quinta-feira, 28 de março de 2013

VIDA EM CRISTO

“Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu filho, muito mais, estando já reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida.” Romanos 5:10

O nascimento de uma criança é um verdadeiro milagre. Cada pulsão de vida que entra neste mundo anuncia que o fluxo da criação ainda continua. Para os pais, as quarenta semanas de espera, de repente, se transformam em explosão de alegria contagiante. Para a criança é apenas o início de um tempo repleto de possibilidades de ser, fazer e ter. Um mundo inteiro para ser conhecido e uma vida inteira para ser vivida. Estamos falando do nascimento natural porém, quando se trata do nascimento sobrenatural as coisas não são muito diferentes.
A Bíblia afirma que existem dois tipos de nascimento: o terreno e o espiritual. O terreno nos capacita para viver e interagir com o mundo concreto. Enquanto o espiritual nos possibilita viver e agir no mundo sobrenatural. A fonte dessa nova vida está fora e acima de nós, em Deus. A vida cristã é mais do que um sistema ético que nos ensina a viver neste mundo. Trata-se de um relacionamento vivo com Deus. Aquele que está infinitamente acima de nós, passa a estar também dentro de nós. Ocorre uma vivificação interior que nos coloca em uma realidade totalmente nova.
O apóstolo João ao escrever o seu evangelho sobre Jesus deixa bem claro o seu objetivo: "Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." João 20:31. Jesus não apenas nos ensina a vida cristã, Ele a cria em nosso ser pela ação do seu Espírito. Por seu poder nos restaura à semelhança divina e nos faz filhos de Deus. "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." João 1:12.
Jesus Cristo é a fonte de vida sobrenatural, tanto para trazer libertação do pecado quanto para uma vida de vitória e de "... boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." Efésios 2:10. No capítulo primeiro do evangelho de João encontramos João Batista apontando Jesus como Salvador. Aquele que iria morrer na cruz como expiação dos pecados. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" João 1:29. Porém, o mesmo João Batista testificou de Jesus também como Aquele quem dá o Espírito Santo: "Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo." João 1:33.
Muitas vezes nos fixamos apenas em um dos lados da obra de Cristo. Normalmente enfatizamos a sua morte e deixamos de compreender e experimentar a sua vida de ressurreição. Jesus disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância." João 10:10. A vida que Cristo nos trouxe é a sua própria vida, como Filho de Deus. E, devido à sua ressurreição, recebeu o poder de comunicar a todos nós o seu Espírito. Quando Cristo envia o seu Espírito ao nosso espírito, sua presença é manifestada e torna-se para nós a fonte de vida nova, uma nova identidade e um novo modo de agir.
Quando falamos de "vida em Cristo", segundo a frase de Paulo, "Eu vivo, não mais eu, mas Cristo que vive em mim." Gálatas 2:20, não estamos falando de auto-alienação, mas da descoberta de nossa verdadeira identidade diante de Deus. Vida centrada em Deus e não em nós mesmos.
O pecado trouxe a supremacia do "eu", a vida humana passou a girar em torno de si mesma. O homem sem a vida de Cristo é um escravo, não tem vontade própria. Ele está entregue às suas compulsões, idiossincrasias e ilusões, de modo que jamais consegue fazer o que realmente quer. Seu espírito não está no comando e, por isso, não pode dirigir sua própria vida. O apóstolo Paulo descreve os resultados trágicos deste viver sob a escravidão do pecado: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto... Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim... vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros." Romanos 7:15-23
O diagnóstico de uma pessoa não-regenerada, segundo as Escrituras, não é nada animador. "Obscurecidos de entendimento, separados da vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração." Efésios 4:18. Quando uma pessoa que está separada da vida de Deus nasce do alto, pela fé em Jesus Cristo, recebe uma nova vida. A salvação é mais que o perdão de pecados. É implantação de uma nova natureza. "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo". Efésios 4:4-5. João Wesley afirmou que o novo nascimento é "a grande transformação que Deus opera na alma quando lhe dá vida; quando a tira da morte do pecado para uma vida de justiça".
A nova vida surge da morte. Na cruz de Cristo houve o aspecto substitutivo e o aspecto identificatório. A nossa participação na morte com Cristo pôs fim ao reinado do "eu", enquanto que, a nossa participação na Sua ressurreição, fez do nosso coração lugar de Sua habitação. "Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição." Romanos 6:5.
Sem a morte de cruz não é possível a vida da ressurreição. A aceitação da cruz por parte do crente, e a morte para o eu que ela inclui, são fatos relacionados ao recebimento do Espírito Santo. "Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos." Oswaldo Chambers afirma que diante da verdade de nossa co-crucificação com Cristo é preciso uma decisão moral em relação ao pecado. "Terei tomado essa decisão sobre o pecado – que ele deve ser totalmente destruído em mim? Leva muito tempo para chegarmos a uma decisão moral sobre o pecado, mas o grande momento de nossa vida é quando decidimos que, assim como Jesus morreu pelos pecados do mundo, assim também o pecado deve morrer em mim; não apenas refreado ou suprimido ou contrariado, mas crucificado".
De fato não é possível ao cristão considerar- se "morto para o pecado" a menos que tenha passado por essa radical decisão da vontade, diante de Deus. Estar crucificado com Cristo é estar identificado com a morte de Jesus, até que não sobre espaço algum para o pecado em sua vida, mas, apenas para a vida de Cristo. A prova de que fui crucificado com Jesus é a gradativa semelhança com Ele. A infusão do Espírito de Jesus em mim ajusta a minha vida com Deus. A ressurreição de Jesus deu ao Espírito autoridade para transmitir–me a vida de Deus, e minha vida, deve ser construída sobre a base da vida Dele. "Porque , se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados com Deus, seremos salvos pela sua vida." Romanos 5:10. Posso ter agora a vida ressurreta de Jesus, a qual se manifestará em santidade e frutificação.
Para o cristão, a vida da ressurreição é também uma questão de escolha. Isto porque, enquanto em Deus habita a plenitude de toda a realidade e perfeição, em nós não acontece o mesmo. Tendemos para o nada, para a não-existência. Nossa vocação para sermos aquilo a que fomos destinados implica, portanto, uma prova de vontade, um teste em que somos interrogados por Deus sobre nossa livre opção. Parece que nossa vida toda será esse teste, ou seja, de escolhas, de optar viver uma vida rasteira ou uma vida em um plano mais alto.
Viver como pessoas livres na ordem sobrenatural é fazer escolhas espirituais livres. Isto é possível porque Deus infundiu o Seu Espírito na vida dos seus filhos. "Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis." Ezequiel 36:27. Agora, podemos obedecer a Deus por amor. Somente compreenderemos a obediência pregada por Cristo se nos lembrarmos sempre de que, Sua obediência não é mera justiça, mas amor. Não é simplesmente a submissão de nossa vontade à autoridade de Deus, mas é a livre união de nossa vontade com o amor de Deus. Jesus é o maior exemplo de obediência de um filho em relação ao Pai celestial.
Nosso Pai celestial não está muito interessado no trabalho que realizamos para Ele, mas sim, no tipo de filhos que somos para Ele. Ele nos libertou do cativeiro do pecado e da morte para vivermos sob um novo governo. "Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte." Romanos 8:1-2. O Espírito de vida, não somente dá uma consciência livre da culpa do pecado, mas também, poder para uma vida de libertação e frutificação. O Espírito Santo purifica a imagem de Deus em minha alma, pela fé. Ele cura minha cegueira espiritual, abre meus olhos para as coisas de Deus. Ele toma posse de minha vontade, de forma que eu não seja mais escravo de minhas paixões e compulsões, podendo agir na tranqüilidade frutífera da liberdade espiritual. Ensinando-me gradativamente o amor, ele me aperfeiçoa à semelhança de Deus em minha alma, conformando-me com Cristo.
Em tudo isso, Deus tem um propósito. Deus quer se expressar através dos seres humanos, tanto através da pessoa do cristão quanto pela Igreja. Jesus Cristo nos batiza com seu Espírito a fim de que sejamos testemunhas do caráter e do amor de Deus. "Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas." Atos 1:8. Recebemos a incumbência de tornar Deus conhecido por meio da proclamação do Evangelho, como também pelo nosso estilo de vida. Jesus rogou ao Pai: "A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." João 17.21.
Não há como separar regeneração de discipulado, apesar de muitos tentarem. Mas se estamos cansados de uma vida cristã de "segunda categoria", precisamos nos comprometer existencialmente com o Senhor Jesus de corpo, alma e espírito. O Senhor Jesus disse: "Se alguém quer ser meu discípulo, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me." Mateus 16.24. Mais tarde, o apóstolo Paulo reitera o convite com outras palavras: "... levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo." 2 Coríntios 4:10. Se temos dificuldades em nos acertar com Deus é porque não queremos nos decidir definitivamente sobre o pecado. Assim que decidirmos, a vida plena de Deus nos invade. Jesus veio para nos dar todos os suprimentos da vida sobrenatural, "para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus."
O chamado para "viver em Cristo" é um privilégio que demanda uma vida de decisões e escolhas deliberadas. E isto deve ocorrer em todas as circunstâncias do dia a dia: nas alegrias, como também nas tentações, provações e tribulações. Pois, qualquer resquício de nossa própria energia, turva a vida de Jesus. Quando tomamos a decisão moral de, não mais eu, mas Cristo a energia e o poder que se manifestaram em Jesus, manifestar-se-ão em nós, pela ação do Espírito. Temos que estar sempre nos rendendo, para que, lenta e seguramente, a majestosa vida de Deus inunde cada parte de nosso ser. Assim, não só nós seremos aperfeiçoados, como também outros terão o privilégio de conhecer o Senhor Jesus Cristo, redundando em glória para Deus.
 
