Deus, em Cristo, se estende para todo aquele que crer.
O terceiro fato: Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos. Romanos 6:6. A expressão "velho homem" aparece em outras passagens e significa tudo aquilo que estava em Adão, tanto moral como judicialmente, ou seja, refere-se ao homem antigo, à natureza corrupta e humana, a tendência inata para o mal de todos os homens. A compreensão desta revelação deve nos levar a considerar que "o nosso velho homem foi crucificado". Isto significa que o velho homem não vive mais, pois o mesmo foi crucificado com Cristo. O nascido de novo é um novo homem, uma nova criação. Ele é necessariamente o objeto de uma renovação progressiva. Aqui, o apóstolo Paulo está falando de uma crucificação como um ato completo, e não de um processo contínuo.
O ensino do apóstolo Paulo é que, em virtude da união do crente com Cristo, o crente possui a posição inalienável de ser um homem que foi santificado por um ato definitivo. É este ato que provê a base para sua crescente conformidade com Cristo, como também dá a garantia de sua completa glorificação. Todos os que morreram em Cristo ressuscitaram com Cristo. Este ressuscitar com Cristo é uma ressurreição para novidade de vida, à semelhança da ressurreição de Cristo. Morrer com Cristo é, portanto, morrer para o pecado e ressuscitar com Ele para uma nova vida.
A morte do velho homem e a nossa nova vida em Cristo é provada pelo fato de que a identidade com Ele, na semelhança da Sua morte, é necessariamente seguida pela identidade com Ele na semelhança da Sua ressurreição. Esta certeza é baseada no caráter definitivo da ressurreição, que é a garantia de que os salvos continuamente participarão da vida ressurreta de Cristo. Cristo Se tornou sujeito à punição do pecado; entretanto, na Sua morte, o preço foi pago, quebrando para sempre o senhorio da morte sobre os seus filhos. Assim, Sua ressurreição é o penhor de que esta vitória sobre o pecado é uma realidade na vida daquele que está em Cristo.
Deus, em Sua infinita graça, nos trouxe à vida por meio da ressurreição de nosso Senhor Jesus, por meio da palavra viva, a palavra de Deus que permanece em nós. Ser nascido de novo é ser participante de um grande milagre da parte de Deus; nós não merecíamos, mas Deus, ainda assim, teve misericórdia de cada um de nós. Ele nos trouxe à vida. Somos nascidos do alto. Ele nos purificou e nos concedeu Sua própria vida. Agora, somos da família de Deus.
O quarto fato: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Romanos 8:28-30. Este versículo é o ponto culminante do capítulo. "Sabemos", novamente, não é uma linguagem no campo da hipótese, mas da certeza experimental. Esta passagem não inclui os incrédulos, mas "aqueles que amam a Deus". São apenas os filhos de Deus que recebem esta promessa.
Sendo que todas as coisas cooperam juntamente para o bem, não há nada dentro da totalidade do ser que não seja, de uma forma ou de outra, vantajosa para os filhos de Deus. Todas as coisas, quer favoráveis, quer adversas, todas as ocorrências, acontecimentos – todas as coisas, quaisquer que sejam – cooperam para o seu bem. Elas não o fazem por si mesmas: é Deus que opera todas as coisas para o bem de Seus filhos. As aflições dos nascidos de novo, de um modo especial, contribuem para este fim. Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua palavra. Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos. Salmos 67- 71.

O fato de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, é prova da doutrina da perseverança dos santos. Não importa o que seja, os filhos de Deus estão nas mãos Daquele que traz luz onde há trevas. E este poder de transformar a luz em trevas é obra de Deus, e não nossa. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos. Lucas 22:31-32.

Devemos guardar em nossas corações que tudo quanto nos sobrevém é controlado por Deus, que o resultado final revela que aquilo que o mundo tem como nocivo, para os santos, é benção. Aqueles que, desta forma, amam a Deus são "os chamados", não segundo os méritos humanos, mas de acordo com a propósito divino. Paulo descreve uma cadeia inquebrável de acontecimentos procedentes do propósito eterno de Deus em Sua presciência para a glorificação do Seu povo. Por isso, todas as coisas contribuem para que este propósito se cumpra, e o propósito de Deus é que sejamos conformes à imagem de Seu Filho.
Deus nos salvou com um destino: a conformidade à imagem de seu Redentor, é nada menos que sua conformidade à imagem do Filho eterno de Deus. Portanto, uma verdadeira compreensão deve tomar conta de nossas mentes: Deus está reunindo todas as coisas, quer boas ou ruins, para que este propósito seja realizado. Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata. Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas; fizeste que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso. Salmos 66:10-12.

"Iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes". A oração do apóstolo Paulo é para que os santos tenham olhos abertos para compreenderem ou saberem a esperança da chamada de Deus, e, não somente isto, mas também saberem qual é a glória da Sua herança nos santos. Deus nos chamou para estarmos diante Dele, e, como filhos, participarmos da glória manifestada em Jesus. A chamada é de harmonia com o próprio Deus; com a plenitude da Sua graça. Nós somos a herança de Deus, e, nessa herança, encontra-se um tesouro, o nosso Senhor Jesus Cristo. A nosso oração é para que Deus abra os olhos do nosso coração para contemplarmos a beleza do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
 
 
Soli Deo Glória.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

A ETERNA SEGURANÇA NÃO ASSEGURA A INÉRCIA




As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão.
João 10:27-28.

