Tu, porém, ó homem de
Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna,
para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas. 1 Timóteo
6:11-12.
A história do homem na
Terra tem sido uma trajetória de fugas e resistências. Todas as vezes que ele se
sente ameaçado por qualquer sintoma hostil, fora do seu controle, ou oprimido
por alguém, sua reação natural é fugir ou resistir. O ser humano sempre procura
escapar daquilo que o amedronta ou assusta. E resiste àqueles que lhe causam
coação. Desde que o pecado tomou conta do coração humano, a fuga tem sido uma
marca de nossa espécie. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que
andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus,
o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. Gênesis 3:8.
O medo assumiu o controle da alma, depois que a culpa tomou conta da mente. A
melhor alternativa agora era fugir e ocultar-se com disfarces e proteções. Com
máscaras de folhas e barreiras de troncos, o homem tentar encobrir as suas
falhas, fugindo e escondendo-se da presença de Deus. Em face da transgressão
moral e de sua rebeldia espiritual, cada passo de sua existência tem se
caracterizado por uma postura essencialmente resistente. Homens de
dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao
Espírito Santo; assim como fizeram
vossos pais, também vós o fazeis. Atos 7:51. Estevão estava
mostrando aqui que os judeus eram resistentes ao Espírito por tradição genética.
Desde Adão e Eva que nossa conduta racial vem se demonstrando obstinada com
relação às revelações divinas.
Mas há fugas que são
absolutamente inúteis. Todo mecanismo que nos predispõe a distanciar da presença
de Deus, causa um total absurdo. Ninguém pode fugir da presença de Deus. O
salmista pergunta com muita inteligência e responde com sabedoria inconfundível:
Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua
face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo,
lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares,
ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as
trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as
próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa. Salmo
139:7-12.
A Bíblia fala da
insensatez de um profeta que pretende fugir da presença de Deus. Freqüentemente
encontramos pessoas com esta atitude insana. Jonas se dispôs, mas
para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um
navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir
com eles para Társis, para longe da presença do Senhor. Jonas 1:3.
Muitos expedientes têm sido elaborados com a finalidade de prover o
distanciamento do homem da presença de Deus. Mas todos eles correspondem ao
mecanismo da avestruz que enfia a cabeça na moita, deixando todo o seu corpo de
fora. O ser humano pode não ter consciência da presença de Deus, porém, jamais
conseguirá fugir de sua presença.
Por outro lado, há uma
necessidade fundamental da fuga relacionada com alguns tipos de envolvimentos.
As Escrituras instigam a inevitabilidade de fugir da idolatria. Fugir da
presença de Deus é impossível. Contudo é imperioso que fujamos de tudo aquilo
que assume o lugar de Deus. Portanto, meus amados, fugi da
idolatria. 1Coríntios 10:14. A essência da idolatria é ter
pensamentos indignos acerca de Deus. Por este motivo é forçoso para a saúde
espiritual que fujamos de qualquer forma de idolatria. Um ídolo na mente é
tão ofensivo a Deus quanto um ídolo na mão. Tudo aquilo que esfria o nosso
desejo de intimidade por Jesus Cristo, se constitui numa postura idólatra que
deve ser renegada a qualquer custo. Ninguém deve resistir à idolatria, mas fugir
dela. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. 1João 5:21.
Do mesmo modo que
devemos fugir da idolatria, somos exortados a fugir de tudo aquilo que aparenta
piedade mas desmerece o poder de Deus. A Bíblia mostra que os tempos do fim
serão tempos difíceis, pois os homens se mostrarão bastante
egoístas, avarentos, arrogantes... tendo forma de piedade,
negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. 2Timóteo 3:1...5.
Piedade exterior e corrupção interior formam uma mistura revoltante, que
deve ser abominada em uma fuga permanente. A Palavra de Deus não sustenta
qualquer envolvimento com este tipo de pessoa que aparenta santidade sem a
demonstração poderosa da vida de Cristo. Mas, agora, vos escrevo que
não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou
idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda
comais. 1Coríntios 5:11. Está claro que é preciso fugir das
companhias fingidas. William Secker afirmava com razão: Uma prostituta
maquilada é menos perigosa do que um hipócrita disfarçado. Não adianta
combater este tipo de comportamento; neste caso, a fuga é a única atitude
satisfatória para o equilíbrio emocional do crente.
Fugir de Deus é um
despropósito, mas fugir da impureza é necessário para a manutenção da singeleza
de coração. A impureza contamina a mente, corrompe a moral, contagia o corpo,
emporcalha as relações e polui a linguagem. Fugi da impureza.
Qualquer outro pecado que uma pessoa comete é fora do corpo; mas aquele que
pratica a impureza peca contra o corpo. Acaso não sabeis que o vosso corpo é
santuário do Espirito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e
que não sois de vós mesmos? 1Coríntios 6:18-19. O texto aqui exige
a fuga da impureza e não o combate. É humanamente impossível alguém entrar no
fogo sem se queimar e sair dele sem cicatrizes; como também, é inadmissível envolver-se com a impureza sem trazer as
marcas de suas manchas. Deus não pede que nós resistamos à impureza, mas fujamos
dela, do mesmo modo que sustenta a fuga de todo o tipo de paixões determinantes
da juventude. Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a
justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.
2Timóteo 2:22. A Palavra de Deus sustenta a mensagem que nos
mantém fora do perímetro das paixões, por isso, fugir delas é a única
alternativa viável. Ninguém é capaz de impedir o surgimento das paixões, nem tão
pouco é competente para resistir à sua fúria. A grande arma contra a impureza e
as paixões é escapar de sua influência, retirando-se o mais distante possível
dos seus limites.
As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e
cada um dos teus justos juízos dura para sempre. Salmo 119:160.
Nada mais seguro do que o terreno da verdade. Ainda que as verdades, como as
rosas, tenham espinhos, os homens retos as levam sempre junto ao coração. Nossas
almas devem ser o santuário e o refúgio da verdade. É uma grande estupidez
tentar resistir à verdade. E, do modo por que Janes e Jambres
resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo
corrompidos na mente, réprobos quanto a fé; eles, todavia, não irão avante;
porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a
daqueles. 2Timóteo 3:8-9. Provavelmente estes dois homens fossem
os sacerdotes de Faraó que tentaram com as suas artes mágicas resistir a Moisés,
e acabaram desacreditados com o poder da verdade divina, revelada nas
Escrituras.
Se há alguém que nós devemos resistir com a verdade e em plena confiança
de fé, este é o Diabo, o pai da mentira. Sujeitai-vos, portanto, a
Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Tiago 4:7. Não
podemos fugir de Deus, mas devemos fugir da idolatria, da hipocrisia, da
impureza e paixões da mocidade. Não podemos resistir à verdade,
porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da verdade,
2Corintios 13:8, mas devemos resistir ao Diabo, porque ele fugirá
de nós. Muitos fogem do Diabo, porque resistem à verdade. Mas só aqueles que
confiam na verdade de Deus podem resistir ao Diabo, pois têm a certeza de que
ele fugirá. Quem tenta fugir de Deus resiste à verdade. Quem resiste ao Diabo
com fé na verdade de Deus, tem a garantia da sua fuga. De quem fugir e a quem
resistir, eis a questão!
Soli Deo Glória. | |
O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
FUGAS E RESISTÊNCIAS
A ESPERANÇA DA VOCAÇÃO
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no
Senhor, que andeis como é digno de vocação com que fostes chamados. Ef. 4:1
A chamada celestial não
é um dogma vazio, uma teoria ineficaz, nem uma especulação louca. A oração do
apóstolo Paulo revela este fato: " Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que
há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar
graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de
nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e
de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração,
para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da
sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que
cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares
celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo
nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. E
pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas,
o deu à Igreja." Ef. 1:15 a 22. "A esperança da vocação". Se formos
conduzidos pelo Espírito Santo à compreensão da verdade de que somos chamados
com uma chamada celestial; que o nosso lar, e nossa porção, a nossa esperança e
a nossa herança são de cima, "onde Cristo está à destra de Deus", nunca
poderemos ficar satisfeitos por manter um posição, buscar um nome ou ter uma
herança na terra. Quer dizer, devemos procurar atingir em experiência, na
prática e no caráter moral, o ponto para o qual Deus nos chamou, e esse ponto é
a plena comunhão com Seu Filho - comunhão com Ele na sua rejeição neste mundo, e
na sua aceitação no céu.
