“Porque, se nós, quando inimigos,
fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu filho, muito mais, estando
já reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida.” Romanos 5:10
O nascimento de uma criança é um verdadeiro milagre. Cada pulsão de vida que entra neste mundo anuncia que o fluxo da criação ainda continua. Para os pais, as quarenta semanas de espera, de repente, se transformam em explosão de alegria contagiante. Para a criança é apenas o início de um tempo repleto de possibilidades de ser, fazer e ter. Um mundo inteiro para ser conhecido e uma vida inteira para ser vivida. Estamos falando do nascimento natural porém, quando se trata do nascimento sobrenatural as coisas não são muito diferentes.
A Bíblia afirma que existem dois
tipos de nascimento: o terreno e o espiritual. O terreno nos capacita para viver
e interagir com o mundo concreto. Enquanto o espiritual nos possibilita viver e
agir no mundo sobrenatural. A fonte dessa nova vida está fora e acima de nós,
O apóstolo João ao escrever o seu
evangelho sobre Jesus deixa bem claro o seu objetivo: "Estes, porém, foram
registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome." João 20:31. Jesus não apenas nos ensina a
vida cristã, Ele a cria em nosso ser pela ação do seu Espírito. Por seu poder
nos restaura à semelhança divina e nos faz filhos de Deus. "Mas, a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber,
aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." João 1:12.
Jesus Cristo é a fonte de vida
sobrenatural, tanto para trazer libertação do pecado quanto para uma vida de
vitória e de "... boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas." Efésios 2:10. No capítulo primeiro do evangelho de João
encontramos João Batista apontando Jesus como Salvador. Aquele que iria morrer
na cruz como expiação dos pecados. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!" João 1:29. Porém, o mesmo João Batista testificou de Jesus
também como Aquele quem dá o Espírito Santo: "Aquele sobre quem vires descer
e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo." João
1:33.
Muitas vezes nos fixamos apenas em
um dos lados da obra de Cristo. Normalmente enfatizamos a sua morte e deixamos
de compreender e experimentar a sua vida de ressurreição. Jesus disse: "Eu
vim para que tenham vida, e a tenham em abundância." João 10:10. A vida que
Cristo nos trouxe é a sua própria vida, como Filho de Deus. E, devido à sua
ressurreição, recebeu o poder de comunicar a todos nós o seu Espírito. Quando
Cristo envia o seu Espírito ao nosso espírito, sua presença é manifestada e
torna-se para nós a fonte de vida nova, uma nova identidade e um novo modo de
agir.
Quando falamos de "vida em Cristo",
segundo a frase de Paulo, "Eu vivo, não
mais eu, mas Cristo que vive em mim." Gálatas 2:20, não estamos
falando de auto-alienação, mas da descoberta de nossa verdadeira identidade
diante de Deus. Vida centrada em Deus e não em nós mesmos.
O pecado trouxe a supremacia do
"eu", a vida humana passou a girar em torno de si mesma. O homem sem a vida de
Cristo é um escravo, não tem vontade própria. Ele está entregue às suas
compulsões, idiossincrasias e ilusões, de modo que jamais consegue fazer o que
realmente quer. Seu espírito não está no comando e, por isso, não pode dirigir
sua própria vida. O apóstolo Paulo descreve os resultados trágicos deste viver
sob a escravidão do pecado: "Porque nem
mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim
o que detesto... Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que
habita em mim... vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei
da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros."
Romanos 7:15-23
O diagnóstico de uma pessoa
não-regenerada, segundo as Escrituras, não é nada animador. "Obscurecidos de
entendimento, separados da vida de Deus por causa da ignorância em que vivem,
pela dureza do seu coração." Efésios 4:18. Quando uma pessoa que está
separada da vida de Deus nasce do alto, pela fé
A nova vida surge da morte. Na cruz
de Cristo houve o aspecto substitutivo e o aspecto identificatório. A nossa
participação na morte com Cristo pôs fim ao reinado do "eu", enquanto que, a
nossa participação na Sua ressurreição, fez do nosso coração lugar de Sua
habitação. "Porque se fomos unidos com
ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua
ressurreição." Romanos 6:5.
Sem a morte de cruz não é possível a
vida da ressurreição. A aceitação da cruz por parte do crente, e a morte para o
eu que ela inclui, são fatos relacionados ao recebimento do Espírito Santo.
"Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo
do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos." Oswaldo
Chambers afirma que diante da verdade de nossa co-crucificação com Cristo é
preciso uma decisão moral em relação ao pecado. "Terei tomado essa decisão
sobre o pecado – que ele deve ser totalmente destruído em mim? Leva muito tempo
para chegarmos a uma decisão moral sobre o pecado, mas o grande momento de nossa
vida é quando decidimos que, assim como Jesus morreu pelos pecados do mundo,
assim também o pecado deve morrer em mim; não apenas refreado ou suprimido ou
contrariado, mas crucificado".
De fato não é possível ao cristão
considerar- se "morto para o pecado" a menos que tenha passado por essa radical
decisão da vontade, diante de Deus. Estar crucificado com Cristo é estar
identificado com a morte de Jesus, até que não sobre espaço algum para o pecado
em sua vida, mas, apenas para a vida de Cristo. A prova de que fui crucificado
com Jesus é a gradativa semelhança com Ele. A infusão do Espírito de Jesus em
mim ajusta a minha vida com Deus. A ressurreição de Jesus deu ao Espírito
autoridade para transmitir–me a vida de Deus, e minha vida, deve ser construída
sobre a base da vida Dele. "Porque , se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida." Romanos 5:10. Posso
ter agora a vida ressurreta de Jesus, a qual se manifestará em santidade e
frutificação.
Para o cristão, a vida da
ressurreição é também uma questão de escolha. Isto porque, enquanto em Deus
habita a plenitude de toda a realidade e perfeição, em nós não acontece o mesmo.
Tendemos para o nada, para a não-existência. Nossa vocação para sermos aquilo a
que fomos destinados implica, portanto, uma prova de vontade, um teste em que
somos interrogados por Deus sobre nossa livre opção. Parece que nossa vida toda
será esse teste, ou seja, de escolhas, de optar viver uma vida rasteira ou uma
vida em um plano mais alto.
Viver como pessoas livres na ordem
sobrenatural é fazer escolhas espirituais livres. Isto é possível porque Deus
infundiu o Seu Espírito na vida dos seus filhos. "Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que
andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis."
Ezequiel 36:27. Agora, podemos obedecer a Deus por amor. Somente
compreenderemos a obediência pregada por Cristo se nos lembrarmos sempre de que,
Sua obediência não é mera justiça, mas amor. Não é simplesmente a submissão de
nossa vontade à autoridade de Deus, mas é a livre união de nossa vontade com o
amor de Deus. Jesus é o maior exemplo de obediência de um filho em relação ao
Pai celestial.
Nosso Pai celestial não está muito
interessado no trabalho que realizamos para Ele, mas sim, no tipo de filhos que
somos para Ele. Ele nos libertou do cativeiro do pecado e da morte para vivermos
sob um novo governo. "Porque a lei do
Espírito da vida,
Em tudo isso, Deus tem um propósito.
Deus quer se expressar através dos seres humanos, tanto através da pessoa do
cristão quanto pela Igreja. Jesus Cristo nos batiza com seu Espírito a fim de
que sejamos testemunhas do caráter e do amor de Deus. "Recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas." Atos 1:8.
Recebemos a incumbência de tornar Deus conhecido por meio da proclamação do
Evangelho, como também pelo nosso estilo de vida. Jesus rogou ao Pai:
"A fim de que todos sejam um; e como és
tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia
que tu me enviaste." João 17.21.