Embora os cristão não estejam protegidos de cair, eles estão assegurados eternamente de não se perderem. Não é possível sustentar biblicamente a perda da salvação de modo coerente. Há certos textos que deixam abertura para uma interpretação com este teor. Mas, examinando-se com cuidado, percebe-se que a apostasia sempre está ligada a uma pseudo experiência de salvação. A aparência sempre traz muita confusão. Muita gente que está na igreja e que tem vida piedosa pode ser apenas uma ilusão. Não se pode julgar uma árvore pelas folhas. Jesus condenou a figueira porque dava aparência de ter frutos quando só tinha folhas. A figueira quando está enfolhada é porque é tempo de frutificação. O julgamento no cristianismo é baseado nos frutos. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Mateus 7:20. Como dizia Samuel Rutherford: A semente de Deus chegará a sua co-lheita, e Spurgeon acrescentava: As árvores do Senhor são perenes. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de com-pletá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Filipenses 1:6.

A salvação de Deus é eterna. Por definição, eterno não tem fim. Se é eterna a salvação, logo não pode se perder aquele que é salvo com a salvação de Deus. Deus promete ao seu povo uma salvação garantida. Israel, porém, será salvo pelo Senhor com salvação eterna; não sereis envergonhados, nem confundidos em toda a eternidade. Isaías 45:17. Nenhum dos soldados de Cristo se perde, é esquecidos ou deixado morto no campo de batalha, afirmava J. C. Ryle. Pode ser que num momento de disciplina, durante algum tempo, Deus se torne distante de seus filhos, mas nunca deserta seus filhos. Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torno a acolher-te; num ímpeto de indignação, escondi de ti a minha face por um momento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teu Redentor. Isaías 54:7-8. Alguém já disse que: Em nosso primeiro paraíso, o Éden, havia um caminho de saída, mas não havia forma de entrar de novo. Entretanto, quanto ao reino de Deus, há um caminho de entrada, mas não há forma de sair de novo. Uma pessoa verdadeiramente salva jamais poderá desfazer a sua salvação. É impossível alguém que nasceu, "desnascer." Do mesmo modo fica irrealizável o desmontar da salvação. Uma vez nascido de novo é impraticável anular este ato da soberana graça de Deus. Por outro lado, a vocação de Deus é fundamentada em seus decretos, e seus decretos são imutáveis. Não se pode rescindir a operação do chamamento de Deus, porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Romanos 11:29. Quem foi salvo por Deus é verdadeiramente salvo, pois Deus nunca se arrepende do seu amor que nos escolheu, nem da vida eterna que ele nos deu, e, nós jamais podemos abdicar desta vida, que é eterna. E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. 1João 2:25. Se pudéssemos perder a vida eterna, estaríamos numa eterna confusão. Há uma observação que resume o seguinte: Se uma pessoa salva pudesse perder a salvação, então todas poderiam, e assim, Cristo se tornaria uma cabeça sem corpo. O Dr. Lewis Sperry Chafer afirma que: De acordo com as Escrituras, não há debaixo da graça nenhuma salvação proposta, oferecida ou empreendida que não seja infinitamente perfeita e que não permaneça para sempre. Deus não realiza uma salvação que se desfaz ou que possa ser renunciada. Quem é salvo pela graça é salvo para sempre.

Contudo, a segurança da salvação eterna não nos assegura comodismo. Como enfatizava Vance Havner a salvação é um capacete, não uma toca de dormir. Ninguém pode usar a verdade da eterna salvação, para desculpar a sua ociosidade espiritual. Nem um salvo de verdade se acomoda na segurança de sua eterna salvação, para promover o seu estilo indolente. Uma vida ociosa juntamente com um coração santo são uma contradição, ensinava Thomas Brooks. A salvação eterna promove uma permanente perseverança. Não é o acomodado que demonstra confiança, mas o perseverante que busca o seu desenvolvimento. A salvação que não progride não procede do trono da graça. Duas coisas que não podemos esperar no terreno da salvação: Salvação sem a obra de Cristo, e salvação estagnada, sem as obras da santificação. Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Filipenses 2:12-13. Este aparente paradoxo mostra que eu devo desenvolver a salvação que Deus efetua no querer e realizar. Nós fazemos as obras, mas Deus opera em nós a realização das obras. Sabemos que é a graça de Deus quem realiza em nós o tudo o que somos e tudo que precisamos fazer. A graça que me alcançou é a mesma graça que me faz operante. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo. 1Coríntios 15:10. Nossa eficiência sem a suficiência de Deus é apenas deficiência. Porém, nenhum salvo pode advogar sua inércia. No reino de Deus não há lugar para aposentados ou reformados. Todo o contingente encontra-se na ativa. Se alguém, em razão da doença ou da idade, não pode mais ficar no campo de batalha, ainda pode ficar na sentinela da intercessão. Não há desertores na adoração nem fugitivos da comunhão.