Soli Deo Glória.

terça-feira, 26 de março de 2013

O PERDÃO RECUSADO

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados. Efésios 2:1.
O homem foi criado à imagem de Deus, foi colocado no lugar perfeito, foi-lhe concedida a oportunidade de ter perfeita comunhão com seu Criador e de participar da glória de Deus. Todavia, tudo isto foi dado sob uma condição, isto é, que o homem exercesse voluntariamente seu livre-arbítrio. Vê-se, pois, que o amor não voluntário não é amor. Deus é amor; Ele criou o homem à sua própria imagem, de sorte que Ele, Deus, pudesse gozar de camaradagem com o homem e ter comunhão com ele. Por isso se fazia necessário conceder livre-arbítrio ao homem como prova de seu amor espontâneo. Por esta razão a "árvore do conhecimento do bem e do mal" foi colocada no jardim e do seu fruto o homem não podia comer. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Gênesis 2: 16 e 17.

Não obstante, este estado de amor e obediência não durou muito tempo. Satanás tentou o homem a duvidar da palavra de Deus e, assim, Adão usou seu livre-arbítrio para desobedecer à ordem de Deus. Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Gênesis 3:1. Por dar ouvidos a Satanás, o homem caiu. Por causa do pecado, o homem ficou sujeito à morte. Assim, a morte veio sobre todos os homens. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Romanos 5:12. Esta é, pois, a condição em que o homem se encontra. Ele é culpado e inapto para permanecer diante de Deus. Ele não tem meios de apagar o passado e não tem capacidade de obedecer ao padrão de santidade de Deus. Somos culpados por aquilo que somos e estamos separados do nosso Deus, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. Romanos 3:23.

Nascemos em uma geração contrária a Deus. Não optamos por ser pecadores, não é uma questão de escolha, já nascemos com esta herança; nascemos gênero humano, nascemos no pecado, herdamos, assim, esta natureza de nossos pais. Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Salmos 51:5.

Do céu Deus olha para a terra e procura se há um que entenda, um que O busque, e Ele mesmo responde: Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem sequer um. Salmos 53:3.

Quando a Palavra de Deus faz o diagnóstico sobre o pecador, o trata com toda firmeza, mas nosso Deus jamais deixou de buscar o homem para livrá-lo desta condição de membro de uma geração contrária a Ele. Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para a condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens, para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. Romanos 5:18 e 19.

O diagnóstico é verdadeiro e parte de um Deus cheio de graça, disposto a nos buscar. O pecado entrou por meio de um só, mas o perdão também entrou por meio de um só: Jesus, o Filho de Deus, que foi dado a nós para nos resgatar desta geração à qual pertencemos. Salvai-vos desta geração perversa. Atos 2:40b.

Não há outro meio de sairmos do que herdamos de Adão a não ser pela morte; somente com a morte deixamos de ser geração perversa.Mas o Senhor dos Exércitos se declara aos meus ouvidos, dizendo: Certamente, esta maldade não será perdoada, até que morrais, diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos. Isaías 22:14.

Por que muitos não aceitam o perdão de Deus? No ano de 1829, George Wilson, um homem da Filadélfia, foi julgado pelos crimes de homicídio e roubo de malas postais dos Estados Unidos. Constatada a sua culpa, foi condenado à forca. Os seus amigos recorreram ao presidente americano, que tem o poder de perdoar um condenado à morte e obtiveram dele, presidente Jackson, o perdão. Porém, George Wilson recusou-se a aceitá-lo! Criou-se um impasse. O que fazer quando alguém que é condenado à morte recusa o perdão? O governador hesitou! Como poderia mandar enforcar um perdoado?

Assim, o presidente ordenou ao Supremo Tribunal Americano que resolvesse a questão. E o juiz respondeu: Um perdão é um documento cuja validade depende de ser aceito pela entidade à qual diz respeito. Pode-se compreender que, quem tenha sido sentenciado à morte se recuse a receber o perdão; porém, se recusar, já não é perdão. Importa, pois, que George Wilson seja enforcado. Assim, ele foi executado, apesar de seu perdão estar sobre a escrivaninha do governador.
O condenado da história, mesmo tendo sido perdoado, escolheu a morte. Cristo já veio e trouxe tudo que precisamos para não sofrermos a condenação do pecado. Ele nos livrou da morte eterna. Mas, infelizmente, muitos recusam o perdão de Deus e preferem a morte e não a vida. Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência. Deuteronômio 30:19. O perdão de Deus já está disponível. E nós, o que vamos escolher? Não endureçamos os nossos corações pois, segundo a Palavra de Deus, ele já é de pedra, e, se recusarmos a obra de Cristo em nosso favor, ele se tornará em uma pedra das mais duras que conhecemos. Eles, porém, não quiseram atender e, rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito. Zacarias 7:11,12a. Com Cristo morremos para nós mesmos, para o pecado e recebemos o perdão de Deus. Cristo, agora, é nossa vida, Cristo vive em nós.
 