Não há como separar regeneração de
discipulado, apesar de muitos tentarem. Mas se estamos cansados de uma vida
cristã de "segunda categoria", precisamos nos comprometer existencialmente com o
Senhor Jesus de corpo, alma e espírito. O Senhor Jesus disse: "Se alguém quer ser meu discípulo, a si mesmo se
negue, tome a sua cruz e siga-me." Mateus 16.24. Mais tarde, o
apóstolo Paulo reitera o convite com outras palavras: "... levando sempre no corpo o morrer de Jesus para
que também a sua vida se manifeste em nosso corpo." 2 Coríntios
4:10. Se temos dificuldades em nos acertar com Deus é porque não queremos nos
decidir definitivamente sobre o pecado. Assim que decidirmos, a vida plena de
Deus nos invade. Jesus veio para nos dar todos os suprimentos da vida
sobrenatural, "para que sejais tomados
de toda a plenitude de Deus."
O chamado para "viver em Cristo" é
um privilégio que demanda uma vida de decisões e escolhas deliberadas. E isto
deve ocorrer em todas as circunstâncias do dia a dia: nas alegrias, como também
nas tentações, provações e tribulações. Pois, qualquer resquício de nossa
própria energia, turva a vida de Jesus. Quando tomamos a decisão moral de,
não mais eu, mas Cristo a energia e o poder que se manifestaram em Jesus,
manifestar-se-ão em nós, pela ação do Espírito. Temos que estar sempre nos
rendendo, para que, lenta e seguramente, a majestosa vida de Deus inunde cada
parte de nosso ser. Assim, não só nós seremos aperfeiçoados, como também outros
terão o privilégio de conhecer o Senhor Jesus Cristo, redundando em glória para
Deus.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 28 de março de 2013
VIDA EM CRISTO
terça-feira, 26 de março de 2013
O PERDÃO RECUSADO
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos
e pecados. Efésios 2:1.
O homem foi criado à imagem de Deus, foi colocado
no lugar perfeito, foi-lhe concedida a oportunidade de ter perfeita comunhão com
seu Criador e de participar da glória de Deus. Todavia, tudo isto foi dado sob
uma condição, isto é, que o homem exercesse voluntariamente seu livre-arbítrio.
Vê-se, pois, que o amor não voluntário não é amor. Deus é amor; Ele criou o
homem à sua própria imagem, de sorte que Ele, Deus, pudesse gozar de camaradagem
com o homem e ter comunhão com ele. Por isso se fazia necessário conceder
livre-arbítrio ao homem como prova de seu amor espontâneo. Por esta razão a
"árvore do conhecimento do bem e do mal" foi colocada no jardim e do seu fruto o
homem não podia comer. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore
do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Gênesis 2: 16
e 17.
Não obstante, este estado de amor e obediência não
durou muito tempo. Satanás tentou o homem a duvidar da palavra de Deus e, assim,
Adão usou seu livre-arbítrio para desobedecer à ordem de Deus. Mas a
serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha
feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do
jardim? Gênesis 3:1. Por dar ouvidos a Satanás, o
homem caiu. Por causa do pecado, o homem ficou sujeito à morte. Assim, a morte
veio sobre todos os homens. Portanto, assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram. Romanos 5:12. Esta é,
pois, a condição em que o homem se encontra. Ele é culpado e inapto para
permanecer diante de Deus. Ele não tem meios de apagar o passado e não tem
capacidade de obedecer ao padrão de santidade de Deus. Somos culpados por aquilo
que somos e estamos separados do nosso Deus, pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus. Romanos 3:23.
Nascemos em uma geração contrária a Deus. Não
optamos por ser pecadores, não é uma questão de escolha, já nascemos com esta
herança; nascemos gênero humano, nascemos no pecado, herdamos, assim, esta
natureza de nossos pais. Eu nasci na iniqüidade, e em
pecado me concebeu minha mãe. Salmos 51:5.
Do céu Deus olha para a terra e procura se há um
que entenda, um que O busque, e Ele mesmo responde: Todos se extraviaram e
juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem sequer um. Salmos
53:3.
Quando a Palavra de Deus faz o diagnóstico sobre o
pecador, o trata com toda firmeza, mas nosso Deus jamais deixou de buscar o
homem para livrá-lo desta condição de membro de uma geração contrária a Ele.
Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre
todos os homens para a condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio
a graça sobre todos os homens, para a justificação que dá vida. Porque, como,
pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também,
por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Romanos 5:18 e
19.
O diagnóstico é verdadeiro e parte de um Deus
cheio de graça, disposto a nos buscar. O pecado entrou por meio de um só, mas o
perdão também entrou por meio de um só: Jesus, o Filho de Deus, que foi dado a
nós para nos resgatar desta geração à qual pertencemos. Salvai-vos desta
geração perversa. Atos 2:40b.
Não há outro meio de sairmos do que herdamos de
Adão a não ser pela morte; somente com a morte deixamos de ser geração
perversa.Mas o Senhor dos Exércitos se declara aos meus ouvidos, dizendo:
Certamente, esta maldade não será perdoada, até que morrais, diz o Senhor, o
Senhor dos Exércitos. Isaías 22:14.
Por que muitos não aceitam o perdão de
Deus? No ano de 1829, George Wilson, um homem da
Filadélfia, foi julgado pelos crimes de homicídio e roubo de malas postais dos
Estados Unidos. Constatada a sua culpa, foi condenado à forca. Os seus amigos
recorreram ao presidente americano, que tem o poder de perdoar um condenado à
morte e obtiveram dele, presidente Jackson, o perdão. Porém, George Wilson
recusou-se a aceitá-lo! Criou-se um impasse. O que fazer quando alguém que é
condenado à morte recusa o perdão? O governador hesitou! Como poderia mandar
enforcar um perdoado?
Assim, o presidente ordenou ao Supremo Tribunal
Americano que resolvesse a questão. E o juiz respondeu: Um perdão é um documento
cuja validade depende de ser aceito pela entidade à qual diz respeito. Pode-se
compreender que, quem tenha sido sentenciado à morte se recuse a receber o
perdão; porém, se recusar, já não é perdão. Importa, pois, que George Wilson
seja enforcado. Assim, ele foi executado, apesar de seu
perdão estar sobre a escrivaninha do governador.
O
condenado da história, mesmo tendo sido perdoado, escolheu a morte. Cristo já
veio e trouxe tudo que precisamos para não sofrermos a condenação do pecado. Ele
nos livrou da morte eterna. Mas, infelizmente, muitos recusam o perdão de Deus e
preferem a morte e não a vida. Os céus e a terra tomo, hoje, por
testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição;
escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência. Deuteronômio
30:19. O perdão de Deus já está disponível. E nós, o que vamos escolher?
Não endureçamos os nossos corações pois, segundo a Palavra de Deus, ele já é de
pedra, e, se recusarmos a obra de Cristo em nosso favor, ele se tornará em uma
pedra das mais duras que conhecemos. Eles, porém, não quiseram atender e,
rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não ouvissem.
Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem
as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito. Zacarias
7:11,12a. Com Cristo morremos para nós mesmos, para o pecado e recebemos
o perdão de Deus. Cristo, agora, é nossa vida, Cristo vive em
nós.
Soli Deo Glória.
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domingo, 24 de março de 2013
O MÉDICO CELESTIAL
Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas
sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e
não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores. Mateus:
9:12-13.
O pecado é uma epidemia universal. Ninguém escapa deste mal.