Por outro lado, como
base do nosso andar, a cruz requer a nossa mais profunda consideração. A mesma
cruz que me liga com Deus separou-me do mundo."Mas
longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela
qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo." Gl. 6:14
.Um homem morto acabou, evidentemente, para o mundo e, tendo ressuscitado com Cristo, está ligado
com Deus no poder de uma nova vida, uma nova natureza. "
Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para
que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo." II
Pe. 1:4. Estando assim inseparavelmente unido com Cristo. Ainda assim,
devemos lembrar que Deus nunca nos arrastará ao longo do caminho. Isto não
estaria de conformidade com a excelência
moral que caracteriza todos os caminhos de Deus. Ele não nos arrasta, mas "nos
atrai " para "O Caminho" que conduz à
bem-aventurança inefável n'Ele próprio.
O legalismo põe o homem, com o fardo dos seus pecados, ao serviço de Deus, guardando a lei; por isso a alma é mantida em constante tortura, e aprisonada. "Assim, pois, a Palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; uma pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem, se enlacem, e sejam presos." Is.28:13. O que constitui a legalidade é o ato da velha natureza tomar os preceitos de Deus e procurar praticá-los. Tentar regular a natureza humana caída, por meio da lei pura e santa de Deus, é tão inútil e absurdo quanto ensinar urubu alimentar-se de alpiste. O céu não tem encantos para a natureza humana, ela não tem gosto pelo céu, pelas suas ocupações ou pelos seus habitantes. Se fosse possível ao homem natural encontrar-se ali, sentir-se-ia miserável, como um peixe fora d'água. O legalista ensina que devemos deixar o pecado antes de podermos obter justiça. O Evangelho revela-nos o próprio Deus em Cristo vindo ao mundo em graça perfeita e tirando o pecado pelo sacrifício da cruz; tirando-o da maneira mais absoluta, sob a base da justiça eterna, "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus. " II Co. 5:21. E não somente Deus é visto tirando o pecado do mundo mas dando também uma nova vida, a própria vida de ressurreição de Seu Filho, exaltado, e glorificado. Esta natureza é guiada graciosamente pelos preceitos da Palavra de Deus, aplicada com poder pelo Espírito Santo. Ele anima-a também apresentando-lhe esperanças indestrutíveis: revela, à distância, " a esperança da glória" - "uma cidade que tem fundamentos" -, “uma pátria melhor, isto é, a celestial" - as muitas moradas da casa do Pai -, ligação eterna com Ele próprio, nessas regiões de glória e luz, onde a dor e as trevas nunca poderão entrar - e inefável privilégio de ser conduzido, através dos séculos incontáveis da eternidade, "às águas tranquilas, e verdes pastos" de amor redentor. Em vez de me mandar educar e dominar, por meio de dogmas da religião sistemática, uma natureza irremediavelmente corrompida, de maneira que eu possa desse modo, renunciar ao mundo que amo, e alcançar um céu que detesto, Deus em graça infinita, e com base no sacrifício de Cristo, concedeu-me uma natureza que pode gozar o céu, e o céu para essa natureza gozar; e não somente o céu, mas Ele próprio, a fonte infalível de toda a alegria do céu.
Soli Deo Glória.
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PELOS DESERTOS DA VIDA
Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que
ficaram prostrados no deserto.
Ele vinha só. Encurvado e apoiado em seu bordão.
Enquanto caminhava, ruminava as lembranças que sempre o perseguiam. Lembranças
de seu tempo no Egito. Aquilo fazia brotar em seu peito uma profunda e velha
dor. Na época, o seu ideal era ser um grande líder para o seu povo, mas o máximo
que conseguiu foi ser pastor das ovelhas do seu sogro. Caminhava determinado,
com as ovelhas para o lado ocidental do deserto. Sim, aquela visão no deserto
mudou sua vida. Ele não quis acreditar: pensou estar vendo miragens. Aquilo era
absurdo. Um arbusto em chamas, no meio daquele deserto! Logo constatou que era
real, uma sarça ardente e, o mais assombroso: não se consumia.
Assim, Moisés encontrou o Senhor no deserto. Do Deus
de seus pais recebeu a missão de dizer a Faraó: O
Senhor, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de
três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor, nosso Deus.
Êxodo 3:18b. O Senhor, que levara Moisés para o deserto, queria levar
também todo o seu povo. No deserto eles o serviriam.
O deserto é lugar de transição. É a preparação
para se alcançar um estágio mais elevado. É também o período de crise que conduz
à maturidade. Lugar de superação. É o fim da fé ingênua. A experiência no
deserto serve para nos purificar e nos expor a nós mesmos. Revela que temos medo
da liberdade e que não sabemos viver na dependência total de Deus. No deserto,
nossas ilusões são confrontadas com a verdade e nossas idéias e conceitos são
substituídos pela revelação de Deus. O deserto é símbolo de um lugar de lutas
internas e encontro com Deus. É onde ocorre o abandono dos enganos, das ambições
e desejos que arruínam a nossa alma. Não deve ser entendido apenas como espaço
geográfico, mas um estado da alma diante de Deus e de nós mesmos. Depois do
desnudamento da alma e da queda da máscara que colocamos para impressionar as
pessoas, experimentamos a quietude, o sossego, a comunhão e a amizade calorosa
de Deus. A sós com Deus, reconhecemos a nossa condição de homens caídos e nossa
total dependência da vida de Cristo em nós.
Na experiência dos homens de Deus, o deserto tem
sido um lugar para ouvir mais claramente a voz de Deus. Abraão teve que deixar a
segurança de sua cidade para peregrinar por campos e desertos e assim, se tornar
o pai da fé. Moisés, antes de se tornar o grande libertador do seu povo, teve
que experimentar o seu tormento no deserto. O
mesmo se deu com os profetas de Deus: João Batista, o último profeta, vivia e
pregava no deserto. Sobre ele está escrito: Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Mateus
3:3b. O próprio Jesus, antes iniciar o seu
ministério público, foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, para ser
tentado por Satanás. O deserto é lugar de apego à veracidade da palavra de Deus
e de descobrimento do seu poder libertador. É o lugar de estar a sós com Deus.
Somente no Velho Testamento, a expressão
midbar aparece 267 vezes. É usada em seu sentido geográfico, porém,
representa momentos que precisamos passar para ouvir a voz de Deus. Jim
Houston escreveu: Se Deus não nos permitisse passar por ‘desertos’,
continuaríamos a ter ‘desertos’ dentro de nosso coração. O povo de Israel,
guiado por Moisés, esteve por quarenta anos no deserto, aprendendo a andar nos
caminhos do Senhor. Durante a peregrinação, os desejos velados dos corações
foram sendo revelados. Os quatro séculos
vivendo sob o domínio e cativeiro egípcio incutiram valores, hábitos e costumes
do mundo pagão na cultura e religião do povo hebreu. O povo mostrou-se
insatisfeito com o propósito de Deus; murmuração e desejo expresso de voltar
para o Egito, revelaram que o povo ainda carregava o cativeiro no coração.
No deserto, o povo de Israel desbancou Deus para
substituí-lo por um ídolo. Infelizmente, muitos de nós fazemos o mesmo. Os
nossos ídolos não assumem a forma de um bezerro de ouro, mas vêm em forma de
dinheiro, status, trabalho, família, realização e objetos de veneração. Deus não
suporta competir com ídolos, por isso, eles devem ser quebrados e virar pó. Para
o perfeccionista, Deus tem preparado o deserto da imperfeição. Para o fazedor,
há o deserto da inutilidade. Para o legalista, o deserto da fluidez. Para o
orgulhoso, o deserto da humilhação. No livro de Oséias, Deus compara
o seu povo idólatra a uma adúltera e demonstra o tratamento a ser dado. Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias; desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor. Oséias 2:14, 19-20. Viver a experiência do deserto é imprescindível para crescermos em intimidade com Deus.