Soli Deo Glória.

domingo, 24 de março de 2013

O MÉDICO CELESTIAL


Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores. Mateus: 9:12-13.
O pecado é uma epidemia universal. Ninguém escapa deste mal. Qualquer que seja a diferença do clima em que se habita, as faculdades intelectuais de seus habitantes e seu caráter particular, todos aqueles que respiram o sopro da vida foram atingidos por esse mal. A queda de Adão inoculou nas veias de todo homem o veneno da morte. Cada pessoa que nasce neste planeta Terra é um herdeiro da morte. Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Romanos 5:12.
Ainda que, nas veias de um homem corra o sangue da nobreza, ou que tenha atraído os aplausos do mundo, o seu coração está sob a sentença da morte. O pecado é um mal que se alastra em sua ruína; é uma planta daninha que se estende por todo o jardim. O pecado maculou todos os homens e tudo o que se acha no interior deles; mergulhou na raiz de sua alma, e dirige suas fibras e ramos por cada uma das faculdades do espírito e do corpo. Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã; há só feridas, contusões e chagas vivas; não foram espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo. Isaías 1:5-6.
Veja o que o pecado fez no interior do homem: O primeiro que cai doente é o coração, o qual fica mais duro do que a pedra e torna o foco dos mais torpes desejos. A cabeça também se transforma, rende culto ao mundo como um senhor; considera o inferno como sendo uma fábula; o arrependimento é reservado para os últimos momentos da vida; ridiculariza a Palavra de Deus, acusando-a de páginas confusas, na qual se nutrem de ilusões os cérebros fanáticos e enfermos. A inteligência se desgarra, chamando impossibilidade aquilo que Deus chama realidade. Os ouvidos não distinguem do Evangelho senão notas discordantes. O paladar não sente gosto algum para um alimento santo. Os lábios, a boca, a garganta, a língua ficam cobertas de chagas superantes; e todas as palavras que saem da boca só podem fazer lavrar a sentença de morte. Como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria. Romanos 3:10-16.
O pecado é a reunião de todas as moléstias espirituais, formando uma massa compacta; não é um mal de pouca importância. Por isso, é de grande relevância nos perguntar: Podem os mortos obter vida por meio de rituais religiosos? As mãos levantadas, os joelhos dobrados e toda a santidade das coisas sagradas podem estancar a origem do mal? Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Romanos 7:24.
Parece um quadro sombrio, mas é real, e a pergunta é feita não é o que me livrará, mas quem me livrará do corpo desta morte? O mal é assim demonstrado, para também ficar demonstrado que há um único Médico capaz de nos libertar do poder da morte. Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue, também Ele semelhantemente participou das mesmas coisas, para que pela morte derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos aqueles que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão. Hebreus 2:14-15.
Vinde todos e ouçam as boas novas: O horizonte rutila os raios do Sol da Justiça que desponta, trazendo em Si mesmo o dom da vida. O Senhor nos atraiu com uma força irresistível. Ele nos atraiu para dentro do Seu corpo naquela cruz. Ele nos lavou com Seu sangue, a condenação foi banida para sempre; morremos na Sua morte; fomos sepultados com Ele e juntamente com Ele ressurgimos para uma vida nova. O homem foi feito senhor da criação, sobre todos os animais e sobre a natureza inanimada. Tudo era absolutamente perfeito e estava num estado de inteira harmonia e unidade. Tudo funcionava harmoniosamente. A harmonia foi destruída pela sua queda. Quando o homem caiu, a terra foi amaldiçoada, e daí por diante a história da criação sempre foi de discórdias, guerras, derramamento de sangue, assassinatos, ciúmes, espinhos, cardos, problemas, enfermidades, pestilência. A harmonia deixou de existir; a perfeição original desvaneceu-se e desapareceu. Essa é a situação do mundo, em conseqüência da queda do homem. Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem. Marcos 7:21-22-23.
O nosso Senhor Jesus veio a este mundo pleno de graça e de verdade. E Nele somos elevados à posição de uma perfeita harmonia com o universo. A antiga harmonia original será restabelecida. A harmonia entre o homem e Deus, tudo sob Este bendito Senhor Jesus Cristo, que será o Cabeça de todos! Todas as coisas voltarão a estar unidas Nele. Vinde! Juntar-se à essa assembléia daqueles que cantam cheio de ardor: O Cordeiro prometido apareceu. A vítima escolhida antes do princípio dos tempos. É o Deus homem, Jesus, o Senhor de todas as coisas, o Príncipe da vida, Ele morreu, a fim de operar a expiação; veio dar a sua vida, a fim de destruir o poder da morte. O altar preparado é bastante forte para suportar esse fardo, porque as colunas em que Ele se firmou são a força da divindade. Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Isaías 53:4-5.
O nosso Senhor Jesus Cristo cumpriu os desígnios do Pai; porque o decreto eterno assim o diz: A cruz do nosso Senhor Jesus era uma realidade espiritual antes mesmo do mundo ser mundo. Fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra. Efésios 1:9-10. Cristo é central, é essencial, e o que quer que se chame cristianismo e não vá repetindo o nome bendito, em última análise é uma negação do cristianismo. D.M. Lloyd-Jones.
Aquele que foi salvo torna-se habitação de Cristo. Cristo é a sua vida, e de Cristo ele vive. Nutre-se pela fé. Uma coisa é sabermos que temos vida em Cristo, e outra, muito diferente, é termos comunhão com Ele, nutrindo-nos Dele pela fé e fazendo Dele o único alimento do nosso espírito. Aquele que se tornou habitação de Deus pode assim dizer: Estou sob nova direção. O Cordeiro nos redimiu. Exaltemos: Ao que está assentado sobre o trono, Venham guerras, venham pestes, seja solto o inferno nada nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. O inferno foi vencido, a porta dos céus está aberta, e o nome desta porta se chama louvor. Por que louvor? Porque tudo está feito, tudo está consumado. Nele temos plena vitória, vitória sobre o pecado, sobre a carne, sobre o diabo. Ele, Cristo, é a nossa saúde, alegria, paciência, bondade. Tudo que o Pai nos deu está em Seu Filho. Nunca devemos esquecer que o Cristianismo não é um conjunto de opiniões, um sistema de dogmas ou um determinado número de pontos de vista. Não. O Cristianismo é uma realidade viva por excelência, pois se trata de uma Pessoa, Cristo. É um relacionamento pessoal, prático, poderoso, o qual anuncia Cristo em todas as circunstâncias e cenas da vida diária, espalhando a sua influência santa e transmitindo as suas disposições celestiais a todas as relações a que o cristão possa ser chamado por Deus a cumprir.
 
Soli Deo Glória.

SANTIDADE COM SANIDADE

Fala a toda a congregação dos filhos de Israel
e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Levítico 19:2.