Qualquer que seja a diferença do clima em que se habita, as faculdades
intelectuais de seus habitantes e seu caráter particular, todos aqueles que
respiram o sopro da vida foram atingidos por esse mal. A queda de Adão inoculou
nas veias de todo homem o veneno da morte. Cada pessoa que nasce neste planeta
Terra é um herdeiro da morte. Portanto, assim como por um só homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porquanto todos pecaram. Romanos 5:12.
Ainda que, nas veias de um homem corra o sangue da nobreza, ou
que tenha atraído os aplausos do mundo, o seu coração está sob a sentença da
morte. O pecado é um mal que se alastra em sua ruína; é uma planta daninha que
se estende por todo o jardim. O pecado maculou todos os homens e tudo o que se
acha no interior deles; mergulhou na raiz de sua alma, e dirige suas fibras e
ramos por cada uma das faculdades do espírito e do corpo. Por que seríeis
ainda castigados, que persistis na rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o
coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã; há
só feridas, contusões e chagas vivas; não foram espremidas, nem atadas, nem
amolecidas com óleo. Isaías 1:5-6.
Veja o que o pecado fez no interior do homem: O primeiro que
cai doente é o coração, o qual fica mais duro do que a pedra e torna o foco dos
mais torpes desejos. A cabeça também se transforma, rende culto ao mundo como um
senhor; considera o inferno como sendo uma fábula; o arrependimento é reservado
para os últimos momentos da vida; ridiculariza a Palavra de Deus, acusando-a de
páginas confusas, na qual se nutrem de ilusões os cérebros fanáticos e enfermos.
A inteligência se desgarra, chamando impossibilidade aquilo que Deus chama
realidade. Os ouvidos não distinguem do Evangelho senão notas discordantes. O
paladar não sente gosto algum para um alimento santo. Os lábios, a boca, a
garganta, a língua ficam cobertas de chagas superantes; e todas as palavras que
saem da boca só podem fazer lavrar a sentença de morte. Como está escrito:
Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus.
Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não
há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam
enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está
cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos
seus caminhos há destruição e miséria. Romanos 3:10-16.
O pecado é a reunião de todas as moléstias espirituais,
formando uma massa compacta; não é um mal de pouca importância. Por isso, é de
grande relevância nos perguntar: Podem os mortos obter vida por meio de rituais
religiosos? As mãos levantadas, os joelhos dobrados e toda a santidade das
coisas sagradas podem estancar a origem do mal? Miserável homem que eu
sou! quem me livrará do corpo desta morte? Romanos 7:24.
Parece um quadro sombrio, mas é real, e a pergunta é feita não
é o que me livrará, mas quem me livrará do corpo desta
morte? O mal é assim demonstrado, para também ficar demonstrado que há um único
Médico capaz de nos libertar do poder da morte. Portanto, visto como os
filhos são participantes comuns de carne e sangue, também Ele semelhantemente
participou das mesmas coisas, para que pela morte derrotasse aquele que tinha o
poder da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos aqueles que, com medo da
morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão. Hebreus
2:14-15.
Vinde todos e ouçam as boas novas: O horizonte rutila os raios
do Sol da Justiça que desponta, trazendo em Si mesmo o dom da vida. O Senhor nos
atraiu com uma força irresistível. Ele nos atraiu para dentro do Seu corpo
naquela cruz. Ele nos lavou com Seu sangue, a condenação foi banida para sempre;
morremos na Sua morte; fomos sepultados com Ele e juntamente com Ele ressurgimos
para uma vida nova. O homem foi feito senhor da criação, sobre todos os animais
e sobre a natureza inanimada. Tudo era absolutamente perfeito e estava num
estado de inteira harmonia e unidade. Tudo funcionava harmoniosamente. A
harmonia foi destruída pela sua queda. Quando o homem caiu, a terra foi
amaldiçoada, e daí por diante a história da criação sempre foi de discórdias,
guerras, derramamento de sangue, assassinatos, ciúmes, espinhos, cardos,
problemas, enfermidades, pestilência. A harmonia deixou de existir; a perfeição
original desvaneceu-se e desapareceu. Essa é a situação do mundo, em
conseqüência da queda do homem. Pois é do interior, do coração dos homens,
que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os
adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e
contaminam o homem. Marcos 7:21-22-23.
O nosso Senhor Jesus veio a este mundo pleno de graça e de
verdade. E Nele somos elevados à posição de uma perfeita harmonia com o
universo. A antiga harmonia original será restabelecida. A harmonia entre o
homem e Deus, tudo sob Este bendito Senhor Jesus Cristo, que será o Cabeça de
todos! Todas as coisas voltarão a estar unidas Nele. Vinde! Juntar-se à essa
assembléia daqueles que cantam cheio de ardor: O Cordeiro prometido apareceu. A
vítima escolhida antes do princípio dos tempos. É o Deus homem, Jesus, o Senhor
de todas as coisas, o Príncipe da vida, Ele morreu, a fim de operar a expiação;
veio dar a sua vida, a fim de destruir o poder da morte. O altar preparado é
bastante forte para suportar esse fardo, porque as colunas em que Ele se firmou
são a força da divindade. Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas
enfermidades, e carregou as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido
de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e
esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4-5.
O nosso Senhor Jesus Cristo cumpriu os desígnios do Pai; porque
o decreto eterno assim o diz: A cruz do nosso Senhor Jesus era uma realidade
espiritual antes mesmo do mundo ser mundo. Fazendo-nos conhecer o mistério
da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da
plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que
estão nos céus como as que estão na terra. Efésios 1:9-10. Cristo é central,
é essencial, e o que quer que se chame cristianismo e não vá repetindo o nome
bendito, em última análise é uma negação do cristianismo. D.M.
Lloyd-Jones.
Aquele que foi salvo torna-se habitação de Cristo. Cristo é a
sua vida, e de Cristo ele vive. Nutre-se pela fé. Uma coisa é sabermos que temos
vida em Cristo, e outra, muito diferente, é termos comunhão com Ele,
nutrindo-nos Dele pela fé e fazendo Dele o único alimento do nosso espírito.
Aquele que se tornou habitação de Deus pode assim dizer: Estou sob nova
direção. O Cordeiro nos redimiu. Exaltemos: Ao que está assentado sobre o
trono, Venham guerras, venham pestes, seja solto o inferno nada nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. O
inferno foi vencido, a porta dos céus está aberta, e o nome desta porta se chama
louvor. Por que louvor? Porque tudo está feito, tudo está consumado. Nele
temos plena vitória, vitória sobre o pecado, sobre a carne, sobre o diabo. Ele,
Cristo, é a nossa saúde, alegria, paciência, bondade. Tudo que o Pai nos deu
está em Seu Filho. Nunca devemos esquecer que o Cristianismo não é um conjunto
de opiniões, um sistema de dogmas ou um determinado número de pontos de vista.
Não. O Cristianismo é uma realidade viva por excelência, pois se trata de uma
Pessoa, Cristo. É um relacionamento pessoal, prático, poderoso, o qual anuncia
Cristo em todas as circunstâncias e cenas da vida diária, espalhando a sua
influência santa e transmitindo as suas disposições celestiais a todas as
relações a que o cristão possa ser chamado por Deus a
cumprir.
Soli Deo Glória.
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SANTIDADE COM SANIDADE
Fala a toda a congregação dos filhos de Israel
e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o
Senhor, vosso Deus, sou santo. Levítico 19:2.