O deserto é lugar de aprender submissão e
obediência. As ordenanças, as leis e os dez mandamentos não foram dados no
Egito, mas no deserto. Ron Mehl, em seu livro A Ternura dos Dez
Mandamentos, demonstra como os mandamentos são muito mais uma carta de
amor, uma mensagem terna e sincera vinda da mão de Deus, do que uma lista de
proibições sob pena de condenação eterna. Deus nosso Pai – muito mais do que
eu, um pai humano imperfeito – deseja que evitemos os caminhos destrutivos e
deu-nos, então, Sua Palavra e, especificamente, os Dez Mandamentos. Ele fez isso
por amor, querendo remover a confusão de nossas vidas... querendo nos proteger
das armadilhas e laços do Destruidor... querendo poupar-nos da devastação, da
consumição do pecado... querendo que encontremos o nosso destino como seus
filhos e filhas. Somente quando nos deparamos com Deus e
experimentamos o derramar do seu amor e de sua graça nos tornamos aptos a
entregar-nos em submissão e obediência. Ao atravessar desertos percebemos que,
viver na graça não consiste em dar vazão a nossos desejos e esperar a libertação
de Deus. Isto é tentar a Deus. Descobrimos que liberdade não consiste em fazer o
que queremos, mas aquilo para que fomos criados. Contudo, fazer e ser aquilo
para que fomos recriados só é possível na comunhão submissa e
obediente ao Senhor. O deserto é
lugar de autenticidade e verdade. Recordar-te-ás de todo o caminho pelo
qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te
humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias
ou não os seus mandamentos. Deuteronômio 8:2. Onze
semanas seria tempo suficiente para o povo de Israel ir do Egito a Canaã, porém,
foram quarenta anos de peregrinação. Isso tudo para Deus poder expurgar o Egito
de dentro de seus corações. Saíram do Egito, mas o Egito não havia saído de
dentro deles. O mesmo acontece conosco, muitas vezes não temos idéia de como
ainda estamos impregnados dos valores deste mundo pecaminoso. A palavra de Deus
diz que enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? Jeremias 17:9. Nele estão ilusões que distorcem a verdade sobre nós mesmos e sobre a
vida. Criamos uma falsa imagem de nós mesmos, de Deus e do mundo que nos cerca e
nos revestimos de uma aura de espiritualidade, tentando enganar aos outros e a
nós mesmos. Porém, no deserto, temos a possibilidade de reconhecer quem
realmente somos. Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João
8:32. A verdade é: nascemos em pecado, e em iniquidade fomos formados.
Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Ai desta nação
pecaminosa, povo carregado de iniquidade... Toda a cabeça está doente, e todo o
coração, enfermo. Deste a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão
feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem
atadas, nem amolecidas com óleo. Salmo 51:5 e Isaías 1:4a,5b,6.
Nascemos pecadores e temos uma inclinação
incorrigível para o pecado. No deserto, os nossos pecados mais íntimos afloram e
constatamos que realmente fazemos parte de uma raça caída e
perversa.
O apóstolo Paulo exortou a igreja de Corinto para
que a cobiça não dirigisse suas ações, tal como fizeram os israelitas no
deserto. Eles se tornaram exemplos de como nãofazermos.
Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós a fim de
que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois,
idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para
comer e beber e levantou-se para divertir-se. E não pratiquemos imoralidade,
como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil. Não
ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas
mordeduras das serpentes. Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram
destruídos pelo exterminador. Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e
foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos
séculos têm chegado. 1Coríntios 10:6-11.
Para conter a rebeldia do povo no deserto, Deus enviou serpentes abrasadoras que mordiam as pessoas. O povo clamou a Moisés para interceder junto a Deus e então, receberam a cura. Bastava olharem para a serpente de bronze, enrolada em uma haste, e saravam. O que estava implícito neste ato era a fé. Sem fé para crer que, olhar para uma haste com uma serpente de bronze seria o suficiente para ser curado, a pessoa morria. Jesus, falando a Nicodemos sobre o novo nascimento, expressou: E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. João 3:14-15. Nos desertos da vida, reconhecemos em nós os efeitos do veneno da serpente que enganou os nossos pais no Paraíso. Reconhecemos que somos pecadores mas, também, que o Filho de Deus pendurado no Calvário é o antídoto contra a mordedura da serpente na raça humana. Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério. Hebreus 13:12-13. Cristo crucificado é o remédio para todas as enfermidades do coração. Levar o seu vitupério, é levar a nossa morte juntamente com ele. Fomos unidos a Jesus no momento de sua crucificação. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. João 12:32. Desta forma, podemos confessar: Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos. Gálatas 2:19b-20a. Romanos 6:6. Ao atravessarmos um deserto, o melhor é submeter-nos aos desígnios de Deus e deixar que o poder de sua palavra e graça opere. Logo perceberemos, o deserto é lugar de Vida.
Soli Deo Glória.
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O PERIGO DO PASSADO
A experiência tem história, mas não podemos viver
voltados para o passado. Nenhuma pessoa lúcida nega a importância da experiência
na história. Sem os fundamentos do passado não temos a competência para
construir com sabedoria o futuro. Os alicerces do amanhã estão baseados no
ontem. Precisamos do conhecimento antigo para elaborar o novo, pois as raízes da
antiguidade servem para sustentar o desenvolvimento vindouro. O retrovisor é
fundamental para o desempenho no tráfego. Muitos desastres são resultados da
falta da visão anterior. Porém, a vida não pode andar para trás.
No caso em foco, Jesus censura uma pessoa que
estava presa ao cordão emocional de sua linhagem. Ele queria seguir a Jesus, mas
tinha um vínculo com a família que precisava de acertos. Na vereda da fé cristã
há muitos que pensam deste modo. As tradições culturais e o peso da opinião
doméstica exercem grande pressão na decisão pessoal. Muitos ficam amarrados ao
julgamento do seu clã e sentem dificuldades para tomar posição. São pessoas
carentes que temem perder o apoio emocional da família e buscam conciliar sua fé
com a aprovação dos mais chegados.
Porém, esta abordagem ganha uma estimativa muito
mais ampla, quando examinamos outros lados da questão. O olhar para trás pode
representar toda tentativa de congelamento da experiência. Um grande risco que
vemos na história da igreja é o fascínio com o passado. Temos uma tendência de
perpetuar os métodos de uma época. Aquilo que foi de grande valor num momento
histórico recebe dimensões permanentes e, com isto, a igreja se inclina para
colecionar peças de museu.
Volto a insistir: não é possível caminhar com
saúde relacional, sem memória. O passado tem importância fundamental no
progresso de qualquer sistema, e há elementos no projeto da igreja que são
imutáveis. Faltando no horizonte do tempo a dimensão do passado, fica muito
difícil construir uma visão adequada do futuro. Contudo, não é normal permanecer
com aquilo que ficou obsoleto. A lamparina ainda tem a sua noite de glória nos
lugares onde não há energia elétrica, mas nenhum citadino
defende a sua permanência no mundo de hoje. Andar de charrete pode ser
pitoresco, mas é atraso no mundo automotivo.
Antes de qualquer coisa precisamos fazer uma
distinção entre aquilo que é estável e as coisas que são transitórias. Sabemos
que a Palavra de Deus é eterna e que os seus ensinamentos são duráveis. A ética
da Bíblia não muda. As leis do decálogo continuam vivas sob o comando da graça.
Ninguém pode considerar superados os princípios da moral bíblica, uma vez que
estão alicerçados na base perene do caráter de Deus. Mas os costumes e os
métodos históricos precisam ser avaliados em cada geração. Não devemos mumificar
aquilo que é provisório. A permanência das coisas interinas representa um
desperdício de tempo e um gasto tremendo de energia.
A mulher de Ló tornou-se uma estátua de sal ao
virar-se para trás. A igreja nostálgica perde sua função de sal da terra, quando
se agarra a uma metodologia retrógrada. A esterilidade de ambas se manifesta com
a contemplação do passado em desuso. Fixar os olhos naquilo que pôde ser
relevante noutra época, mas se tornou banal para este tempo, se constitui na
maior improdutividade na vivência comunitária. As pessoas orientadas de forma
dogmática para os conceitos atrasados, tentando soluções antiquadas para
problemas novos, acabam se tornando desqualificadas para o seu momento
histórico. Por isso, é importante a distinção entre os fatos eternos e as coisas
efêmeras, a fim de não descartar o que é imutável e não perpetuar aquilo que é
temporário.