O Deus da Bíblia é santo de fato e o povo do Deus da Bíblia deve ser santo por graça. Só Deus é essencialmente santo, e só ele pode conceder gratuitamente santidade ao seu povo. O Deus santo não amplia sua convivência com um povo contaminado pela corrupção pessoal, nem se envolve com a falsificação coletiva das outras nações. "Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus". Levítico 20:26.
O coração do ser humano é corrupto em face da natureza do pecado. Ora, se a parte está depravada, o todo se encontra corrompido. Se o coração do gênero é perverso, as relações da sociedade estão contaminadas. Os membros infectados adoecem o conjunto, e esta coligação de pervertidos reforça a corrupção dos componentes. Aqui há uma retro alimentação.
Entretanto, as Escrituras mostram que sem santidade ninguém poderá ver a Deus. Ainda que a santidade não seja um atributo da humanidade e que nenhum ser humano seja santo em si mesmo, ainda assim ela é requerida para o relacionamento com Deus. Isto implica no fato de que precisa haver uma ação sobrenatural que origine uma santidade imputada.
A santidade significa: exclusividade divina. O povo santo é uma aldeia que pertence somente a Deus. Esse é o primeiro significado de santidade. Um povo de propriedade exclusiva de Deus. Essa privacidade é fundamental para a comunhão interpessoal com o Deus santo. O Senhor escolheu o seu povo dentre outros povos para que fosse santo. Mas não o elegeu porque fosse melhor ou maior. A seleção foi baseada apenas no amor de Deus, sem levar em conta qualquer qualidade ou mérito do povo. "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos,
mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito". Deuteronômio 7:7-8.
A santidade sugere singularidade. "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor". Deuteronômio 6:4. Deus é único e o seu povo é particular. Javé optou por uma nação baseado apenas em seu amor. Isto quer dizer que não há atributos que determinem o seu amor. Toda expressão afetiva que se fundamenta em predicados não pode expressar o amor divino.
A preferência de Deus é motivada unicamente pelo seu amor incondicional, pois amor divino condicional é uma incoerência do seu caráter. Deus é sempre amor e nos elege para sermos seus filhos por causa do seu amor eterno em Cristo. Arthur W. Pink disse com muita propriedade: "O grande erro que muitos do povo de Deus cometem é esperar descobrir em si mesmos aquilo que só pode ser encontrado em Cristo". A santidade do povo de Deus é uma conseqüência da escolha divina estribada em Cristo, mediante a imputação do seu caráter. Nesse ponto nós encontramos a santidade objetiva que depende totalmente da suficiência de Cristo. Buscar santidade em nós mesmos, fora de Cristo, é a manifestação mais evidente de insanidade pessoal. O povo de Deus é santo porque Cristo é a sua santificação. "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. Nós temos na pessoa de Cristo um pacote de medidas que nos garante uma salvação perfeita, completa e eterna. Viver pela graça é viver somente pelos merecimentos do Senhor Jesus Cristo. Tanto a aceitação como a posição dependem da união com Cristo.
Cristo é a nossa santidade. O escritor aos Hebreus no capítulo 10 verso 10 nos diz que: "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas". Aqui vemos claramente a nossa santificação objetiva pela obra de Cristo. É uma santidade totalizada e permanente. Assim, neste aspecto da santificação, você, que confia tão-somente em Cristo para a sua salvação, já é santo. Tentar encontrar santidade em nós mesmos pode nos levar ao farisaísmo legalista ou à alucinação. Se quisermos ser santos, precisamos olhar para fora de nós mesmos e firmemente para Cristo. Só nele poderemos localizar a verdadeira santidade que nos santifica de verdade. "Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele". Efésios 1:4. Cristo é a nossa justiça e a nossa aceitação. Ele é o Advogado da nossa causa e o Juiz que nos julga. Ele é o santo que nos justifica e a santidade que nos aperfeiçoa. Somos irrepreensíveis diante dele, porque ele mesmo é objetivamente a nossa santificação. Do ponto de vista legal ninguém poderá ser mais santo do que já o é em Cristo. "Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Colossenses 1:22. Mas há também uma santificação subjetiva promovida pelo Espírito Santo que é progressiva em nossa experiência. A santidade que temos em Cristo é fora de nós e em união com Cristo, mas a santidade do Espírito e dentro de nós é crescente. Ambas vêm a nós pela graça, por causa dos merecimentos de Cristo. Mas uma é plena e concluída, enquanto a outra é de fato evolutiva. A santificação do Espírito é ampliada a cada dia, por meio da graça.
Só aquele que é santo pode crescer em santidade. "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se". Apocalipse 22:11. A natureza sempre evolui em seu cerne. Aqui temos a santificação daquele que é santo. Não há crescimento em santidade no ímpio, nem progresso do santo em impiedade. Todos evolucionam naquilo que são em essência.
A santidade de Cristo em nosso favor se torna uma matriz de santificação operada pelo Espírito Santo de modo progressivo. Aquele que é santo objetivamente em Cristo, por meio da graça administrada pelo Espírito, acende em santidade, subjetivamente, até a estatura da varonilidade de Cristo. Quem é santo se santifica ainda mais através da graça de Deus. E assim, quanto maior for a consciência da santidade, maior será o crescimento na santificação.
É bem verdade que o aumento em santidade acena sempre para uma maior consciência da nossa natureza pecadora. A história da igreja comprova que aqueles que têm subido o monte mais alto da santificação, acabam concluindo que são realmente os piores pecadores. Parece que a verdade é: quanto mais santo, mais certeza de sua pecaminosidade. Mesmo assim, a vida cristã é a manifestação evolutiva da santidade de Deus. Se o produto do pecador é o pecado, o fruto do santo é a santificação em santidade com sanidade. Não se trata de uma obsessão legalista, mas de uma evolução saudável da vida de Cristo capacitando-nos a obedecer com alegria tudo o que diz respeito à vontade do Pai para as nossas vidas. Entretanto, a santificação não indica que o cristão é um ser extraordinário, mas que Cristo é tudo nele. Pink dizia que "na pessoa de Cristo, Deus atinge uma santidade que suporta o mais profundo escrutínio, sim, que alegra e satisfaz o seu coração, e o que quer que Cristo seja diante de Deus, ele o é para o seu povo", só que isso precisa evolucionar em nossa compreensão e experiência através da operação graciosa do Espírito Santo em nós. Por isso, a santificação não é nada mais ou nada menos do que o desenvolvimento da vida de Cristo em nosso interior.
A santidade progressiva se alimenta do pão nosso de cada dia na pessoa de Cristo. Comer diariamente este maná atualizado é crescer em santificação saudável. Participar da mesa da graça não é uma questão de empenho, mas de prazer, uma vez que a santidade compulsória é um tenebroso sanatório. Sem alegria não pode existir vida cristã autêntica. "Cantem de contentamento e se alegrem os que têm prazer na minha santidade; e contem sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na felicidade do seu servo"! Salmo 35:27. (Paráfrase).
Sem alegria a santidade é um peso insuportável. O progresso da vida espiritual caminha sempre movido a regozijo como agente de festa. Tenho observado que, de um modo geral, a santificação no muque tem cheiro de axila, paladar azedo como limão, ar de desgosto e uma pose deprimida. Contudo, a santificação pela graça é uma vivência de celebração permanente, enquanto a santidade sem júbilo é como um velório na madrugada.
A santificação significa que Deus é mais glorificado em mim quando eu sou mais satisfeito nele. Quanto mais eu me alegro no Senhor, mais eu cresço em santidade. Como disse John Piper, "a glória do pão consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela sacia a sede". Ora, se Cristo é a satisfação da minha fome espiritual e a abastança da minha sede de significado, logo ele é a razão da minha evolução em santidade.
"Não existe santidade sem luta", mesmo assim, essa peleja não está destituída de prazer. Se retirarmos o deleite da experiência de santificação, ela não passa de uma conduta rígida e atormentadora. A santidade com saúde é uma realidade espiritual com satisfação. Santo a fórceps é aborto moral e desgosto permanente. A alegria é fundamental no processo da santificação.
Para concluir quero apenas confirmar: a santidade não é uma via para chegarmos a Cristo, mas Cristo é o caminho para a santidade. "Sede santos, porque eu sou santo". 1 Pedro 1:16. Contudo, é bom lembrar que isto não é um imperativo crucial, ainda que seja uma ordem, sua motivação é o gozo de uma vida livre e bem-aventurada. "Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra delícias perpetuamente". Salmo 16:11.
 