É incompatível uma salvação inoperante. Segundo a Bíblia, ninguém é salvo pelas obras, mas os salvos pela graça são agentes das boas obras. Tiago demonstrou que a fé sem obras é morta, e João Calvino confirmou: É só a fé que justifica, mas a fé que justifica não é só. Se a graça produzir a fé que Paulo ensina, certamente a graça mediante a fé produzirá as obras que Tiago reclama. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:8-10. Deus sempre qualifica aqueles que Ele chama. Pensar que você não pode fazer nada é quase tão arrogante quanto pensar que pode fazer tudo. Quando Deus nos salvou por sua graça já providenciou os recursos para suprir em nossa missão. Se a graça de Deus nos põe a trabalhar, o Deus da graça garantirá o sustento e o êxito. Não podemos ficar imobilizados com o pensamento da incompetência ou da insignificância. Como o evangelista americano D. L. Moody temos um desafio: Sou apenas um, mas sou um. Não posso fazer todas as coisas, porém posso fazer alguma coisa. E, o que posso e devo fazer, eu o faço pela graça de Deus. Alguém já disse que o fracasso não é a pior coisa do mundo. Fato mais grave é nunca tentar. Poucas coisas são impossíveis aos homens confiantes em Deus que se aplicam com diligência na perseverança do seu objetivo. Spurgeon dizia que foi pela perseverança que o caracol atingiu a arca. Somente os que confiam podem ser ousados e os que ousam devem fazer com persistência, considerando os resultados e não as dificuldades. Se estivermos em Cristo certamente que o poder de Cristo nos capacitará para uma frutificação abundante. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5.
 
Soli Deo Glória.

VALORES NA BALANÇA

Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

Segundo a avaliação de Jesus, uma vida ou a alma humana vale mais do que o universo. A vida é mais importante do que o cosmo. Uma pessoa poderá fazer um investimento que consiga angariar os recursos do mundo todo, mas, se vier a perder-se eternamente, terá feito uma péssima aplicação. De acordo com a estimativa de Jesus, a salvação de uma alma é mais preciosa do que o montante dos recursos do mundo. A salvação de uma única alma é mais importante do que a produção de recursos para a preservação física de toda a humanidade. E o maior empreendimento é de quem está envolvido na salvação das almas.

A maioria das pessoas não sabe fazer cálculo. Gasta-se mais tempo tentando amealhar as riquezas que têm menos valor. No cômputo geral, prefere-se dar mais atenção aos recursos de origem terrena, do que cuidar das verdadeiras riquezas espirituais. Isto reflete o estrabismo da visão humana, causada pelo pecado. Para a grande maioria, uma empresa, uma fazenda ou os negócios merecem mais consideração do que a salvação eterna de sua alma. Damos prioridade aos ganhos vantajosos desta vida e desprezamos os valores permanentes que podem realmente nos preencher. Quando Jesus disse ao jovem rico que ele precisava vender tudo, dar aos pobres, para receber o tesouro celestial, ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Marcos 10:22. Na sua contabilidade não constavam os bens duráveis. Ele não sabia fazer avaliação das coisas de proporções eternas. As bugigangas e os tesouros perecíveis acabam tomando lugar do patrimônio imutável.

O homem encontra-se vazio. O coração do ser humano está buscando satisfação ou significado nos valores deste mundo. Entretanto, nada, por mais importante que seja, é capaz de preencher a lacuna da alma. Há um buraco muito grande que só algo absoluto pode completar. O vazio do homem tem a dimensão de Deus, e ninguém pode ocupar este espaço, senão o próprio Deus. A busca de contentamento ou bem-estar fora da absoluta necessidade de Deus tem demonstrado uma atividade enfadonha para a alma. Por mais significativos que sejam os envolvimentos para rechear este vazio, sempre terminam em decepção. William Bridge disse que a terra e sua plenitude jamais podem satisfazer a alma. Glória e brilho não são sinônimos. Podemos ser brilhantes neste mundo, mas profundamente vazios. A crise da humanidade é fundamentalmente uma falta de conteúdo, prioridade e direção. Ocupada com assuntos banais, a raça humana pretende encher o vácuo da alma com as bagatelas econômicas, com as futilidades culturais, com as ninharias esportivas e com as chochices religiosas. Muito tempo e investimento têm sido gastos na reparação dos estragos causados pela inversão dos valores. Mas, na verdade, tudo isto tem sido em vão. Ninguém pode encontrar aprazimento fora de um relacionamento real com Deus. Quando falamos de Deus, não estamos nos referindo aos sistemas religiosos criados pelos homens, para tentar suprir as necessidades da alma.