O apóstolo Paulo foi um homem de vanguarda que
sabia discernir entre os eventos importantes e necessários e aqueles que serviam
momentaneamente para algum propósito. Os lances que foram admiráveis para ele
numa época, deixaram de merecer sua apreciação, quando auferiu os melhores
conceitos da graça de Deus. Irmãos, quanto a mim, não
julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para
trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo,
para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses
3:13-14. Paulo não ficou paralisado em sua
experiência passada, uma vez que sua meta tinha proporções absolutas.
Não podemos perder de vista o alvo. A fé cristã
tem mira. A falta de um objetivo supremo desencadeia o envolvimento com as
coisas periféricas. Precisamos atirar na mosca. Quando a igreja desloca seu
olhar do centro para os detalhes, acaba se perdendo nas práticas religiosas, sem
qualquer significado eterno. A grande ameaça que assalta constantemente o
programa da igreja é a concepção de atividades irrelevantes, que simplesmente
mantém as pessoas entretidas. Tanto o passado decrépito como o presente
alucinado por novidades, carece de análise.
A igreja necessita de uma avaliação contínua do
seu programa de atividades sob os cuidados do modelo da cruz. Somente
contemplando Cristo crucificado podemos focalizar o passado de modo
acentuadamente significativo. Não é possível ser tolerante com as vulgaridades
religiosas, quando vemos o panorama espiritual sob o prisma do Calvário. Também
não é possível ver o futuro sem a perspectiva da ressurreição. A igreja de
Cristo tem uma escatologia de esperança e conseqüentemente um culto com
elementos de expressão eterna. Na igreja não há lugar para os métodos
espetaculosos de passatempo religioso.
Os dois problemas mais sérios que temos com o
passado são: primeiramente, a lembrança ardida de uma consciência culpada. Há
uma multidão que sofre com a dificuldade em crer no perdão consumado. Como o
predador que enterra a sua presa, comumente retornamos ao nosso passado para
cavoucar a carniça escondida. A falta de uma visão clara do sacrifício de Cristo
faz muita gente prisioneira de uma memória delituosa. Parece que nunca podemos
viver isentos da culpa, e precisamos recordar em penitência a cena do crime.
Creio que a falta de revelação da obra plena de
Cristo crucificado é responsável por este retorno mórbido ao passado
delinqüente. Refém de incredulidade, o acusado inflexível regressa sempre ao seu
passado para curtir sua expiação recorrente. Ele precisa se martirizar neste
ciclo de autopunição, a fim de liberar um sentimento crônico de clemência.
Vítima de uma teologia psicológica, onde a autocomiseração é mais acentuada do
que a fé, o pobre réu do passado atura, sob pressão, uma mentalidade de
desagravo constante. Diz uma tradição, que Pôncio Pilatos viveu os seus últimos
anos exilado numa ilha, lavando as suas mãos. Nada pode ser mais terrível do que
uma consciência encarcerada num passado de amarguras, em conseqüência de
incriminações repetitivas.
Em segundo lugar, o perigo do passado fica por
conta da reedição dos modelos arcaicos e irrelevantes que são eternizados nas
tradições tolas. A falta de uma visão clara da dimensão escatológica e da
evolução progressiva da igreja faz os saudosistas torcerem o pescoço para
contemplar um passado que já expirou. Muita gente destituída da esperança da
ressurreição, ainda pretende retornar ao velho modelo judaico, que ficou
completamente ultrapassado. Vemos atualmente uma regressão acentuada no culto
cristão, com a preocupação em restaurar as formalidades festivas do judaísmo e
estabelecer uma liturgia atrelada às sombras que já foram superadas.
Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e
bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque
tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de
Cristo. Colossenses 2:16-17. Depois da realidade de
Cristo crucificado e ressurreto temos que formular a nossa teologia com base na
libertação deste passado refugado, e na certeza plena da esperança
vindoura.
A igreja cristã precisa ter uma boa memória,
recordando sempre os fundamentos essenciais de sua crença. A fé tem história,
mas não se atém construindo um memorial daquilo que foi provisório. O padrão do
evangelho é a novidade de vida numa estrutura sempre inovadora. Um legado da
reforma protestante foi que a igreja reformada devia estar sempre se reformando
à luz da esperança escatológica.
O cristianismo não tem lugar para o velhusco e bolorento sistema já deteriorado. O Senhor Jesus foi bem categórico em sua avaliação. Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres, e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos. Marcos 2:21-22. A mentalidade do evangelho é nova e a estrutura da igreja tem que ser sempre renovada. Repetir os velhos chavões ou cantar os cânticos da antiga comunidade judaica é olhar para trás. É bom lembrar que a fé cristã nasceu de uma sepultura aberta na madrugada do primeiro dia da semana. Ela é viva, alegre, original e cheia de esperança, olhando firmemente para o alvo, Cristo, seu autor e consumador.
Soli Deo Glória.
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
PERDOADOS E SEMPRE PERDOANDO
Quase escondida num canto remoto de um cemitério de New York há
uma pequena lápide sepulcral, fustigada por muitos anos de vento e chuva. Aquela
lápide não estampa nenhum nome, nem há qualquer data. A única gravação gasta
pelo tempo é uma palavra solitária, que representa a grandiosidade da graça:
Perdoado.
A criatura sem nome daquela sepultura não alcançara nenhum
monumento. Nenhum obelisco. Nenhum mausoléu de mármore. Nenhuma placa de bronze
em que estivessem registrados em relevo, feitos brilhantes, objetivos
esplêndidos alcançados ou batalhas heróicas vencidas.
Mas, acaso pode haver epitáfio mais glorioso? Nada, além de uma
certeza imutável. Perdoado. Alguém que encon-trou a majestade da misericórdia de
Deus. O perdão é mais que a remissão da pena-lidade; significa a restauração
da comu-nhão interrompida. O perdão é a mani-festação concreta da graça de
Deus em benefício do indigno. É a justiça de Deus produzindo satisfação para a
rebeldia humana.
A virtude central do cristianismo é o poder do perdão, e sua
maior equivalência está fundamentada na atitude de como recebê-lo . O
espírito orgulhoso rejeita qualquer donativo que afronte o seu mérito. Bernard
Shaw salientava com gravidade esta posição: O perdão é o refúgio dos
mendigos... Devemos pagar nossas dívidas. Aqui está o perfil do soberbo. A
religião das obras estriba sua pregação na mensagem da relevância e da
reciprocidade de valores. Mas Deus não irá adiante com o homem que marcha com
suas próprias forças. A obra prima do pecado é levar os homens a pensar que
podem permutar com Deus sua salvação. Não há compensação na esfera da graça.
Deus não premia os vencedores com a salvação, nem troca o perdão pelas
qualidades excelentes. Não somos perdoados porque nos arrependemos. A verdade do
evangelho mostra com clareza um outro enfoque: Nós nos arrependemos porque fomos
perdoados graciosamente pela graça de Deus. Ambrósio compreendia muito bem esta
posição, por isso expressou com sabedoria: Não me vangloriarei por ser justo,
mas por ser remido; não por ser livre do pecado, mas porque meus pecados são
perdoados. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a
paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para
que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Romanos
3:23-26. A morte de Cristo na cruz foi uma expiação que demonstrou um
sucesso pleno, não uma tentativa parcial que requer retoques de nossa parte.
Por outro lado, todos os perdoados são necessariamente
perdoadores. Se realmente conhecemos a Cristo como nosso Salvador, os nossos
corações são quebrantados, não podem ser duros, e não podemos negar o
perdão, ensinava o Dr. Martyn Lloyd-Jones. É impossível ter sido perdoado
totalmente por Cristo e não se tornar um verdadeiro perdoador. Nada neste
mundo vil e em ruínas ostenta a suave marca do Filho de Deus tanto quanto o
perdão. E nada nos torna mais associados com Satanás, do que a falta de
perdão. O apóstolo Paulo mostrou qual é a táticas sutil do inferno nestas
palavras: A quem perdoais alguma coisa, também eu perdôo; porque, de fato,
o que tenho perdoado ( se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz
na presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não
lhe ignoramos os desígnios. 2Coríntios 2:10-11. O tranco no coração
oprimido tem um troco forjado no tronco da vingança. Mas o tranco no coração
redimido tem um saldo de perdão oferecido pelo trono da graça. A moeda do
inferno comercializada nos relacionamentos humanos é vindita que inspira
punição. Porém os numerários celestiais circulam com as riquezas do perdão.