Soli Deo Glória.

O EFEITO DA JUSTIÇA DE CRISTO

Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fossemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado. Gálatas 2:16.


Hugh Latimer sustenta: Precisamos ser feitos bons antes de poder fazer o bem; precisamos ser feitos justos antes que nossas obras possam agradar a Deus – somente depois de sermos justificados pela fé em Cristo é que as boas obras vêm. A Bíblia mostra que o ser humano no pecado, de fato, não é bom. Isso é uma abordagem muito radical, mas é absolutamente verdadeira. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Lucas 18:19.

Segundo Jesus, o ser bom é um atributo exclusivo de Deus. A bondade humana é apenas um jogo fascinante de interesses pretensiosos. No humanismo há uma forte pretensão de extrair a bondade real de um ser efetivamente egoísta, por isso, a conduta aparentemente bondosa se manifesta sempre repleta de conveniências insinuantes. Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem. Mateus 7:11.
Uma pessoa má pode agir com uma suposta bondade, visivelmente proveitosa, pois na apuração desse negócio sempre vigora uma certa troca que exige alguma restituição. A bondade humana reclama qualquer recompensa, por mais dissimulada que pareça. Mesmo a abnegação dos pais sofre de um achaque contaminado com um certo vírus de compensação. Contudo, é impossível um ser substancialmente bom ocasionar frutos maus, nem um ser essencialmente mau produzir frutos bons. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Mateus 7:18.

Precisamos ser feitos bons antes de poder fazer o bem; precisamos ser feitos justos antes que nossas obras possam agradar a Deus.
Não há outro meio capaz de resolver esse assunto, senão a transformação radical realizada, em nosso favor, através de Cristo Jesus. Só Cristo pode converter uma pessoa ímpia numa pessoa justificada, e só ele pode fazê-la produtiva do que é efetivamente bom. Ou fazei a árvore boa e seu fruto bom, ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Mateus 12:33.

O velho homem, contaminado pelo pecado, não realiza nenhuma boa obra, ainda que realize muitas obras, de justiça própria, providas de valor humano. Todas as obras efetuadas por uma pessoa não regenerada, mesmo que sejam moralmente corretas, são, do ponto de vista bíblico, inerentemente egoístas e particularmente malignas. Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. Romanos 3:12.

Antes de alguém se tornar um praticante das boas obras precisa ser justificado pela graça em Cristo. Thomas Watson disse que a justificação é o eixo e o alicerce do cristianismo. Não se trata da justificação com base no mérito da pessoa, em que se admite algo da conduta decente do infrator. A justificação no evangelho é rigorosamente a absolvição graciosa do indigno, pela justiça de Cristo. Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para a condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Romanos 5:18.

Ninguém é justificado nesse mundo pelas suas boas obras tão alegadas; Deus, contudo, justifica o pecador infame através da justiça de Cristo imputada a ele graciosamente. Sendo assim, a justificação cristã nunca resulta das obras de justiça própria praticadas pelo pecador, mas ela sempre resulta nas boas obras que Deus preparou para que os justificados pela fé as pratiquem. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:10.

O Cristianismo é a única opção espiritual nesse mundo, em que a salvação é outorgada graciosamente, sem levar em conta o menor requisito positivo da pessoa que está sendo salva. Qualquer tentativa de arranjar uma justificativa, para fazer a justificação depender das obras de justiça praticadas por nós, é roubar da graça de Deus a sua gratuidade, e acrescentar nossos merecimentos à graça salvadora. Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou... Não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Tito 3:5a, e 1 Timóteo 1:9b.

Nenhum pecador foi salvo pela prática das obras
de justiça, mas todos os salvos pela graça são praticantes das boas obras. Deus justifica graciosamente o pecador através da obra suficiente de Cristo, para que os justificados pela graça sejam diligentes na prática das boas obras que Deus preparou para que andássemos nelas. (Jesus Cristo) a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. Tito 2:14.

A justificação é aquilo que Deus faz por nós, mediante a obra perfeita de Cristo realizada na cruz, para nos isentar de toda condenação do pecado, imputando a sua justiça graciosamente ao pecador; enquanto a santificação é aquilo que Deus faz em nós, isto é, nas novas criaturas, através da vida de Cristo implantada em nosso ser, a fim de produzir frutos de boas obras que glorifiquem a Ele mesmo. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. Mateus 5:16.

Só os filhos de Deus, ou sejam, as novas criaturas, conseguem produzir os frutos das boas obras, uma vez que somente os regenerados pela graça em Cristo são expressões vivas da vida de Deus agindo no seu interior. Só Deus é bom e exclusivo na realização das boas obras. Todas as obras do homem natural não podem ser consideradas boas obras, pois são realizadas pela energia vaidosa de um indivíduo autocentrado. As obras da velha criatura até podem ser nobres e honestas no entendimento humanista, porém nunca devem ser estimadas como uma boa obra na acepção teológica. O homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. 2 Timóteo 3:17.

A justiça de Cristo torna o mais torpe dos pecadores perfeitamente justificado de todos os seus pecados, e a bondade de Deus faz com que os justificados pela graça executem graciosamente, pela ação do Espírito Santo, as boas obras que Deus preparou para que eles as realizassem. O efeito da justiça de Cristo na vida dos regenerados é o cultivo das boas obras em que apenas Deus deve ser glorificado. ...Observando as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação. 1 Pedro 2:12b.

Tudo o que Deus proporciona para a salvação plena da velha criatura é mediante a obra finalizada por Cristo. Tudo o que Deus realiza por meio da nova criatura, ocorre por intermédio do Espírito Santo ao externar o poder da vida Cristo no seu interior. Só a justiça de Cristo Jesus assegura a justificação do pecador. Só a vida de Jesus Cristo repleta de bondade pode se responsabilizar pela frutificação das boas obras. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. João 15:4b.