O miolo da alma tem que ser Deus mesmo. Nenhum conteúdo religioso pode indenizar os prejuízos causados pela falta de comunhão com o próprio Deus. Se Deus não for o centro de nossa experiência e a excelência de nossos relacionamentos, então, estamos envolvidos com trivialidades que jamais satisfarão as carências profundas de nossa alma. Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação. Salmo 62:1. A falta de intimidade pessoal com Deus é a causa da insatisfação dominante do coração humano. Nada pode completar os desejos íntimos do ser humano, senão o próprio Deus em pessoa. Nem mesmo as suas bênçãos ou dons são capazes de suprir o vazio de cada um de nós. Ó Deus, tu és meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Salmo 63:1. A alma só pode contentar-se com a comunhão íntima de Deus mesmo. Só a pessoa de Deus pode abastecer a sede do coração. Sem a consciência real da presença de Deus e sem uma comunhão verdadeira com Ele, a existência humana perde totalmente o sentido. É por isso que, muitas vezes ficamos mais sedentos com a secura de nossa religiosidade. Entramos e saímos destas reuniões, sem gozarmos da intimidade da presença de Deus. O pensador Martin Buber afirmava: Nada tende a mascarar tanto a face de Deus como a religião; ela pode tornar-se uma substituta para o próprio Deus. Um cadáver lembra uma pessoa. Ali está o corpo em que viveu alguém, mas o finado não tem expressão. Não há diálogo com morto. Religião sem intimidade pessoal com Deus é funeral. E defunto não cresce, não evolui nem causa progresso. Muita gente se ilude com suas práticas religiosas supondo que este ritualismo mitiga as carências de sua alma. O salmista se perturba com o cerimonial religioso do seu tempo, com o derramar de sua alma, com o festejo da multidão em gritos de louvor na procissão alegre em busca da Casa de Deus. Havia todo um aparato estonteante de motivações religiosas, mas a sua alma encontrava-se abatida, e ele gritava: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? E sua resposta evidencia o grande problema: Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu. Salmo 42:5. Havia muita religiosidade em sua experiência, mas Deus estava ausente do seu louvor. A chupeta acalenta o choramingo da criança, mas não abranda a fome. Só o peito ou a mamadeira podem saciar a ânsia da fome. Nada neste mundo é capaz de satisfazer plenamente a necessidade pessoal de Deus. Muitos expedientes podem atenuar a crise, mas não satisfazem o vazio da alma.

Que adianta ao homem gastar todo o seu tempo e empregar todos os seus esforços no envolvimento com o trabalho, estudo, religião e lazer, não levando em conta a seriedade da salvação eterna de sua alma? Esta é uma questão de prioridade. Ninguém pode desconsiderar este assunto e viver com total significado. Jesus mostrou que, a realização do ser humano passa em primeiro lugar pela preferência do reino de Deus. Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33. A salvação eterna e a comunhão íntima com Deus são assuntos que fazem parte da primazia de uma agenda inteligente. Fica claro, pelas Escrituras, que uma vida que exibe sucesso neste mundo, mas não leva em consideração estes ingredientes eternos, não passa de loucura. Jesus, em uma de suas parábolas, levanta uma pergunta que Deus faz a um homem que havia se preocupado apenas em cuidar dos seus interesses terrenos. Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Lucas 12:20. É estupidez da grossa investir todo o nosso tempo e gastar toda a nossa energia na aquisição de patrimônios que ficarão para trás da sepultura.

Uma pessoa inteligente é aquela que sabe fazer o julgamento correto dos fatos. Não podemos reputar como inteligente alguém que é desatento para os assuntos ligados com a salvação eterna da sua alma. A sabedoria abre os olhos tanto para as glórias do céu quanto para o vazio da terra. A lucidez da mente e a agudeza do discernimento encontram-se em fazer, enquanto se estiver vivo, as coisas que serão desejadas quando se estiver morto. Todo empreendimento que só trata do aqui e agora não tem significado permanente para o homem. Por isso, vale a pena ponderar os enfoques e as ênfases de nossa existência, para não cairmos na armadilha de nos envolvermos apenas com as coisas de menor valor. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
 
Soli Deo Glória.

A FÉ É A ANTÍTESE DO MEDO

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. 1 João 4:18.