A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos
os homens. Se possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.
Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está
escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque,
fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer
do mal, mas vence o mal com o bem. Romanos 12:17-21.
Paul E. Holdcraft conta que "em uma zona rural do Texas, as
vacas do fazendeiro Dick arrebentaram a cerca da estância do seu vizinho Billy e
invadiram o seu verdejante milharal, devastando-o em uma extensa área.
Billy, ao amanhecer, contemplou enraivecido o estrago produzido
pelo gado, enviando a Dick um bilhete pouco cortês, relatando o desagradável
incidente. Informou-lhe que havia recolhido as vacas ao Curral da Prefeitura e
fez uma advertência, com azedume, de que se tal ocorresse outra vez, as
represálias seriam bem mais sérias.
Decorrido algum tempo, as vacas de Billy romperam a cerca do rancho de Dick,
e, sofregamente, devastaram uma grande parte do seu recém cultivado campo de
centeio. Dick, pacientemente, tangeu, cuidadosamente, as vacas para a
propriedade de Billy e lhe remeteu uma delicada mensagem, descrevendo os
acontecimentos, considerando-os inevitáveis e fortuitos. E, ao mesmo tempo que
lhe comunicava serem desnecessárias quaisquer preocupações, de vez que já
procedera o conserto da cerca, revestindo-a de um resistente reforço.
Finalizando a sua mensagem, tranqüilizou seu vizinho, esclarecendo-lhe que, se
porventura tal episódio viesse a se verificar novamente, que ele estaria pronto
a, de bom grado, repetir o mesmo gesto. Então, Pedro, aproximando-se, lhe
perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe
perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas
até setenta vezes sete. Mateus 18:21-22. Errar é humano; perdoar é
divino. A vingança é próprio dos espíritos perversos que jamais conheceram o
perdão de Deus. Nunca um ser humano se assemelha tanto com Deus, como
renunciando a vingança, perdoa de coração uma injustiça. Perdoar é banir do
coração todo desejo de vingança, todo apetite rancoroso, em face do grande amor
que reina, sob o comando do Senhor Jesus Cristo. Assim, a vingança pertence aos
escravos, subalternos e infelizes, mas o perdão é a característica viva dos
libertos e salvos por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
OS IMPOSSÍVEIS SÃO POSSÍVEIS
Mas Jesus respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis
para Deus.Lucas 18:27.
O ser humano aspira ao poder e à grandeza, mas
trabalha com os seus próprios limites. O pecado fez do homem um alpinista, que
busca escalar os picos da notoriedade querendo o reconhecimento, mas esbarra na
finitude da vida. Os grandes do mundo são escravos de sua grandeza e
insatisfeitos com a falta de plena realização dos seus intentos aparentemente
absolutos. Por mais impetuosas que sejam as aspirações do coração humano, há
coisas que são impossíveis, e isto torna insuportável o governo da vida.
O homem deseja ser o senhor de sua existência, mas
isto é impossível. Ninguém pode dirigir a sua vida plenamente. Não somos
senhores da vida, somos meros reféns da morte. Todo homem nasce com a sina da
morte, porque a sua vida física tem um limite, além do qual não passará.
Nascemos sob o signo da morte: não nascemos para viver, apenas vivemos para
morrer. A régua que nivela a humanidade mede os limites da existência com um
ponto final. A morte exclui a diferença entre o aristocrata e o plebeu, entre a
criança e o ancião, entre o douto e o ignorante, entre o sadio e o doente.
Quando ela desce determinada sobre alguém, não há quem possa fazer nada. Se ela
vem disfarçada, às vezes conseguimos empurrá-la por mais um tempo. A ciência tem
ganho algum terreno
em adiar a hora da morte. Muitas vezes a medicina
alcança vantagens e impede por mais um tempo seu espetáculo. Porém, se ela vier
sem máscara, não há remédio que possa afugentá-la. Tantos quantos são os
poros da pele, tantos são as janelas pelas quais a morte pode entrar. A sua
estatística é fatal: de cada pessoa que nasce, uma morre, por isso, é
impossível ao homem vencer a tirania imperiosa da morte.
Porém, os impossíveis dos homens são
possíveis para Deus. A grande mensagem do
cristianismo parte da boca de uma sepultura. Quando as mulheres foram ao túmulo
de Jesus, na madrugada do primeiro dia da semana, encontraram o sepulcro aberto
e dois varões, com vestes resplandecentes, anunciando, em primeira mão:
Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas
ressuscitou. Lucas 24: 5b-6a. No reino de Deus não
há mensagem de coveiro. O cristianismo de Jesus não deixa débito com as
funerárias da religião, pois a fé do Evangelho não se envolve em mortalha. As
melhores notícias que o mundo já ouviu vieram de um túmulo. O berço da
Igreja é a tumba de Cristo, vazia. A vítima da cruz triunfa livremente sobre os
domínios da morte. O cemitério tornou-se o palco do regozijo universal. Em vez
de lágrimas de tristeza, vivas de júbilo. As sombras da Sexta-feira foram
dissipadas belo brilho radiante da manhã de Domingo. A história do homem Jesus
não termina com um funeral, mas sim com a celebração do festejo radiante da
ressurreição. O túmulo do Senhor da Vida escancara a esperança para uma
humanidade oprimida pela morte. Agora já não há mais carcereiro na prisão da
morte, pois o Senhor da vida tem o chaveiro que destrancou a fechadura do
inferno e da morte. Não temas; Eu sou o primeiro e o último e aquele que
vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as
chaves da morte e do inferno. Apocalipse 1:17b-18. O
cristianismo é essencialmente a mensagem vitoriosa da ressurreição. C. S. Lewis
bradou com confiança:
Jesus abriu à força a porta que estava fechada
desde a morte do primeiro homem. Ele encontrou, enfrentou e derrotou o rei da
Morte. Tudo é diferente porque Ele fez isso. Visto, pois, que os
filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também Ele, igualmente,
participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte,
a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à
escravidão por toda a vida. Hebreus 2:14-15. Aquele
que vive com a esperança da vida eterna, nunca mais temerá a morte, pois a fé
radiante, estribada na realidade da ressurreição, se expressa através de um
coração pleno de alegria.
Tudo aquilo que é impossível ao homem é possível a
Deus. Não é possível ao homem vencer a morte, mas foi possível a Cristo triunfar
sobre a morte. Não é possível ao homem se salvar do pecado, mas graças a Deus
que Jesus Cristo já realizou uma salvação capaz de nos libertar da condenação do
pecado e nos tornar vencedores sobre o poder do pecado. Nenhum homem pode se
salvar, mas qualquer homem pode ser salvo pela graça de Deus, em Cristo Jesus.
Não há esforço humano que seja apto para conquistar os favores de Deus. A nossa
salvação é uma dádiva inteiramente gratuita de Deus, que não pressupõe outros
requisitos, senão o pecado. A única coisa com a qual o homem pode contribuir
para a sua própria redenção é o pecado do qual ele precisa ser redimido.
Alguém já disse que a graça está especialmente associada com os homens em seus
pecados e a misericórdia está geralmente associada com os homens em sua
miséria. Nenhum pecador jamais foi salvo por ter dado o coração a Jesus. Não
somos salvos por termos dado, mas sim pelo que Deus deu, afirma,
categoricamente, A. W. Pink. Quando, porém, se manifestou a benignidade de
Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o
lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós
ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados
por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito
3:4-7. A salvação é um dom da graça de Deus que não
pode ser obtida pelos méritos das obras humanas. Nenhuma criatura que mereça
redenção precisa ser redimida.
A graça de Deus não encontra ninguém habilitado
para a salvação, mas habilita a todos os que são salvos a recebê-la. Nenhum
homem pode se salvar, mas qualquer homem pode ser salvo pela graça de Deus.