O Deus da Bíblia é santo de fato e o povo do Deus da Bíblia
deve ser santo por graça. Só Deus é essencialmente santo, e só ele pode conceder
gratuitamente santidade ao seu povo. O Deus santo não amplia sua convivência com
um povo contaminado pela corrupção pessoal, nem se envolve com a falsificação
coletiva das outras nações. "Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou
santo e separei-vos dos povos, para serdes meus". Levítico 20:26.
O coração do ser humano é corrupto em face da natureza do
pecado. Ora, se a parte está depravada, o todo se encontra corrompido. Se o
coração do gênero é perverso, as relações da sociedade estão contaminadas. Os
membros infectados adoecem o conjunto, e esta coligação de pervertidos reforça a
corrupção dos componentes. Aqui há uma retro alimentação.
Entretanto, as Escrituras mostram que sem santidade ninguém
poderá ver a Deus. Ainda que a santidade não seja um atributo da humanidade e
que nenhum ser humano seja santo em si mesmo, ainda assim ela é requerida para o
relacionamento com Deus. Isto implica no fato de que precisa haver uma ação
sobrenatural que origine uma santidade imputada.
A santidade significa: exclusividade divina. O povo santo é uma
aldeia que pertence somente a Deus. Esse é o primeiro significado de santidade.
Um povo de propriedade exclusiva de Deus. Essa privacidade é fundamental para a
comunhão interpessoal com o Deus santo. O Senhor escolheu o seu povo dentre
outros povos para que fosse santo. Mas não o elegeu porque fosse melhor ou
maior. A seleção foi baseada apenas no amor de Deus, sem levar em conta qualquer
qualidade ou mérito do povo. "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos
escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor
de todos os povos,
mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a
vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da
servidão, do poder de Faraó, rei do Egito". Deuteronômio 7:7-8.
A santidade sugere singularidade. "Ouve,
Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor". Deuteronômio 6:4. Deus é único e o seu povo é particular. Javé optou por
uma nação baseado apenas em seu amor. Isto quer dizer que não há atributos que
determinem o seu amor. Toda expressão afetiva que se fundamenta em predicados
não pode expressar o amor divino.
A preferência de Deus é motivada unicamente pelo
seu amor incondicional, pois amor divino condicional é uma incoerência do seu
caráter. Deus é sempre amor e nos elege para sermos seus filhos por causa do seu
amor eterno em Cristo. Arthur W. Pink disse com muita propriedade: "O grande
erro que muitos do povo de Deus cometem é esperar descobrir em si mesmos aquilo
que só pode ser encontrado em Cristo". A santidade do povo
de Deus é uma conseqüência da escolha divina estribada em Cristo, mediante a
imputação do seu caráter. Nesse ponto nós encontramos a santidade objetiva que
depende totalmente da suficiência de Cristo. Buscar santidade em nós mesmos,
fora de Cristo, é a manifestação mais evidente de insanidade pessoal.
O povo de Deus é santo porque Cristo é a sua santificação.
"Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. Nós temos na pessoa de Cristo um pacote de medidas que
nos garante uma salvação perfeita, completa e eterna. Viver pela graça é viver
somente pelos merecimentos do Senhor Jesus Cristo. Tanto a aceitação como a
posição dependem da união com Cristo.
Cristo é a nossa santidade. O escritor aos Hebreus
no capítulo 10 verso 10 nos diz que: "Nessa vontade é que temos sido
santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por
todas". Aqui vemos claramente a nossa santificação
objetiva pela obra de Cristo. É uma santidade totalizada e permanente. Assim,
neste aspecto da santificação, você, que confia tão-somente em Cristo para a sua
salvação, já é santo. Tentar encontrar santidade em nós
mesmos pode nos levar ao farisaísmo legalista ou à alucinação. Se quisermos ser
santos, precisamos olhar para fora de nós mesmos e firmemente para Cristo. Só
nele poderemos localizar a verdadeira santidade que nos santifica de verdade.
"Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele". Efésios 1:4.
Cristo é a nossa justiça e a nossa aceitação. Ele é o
Advogado da nossa causa e o Juiz que nos julga. Ele é o santo que nos justifica
e a santidade que nos aperfeiçoa. Somos irrepreensíveis diante dele, porque ele
mesmo é objetivamente a nossa santificação. Do ponto de vista legal ninguém
poderá ser mais santo do que já o é em Cristo. "Agora, porém, vos
reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos
perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Colossenses 1:22. Mas há também uma santificação
subjetiva promovida pelo Espírito Santo que é progressiva em nossa experiência.
A santidade que temos em Cristo é fora de nós e em união com Cristo, mas a
santidade do Espírito e dentro de nós é crescente. Ambas vêm a nós pela graça,
por causa dos merecimentos de Cristo. Mas uma é plena e concluída, enquanto a
outra é de fato evolutiva. A santificação do Espírito é ampliada a cada dia, por
meio da graça.
Só aquele que é santo pode crescer em santidade.
"Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo
imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a
santificar-se". Apocalipse 22:11. A natureza sempre
evolui em seu cerne. Aqui temos a santificação daquele que é santo. Não há
crescimento em santidade no ímpio, nem progresso do santo em impiedade. Todos
evolucionam naquilo que são em essência.
A santidade de Cristo em nosso favor se torna uma
matriz de santificação operada pelo Espírito Santo de modo progressivo. Aquele
que é santo objetivamente em Cristo, por meio da graça administrada pelo
Espírito, acende em santidade, subjetivamente, até a estatura da varonilidade de
Cristo. Quem é santo se santifica ainda mais através da graça de Deus. E assim,
quanto maior for a consciência da santidade, maior será o crescimento na
santificação.
É bem verdade que o aumento em santidade acena
sempre para uma maior consciência da nossa natureza pecadora. A história da
igreja comprova que aqueles que têm subido o monte mais alto da santificação,
acabam concluindo que são realmente os piores pecadores. Parece que a verdade é:
quanto mais santo, mais certeza de sua pecaminosidade. Mesmo
assim, a vida cristã é a manifestação evolutiva da santidade de Deus. Se o
produto do pecador é o pecado, o fruto do santo é a santificação em santidade
com sanidade. Não se trata de uma obsessão legalista, mas de uma evolução
saudável da vida de Cristo capacitando-nos a obedecer com alegria tudo o que diz
respeito à vontade do Pai para as nossas vidas. Entretanto, a santificação não
indica que o cristão é um ser extraordinário, mas que Cristo é tudo nele.
Pink dizia que "na pessoa de Cristo, Deus atinge uma
santidade que suporta o mais profundo escrutínio, sim, que alegra e satisfaz o
seu coração, e o que quer que Cristo seja diante de Deus, ele o é para o seu
povo", só que isso precisa evolucionar em nossa compreensão e experiência
através da operação graciosa do Espírito Santo em nós. Por isso, a santificação
não é nada mais ou nada menos do que o desenvolvimento da vida de Cristo em
nosso interior.
A santidade progressiva se alimenta do pão nosso
de cada dia na pessoa de Cristo. Comer diariamente este maná atualizado é
crescer em santificação saudável. Participar da mesa da graça não é uma questão
de empenho, mas de prazer, uma vez que a santidade compulsória é um tenebroso
sanatório. Sem alegria não pode existir vida cristã autêntica. "Cantem de
contentamento e se alegrem os que têm prazer na minha santidade; e contem
sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na felicidade do seu servo"!
Salmo 35:27. (Paráfrase).
Sem alegria a santidade é um peso insuportável. O
progresso da vida espiritual caminha sempre movido a regozijo como agente de
festa. Tenho observado que, de um modo geral, a santificação no muque tem cheiro
de axila, paladar azedo como limão, ar de desgosto e uma pose deprimida.