Nenhuma pessoa pode atestar a sua salvação argumentando em favor de sua eficiência pessoal, pois tudo o que a nova criatura é, depende da abastança de Cristo, e tudo que ela faz, decorre do poder soberano, manifesto pela graça de Deus. A vida produtiva da nova criatura é o resultado de sua dependência permanente na suficiência do Senhor Jesus Cristo, justificando o réu do pecado e qualificando os salvos a frutificar as boas obras que Deus gera em seus corações. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5.
 
Soli Deo Glória.

sábado, 23 de março de 2013

BANQUEIROS DE ESPERANÇA


O Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo. Romanos 15:13.
Nos últimos dias do ano 2000, no último ano do século XX, quase no início do 3º milênio do calendário cristão, precisamos fazer uma avaliação adequada de nossa história e de nossa perspectiva. O homem, como um ser que começou registrar a história, tem mais de quatro mil e quinhentos anos. E a história registrada pelo homem tem cerca de seis mil anos. Durante os quatro mil anos de história bíblica, antes de Cristo, havia um perfil marcado pela esperança de um Salvador que viria à terra. A seta da expectativa sempre apontava para o Redentor da humanidade. A principal ênfase da mensagem do Antigo Testamento sinaliza para a chegada de um Messias, a fim de restaurar o drama da raça. A natureza da esperança é esperar no que a fé crê. Havia uma promessa de Deus que acendia o fogo da fé e que mantinha sempre inflamadas as chamas da esperança. O povo de Israel andava movido pela expectação de um Rei, que aguardavam como o seu Libertador. Os holofotes da história apontavam para o advento deste Soberano.

Mas, o Rei chegou numa dimensão muito reduzida. Veio como plebeu, pária e pobre. Não nasceu em palácio, mas em curral de ovelhas. A sua presença foi ignorada pelos grandes. Era simples demais para ser reconhecido. Ele não veio como o Soberano Governador das Nações mas como o servo menor de todos os homens pequenos. Seu manto real era uma toalha, cingida como avental, para enxugar os pés sujos de pescadores iletrados. Sua coroa foi trançada com os cipós de espinheiros e o seu trono foi erguido numa cruz rude e mesquinha. Ele não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. E, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso algum. Isaías 53:2b-3b. Ele era escandalosamente modesto para ser aceito como Rei. O reino de Deus é paradoxal. G. Campbell Morgan disse que todos os tronos de Deus são alcançados descendo-se as escadas. Neste reino, o altar fica no porão; os maiores são os menores; os primeiros são os últimos; os importantes são as criancinhas. A maneira correta de crescer é crescer menos aos seus próprios olhos.

A esperança de Israel foi desprezada. Nada poderia ser mais quixotesco do que este Rei humilhado, sem espada, sem exército e montado em jegue, caminhando sem qualquer resistência para o encontro da morte. Olhando do ponto de vista político, a atitude de Judas é justificável. Ele encontrava-se decepcionado com o seu líder fracote. Que Rei é este que não defende os seus súditos? Assim, o bando todo se dispersava. Jesus foi um fiasco como chefe de uma revolução política. Que decepção! A tristeza tomou conta de todos os discípulos de Jesus, depois de sua morte. E, partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de Jesus, se achavam tristes e choravam. Marcos 16:10. Dizem que a esperança é a última que morre. Mas os discípulos já tinham perdido a esperança. A morte tinha colocado uma pedra no assunto. Não havia mais alternativa. O maior sinal da derrota é quando já não se espera mais pela vitória. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmaram que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Lucas 24:21-24. Eles estavam rendidos aos fatos da morte. Tirando-se a esperança ao peregrino, ele perderá a alegria para a caminhada. Os discípulos encontravam-se paralíticos na fé e sem qualquer perspectiva de esperança no caminho da verdadeira vida.

Somente a revelação de Jesus Cristo ressuscitado pode restaurar a esperança nos corações dos seus seguidores. A grande mensagem do cristianismo vem do jardim do túmulo. Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lucas 24:5b-6a. Depois da tarde negra da Sexta-feira cinzenta, só a radiante manhã do Domingo da ressurreição pode causar reboliço. Que pregação alvissareira! A morte foi tragada pela vitória. A esperança ressurgiu da sepultura. O fênix reviveu das cinzas. A caixa de Pandora é a boca aberta da tumba vazia. O sinal de nossa fé é uma cruz vazia e um túmulo vazio. Ele não está aqui, mas ressuscitou. Jesus Cristo ressuscitou e trouxe uma nova alternativa para o gênero humano. A escravidão da morte foi banida pelo poder da vida ressuscitada. Graças a Deus existe em nós vida ressurreta, e aguarda-nos uma manhã de ressurreição, insiste J. J. Bonar. Não há mais cemitério para a fé cristã. Não existe mais o pavor da morte. Nosso futuro é tão radiante quanto a manhã da ressurreição. Não há sombras nem nuvens carregadas neste céu primaveril. A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Provérbios 4:18.

O cristianismo é, antes de qualquer coisa, a pregação da vida que veio da morte. É a vida ressuscitada que faz a diferença. Não falamos de uma vida que vai morrer, mas de uma morte que foi tragada pela vida. Falamos da esperança, quando já havíamos perdido toda a esperança. A história do homem Jesus de Nazaré não terminou com um funeral, mas com uma celebração no júbilo da ascensão. Os discípulos não ficaram com a cabeça baixa procurando uma sepultura no chão, mas com os olhos erguidos aos céus contemplando a vitória do Rei exaltado. O Evangelho não trata de esqueleto nem de exumação de cadáver. Não se fala de defunto nem de mortalha. Fala-se da vida que triunfa sobre a morte. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém Ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas: Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno. Apocalipse 1:17-18. Jesus não é apenas um vivo que morreu, mas um que esteve morto e vive para todo o sempre. O velho provérbio diz: Onde há vida, há esperança. Jesus é a vida. Jesus é a única esperança dos homens.

A igreja tem vivido estes dois mil anos de história na certeza da esperança viva, de um Salvador vivo, que prometeu dar-lhe vida e vida em abundância. A igreja vive na convicção da vida eterna, que lhe foi outorgada na ressurreição de Cristo e na esperança da ressurreição do corpo, quando do encontro com o Senhor nos ares. A igreja nutre-se de esperança da ressurreição e, na esperança, ela caminha com toda a confiança, sem olhar as circunstâncias. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos. Romanos 8:24-25. Sem esperança não há fé cristã legítima. Mesmo quando o beco parece sem saída, há sempre um atalho de Deus para os que esperam nele e assim, a esperança consegue ver o êxito através das densas muralhas. Não é possível imobilizar um homem que está cheio de esperança. Não há crise capaz de estagnar o ânimo resultante da vida ressurreta, pois a esperança jamais contabiliza fracassos. O reino de Deus não pertence aos vesgos que olham para trás. Não encontramos estátuas de sal no caminho para os céus, pois o Pai nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros. 1Pedro
 
Soli Deo Glória.