Watchman Nee disse, no contexto de que nenhum homem pode se salvar, que, para
uma pessoa ser salva, ela precisa primeiramente confessar que não é capaz de
salvar a si mesma. E, nós só confessamos realmente quando, pela graça de
Deus, chegamos ao fim de nós mesmos. Quando fizemos tudo o que era possível e
fracassamos. Só quando reconhecemos totalmente a nossa inteira incapacidade para
a nossa salvação e nossa completa incompetência para alcançar vitória na vida
espiritual é que podemos nos render de fato à absoluta dependência da graça de
Deus. "Senhor, desisto de tentar, porque sou incapaz de fazer qualquer coisa que
resulte em salvação ou vitória." Esta é a oração de abandono diante da soberana
graça de Deus. Quando chegamos ao fim da linha e renunciamos todas as tentativas
de aceitação e todos os mecanismos de negociação, então acaba a luta e nos
rendemos à suprema vontade de Deus. A salvação e a vitória de Deus são dádivas
ofertadas aos arruinados que fizeram o melhor que podiam e falharam
redondamente, e, estando frustrados em seus intentos, desistiram por completo de
tentar conquistar qualquer favor, rendendo-se inteiramente. "Ó Deus, nunca
poderei ser bom. De agora em diante não vou mais tentar fazer o bem para ser
aceito. Desisto e abandono toda tentativa de recompensa ou aprovação. A partir
de hoje não é mais problema meu a minha salvação ou vitória sobre o pecado.
Desisto de meus esforços e deixo tudo em tuas mãos. Amém." Os impossíveis
dos homens são possíveis para Deus. O reino de Deus
é habitado por aqueles que desistiram de tentar qualquer coisa para sua
salvação, abandonando-se por completo à suficiência de Cristo crucificado e
ressurreto dentre os mortos, como expressão de sua morte e ressurreição com
Cristo.
Soli Deo Glória.
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PORQUE NINGUÉM É BOM ?
Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é
Deus. Lucas 18:19.
Não parece que Jesus foi extremado com essa resposta? Afinal de
contas, a Bíblia não diz que a criação de Deus era muito boa. Por que ele faz
uma declaração tão exagerada como essa? Eu não me conformo com a radicalidade
desta afirmação de Jesus. Esse é um argumento muito comum quando se aborda o
assunto da bondade. É verdade que a criação de Deus era boa, mas o pecado a
contaminou com o mal. O ser humano e a natureza estão sob a calamidade e os
efeitos da transgressão maligna. Tudo nesse mundo sofre com a influência ruim da
catástrofe do Éden. Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no
Maligno. 1 João 5:19.
Do ponto de vista essencial só Deus é bom. Ele é singularmente
bom. Nele não existe maldade e tudo que ele faz é bom. Mas a bondade da criação
é derivada do Criador, e por isso é contingente. Não é uma bondade inerente ao
ser, uma vez que foi criada. A bondade da criação é decorrente e, portanto,
sujeita a deterioração. Só Deus pode ser inteiramente bom, pois só ele é
eternamente bom. Leon Tolstoi disse que não se pode ser bom pela
metade. Se a minha bondade pode ser suspensa por algum interesse maléfico,
então a minha bondade não é de fato boa. Se eu sou bom em algum momento e não
sou em todos, logo não sou categoricamente bom e a minha bondade é, na verdade,
relativa. Quando Jesus disse que ninguém é bom, senão Deus, ele estava dizendo
que nenhuma pessoa é infinita nem invariavelmente boa. Além disso, a nossa
bondade circunstancial é sempre dependente de um conceito adequado daquilo que
admitimos ser o bem. Com isso, a minha opinião do que é bem vai falar bem do que
eu acho que é bom. Mas o bom é universal e eterno. O que é bom para um, tem que
ser rigorosamente bom para todos em todos os tempos. Sendo assim, só Deus é de
fato eterno e imutavelmente bom. Segundo Jesus, em conseqüência do pecado, o ser
humano é mau. Isso não significa que ele seja essencialmente mau, mas que ele
está contaminado pelo vírus da maldade. Um adoentado está enfermo mesmo que não
esteja inteiramente doente. Um dedo inflamado faz todo o corpo ficar doente,
ainda que outros órgãos estejam sadios, por isso, uma pessoa pode morrer por uma
picada de mosquito ou na trombada de uma jamanta.
O fato de Jesus dizer que somos maus, não significa que sejamos
totalmente imprestáveis para o bem. Ele também disse que mesmo sendo maus, ainda
éramos capazes de fazer algumas coisas boas para os outros. Ora, se vós,
que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai,
que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus
7:11.
Mesmo sendo mau, eu consigo fazer algumas coisas boas, desde
que sejam voltadas para satisfazer as minhas vantagens pessoais. Somos uma raça
que gravita em torno do egocentrismo, assim, todo bem relativo me impulsiona a
agir de acordo com os meus critérios interessantes. Mas isso não me habilita ao
titulo honorário de bom moço. Por causa do pecado a minha bondade fica
frequentemente condicionada à percepção egoísta de minha avaliação. O pecado me
tornou sujeito a uma vontade incapaz de fazer o bem que eu gostaria de fazer. O
apóstolo Paulo foi fundo quando tratou desse ponto cruciante da natureza humana.
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
Romanos 7:19.
A bondade humana está sujeita às forças do egoísmo. O homem
natural sempre faz o que é bom segundo os padrões de sua própria escala de
valores, contaminada pelo proveito pessoal. Por esse motivo, o seu bem sempre
será determinado pelo seu umbigo. Ninguém é bom quando exerce sua bondade
atrelada a qualquer tipo de compensação ou conveniência particular. Fazer o bem
esperando um troco ou contrapartida é tráfico de influência na comercialização
das pessoas, tornando os sujeitos como escravos nas relações. Muita gente
pratica atos de bondade relativa visando o ressarcimento na sua carreira, ao
mesmo tempo em que deixa o favorecido com um débito
impagável.
No mercado dos escravos a bondade é usada como moeda de compra.
Enquanto eu faço o bem para uma pessoa, já passo a algema da gratidão
compulsória e ela fica me devendo um agradecimento inflexível. O benefício tem
um ar de exigência que deixa o paciente sem alternativa, por isso, essa bondade
como ultimato de reconhecimento é um ultraje ao conceito da verdadeira bondade
divina. Deus é bom para com todos e Jesus aponta esta bondade como o único
padrão dos filhos de Deus. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e
emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis
filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Lucas
6:35.
A grande recompensa da bondade praticada é a alegria de ter
praticado a bondade. O filho de Deus exercita a bondade dependendo da
superabundante bondade divina. Como nenhuma pessoa é boa em si mesma, a bondade
dos filhos de Aba é abonada pela bondade de Aba. Só o Pai é bom em
si mesmo e só os seus filhos podem exercer a bondade garantida pela bondade do
Pai. O homem natural, isto é, aquele que ainda não nasceu de novo, é praticante
crônico das obras da justiça própria. Todas as suas obras têm um ranço de
autopromoção e uma fuligem de indenização. As obras do homem natural exigem
notificação, reconhecimento e aplausos da platéia. Isto caracteriza a
necessidade de ostentação pessoal que descaracteriza a identidade de filho de
Deus. Os filhos de Deus são praticantes das boas obras que o Pai armazenou para
que eles fossem distribuidores. Pois somos feitura dele, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas. Efésios 2:10.
Antes da regeneração o ser humano exibe a sua justiça com a
astúcia dos relatórios, procurando mostrar o seu desempenho como prova de seu
caráter. Mas os filhos de Deus, embora devam ser vistos praticando boas obras,
eles nunca devem praticar boas obras para serem vistos, uma vez que estas boas
obras são para a glória do Pai. Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está
nos céus. Mateus 5:16.
Deixe-me dizer algo muito importante que Jesus assegurou com a
maior exatidão. A frutificação sempre depende da qualidade da planta.
Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos
maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir
frutos bons. Mateus 7:17-18.
O ser humano por causa do pecado não se encontra num estado
essencialmente bom. Ainda que ele demonstre alguma bondade, como vimos
anteriormente, essa bondade está infectada de egoísmo e orgulho. Ele precisa ser
convertido de erva daninha em cereal, de joio em verdadeiro trigo. Ou
fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque
pelo fruto se conhece a árvore. Mateus 12:33.
O fruto mau ou bom depende do predicado da planta. No reino de
Deus uma planta má pode ser transformada em uma planta boa. Esse é o grande
milagre que Jesus veio realizar, pois a vida espiritual boa é o efeito da vida
de Cristo no âmago do crente. A bondade do salvo depende da bondade divina que
habita nele. Quando a Trindade vem residir no íntimo dos crentes, o resultado é
a produção de bons frutos. Mas essa safra não é ceifada pela carne. O homem
velho não produz boas obras, ainda que produza obras disfarçadas de bondade. E
neste ponto, Jesus foi enfático: Não há árvore boa que dê mau fruto; nem
tampouco árvore má que dê bom fruto. Lucas 6:43.