Contudo, a santificação pela graça é uma vivência de celebração permanente,
enquanto a santidade sem júbilo é como um velório na madrugada.
A santificação significa que Deus é mais
glorificado em mim quando eu sou mais satisfeito nele. Quanto mais eu me alegro
no Senhor, mais eu cresço em santidade. Como disse John Piper, "a glória do pão
consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela
sacia a sede". Ora, se Cristo é a satisfação da minha fome espiritual e a
abastança da minha sede de significado, logo ele é a razão da minha evolução em
santidade.
"Não existe santidade sem luta", mesmo assim, essa
peleja não está destituída de prazer. Se retirarmos o deleite da experiência de
santificação, ela não passa de uma conduta rígida e atormentadora. A santidade
com saúde é uma realidade espiritual com satisfação. Santo a fórceps é aborto
moral e desgosto permanente. A alegria é fundamental no processo da
santificação.
Para concluir quero apenas confirmar: a santidade
não é uma via para chegarmos a Cristo, mas Cristo é o caminho para a santidade.
"Sede santos, porque eu sou santo". 1 Pedro
1:16. Contudo, é bom lembrar que isto não é um imperativo crucial, ainda que
seja uma ordem, sua motivação é o gozo de uma vida livre e bem-aventurada.
"Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de
alegria, na tua destra delícias perpetuamente". Salmo 16:11.
Soli Deo Glória.
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O EFEITO DA JUSTIÇA DE CRISTO
Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei,
e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para
que fossemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por
obras da lei, ninguém será justificado. Gálatas 2:16.
Hugh Latimer sustenta: Precisamos ser feitos bons antes de poder fazer o bem; precisamos ser feitos justos antes que nossas obras possam agradar a Deus – somente depois de sermos justificados pela fé em Cristo é que as boas obras vêm. A Bíblia mostra que o ser humano no pecado, de fato, não é bom. Isso é uma abordagem muito radical, mas é absolutamente verdadeira. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Lucas 18:19.
Segundo Jesus, o ser bom é um atributo exclusivo de Deus. A
bondade humana é apenas um jogo fascinante de interesses pretensiosos. No
humanismo há uma forte pretensão de extrair a bondade real de um ser
efetivamente egoísta, por isso, a conduta aparentemente bondosa se manifesta
sempre repleta de conveniências insinuantes. Ora, se vós, que sois maus,
sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos
céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem. Mateus 7:11.
Uma pessoa má pode agir com uma suposta bondade, visivelmente
proveitosa, pois na apuração desse negócio sempre vigora uma certa troca que
exige alguma restituição. A bondade humana reclama qualquer recompensa, por mais
dissimulada que pareça. Mesmo a abnegação dos pais sofre de um achaque
contaminado com um certo vírus de compensação. Contudo, é impossível um ser
substancialmente bom ocasionar frutos maus, nem um ser essencialmente mau
produzir frutos bons. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a
árvore má produzir frutos bons. Mateus 7:18.
Precisamos ser feitos bons antes de poder fazer o bem;
precisamos ser feitos justos antes que nossas obras possam agradar a Deus.
Não há outro meio capaz de resolver esse assunto, senão a transformação radical
realizada, em nosso favor, através de Cristo Jesus. Só Cristo pode converter uma
pessoa ímpia numa pessoa justificada, e só ele pode fazê-la produtiva do que é
efetivamente bom. Ou fazei a árvore boa e seu fruto bom, ou a árvore má e
o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Mateus
12:33.
O velho homem, contaminado pelo pecado, não realiza nenhuma boa
obra, ainda que realize muitas obras, de justiça própria, providas de valor
humano. Todas as obras efetuadas por uma pessoa não regenerada, mesmo que sejam
moralmente corretas, são, do ponto de vista bíblico, inerentemente egoístas e
particularmente malignas. Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis;
não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. Romanos 3:12.
Antes de alguém se tornar um praticante das boas obras precisa
ser justificado pela graça em Cristo. Thomas Watson disse que a justificação
é o eixo e o alicerce do cristianismo. Não se trata da justificação com base
no mérito da pessoa, em que se admite algo da conduta decente do infrator. A
justificação no evangelho é rigorosamente a absolvição graciosa do indigno, pela
justiça de Cristo. Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para a condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Romanos
5:18.
Ninguém é justificado nesse mundo pelas suas boas obras tão
alegadas; Deus, contudo, justifica o pecador infame através da justiça de Cristo
imputada a ele graciosamente. Sendo assim, a justificação cristã nunca resulta
das obras de justiça própria praticadas pelo pecador, mas ela sempre resulta nas
boas obras que Deus preparou para que os justificados pela fé as pratiquem.
Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios
2:10.
O Cristianismo é a única opção espiritual nesse mundo, em que a
salvação é outorgada graciosamente, sem levar em conta o menor requisito
positivo da pessoa que está sendo salva. Qualquer tentativa de arranjar uma
justificativa, para fazer a justificação depender das obras de justiça
praticadas por nós, é roubar da graça de Deus a sua gratuidade, e acrescentar
nossos merecimentos à graça salvadora. Não por obras de justiça praticadas
por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou... Não segundo as nossas
obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Tito 3:5a, e 1 Timóteo 1:9b.
Nenhum pecador foi salvo pela prática das obras
de justiça, mas todos os salvos pela graça são praticantes das boas obras. Deus justifica graciosamente o pecador através da obra suficiente de Cristo, para que os justificados pela graça sejam diligentes na prática das boas obras que Deus preparou para que andássemos nelas. (Jesus Cristo) a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. Tito 2:14.
A justificação é aquilo que Deus faz por nós, mediante a obra
perfeita de Cristo realizada na cruz, para nos isentar de toda condenação do
pecado, imputando a sua justiça graciosamente ao pecador; enquanto a
santificação é aquilo que Deus faz em nós, isto é, nas novas criaturas, através
da vida de Cristo implantada em nosso ser, a fim de produzir frutos de boas
obras que glorifiquem a Ele mesmo. Assim brilhe também a vossa luz diante
dos homens, para vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está
nos céus. Mateus 5:16.
Só os filhos de Deus, ou sejam, as novas criaturas, conseguem
produzir os frutos das boas obras, uma vez que somente os regenerados pela graça
em Cristo são expressões vivas da vida de Deus agindo no seu interior. Só Deus é
bom e exclusivo na realização das boas obras. Todas as obras do homem natural
não podem ser consideradas boas obras, pois são realizadas pela energia vaidosa
de um indivíduo autocentrado. As obras da velha criatura até podem ser nobres e
honestas no entendimento humanista, porém nunca devem ser estimadas como uma boa
obra na acepção teológica. O homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra. 2 Timóteo 3:17.
A justiça de Cristo torna o mais torpe dos pecadores
perfeitamente justificado de todos os seus pecados, e a bondade de Deus faz com
que os justificados pela graça executem graciosamente, pela ação do Espírito
Santo, as boas obras que Deus preparou para que eles as realizassem. O efeito da
justiça de Cristo na vida dos regenerados é o cultivo das boas obras em que
apenas Deus deve ser glorificado. ...Observando as vossas boas obras,
glorifiquem a Deus no dia da visitação. 1 Pedro 2:12b.
Tudo o que Deus proporciona para a salvação plena da velha
criatura é mediante a obra finalizada por Cristo. Tudo o que Deus realiza por
meio da nova criatura, ocorre por intermédio do Espírito Santo ao externar o
poder da vida Cristo no seu interior. Só a justiça de Cristo Jesus assegura a
justificação do pecador. Só a vida de Jesus Cristo repleta de bondade pode se
responsabilizar pela frutificação das boas obras. Como não pode o ramo
produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim nem vós o podeis
dar, se não permanecerdes em mim. João 15:4b.