O primeiro sentimento que o cabeça da raça humana experimentou depois do pecado foi o medo. Logo depois que Adão transgrediu o mandamento divino, ele foi invadido por um clima de pavor. Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gênesis 3:10.
Ao ouvir a palavra de Deus Adão teve medo. É interessante observar este ponto com atenção. A Bíblia diz: Assim, a fé vem pelo ouvir e o ouvir da palavra de Deus. Romanos 10:17. Mas, quando Adão ouviu a palavra de Deus no jardim, porque estava nu, teve medo e se escondeu. Ao ouvir a palavra de Deus, em vez de fé, medo. O pânico veio em conseqüência do pecado e da sua nudez. Adão e Eva foram criados totalmente despidos. No Jardim do Éden não havia necessidade de roupa, uma vez que a temperatura era agradável e as condições favoráveis para uma vida sem cobertura. Eles eram imaculados, mas não ficavam acanhados nem ruborizados de viverem desnudos. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam. Gênesis 2:25.
Todavia, logo depois da transgressão apareceu um sentimento de terror quando Adão se percebeu pelado. Esse estado de desnudamento evidencia a descompostura que o pecado causou na personalidade, produzindo todo tipo de esconderijo. O medo é o promotor das máscaras e o aliciador dos agentes que solicitam a aprovação externa. A partir do receio de não ser aceito incondicionalmente, a história humana toma um outro rumo. Os jardineiros viraram estilistas num instante. De uma hora para outra os horticultores que cultivam o Paraíso foram transformados em modistas costurando folhas. Adão e Eva agora estavam preocupados com o guarda-roupa, pois o medo da rejeição exigia que eles bordassem complementos para a grife da tribo. Adão, ao ouvir a voz de Deus, foi dominado pela paúra em seu coração em razão do pecado e não deu lugar à fé. O medo teceu uma tanga com as fibras da figueira porque a sua fibra moral foi atacada pelo sentimento de deserção. A culpa afastou o casal da comunhão com o Criador e os dois se enfiaram nas moitas tentando achar asilo na embaixada do faz de conta. Desde aquele momento a raça humana passou a morar no casebre do temor. Somos uma casta escrava do medo e temos muita dificuldade de entrar na casa do amor. A timidez impede que vivamos com autenticidade. A culpa existencial herdada dos nossos primeiros pais nos deixa sempre desconfiados e com receio de não sermos recebidos como filhos na família do Pai. De modo geral nós temos sintomas de senzala.
A história da raça adâmica é uma narrativa de disfarces, fugas e esconderijos. O gênero humano vive escapando da aceitação incondicional do Pai, usando, com freqüência, expedientes astutos que assegurem o seu assentimento ao custo dos seus próprios esforços. Com medo de ser rejeitado o sujeito procura ser aceito através daquilo que faz. Assim, a religião se torna uma fábrica de executivos em busca da excelência. O temor é a matriz da conduta e a sobreexcelência a raiz que suporta esta pose esnobe. Porém, o apóstolo João procura nos mostrar que na casa do amor não existe medo. A aceitação do Pai não computa valores, nem contabiliza despesas. O pecador é recebido como filho, única e exclusivamente pelos méritos do Cordeiro. O amor do Pai não está atrelado a excelência do objeto do seu amor. Ele não é colecionador de obras raras e não me ama porque eu sou digno do seu amor. A sua graça aposta apenas no desdouro da minha queda, já que não posso me classificar com a minha justiça cheirando a carniça. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam. Isaías 64:6.
A verdade nua e crua é que o pecado me tornou irrecuperável por mim mesmo. Não há solução para mim senão pelo amor de Pai. Mas ele nos ama incondicionalmente. Isto significa que Deus não olha para as nossas qualidades pessoais, tampouco para os nossos defeitos graves. Sendo assim, a nossa adoção como filhos na casa do Pai não depende dos nossos méritos, mas da expressão do seu amor revelado em Cristo.
O Cordeiro que tira o pecado foi imolado antes da fundação do mundo. Adão e Eva perderam tempo cosendo aventais que murchariam antes do fim da tarde. Os animais que foram sacrificados eram as únicas expressões do amor de Deus para cobrir a nudez do casal. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Gênesis 3:21. Jeová além de ser o alfaiate é também o camareiro. Graça significa Deus dando e fazendo tudo a quem só tem demérito.
O medo da rejeição exige aceitação a todo o custo, mas no amor não existe medo. O amor lança fora toda apreensão, uma vez que o indigente senta-se à mesa como um membro da estirpe real. O Pai nos aceitou em Cristo em seu amor irrestrito e somos herdeiros do reino celestial. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:38-39.
Brennan Manning diz que muitos cristãos permanecem temerosos, pois se apegam ainda à idéia de um Deus muito diferente da que foi pregada por Jesus. O temor é a causa do aborto da fé e esse medo do fracasso é um paralisante do progresso espiritual. Contudo, aquele que sabe verdadeiramente que o Pai o aceitou em Cristo com amor total, não teme se arriscar no seu testemunho de fé, ainda que insipiente. A queda é parte do desenvolvimento no andar da criança e, na caminhada cristã, só tem insucesso quem se atreve a andar. Quem confia no amor do Pai não teme ser desaprovado porque depende apenas da sua aprovação na suficiência de Cristo. Jesus disse aos discípulos que teriam problemas nesse mundo, todavia ele assegurou que a sua vitória pessoal era a garantia do nosso sucesso, isto é, o seu triunfo é o nosso troféu. Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 16:33.
Como alguém disse com bom humor, Cristo prometeu uma aterrissagem segura, mas não um vôo sem turbulência. Embora tenhamos muitas tribulações nessa marcha aqui e agora, nada pode desbotar a tonalidade do seu amor sem fronteira. Por isso, a fé se firma apenas na imutabilidade do Pai amoroso, não ficando intimidada com as pressões deste mundo e com as cobranças legalistas. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Romanos 8:31.
A pregação do medo promove uma obediência encabrestada. Há muita gente dócil e flexível que preenche os seus requisitos morais debaixo de apavoramento. São pessoas submissas enquanto reprimidas. Mas os filhos amados do Pai obedecem simplesmente por amor. O medo produz tormenta e os atormentados não são pessoas saudáveis, por isso mesmo, só o amor consegue originar personalidades sadias. A casa do amor é o único lugar seguro onde as pessoas não temem os habitantes do casebre do temor. Robert Hart dizia que o amor de Deus é sempre sobrenatural, sempre um milagre, sempre a última coisa que podemos merecer. Esse milagre sobrenatural e imerecido é a causa de nossa aceitação com confiança. Eu creio que o Pai me aceitou em Cristo por causa do seu amor profundo e sem arrependimento. Nada poderá me afastar do seu amor irrestrito. A fé que o Pai me deu não teme ser descartada como um traste qualquer. Na casa do Pai não há amedrontamento, nem pessoas alimentando-se com a síndrome do pânico. Jesus foi muito evidente quando disse aos seus discípulos: Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. Lucas 12:32. O rebanho pode ser pequeno, mas o reino do Pai foi oferecido com prazer. Se nós vivermos com medo não poderemos jamais viver pela fé. O medo é o avesso da fé. Quem teme não consegue confiar, por esse motivo Jesus prontamente falou com firmeza aos discípulos apavorados com medo de fantasma: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Mateus 14:27.
O mundo está cheio de assombrações e as tempestades são de arrepiar, mas quando o Pai está no comando e o seu amor é o arrimo de nossa sorte, então não tem por que temer. Alguém disse que o medo é o início da ansiedade, e esta, o fim da fé, mas a verdadeira fé varre a ansiedade e apaga o medo. O medo veio com Adão e paralisa as pessoas, mas em Jesus vem a fé que suscita o progresso espiritual. Ele é o único agente e gerente da verdadeira fé. A vida cristã deve ser conduzida, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:2.
A teologia do medo é responsável por uma conduta subserviente e bajuladora. Os escravos do temor só obedecem porque não há alternativa. Entretanto, os filhos de Aba são pessoas livres que correspondem livremente motivados pelo amor que estimula a fé. Na casa do amor, isto é, a igreja do Deus vivo, ninguém é coagido com espantalhos apavorantes nem submetido à tortura da punição. O Pai amoroso não é o deus do medo, também não é fobia, a reverência a ele.