A bondade do crente é a bondade de Deus. Só Deus é bom. Só ele pode produzir as boas obras em nosso ser. Quando o Pai nos regenera, somos enxertados no caule da videira. Jesus disse: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. João 15:1-2.
Segundo Jesus os salvos são os ramos ligados à cepa da vide.
Cristo é a cepa e nós somos os seus ramos. A cepa não produz nenhum fruto, mas
transmite a vida e os nutrientes para os sarmentos produzirem os frutos. A boa e
eterna vida de Cristo é a causa das boas obras dos crentes. Eu sou a
videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5.
Se os ramos estão dando bons frutos é porque estão unidos à
videira e dependem dela. As boas obras dos filhos de Deus decorrem da bondade do
próprio Filho de Deus que vive no coração dos seus filhos. Já que só o Deus
trino é bom, a única maneira de uma pessoa produzir bondade é ganhando a boa
natureza do Filho de Deus. Ninguém é bom por si mesmo, mas todos aqueles que são
regenerados pela graça em Cristo, ganham uma natureza boa de origem divina, que
é capaz de produzir as boas obras que o Pai preparou para que andássemos nelas.
A biografia de um cristão é a manifestação da vida de Cristo através dos seus
atos, portanto, toda a sua bondade é a expressão da bondade de Cristo que vive
nele.
Todas as pessoas que se consideram boas em si mesmas estão
redondamente enganadas. Além disso, essa fantasiosa bondade humana está
abarrotada de arrogância e direitos pessoais cheios de melindres. Não conheço
ninguém que se diga boa, que não faça apologia da sua bondade, reivindicando os
méritos do seu papel de bondosa. Todavia os filhos de Aba sabem que a sua
bondade é uma graça do seu Pai. Eles percebem que toda a sua bondade emana da
fonte eterna do único ser que é verdadeira e essencialmente bom. Toda boa
dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem
não pode existir variação ou sombra de mudança. Tiago
1:17.
Soli Deo Glória.
|
A CAUSA NÃO CAUSADA É A ÚNICA CAUSA DO UNIVERSO
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A
ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36
.
Deus é a origem de todas as coisas. Mas quem criou
Deus? Essa é a questão elementar de qualquer criança e o questionamento de todos
os filósofos. Por trás dessa causa não causada há um caso de excitação
generalizada que perturba as mentes mais brilhantes desse planeta. Quem é essa a
causa que causa tanto alvoroço? Por que essa causa é tão misteriosa e
inexplicável para o homem natural?
A Bíblia não tenta esclarecer a essência Divina,
nem se intromete no terreno explicativo de sua existência. "Os escolásticos
opõem essentia a existentia: a essência é a natureza conceptual de
uma coisa, ela é concebida como um poder ser; a existência, pelo contrário, é a
plena atualidade, ultima atualitas, aparece assim como se acrescentando à
essência". Por este motivo, a Escritura parte da realidade ontológica do ser
Divino, o que ele é em si mesmo, sem a menor necessidade de elucidar os termos
da sua existência.
O nome sempre alude à realidade. Deus se nomeia
meramente com a sua verdadeira denominação: Disse Deus a Moisés: EU SOU O
QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós
outros. Êxodo 3:14. Deus é apenas um título, mas o seu nome é: EU SOU.
Segundo Vacherot, Deus é o Ser dos seres, a Causa das causas, o Fim
dos fins; eis como ele é verdadeiramente Absoluto.
A realidade ôntica do EU SOU é a sua
transcendência, que não pode ser explanada em três dimensões, pela mente finita,
mas a sua existência se evidencia através da criação. Toda a natureza fala de um
Criador, por isso Paulo diz: Porque os atributos invisíveis de Deus, assim
o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que
foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; Romanos
1:20.
Eu não posso explicar a essência do EU SOU, mas
também não posso excluir o fato da existência de um Criador neste mundo, sem
cair na asneira da irracionalidade. Como bem disse Voltaire: se o
relógio pressupõe o relojoeiro, o universo implica a existência de um eterno
geómetra. Mesmo que não o denomine como sendo o EU SOU, a verdade é que há
um Ser Absoluto na origem do Universo. Joseph Addison considerava que,
para ser ateu é necessário uma medida de fé infinitamente maior do que
admitir todas as verdades que o ateísmo nega.
Deus é a causa não causada que causa todas as
causas no universo. Sendo a origem de todas as coisas, "a sua causa nunca corre
perigo, pois o que ele começou no mundo ou na alma, ele mesmo levará até o fim".
Se o cosmo tem uma origem no EU SOU, tem também a sua preservação nele. Deus é o
alfa e ao mesmo tempo o processo. Ele é o princípio que sustenta todas as coisas
pela força do seu poder.
Blanchard afirma que os propósitos de
Deus sempre contam com sua provisão. Nada nesse mundo está fora do seu
alcance e tudo o que ele permite tem um objetivo para o seu governo. "O que Deus
faz, ele sempre teve o propósito de fazer" e o que ele consente tem um objetivo
soberano para o bem do seu povo. O apóstolo Paulo afirmou
que é dele que vêem todas as coisas, todavia ele não ficou distante da sua
criação como sustentam os deistas. Muitos crêem que Deus criou a terra assim
como um relojoeiro fez o seu relógio de corda. Depois de construído deu corda ao
relógio e o deixou gastar a sua potência. Mas não é assim que a fé cristã
anuncia a intervenção da graça no mundo. O EU SOU além de Criador é o
Sustentador de todas as coisas. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo
subsiste. Colossenses 1:17.
Jesus é a encarnação do EU SOU. Esse nome Jesus é
a apócope de Jeová, o sotaque latino do tetragrama sagrado que designa o EU SOU,
mais o termo sus, que significa salvação. Ele é a imanência do transcendente, a
solidificação do incorpóreo que não somente cria todas as coisas, mas também
sustenta e salva as que foram arruinadas. Ele é a Causa não causada que originou
o universo e o Salvador do mundo. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. João
1:3.
Jesus é o EU SOU, o Criador do mundo, o
Sustentador de todas as coisas e o Salvador dos pecadores. Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas
pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados,
assentou-se à direita da Majestade nas alturas, por isso também pode salvar
totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por
eles. Hebreus 1:3 e 7:25.
Ainda que o mundo esteja sob a influência do
maligno, por causa do pecado, ele não está sem manutenção. Deus ainda é o Senhor
do mundo que governa tudo segundo as determinações da sua vontade. Thomas
Brooks dizia que, embora o céu seja o palácio de Deus, não é sua
prisão. O EU SOU não ficou imobilizado pela vontade da sua criação, nem
deixou de ser soberano por causa do pecado, pois ele é o Senhor da história.
Blaise Pascoal afirmava que Jesus Cristo é o
centro e o objeto de tudo. Aquele que não o conhece, nada conhece da natureza
nem de si mesmo. Além de Jesus Cristo ser a causa do universo, bem como o
sustentador de todas as coisas, ele é a finalidade de tudo o que existe. Depois
de Paulo dizer que nele foram criadas todas as coisas, conclui com estas
palavras: tudo foi criado por meio dele e para ele. Colossenses
1:16b.
Jesus é a causa do universo; é o agente de
conservação de tudo o que existe; e é a razão pela qual tudo veio a existir.
João Calvino pontuou com clareza: se queremos evitar uma filosofia
natural sem significado, precisamos sempre começar com este principio: tudo na
natureza depende da vontade de Deus, e todo o curso da natureza é apenas efeito
da obediência imediata às suas ordens. Tudo foi criado
pelo EU SOU para o EU SOU. A finalidade da criação é a satisfação do Criador.
Porém, sabemos que a criação está capenga por causa do pecado, não podendo
satisfazer plenamente o seu Criador. Isto, contudo, não paralisa a ação da Causa
não causada no sentido de fazer convergir para ela mesma todas as coisas, a fim
de restaurar tudo que é restaurável em seu tempo próprio. Paulo mostra com todas as nuanças que a criação está sujeita à
vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança
de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção para a
liberdade da glória dos filhos de Deus. Romanos 8:20-21.