A CELEBRAÇÃO DA VIDA FELIZ

Eu, porém, confio em teu amor; meu coração exulta em tua salvação. Salmo 13:5.
A existência de um indivíduo é um fato singular, e não há uma segunda chance para a experiência histórica de alguém. A vida é uma via de mão única. Todos nós só temos uma oportunidade para viver neste mundo. Ainda que alguns sustentem a possibilidade de outras reencarnações, a Bíblia é categórica: Da mesma forma como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrenta o juízo, assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez. Hebreus 9:27-28a. A biografia de uma pessoa aqui na terra acaba no epitáfio. O túmulo sepulta a outra chance. Do ponto de vista bíblico não há uma outra ocasião para aperfeiçoamento. Todos nós só temos o ensejo de viver uma vez neste mundo.

Muitas pessoas acham isto extremamente severo. Porém, o universo é, na verdade, muito radical. A realidade cósmica tem suas leis de causa e efeito sem que possamos alterar o seu curso. Neste planeta até podemos mudar algumas coisas periféricas. Há certos fatos que são conversíveis. Mas, o sistema da vida e da morte é inalterável. A morte é uma intransigência no modelo existencial. Esta é uma norma rigorosa e fatal. A ciência, em muitos casos, já consegue dilatar o prazo da vida, mas nada pode fazer para impedir o desmoronamento do paciente. Na estatística mais precisa encontramos a austeridade numérica: De cada um que nasce na terra, todos morrem. E morre sozinho, apenas uma vez.

A existência humana aqui na terra é única e limitada. Todos nós só temos uma vida para viver e devemos vivê-la no limite de sua singularidade. Mas o ser humano não acaba com a morte física. O pecado gerou a morte na experiência humana. Somos uma raça condenada pelo estigma da morte, todavia não extinta da eternidade. Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim. Eclesiastes 3:11. Mesmo o homem morrendo neste mundo, continua com a perspectiva da existência eterna. A morte física não suprime a realidade espiritual. Nós somos mais
do que matéria, e o espírito não pode ser abolido da eternidade. A validade do espírito não expira com a decomposição anatômica do corpo.

A vida física é uma alternativa da criação de Deus, mas uma existência que só se preocupa com os valores deste mundo é estúpida demais para ser considerada como uma vida significativa. O homem que investe todo o seu tempo na construção de um projeto que o próprio tempo vai sucumbir, está envolvido num empreendimento muito apertado. A falta de significado consistente e duradouro acaba em descontentamento permanente. A pessoa que se preocupa apenas com as expectativas desta vida, torna-se prisioneira de uma mentalidade mesquinha demais para festejar cada momento.
A qualidade da vida é mais importante do que a própria vida. Não basta viver, é preciso ter uma vida alegre. Sem alegria a existência não tem graça. O grande combustível da vida é o contentamento. E aqui não estamos falando de divertimento. Muitas pessoas até riem, mas não são felizes. A alegria que termina com o fim da festa não é mais que um passatempo. Remo Cantoni pontua: Em nossa época parecem multiplicar-se as ocasiões de diversão e distração na medida em que diminuem a alegria de viver em suas expressões mais simples e escorreitas. Há muita gentinha ridente, mas tristemente ridícula. A verdadeira felicidade sempre passa pela celebração que revela uma intimidade entre o homem e Deus. Nunca soube de uma pessoa incrédula que fosse realmente feliz. Ateu jubiloso é tão improvável como um defunto dançando. Temos multidões de festeiros,
mas que não são bem-aventurados. Muitos são prósperos, mas não venturosos. Conheço gente que é acalorada e alvoroçada a fim de mascarar a tristeza existencial que sufoca a alma. A corrida frenética aos prazeres e aos divertimentos nasce de um desequilíbrio interior causado pelo déficit de uma anormalidade emocional.

Porém, a felicidade é um patrimônio dos filhos de Deus. Não conheço um santo triste. Há episódios sombrios e momentos sinistros na vida dos santos, mas nada que possa torná-los melancólicos. Jesus disse que no mundo os salvos passariam por tribulações, não por desânimo. Eles seriam perseguidos, mas ninguém poderia roubar-lhes a alegria do coração. A fé triunfante sempre se reabastece na esperança da ressurreição. A madrugada do primeiro dia da semana faz florescer os raios da esperança no coração das mulheres, que cheias de alegria propagam a mensagem alvissareira que mudou a história da humanidade. Desde que Cristo ressuscitou dentre os mortos, não há mais casos sem solução. As mulheres saíram depressa do sepulcro amedrontadas e cheias de alegria, e foram correndo anunciá-lo aos discípulos de Jesus. Mateus 28:8. A esperança da ressurreição é radiante.

A fé evangélica é uma festa de esperança. A santidade cristã é uma expressão de júbilo em face a uma vitória completa. Não há lugar para santidade carrancuda, uma vez que Cristo venceu a morte, o pecado e o inferno. Paulo não ficou detido pelo mau humor na prisão em Filipos. Os seus pés estavam no tronco, mas o seu coração estava no trono celebrando a vitória de Cristo. Ele não se encontrava amuado em face aos maus tratos, nem murmurando por causa dos sofrimentos. Ele fazia parte daquele grupo de apóstolos que, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (Atos 5:41b), marcaram época na história da igreja.

Todo aquele que foi alcançado pela maravilhosa graça não pode viver uma vida miserável de críticas e reclamações. No reino de Deus não há espaço para o rabugento, intolerante e queixoso. A vida feliz é um reflexo vivo de uma salvação exultante. Já disseram que um cristão sem alegria é um difamador do seu senhor. É impossível ser salvo pela graça e não estar satisfeito com esta tão grande salvação. Uma libertação do pecado que não produz um verdadeiro contentamento no espírito não merece confiança. Uma igreja sem alegria é uma igreja destituída da graça. Martinho Lutero dizia: Se não for permitido rir no céu, eu não quero ir para lá. Não estamos tratando de gracejos ou piadas, mas de alegria como coisa séria no céu. Sem a alegria a pessoa, a igreja e o céu se tornam desagradáveis.

John Piper
afirma: O despertar de uma sede irresistível por Cristo é a criação de um cristão que busca o prazer. A busca da alegria em Deus não é apenas inocente, ela é essencial. O nascimento desta busca é o nascimento da vida cristã. A busca da alegria em Deus não é opcional. Se o nosso cristianismo não expressar uma profunda alegria em conseqüência de nosso relacionamento com Deus, estamos apresentando um produto falso. Não é possível ser cristão chato ou criticóide. A vida que agrada a Deus é uma manifestação de deleite na sublimidade de sua pessoa e de comemoração num relacionamento de amor.

A adoração bíblica do povo de Deus vem marcada pelo festejo brilhante de uma comunidade feliz que exalta a grandeza de Deus com grande alegria. Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras. Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Salmo 100:1-2. Adorar sem alegria é uma contradição. Não há absurdo maior do que realizar cultos por obrigação movidos por mero dever. Se não somos verdadeiramente alegres, não somos cristãos. Se não somos cristãos alegres, não podemos adorar de verdade. Só o salvo em Cristo pode ser realmente feliz. Só os salvos felizes podem celebrar com alegria e singeleza de coração. Só temos uma vida para viver neste mundo, e se não vivemos em profundo gozo nesta vida, estaremos vivendo muito abaixo do propósito de Deus. Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente. Salmo 16:11. Fala George Muller: Digo com toda clareza possível que o maior e principal assunto com que eu deveria ocupar-
me todos os dias era ter minha alma feliz no Senhor.
Só uma vida feliz pode glorificar o Deus de toda alegria.
 