Nenhuma pessoa pode atestar a sua salvação argumentando em
favor de sua eficiência pessoal, pois tudo o que a nova criatura é, depende da
abastança de Cristo, e tudo que ela faz, decorre do poder soberano, manifesto
pela graça de Deus. A vida produtiva da nova criatura é o resultado de sua
dependência permanente na suficiência do Senhor Jesus Cristo, justificando o réu
do pecado e qualificando os salvos a frutificar as boas obras que Deus gera em
seus corações. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e
eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João
15:5.
Soli Deo Glória.
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sábado, 23 de março de 2013
BANQUEIROS DE ESPERANÇA
Nos últimos dias
do ano 2000, no último ano do século XX, quase no início do 3º milênio do
calendário cristão, precisamos fazer uma avaliação adequada de nossa história e
de nossa perspectiva. O homem, como um ser que começou registrar a história, tem
mais de quatro mil e quinhentos anos. E a história registrada pelo homem tem
cerca de seis mil anos. Durante os quatro mil anos de história bíblica, antes de
Cristo, havia um perfil marcado pela esperança de um Salvador que viria à terra.
A seta da expectativa sempre apontava para o Redentor da humanidade. A principal
ênfase da mensagem do Antigo Testamento sinaliza para a chegada de um Messias, a
fim de restaurar o drama da raça. A natureza da esperança é esperar no que a
fé crê. Havia uma promessa de Deus que acendia o fogo da fé e que mantinha
sempre inflamadas as chamas da esperança. O povo de Israel andava movido pela
expectação de um Rei, que aguardavam como o seu Libertador. Os holofotes da
história apontavam para o advento deste Soberano.
Mas, o Rei chegou numa dimensão muito reduzida.
Veio como plebeu, pária e pobre. Não nasceu em palácio, mas em curral de
ovelhas. A sua presença foi ignorada pelos grandes. Era simples demais para ser
reconhecido. Ele não veio como o Soberano Governador das Nações mas como o servo
menor de todos os homens pequenos. Seu manto real era uma toalha, cingida como
avental, para enxugar os pés sujos de pescadores iletrados. Sua coroa foi
trançada com os cipós de espinheiros e o seu trono foi erguido numa cruz rude e
mesquinha. Ele não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma
beleza havia que nos agradasse. E, como um de quem os homens escondem o rosto,
era desprezado, e dele não fizemos caso algum. Isaías 53:2b-3b.
Ele era escandalosamente modesto para ser aceito
como Rei. O reino de Deus é paradoxal. G. Campbell Morgan disse que
todos os tronos de Deus são alcançados descendo-se as escadas. Neste
reino, o altar fica no porão; os maiores são os menores; os primeiros são os
últimos; os importantes são as criancinhas. A maneira correta de crescer é
crescer menos aos seus próprios olhos.
A esperança de Israel foi desprezada. Nada poderia
ser mais quixotesco do que este Rei humilhado, sem espada, sem exército e
montado em jegue, caminhando sem qualquer resistência para o encontro da morte.
Olhando do ponto de vista político, a atitude de Judas é justificável. Ele
encontrava-se decepcionado com o seu líder fracote. Que Rei é este que não
defende os seus súditos? Assim, o bando todo se dispersava. Jesus foi um fiasco
como chefe de uma revolução política. Que decepção! A tristeza tomou conta de
todos os discípulos de Jesus, depois de sua morte. E, partindo ela, foi
anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de Jesus, se achavam tristes e
choravam. Marcos 16:10. Dizem que a esperança é a
última que morre. Mas os discípulos já tinham perdido a esperança. A morte tinha
colocado uma pedra no assunto. Não havia mais alternativa. O maior sinal da
derrota é quando já não se espera mais pela vitória. Ora, nós esperávamos
que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já
este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que
algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de
madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem
tido uma visão de anjos, os quais afirmaram que ele vive. De fato, alguns dos
nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres;
mas não o viram. Lucas 24:21-24. Eles estavam
rendidos aos fatos da morte. Tirando-se a esperança ao peregrino, ele perderá a
alegria para a caminhada. Os discípulos encontravam-se paralíticos na fé e sem
qualquer perspectiva de esperança no caminho da verdadeira vida.
Somente a revelação de Jesus Cristo ressuscitado
pode restaurar a esperança nos corações dos seus seguidores. A grande mensagem
do cristianismo vem do jardim do túmulo. Por que buscais entre os mortos
ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lucas
24:5b-6a. Depois da tarde negra da Sexta-feira
cinzenta, só a radiante manhã do Domingo da ressurreição pode causar reboliço.
Que pregação alvissareira! A morte foi tragada pela vitória. A esperança
ressurgiu da sepultura. O fênix reviveu das cinzas. A caixa de Pandora é a boca
aberta da tumba vazia. O sinal de nossa fé é uma cruz vazia e um túmulo
vazio. Ele não está aqui, mas ressuscitou. Jesus
Cristo ressuscitou e trouxe uma nova alternativa para o gênero humano. A
escravidão da morte foi banida pelo poder da vida ressuscitada. Graças a Deus
existe em nós vida ressurreta, e aguarda-nos uma manhã de ressurreição,
insiste J. J. Bonar. Não há mais cemitério para a fé cristã. Não
existe mais o pavor da morte. Nosso futuro é tão radiante quanto a manhã da
ressurreição. Não há sombras nem nuvens carregadas neste céu primaveril. A
vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser
dia perfeito. Provérbios 4:18.
O cristianismo é, antes de qualquer coisa, a
pregação da vida que veio da morte. É a vida ressuscitada que faz a diferença.
Não falamos de uma vida que vai morrer, mas de uma morte que foi tragada pela
vida. Falamos da esperança, quando já havíamos perdido toda a esperança. A
história do homem Jesus de Nazaré não terminou com um funeral, mas com uma
celebração no júbilo da ascensão. Os discípulos não ficaram com a cabeça baixa
procurando uma sepultura no chão, mas com os olhos erguidos aos céus
contemplando a vitória do Rei exaltado. O Evangelho não trata de esqueleto nem
de exumação de cadáver. Não se fala de defunto nem de mortalha. Fala-se da vida
que triunfa sobre a morte. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém
Ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas: Eu sou o primeiro e o
último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos
séculos e tenho as chaves da morte e do inferno. Apocalipse 1:17-18.
Jesus não é apenas um vivo que morreu, mas um que
esteve morto e vive para todo o sempre. O velho provérbio diz: Onde há vida,
há esperança. Jesus é a vida. Jesus é a única esperança dos
homens.
A igreja tem vivido estes dois mil anos de história na certeza da esperança viva, de um Salvador vivo, que prometeu dar-lhe vida e vida em abundância. A igreja vive na convicção da vida eterna, que lhe foi outorgada na ressurreição de Cristo e na esperança da ressurreição do corpo, quando do encontro com o Senhor nos ares. A igreja nutre-se de esperança da ressurreição e, na esperança, ela caminha com toda a confiança, sem olhar as circunstâncias. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. Romanos 8:24-25. Sem esperança não há fé cristã legítima. Mesmo quando o beco parece sem saída, há sempre um atalho de Deus para os que esperam nele e assim, a esperança consegue ver o êxito através das densas muralhas. Não é possível imobilizar um homem que está cheio de esperança. Não há crise capaz de estagnar o ânimo resultante da vida ressurreta, pois a esperança jamais contabiliza fracassos. O reino de Deus não pertence aos vesgos que olham para trás. Não encontramos estátuas de sal no caminho para os céus, pois o Pai nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros. 1Pedro
Soli Deo Glória.