Já que a natureza está contaminada pela putrefação
do pecado, só há um jeito para descontaminá-la: fazer a purificação, mediante a
obra da redenção em Cristo, de todas as suas partículas. A Bíblia mostra de modo
dramático os efeitos do fogo no câmbio entre o sistema corrompido e a nova
realidade. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis
ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e
apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual, os céus incendiados serão
desfeitos e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua
promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. 2 Pedro
3:11-13.
O EU SOU é a causa do universo que ficou cativo
pelas leis do pecado, contudo ele também é salvação de todo o sistema que se
encontra escravizado pelo poder do pecado. Não só a criação aguarda esse dia,
mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Romanos
8:23.
Bendito seja o EU SOU, Criador dos céus e da terra, Senhor do
universo, Sustentador de todas as coisas e Salvador onipotente, que não se
deixou ficar entrevado pela rebeldia de sua criação, nem indiferente com tamanha
arrogância dos pecadores. Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus
único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém. 1Timóteo
1:17.
Soli Deo Glória.
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QUE PAÍS É ESTE ? (AINDA SEM O EVANGELHO...)
"Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei
ao mundo." (João 17:18)
Já faz alguns anos que um grupo musical brasileiro fez enorme
sucesso com uma música que tinha este refrão: que país é este? A letra dizia:
Nas favelas, no senadoSujeira pra todo lado Ninguém respeita a Constituição Mas todos acreditam no futuro da nação Que país é este? Que país é este? Que país é este? No Amazonas, no Araguaia Na Baixada Fluminense Mato Grosso, nas Gerais e no Nordeste tudo em paz Na morte eu descanso, mas o sangue anda solto Manchando papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Que país é este? Que país é este? Que país é este? Que país é este?
O autor procura, até mesmo de forma irônica, traçar uma
descrição de um país à beira do ridículo, diante de tantas tragédias morais e
éticas. O que me deixa muitas vezes inconformado é que nós, os cristãos, nos
acomodamos de tal forma por termos "um lugar garantido" nos céus. Sabemos muitas
vezes todos os detalhes do dia em que entregamos nossa vida a Cristo, quando nos
arrependemos dos nossos pecados e confiamos na obra redentora da cruz do
Calvário. Mas isso basta? O que Jesus na verdade propôs quando deixou a glória
do Pai e veio habitar entre nós cheio de graça e de verdade? (João 1:14)
Que país é este que vivemos e que ainda não viu a
glória do Senhor ser espalhada em cada uma de suas cidades, tribos e povoados?
Que país é este onde a injustiça e a corrupção
imperam soberanamente?
Que país é este onde não sabemos bem como será o
futuro dos nossos filhos?
A saída para respondermos a todas estas indagações
é retornar às Escrituras, e buscar os princípios da missão de Jesus neste mundo.
Afinal Jesus veio para cumprir cabalmente sua missão salvadora para redenção da
humanidade. E Ele nos deixou os passos para seguirmos o que Ele mesmo cumpriu em
obediência ao Pai - "Logo, assim como por meio da desobediência de
um só homem muitos
foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem
muitos serão feitos justos". (Rom. 5:19)
1- O princípio do rompimento
"Aquele que é a Palavra tornou-se carne e
viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai,
cheio de graça e de verdade". João 1:15
O modelo missionário deixado por Jesus nos convoca a seguir o princípio do rompimento. Isso pode parecer estranho à primeira vista. No entanto é o primeiro passo em direção ao cumprimento da "missio Dei". Jesus, afirma o evangelista João, deixa a glória do Pai, apresenta-se à este mundo na forma humana, exceto no pecado. Isso deveria ter uma implicação muito grande para aqueles que fazem parte da Igreja de Jesus neste mundo. Fica evidente que sem rompimento não há missão. Esta, provavelmente, seja uma das maiores lutas que o ser humano enfrenta quando entrega sua vida a Deus, através do sacrifício de Jesus. Ele tem que deixar tudo para trás, para seguí-Lo."Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." (Mat.16:24)
Ao chamar aqueles que se tornariam seus
discípulos, Jesus faz com que eles rompam com o que estavam fazendo para
seguí-lo. Alguns deixaram a função de pescadores, outros romperam com outras
ocupações. Um dos exemplos mais claros e mais tocantes vem
de Abraão. Considerado o pai das nações ele se vê diante de um desafio
além de suas forças: romper com os limites de sua família, da sua cultura, do
lugar onde morava para servir o Deus de Israel. (Gênesis 12:1)
É interessante notar que a ordem divina vem através
do verbo "sair" ou "deixar". Provavelmente hoje tenhamos
poucos cristãos compartilhando do evangelho de Jesus pela simples razão de que não querem mudar seu "status quo".
2-
O princípio do comissionamento
"Antes de eu nascer o Senhor me chamou;
desde o meu nascimento ele fez menção do meu nome...Também farei de você uma luz
para os gentios, para que você leve a minha salvação até os confins da terra."
(Isaías 49:1,6) Uma das maiores
falácias que pode atingir os cristãos é imaginarem que têm algum tipo de
participação na tarefa salvadora deste mundo. Na verdade, somos salvos pela
graça e justificados pela fé no Cordeiro de Deus (Rom. 5:1,2). E quando
aparentemente passamos a imaginar que podemos "servir o Reino de Deus",
novamente nos enganamos. Na verdade quem nos comissiona (e portanto, nos chama)
é o Senhor. Não temos nenhuma participação, a não ser obedecermos ou não
Jesus, o Messias de Deus, é comissionado pelo Pai, para ser
luz para os gentios. Quando Ele vem à este mundo, comissiona os doze. E quando
deixa este mundo, deixa o mandamento para que façam discípulos entre todas as
etnias do mundo. Ou seja, fica claro que outros seriam comissionados a irem em
direção aos povos não alcançados. Hoje, esse processo não
mudou. Deus continua comissionando jovens, homens e mulheres para que um dia Sua
glória esteja sobre toda a terra. (Hab. 2:14)
Uma igreja em missão certamente tem em seu meio
aqueles que serão comissionados a ir. Eles são os apóstolos do século 21. Não se
trata de estabelecer uma hierarquia na vida da igreja, como tem acontecido hoje
em dia, onde os títulos parecem se tornar obsessão por parte de alguns. Mas, ao
contrário, entendermos que Jesus foi comissionado pelo Pai para vir à este
mundo, e a Igreja recebe este mesmo chamado para que o evangelho alcance até o
último da terra.
3- O princípio da
capacitação
"Mas receberão poder quando o
Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em
toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra." (Atos
1:8)
O Pentecostes se tornou uma experiência singular na vida da Igreja, porque havia um objetivo claro, inequívoco e irrefutável: o Espírito Santo de Deus seria derramado para testemunho do evangelho de Cristo à todas as nações. Lamentavelmente o cristianismo, e especialmente a fé protestante, em muitos momentos da História, tentou alterar ou deturpar a natureza missionária do Espírito Santo. Isso ainda acontece em nossos dias.Novamente precisamos retornar ao exemplo de Jesus. Já com o corpo ressurreto, pouco antes de voltar ao Pai, Ele diz aos seus discípulos: "Vocês são testemunhas destas coisas. Eu lhe envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto." (Lucas 24:48,49)
Nestes dias em que os recursos proliferam em
grande medida (livros, métodos, congressos, etc), a Igreja muitas vezes tem se
esquecido que a fonte de poder para testemunhar está fundamentada na dependência
total e irrestrita do Espírito Santo de Deus. A igreja corre
o risco, em nossos dias, se seguir os estilos gerenciais, priorizando tão
somente a organização, o planejamento e a busca por modelos que estão dando
certo. No entanto, o modelo missionário deixado por Jesus, é ao mesmo tempo
simples e fantasticamente sobrenatural. Ou seja, aquele que deixa tudo para
servir o Mestre, e que sabe que foi comissionado para ir, tem consciência que o
Espírito Santo o capacitará a ser uma testemunha de Jesus.
Que país é este, ainda sem o evangelho de
Jesus?
Que país é este, ainda sem nossas cidades
transformadas pelo evangelho de Cristo?
Diante de nós temos a possibilidade de retornar, com urgência, ao modelo missionário deixado por Jesus, Nosso Senhor. Se isto acontecer, veremos então uma nação aos pés do Cordeiro de Deus e um país finalmente transformado.
Soli Deo Glória.
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