O filho de Aba crê no evangelho atraído pela boa notícia do amor revelado na cruz. O ico constrangimento que vemos aqui é a compulsão do amor incondicional demonstrado em Cristo, e isto é assunto de fé. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2 Coríntios 5:14.
 
Soli Deo Glória.

terça-feira, 2 de abril de 2013

CRISTO E REVELAÇÃO COMPLETA


Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles Hebreus 1:1-4.


T. Austin-Sparks disse: “
Não sei o que você procura agora, o que você está esperando, pelo que você está orando, mas Deus já tem dado tudo aquilo pelo qual você sempre orou ou pediu com relação a Ele. É presente, é agora. Ele não tem mais revelação a dar, apenas Aquele que Ele já deu. Revelação, agora e a partir de agora, não é uma nova verdade, mas apenas a luz sobre a Verdade”.
Tudo o que Deus tem para nós está em Cristo. Ele é a linguagem pronta e final de toda a sua revelação. A Trindade falou muitas vezes e de muitas maneiras, apontando para a realidade suprema do seu supremo propósito. Mas, hoje, nós temos na pessoa de Cristo, apresentado nas Escrituras, o discurso correto e completo e o sotaque perfeito de toda a comunicação divina à humanidade. Cristo é o herdeiro de todas as coisas e por meio dele nós somos feitos filhos de Deus e seus co-herdeiros. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Romanos 8:17. Se tivermos a Cristo como o herdeiro de todas as coisas, teremos, conseqüentemente, a herança de tudo. Mas é bom não esquecer que essa co-herança vem sempre acompanhada de sofrimentos. Na manifestação atual do evangelho não há glorificação sem tribula­ção. Como percebeu Joseph De Maistre ao dizer: “Creio no fundo da minha alma e sinto em minha consciência que, se o homem pudesse viver neste mundo isento de todo sofrimento, acabaria por se embrutecer”. E Sto. Agostinho também entendeu as­sim, “Deus teve apenas um filho sem pecado, mas nenhum sem sofrimento”, e o mundo tem progredido através daqueles que levam as marcas da dor. Alguém disse que “se seu cristianismo é confortável, está comprometido. Não existe cristianismo fácil. Se é fácil, não é cristianismo. Se é cristianismo, não é fácil”. Cristianismo é Cristo vivendo em nós, mas ele também disse que o seu fardo não era pesado. De fato, não é pesado, todavia, não é fácil. A vida de Cristo em nós exige renúncia e cruz. O cristianismo não é simplesmente um programa de conduta, mas o poder de uma vida que nasce da morte. O cristianismo é Cristo vivendo no cristão. Ele não é uma apólice de seguro para nos conduzir ao céu, mas a própria vida de Cristo nos assegurando pela graça uma eterna aceitação. Tudo o que Deus tem para nós é Cristo. E nele nós temos tudo o que necessitamos para a nossa vida espiritual em aceitação plena. O Pai não tem nenhuma revelação maior do que Cristo. A fé cristã não é um sistema de doutrina que deve ser estudado e compreendido, mas a manifestação sublime da suficiência de Cristo para a deficiência do ser humano. O cristianismo é o poder da vida de Cristo no espírito do crente, conduzido pelos efeitos da cruz. Sem a morte do velho homem juntamente com Cristo não há possibilidade da vida de Cristo se exprimir através do nosso espírito. Não é uma questão de conhecimento acadêmico, mas de experiência de fé. Não eu, mas Cristo é a única dimensão de Deus que o mundo pode conhecer através da igreja.
Cristo é o criador do universo. Esta é a outra grande riqueza do texto que estamos examinando. O herdeiro de tudo é o criador de tudo. Se tivermos o her­deiro como a nossa herança, teremos o criador do universo como o nosso bem su­premo. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus. 1Coríntios 3:21-23.
Aquele que recebeu a Cristo como o seu Salvador e Senhor, recebeu o herdeiro de todas as coisas como a sua herança e o criador da criatura como o seu patrimônio eterno. O Pai não tem mais nada a nos dar, uma vez que ele já nos deu todas as coisas no criador de tudo. Quem tem o Filho de Deus, o criador de tudo e herdeiro de todas as coisas, tem a herança de tudo e a propriedade de todo o universo a seu dispor. Cristo é tudo e em todos os que crêem. Isto é muito mais do que palavras. Isto é o Testamento da verdade. Quem tem Cristo tem o suprimento de todas as suas necessidades. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Joao 15:16.
Tudo isto é possível porque ele é o resplendor da glória divina e a perfeita imagem do ser eterno. Jesus Cristo é Deus na dimensão humana. Ele é totalmente Deus como se não fosse homem e completamente homem como se não fosse Deus. Nesta estatura humana e divina se constituiu o suporte de todas as coisas terrenas e sustentador de todas as coisas eternas, pelo poder da sua palavra imutável.
Como dizia C. H. Spurgeon, “o grande criador da vontade está vivo para levar a efeito suas próprias intenções”. Cristo é o executivo competente de todas as suas requisições, por isso suas realizações ultrapassam até mesmo as suas promessas. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! Efésios 3:20-21.
O herdeiro de todas as coisas, o criador do universo, o Deus-Homem sustentador de tudo pela palavra do seu poder é também o purificador dos pecados num só ato de misericórdia. “Tomando o lugar do pecador na cruz, Jesus tornou-se tão inteiramente responsável pelo pecado como se fosse totalmente culpado por ele”, e ao incluir o condenado em sua morte, fez com que o réu fosse justificado de tal forma, que nenhuma sentença poderá condená-lo. A obra da purificação dos pecados e justificação dos pecadores é tão extra-ordinária que Jesus acabou por assentar-se no seu trono de glória. Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu não o homem. Hebreus 8:1-2.
O escritor desta carta diz que o fundamental de tudo o que ele vem descrevendo até aqui é que temos um sumo sacerdote assentado. Isto significa que a obra deste sumo sacerdote está concluída e que não há mais nada a ser feito. O vocábulo Τετέλεσται (tetélestai) da língua grega, isto é, o brado final e conclusivo do Calvário, “está consumado”, fecha para sempre a possibilidade de qualquer apelação. Jesus Cristo, na sua pessoa e em sua obra, expressa tudo o que necessitamos para a nossa plena salvação, santificação e glorificação, tanto agora como na eternidade. Como bem disse T. S. Eliot, “Cristo é o ponto fixo de um universo instável”. A maré vai e vem, mas a rocha permanece estável. Por isso, o que precisamos não é de mais informações ou inovações, mas de maior revelação e intimidade com a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
A crise da igreja atual não é tanto falta do saber teológico como o colapso do relacionamento particular e íntimo com a pessoa viva de Jesus Cristo. Hoje se lê muito sobre ele, mas fica-se pouco tempo com ele. Lutero dizia que “uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno”.
A comunhão com Cristo é o principio do céu na terra e a resposta para os anseios de nossa alma. Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terrra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Salmos 63:1 e 73:25-26.
 