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A CELEBRAÇÃO DA VIDA FELIZ
Eu, porém, confio em teu amor; meu coração exulta em tua
salvação. Salmo 13:5.
A existência de um indivíduo é um fato singular, e não há uma
segunda chance para a experiência histórica de alguém. A vida é uma via de mão
única. Todos nós só temos uma oportunidade para viver neste mundo. Ainda que
alguns sustentem a possibilidade de outras reencarnações, a Bíblia é categórica:
Da mesma forma como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois
disso enfrenta o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma
única vez. Hebreus 9:27-28a. A biografia de uma pessoa aqui na terra
acaba no epitáfio. O túmulo sepulta a outra chance. Do ponto de vista bíblico
não há uma outra ocasião para aperfeiçoamento. Todos nós só temos o ensejo de
viver uma vez neste mundo.
Muitas pessoas acham isto extremamente severo. Porém, o
universo é, na verdade, muito radical. A realidade cósmica tem suas leis de
causa e efeito sem que possamos alterar o seu curso. Neste planeta até podemos
mudar algumas coisas periféricas. Há certos fatos que são conversíveis. Mas, o
sistema da vida e da morte é inalterável. A morte é uma intransigência no modelo
existencial. Esta é uma norma rigorosa e fatal. A ciência, em muitos casos, já
consegue dilatar o prazo da vida, mas nada pode fazer para impedir o
desmoronamento do paciente. Na estatística mais precisa encontramos a
austeridade numérica: De cada um que nasce na terra, todos morrem. E morre
sozinho, apenas uma vez.
A existência humana aqui na terra é única e limitada. Todos nós
só temos uma vida para viver e devemos vivê-la no limite de sua singularidade.
Mas o ser humano não acaba com a morte física. O pecado gerou a morte na
experiência humana. Somos uma raça condenada pelo estigma da morte, todavia não
extinta da eternidade. Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também
pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que
Deus fez desde o princípio até ao fim. Eclesiastes 3:11. Mesmo o homem
morrendo neste mundo, continua com a perspectiva da existência eterna. A morte
física não suprime a realidade espiritual. Nós somos mais
do que matéria, e o espírito não pode ser abolido da eternidade. A validade do espírito não expira com a decomposição anatômica do corpo. A vida física é uma alternativa da criação de Deus, mas uma existência que só se preocupa com os valores deste mundo é estúpida demais para ser considerada como uma vida significativa. O homem que investe todo o seu tempo na construção de um projeto que o próprio tempo vai sucumbir, está envolvido num empreendimento muito apertado. A falta de significado consistente e duradouro acaba em descontentamento permanente. A pessoa que se preocupa apenas com as expectativas desta vida, torna-se prisioneira de uma mentalidade mesquinha demais para festejar cada momento. A qualidade da vida é mais importante do que a própria vida. Não basta viver, é preciso ter uma vida alegre. Sem alegria a existência não tem graça. O grande combustível da vida é o contentamento. E aqui não estamos falando de divertimento. Muitas pessoas até riem, mas não são felizes. A alegria que termina com o fim da festa não é mais que um passatempo. Remo Cantoni pontua: Em nossa época parecem multiplicar-se as ocasiões de diversão e distração na medida em que diminuem a alegria de viver em suas expressões mais simples e escorreitas. Há muita gentinha ridente, mas tristemente ridícula. A verdadeira felicidade sempre passa pela celebração que revela uma intimidade entre o homem e Deus. Nunca soube de uma pessoa incrédula que fosse realmente feliz. Ateu jubiloso é tão improvável como um defunto dançando. Temos multidões de festeiros, mas que não são bem-aventurados. Muitos são prósperos, mas não venturosos. Conheço gente que é acalorada e alvoroçada a fim de mascarar a tristeza existencial que sufoca a alma. A corrida frenética aos prazeres e aos divertimentos nasce de um desequilíbrio interior causado pelo déficit de uma anormalidade emocional.
Porém, a felicidade é um patrimônio dos filhos de Deus. Não
conheço um santo triste. Há episódios sombrios e momentos sinistros na vida dos
santos, mas nada que possa torná-los melancólicos. Jesus disse que no mundo os
salvos passariam por tribulações, não por desânimo. Eles seriam perseguidos, mas
ninguém poderia roubar-lhes a alegria do coração. A fé triunfante sempre se
reabastece na esperança da ressurreição. A madrugada do primeiro dia da semana
faz florescer os raios da esperança no coração das mulheres, que cheias de
alegria propagam a mensagem alvissareira que mudou a história da humanidade.
Desde que Cristo ressuscitou dentre os mortos, não há mais casos sem solução.
As mulheres saíram depressa do sepulcro amedrontadas e cheias de alegria,
e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus. Mateus 28:8. A
esperança da ressurreição é radiante.
A fé evangélica é uma festa de esperança. A santidade cristã é uma expressão de júbilo em face a uma vitória completa. Não há lugar para santidade carrancuda, uma vez que Cristo venceu a morte, o pecado e o inferno. Paulo não ficou detido pelo mau humor na prisão em Filipos. Os seus pés estavam no tronco, mas o seu coração estava no trono celebrando a vitória de Cristo. Ele não se encontrava amuado em face aos maus tratos, nem murmurando por causa dos sofrimentos. Ele fazia parte daquele grupo de apóstolos que, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (Atos 5:41b), marcaram época na história da igreja.
Todo aquele que foi alcançado pela maravilhosa graça não pode
viver uma vida miserável de críticas e reclamações. No reino de Deus não há
espaço para o rabugento, intolerante e queixoso. A vida feliz é um reflexo vivo
de uma salvação exultante. Já disseram que um cristão sem alegria é um
difamador do seu senhor. É impossível ser salvo pela graça e não estar
satisfeito com esta tão grande salvação. Uma libertação do pecado que não produz
um verdadeiro contentamento no espírito não merece confiança. Uma igreja sem
alegria é uma igreja destituída da graça. Martinho Lutero dizia: Se
não for permitido rir no céu, eu não quero ir para lá. Não estamos tratando
de gracejos ou piadas, mas de alegria como coisa séria no céu. Sem a alegria a
pessoa, a igreja e o céu se tornam desagradáveis.
John Piper
afirma: O despertar de uma sede irresistível
por Cristo é a criação de um cristão que busca o prazer. A busca da alegria em
Deus não é apenas inocente, ela é essencial. O nascimento desta busca é o
nascimento da vida cristã. A busca da alegria em Deus não é opcional. Se o
nosso cristianismo não expressar uma profunda alegria em conseqüência de nosso
relacionamento com Deus, estamos apresentando um produto falso. Não é possível
ser cristão chato ou criticóide. A vida que agrada a Deus é uma manifestação de
deleite na sublimidade de sua pessoa e de comemoração num relacionamento de
amor.
A adoração bíblica do povo de Deus vem marcada pelo festejo brilhante de uma comunidade feliz que exalta a grandeza de Deus com grande alegria. Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras. Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Salmo 100:1-2. Adorar sem alegria é uma contradição. Não há absurdo maior do que realizar cultos por obrigação movidos por mero dever. Se não somos verdadeiramente alegres, não somos cristãos. Se não somos cristãos alegres, não podemos adorar de verdade. Só o salvo em Cristo pode ser realmente feliz. Só os salvos felizes podem celebrar com alegria e singeleza de coração. Só temos uma vida para viver neste mundo, e se não vivemos em profundo gozo nesta vida, estaremos vivendo muito abaixo do propósito de Deus. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente. Salmo 16:11. Fala George Muller: Digo com toda clareza possível que o maior e principal assunto com que eu deveria ocupar-me todos os dias era ter minha alma feliz no Senhor. Só uma vida feliz pode glorificar o Deus de toda alegria.