Soli Deo Glória.

REGULAMENTO OU RELACIONAMENTO?

Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de Jesus Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9

Muitas pessoas confundem a fé cristã com um sistema hierárquico, onde as normas e o comando exercem o controle na convivência. Para um grande grupo, as conexões humanas não passam de encontros governados pelas regras que estabelecem espaços
e castas. Neste caso, a igreja se assemelha a um exército com os seus postos e as ligações pessoais não vão além de continências subservientes.

Sabemos que toda estrutura social precisa de uma certa organização e ninguém pode viver coletivamente sem algumas cláusulas básicas para a boa coexistência. Não pode haver intimidade sadia sem um respeito correspondente, nem o trato social dispensa os princípios da consideração e competência. Todo organismo gregário necessita de ordem e todas as relações exigem um mínimo de etiqueta para se interagir. Toda família carece de um crédito no seu esqueleto de sustentação e sem uma armação estrutural as relações se tornam confusas e as pessoas doentes. Grande parte da epidemia emocionalite que se abate no mundo moderno se deve ao estilo gelatinoso ou coloidal que deforma a consistência da vida familiar. Sem uma carcaça de princípios e de autoridade, o suporte e a conservação de qualquer grupo social está determinado ao fracasso.

Entretanto, não podemos confundir princípios normativos ou códigos de posturas com regulamentos imperiosos que destituem a camaradagem dos relacionamentos. O projeto de Deus visa nos envolver numa relação de comunhão com o seu Filho. Apesar de Jesus Cristo ser o Senhor, sua proposta é de nos tornar amigos íntimos. Ele desceu do seu trono de glória e de sua posição exaltada para nos alcançar em nossa situação arrogante do pecado, a fim de nos converter em amigos de Deus, gerenciados por uma comunhão pessoal.

Ninguém pode ser constituído amigo por decreto. A amizade é fruto de um relacionamento volitivo e prazeroso. Abraão foi cognominado amigo de Deus. Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça; e: foi chamado amigo de Deus. Tiago 2:23. Esta amizade não surgiu de uma lei, mas de uma convivência. Abraão foi chamado por Deus para um companheirismo afetuoso, para ser pai de uma grande família e manter uma comunhão estreita com o Pai das misericórdias e o Deus de toda graça. Ele não foi intimado judicialmente nem obrigado por um edito real. Não existe amizade por pressão. A vocação divina pressupõe uma decisão pessoal: Eu sou o Deus Todo-Poderoso: anda na minha presença, e sê perfeito. Gênesis 17:1b.

Aprecio muito uma paráfrase deste texto: Eu sou o Deus que satisfaz completamente todas as coisas, por isso, anda na minha companhia e eu farei você uma pessoa perfeitamente adequada. A vida espiritual autêntica é uma questão de relacionamento com Deus e não de mero cumprimento de deveres. Não fomos chamados para ser executivos de tarefas religiosas ou meros legalistas praticantes de regulamentos. A vocação celestial sempre manifesta uma atitude livre de correspondência, com um caráter de relacionamento amistoso. Contudo, é bom salientar que esta amizade não elimina a responsabilidade moral do cumprimento da lei, pois os verdadeiros amigos são sempre aqueles que amorosamente se correspondem no estilo básico de aceitação.

A Bíblia mostra que o homem natural é inimigo de Deus e que seus interesses pessoais são contrários aos planos de Deus. Mas a Bíblia também mostra que o Deus da graça amou o homem incondicionalmente e enviou Jesus Cristo para nos reconciliar com ele. Porque, se nós, quando inimigos fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:10.

Jesus veio a este mundo com o propósito definido de tratar do problema essencial da nossa inimizade com Deus, e a cruz foi o tribunal que cuidou deste processo, fazendo-nos morrer juntamente com Cristo e deste modo desfazer a inimizade. O Espírito Santo graciosamente nos convence desta rebeldia inata levando-nos ao arrependimento, a fim de permitir uma atitude voluntária de nossa parte, recebendo os efeitos eternos da justiça de Cristo. Uma vez desmanchado o antagonismo pela obra de Cristo na cruz, somos feitos filhos de Deus através da vida ressurreta de Cristo.

O Deus de toda graça providenciou todos os meios necessários para acabar com a hostilidade da raça humana, por meio de Jesus Cristo, e mediante o convencimento do Espírito Santo ele nos agracia com a atitude livre de arrependimento e fé, para recebermos a amizade como expressão viva de sua soberana graça. Deus em Cristo nos chama a uma comunhão pessoal com ele, para desenvolver um relacionamento de intimidade. Nós não nos tornamos amigos de Deus cumprindo regras. O evangelho da graça nos revela que Jesus Cristo cumpriu toda a lei, e deste modo nos reconciliou com Deus, convidando-nos para uma vida de comunhão.

A vida cristã legítima se baseia num convívio doméstico entre dois amigos. A graça torna o salvo um membro da família de Deus e um íntimo do Salvador. A amizade será sempre um relacionamento livre e agradável, e mesmo quando nós fracassamos, sua afeição por nós não se altera. A grande mensagem do evangelho nos mostra que não é a nossa fidelidade que torna esta amizade deliciosa e permanente, mas é a fidelidade de Deus que nos atrai para o centro do seu amor incondicional.

Deus nos amou irrestritamente e de modo absoluto, e nos tornou seus filhos para vivermos num relacionamento completamente acessível. No reino de Deus não há lugar para coação nem a nossa amizade com ele pode ser imposta. O Senhor nos conquistou livremente pela sua graça para termos a liberdade de viver livremente. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão. Gálatas 5:1. Não há liberdade cristã forçada nem regulamento que seja capaz de promover amizade autêntica. Se fomos livres pela graça, precisamos conviver em liberdade de amor. A lei da liberdade é a lei do amor. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos 13:10.

A vida cristã é um relacionamento de profunda liberdade nos limites do amor. A amizade do cristão é fruto do amor incondicional de Deus e da alegria prazerosa em obedecer a vontade de Deus determinada pela lei da liberdade e pelos ditames do amor. Como ensinava Sto. Agostinho: Ama e faze o que queres. Não há outro postulado nem outro mandamento capaz de tornar a vida mais significativa. Deus nos chamou para andarmos na liberdade do amor e assim provocarmos relacionamentos que evidenciem a natureza da sua graça inconquistável.

Mas, como fica a conduta? Muitos que são treinados pelo condicionamento dos preceitos ficam aturdidos com a vida da comunhão sem uma constituição determinando o comportamento. Por isso, há muita liderança encabrestando as pessoas com usos e costumes, com regras e regulamentos, tentando com isto controlar o procedimento externo, sem levar em conta as intenções do coração. Preferimos focalizar a comunhão com o Senhor como a única maneira viável de cuidar tanto da organização da vitrine, como da ordem no depósito. Ninguém se torna amigo de Deus cumprindo regulamento, mas porque se torna amigo de Deus num relacionamento de liberdade e amor, acaba também cumprindo as regras graciosamente, com alegria de uma amizade eterna.
 
Soli Deo Glória.