 
Soli Deo Glória.

A VIDA ESPIRITUAL EM LABORATÓRIO

Alguém já disse que as pedras preciosas não podem ser polidas sem fricção nem o povo de Deus aperfeiçoado sem provações. A vida espiritual autêntica também tem o seu teste de qualidade. É necessário provar o coração dos santos, para que eles vejam o seu grau de dedicação. Certamente que as provas não são aplicadas para que o professor saiba, mas, para que o aluno constate o seu nível de conhecimento. Todo treinamento eficaz visa capacitar o aprendiz na habilitação de suas tarefas. As exigências do treinador estão voltadas para o aprimoramento do atleta.
Deus, sendo onisciente, não carece de qualquer informação a nosso respeito. Ele não precisa nos provar para saber o índice de nossa fidelidade ou infidelidade. Não há nada que esteja além do olho de Deus. Qualquer pessoa pode contar as sementes de uma maçã, mas só Deus pode contar todas as maçãs que brotarão de uma semente. Deus nunca será apanhado de surpresa, nem haverá incidentes em seus planos. Entretanto, nós, em razão da finitude e do engano do coração, precisamos, realmente, destas experiências, para constatar a coerência de nossa fé. Assim, como a peneira separa o trigo da palha, assim, as provações separam o grão cheio do chocho.

As provações sempre estão voltadas para os nossos corações. Cada crise pode representar a hora em que Deus dá início a novas dimensões em nossas vidas. Deus seleciona os seus melhores amigos com os testes de laboratório mais especializados. Muitas vezes, ele permite que sejamos provados em um plano muito alto. Dizem que Ele recruta os seus fiéis oficiais nas montanhas mais elevadas, quando admite as demonstrações de poder semelhante ao seu, para nos distrair de sua pessoa. Sem dúvida nenhuma, estamos aqui nos limites da precisão. Deus, com freqüência, autoriza certos profetas a falarem coisas prodigiosas e realizarem feitos extraordinários, com a finalidade de nos desviar a atenção de sua pessoa. A mensagem do profeta era exata e as conclusões nos pareciam corretas, mas o objetivo final é nos afastar do amor ao nosso Deus. Tudo aquilo que, por mais excepcional que seja, nos desencaminha da intimidade secreta e da dedicação absoluta a Deus, constitui-se na prova final de nosso coração. Quando somos postos à prova, revelamos os recursos escondidos de nossa alma. No controle de qualidade, este é o exame mais aprimorado para constatar as intenções e propósitos do coração.