Soli Deo Glória.
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REGULAMENTO OU RELACIONAMENTO?
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de Jesus
Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9
Muitas pessoas confundem a fé cristã com um sistema
hierárquico, onde as normas e o comando exercem o controle na convivência. Para
um grande grupo, as conexões humanas não passam de encontros governados pelas
regras que estabelecem espaços
e castas. Neste caso, a igreja se assemelha a um exército com os seus postos e as ligações pessoais não vão além de continências subservientes.
Sabemos que toda estrutura social precisa de uma certa
organização e ninguém pode viver coletivamente sem algumas cláusulas básicas
para a boa coexistência. Não pode haver intimidade sadia sem um respeito
correspondente, nem o trato social dispensa os princípios da consideração e
competência. Todo organismo gregário necessita de ordem e todas as relações
exigem um mínimo de etiqueta para se interagir. Toda família carece de um
crédito no seu esqueleto de sustentação e sem uma armação estrutural as relações
se tornam confusas e as pessoas doentes. Grande parte da epidemia
emocionalite que se abate no mundo moderno se deve ao estilo gelatinoso
ou coloidal que deforma a consistência da vida familiar. Sem uma carcaça de
princípios e de autoridade, o suporte e a conservação de qualquer grupo social
está determinado ao fracasso.
Entretanto, não podemos confundir princípios normativos ou
códigos de posturas com regulamentos imperiosos que destituem a camaradagem dos
relacionamentos. O projeto de Deus visa nos envolver numa relação de comunhão
com o seu Filho. Apesar de Jesus Cristo ser o Senhor, sua proposta é de nos
tornar amigos íntimos. Ele desceu do seu trono de glória e de sua posição
exaltada para nos alcançar em nossa situação arrogante do pecado, a fim de nos
converter em amigos de Deus, gerenciados por uma comunhão pessoal.
Ninguém pode ser constituído amigo por decreto. A amizade é
fruto de um relacionamento volitivo e prazeroso. Abraão foi cognominado amigo de
Deus. Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça; e:
foi chamado amigo de Deus. Tiago 2:23. Esta amizade não surgiu de uma
lei, mas de uma convivência. Abraão foi chamado por Deus para um companheirismo
afetuoso, para ser pai de uma grande família e manter uma comunhão estreita com
o Pai das misericórdias e o Deus de toda graça. Ele não foi intimado
judicialmente nem obrigado por um edito real. Não existe amizade por pressão. A
vocação divina pressupõe uma decisão pessoal: Eu sou o Deus Todo-Poderoso:
anda na minha presença, e sê perfeito. Gênesis 17:1b.
Aprecio muito uma paráfrase deste texto: Eu sou o Deus que
satisfaz completamente todas as coisas, por isso, anda na minha companhia e eu
farei você uma pessoa perfeitamente adequada. A vida espiritual autêntica é
uma questão de relacionamento com Deus e não de mero cumprimento de deveres. Não
fomos chamados para ser executivos de tarefas religiosas ou meros legalistas
praticantes de regulamentos. A vocação celestial sempre manifesta uma atitude
livre de correspondência, com um caráter de relacionamento amistoso. Contudo, é
bom salientar que esta amizade não elimina a responsabilidade moral do
cumprimento da lei, pois os verdadeiros amigos são sempre aqueles que
amorosamente se correspondem no estilo básico de aceitação.
A Bíblia mostra que o homem natural é inimigo de Deus e que
seus interesses pessoais são contrários aos planos de Deus. Mas a Bíblia também
mostra que o Deus da graça amou o homem incondicionalmente e enviou Jesus Cristo
para nos reconciliar com ele. Porque, se nós, quando inimigos fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:10.
Jesus veio a este mundo com o propósito definido de tratar do
problema essencial da nossa inimizade com Deus, e a cruz foi o tribunal que
cuidou deste processo, fazendo-nos morrer juntamente com Cristo e deste modo
desfazer a inimizade. O Espírito Santo graciosamente nos convence desta rebeldia
inata levando-nos ao arrependimento, a fim de permitir uma atitude voluntária de
nossa parte, recebendo os efeitos eternos da justiça de Cristo. Uma vez
desmanchado o antagonismo pela obra de Cristo na cruz, somos feitos filhos de
Deus através da vida ressurreta de Cristo.
O Deus de toda graça providenciou todos os meios necessários
para acabar com a hostilidade da raça humana, por meio de Jesus Cristo, e
mediante o convencimento do Espírito Santo ele nos agracia com a atitude livre
de arrependimento e fé, para recebermos a amizade como expressão viva de sua
soberana graça. Deus em Cristo nos chama a uma comunhão pessoal com ele, para
desenvolver um relacionamento de intimidade. Nós não nos tornamos amigos de Deus
cumprindo regras. O evangelho da graça nos revela que Jesus Cristo cumpriu toda
a lei, e deste modo nos reconciliou com Deus, convidando-nos para uma vida de
comunhão.
A vida cristã legítima se baseia num convívio doméstico entre
dois amigos. A graça torna o salvo um membro da família de Deus e um íntimo do
Salvador. A amizade será sempre um relacionamento livre e agradável, e mesmo
quando nós fracassamos, sua afeição por nós não se altera. A grande mensagem do
evangelho nos mostra que não é a nossa fidelidade que torna esta amizade
deliciosa e permanente, mas é a fidelidade de Deus que nos atrai para o centro
do seu amor incondicional.
Deus nos amou irrestritamente e de modo absoluto, e nos tornou
seus filhos para vivermos num relacionamento completamente acessível. No reino
de Deus não há lugar para coação nem a nossa amizade com ele pode ser imposta. O
Senhor nos conquistou livremente pela sua graça para termos a liberdade de viver
livremente. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei,
pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão. Gálatas
5:1. Não há liberdade cristã forçada nem regulamento que seja capaz de
promover amizade autêntica. Se fomos livres pela graça, precisamos conviver em
liberdade de amor. A lei da liberdade é a lei do amor. O amor não pratica
o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos
13:10.
A vida cristã é um relacionamento de profunda liberdade nos
limites do amor. A amizade do cristão é fruto do amor incondicional de Deus e da
alegria prazerosa em obedecer a vontade de Deus determinada pela lei da
liberdade e pelos ditames do amor. Como ensinava Sto. Agostinho: Ama e faze o
que queres. Não há outro postulado nem outro mandamento capaz de tornar a
vida mais significativa. Deus nos chamou para andarmos na liberdade do amor e
assim provocarmos relacionamentos que evidenciem a natureza da sua graça
inconquistável.
Mas, como fica a conduta? Muitos que são treinados pelo condicionamento dos preceitos ficam aturdidos com a vida da comunhão sem uma constituição determinando o comportamento. Por isso, há muita liderança encabrestando as pessoas com usos e costumes, com regras e regulamentos, tentando com isto controlar o procedimento externo, sem levar em conta as intenções do coração. Preferimos focalizar a comunhão com o Senhor como a única maneira viável de cuidar tanto da organização da vitrine, como da ordem no depósito. Ninguém se torna amigo de Deus cumprindo regulamento, mas porque se torna amigo de Deus num relacionamento de liberdade e amor, acaba também cumprindo as regras graciosamente, com alegria de uma amizade eterna.
Soli Deo Glória.
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