O chamado de Deus é a vocação para uma vida pura e inteiramente devotada a Ele, que somente podem conhecê-la aqueles que abandonaram toda falsidade e ilusão, toda aparência que imita a autenticidade dos relacionamentos com Deus. O engano mais sutil é aquele que mais se assemelha ao legítimo. A mentira mais astuta é a analogia da verdade. Portanto, o teste mais difícil é o discernimento entre o autêntico e o similar. A mensagem parecida estabelece a maior exigência no exame dos fatos. Quanto mais parecido, mais acuidade. As piores mentiras são aquelas que mais se aproximam da verdade, e a pesquisa mais laboriosa recai sempre na esfera das semelhanças. Quando o pregador fala uma mensagem coerente, ortodoxa, bem concatenada, mas com intenções invisíveis de minimizar o valor da graça plena, de diluir a centralidade de Cristo crucificado e desconsiderar a nossa co-crucificação com Cristo, podemos observar, com certeza, que estamos diante de um terreno minado. Uma mensagem correta nem sempre significa uma mensagem exata. E, no reino de Deus, o que conta é a fidelidade. Apolo pregava com precisão, em Éfeso, a respeito de Jesus. Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áqüila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus. Atos 18:26. As distorções que observamos nos crentes de Éfeso, quando o apóstolo Paulo chegou lá, são frutos da semelhança na pregação de Apolo. A falta de precisão pode ser a grande tragédia que se abate na vida da igreja atual.
Muitos mensageiros falam coisas interessantes e com bom conteúdo, contudo, o recado acaba nos distanciando do amor intenso e da comunhão permanente com Deus. Toda comunicação, por mais importante que seja e por mais verdadeira que nos pareça, se não nos mantiver vivos numa intimidade com Deus, por meio de sua graça plena, é armadilha em nosso caminho. Tudo aquilo que nos arremete para a periferia do amor de Deus, e que não nos torna radicais em sua amizade, é exame de vestibular. Com certeza estamos sendo provados. Freqüentemente, Deus nos expõe aos grandes temas e nos permite entrar em contato com os assuntos mais vibrantes, a fim de percebermos as inclinações profundas de nosso coração. Há muitas pegadinhas por trás de temas relevantes e de profetas consumados. Quando as ambições de nossa alma se animam pela satisfação do conhecimento ou pelas vantagens que venhamos a experimentar, e não pelo relacionamento pessoal com Deus mesmo, estamos com problemas. A areia é tão movediça que Paulo nos alerta até mesmo para a sua mensagem ou a pregação de anjos vindo dos céus. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Gálatas 1:8. Não se descuide, pois o zelo é como o fogo; necessita tanto de alimento quanto de vigilância. Cuidado com a pregação correta, em que se mistura o ministério dos anjos.
Todo assunto que nos aparta da comunhão íntima com Jesus Cristo é experiência de laboratório. O objetivo principal de nossa convocação é a comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de participarmos da real comunhão com o Pai. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 1 Coríntios 1:9. A ênfase do Evangelho é consagração integral. William Temple afirmava: Cristianismo é a dedicação total de tudo o que conheço a meu respeito a tudo o que conheço a respeito de Jesus Cristo. Toda a vida deve estar sujeita à pessoa soberana de Cristo. Não é sem razão que Deus providencia testes que apontem as intenções do coração. Muitos que parecem flamejantes se esfriam rapidamente, quando se envolvem com sinais, prodígios e profecias que se realizam. Quantas cabeças já rolaram e quanta gente boa tem se desviado com a pregação esmerada, que sutilmente nos alonga da pessoa de Cristo. Ficamos tão envolvidos com o êxito da missão espiritual, que perdemos de vista o relacionamento com Deus. E como disse Santo Agostinho, Se você é um fracasso em sua vida de devoção, é um impostor em todas as outras coisas. Deus sente prazer em nós quando sentimos prazer nele. Identificação com Cristo é o alvo final da redenção. Comunhão com Deus é o objetivo da criação. Tudo aquilo que interfere na nossa comunhão com Deus e que nos mantém ocupados com os ídolos mais disfarçados, com certeza é um teste de coração. O acesso a Deus está aberto, somente para aqueles que sabem discernir, numa escala de valores correta, as verdadeiras prioridades. É como alguém dizia: Estar pouco com Deus é fazer pouco de Deus. O grande risco ainda se encontra na sedução de grandes temas e de mensagens tremendas, que ardilosamente nos esfriam de uma comunhão perfeita com Deus. Não é suficiente ter comunhão com a verdade, pois esta é impessoal. Precisamos ter comunhão com o Deus da verdade. Aqui está a prova: qualquer coisa que arrefeça nosso relacionamento pessoal com Deus, por mais correta que seja, deve ser descartada por completo de nossas vidas. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Jeremias 29:13.
 
Soli Deo Glória.