domingo, 30 de dezembro de 2012

A MINHA HORA...

Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos. Atos 2:23.


Encontramos, no Evangelho de João, sete expressões sobre a solene "hora" do nosso Senhor Jesus Cristo. A primeira expressão encontra-se em João 2:4: Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Este primeiro milagre realizado por Jesus, da transformação da água em vinho, mostra de forma figurada o fim do sistema judaico, "não tem mais vinho". E, ao mesmo tempo, revela o anseio de Maria em querer apresentar Jesus publicamente. Alguns estudiosos vêem em Maria um tipo da nação de Israel. E o que está na mente dos israelitas? A chegada do Messias para estabelecer o seu reinado. Este era o desejo de Maria e da nação de Israel: aclamá-Lo como o rei dos judeus.
Este anseio, na verdade, revela que eles queriam o Cristo sem cruz. Semelhantemente, no monte da transfiguração, Pedro desejou a comunhão sem a cruz: Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias. Mateus 17:4. Este é o nosso grande problema, queremos Cristo sem cruz. Queremos um cristianismo que soma e não que subtrai. Perder a vida (natural) é a exigência divina. É perdendo que se ganha, portanto, não existe glória sem cruz, e cruz, sem sofrimento. E quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Mateus 10:38.

A segunda expressão está em João 7:30: Então, procuravam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a sua hora. Nós encontramos aqui um impressionante exemplo da restringente mão de Deus sobre seus inimigos. O propósito deles era prender o Senhor Jesus. Eles procuravam pegá-Lo, estavam desejosos por sangue e estavam determinados a matá-Lo. Contudo, eles estavam impedidos de realizar tal desejo. Como isto evidencia a invencibilidade do eterno decreto de Deus! Deus havia decretado que o Salvador deveria ser traído por um amigo familiar, e vendido por 30 moedas de prata. Como então, era possível para aqueles homens apanhá-Lo?
Este verso mostra uma verdade a qual deve ser de grande conforto para o povo de Deus. Quão abençoado então, saber que todas as coisas estão debaixo do imediato controle de Deus! Nenhum fio de cabelo de nossa cabeça pode ser tocado sem a permissão de Deus. Todo o ódio dos homens e as hostes malignas não poderiam apressar a morte de Cristo até a hora pré-determinada por Deus. O inimigo pode lutar contra nós e, por permissão divina, tocar o nosso corpo, mas, encurtar a nossa vida, ele não pode. Uma terrível epidemia de morte pode visitar o nosso vizinho, mas não pode nos tocar sem a permissão de Deus. Alguém disse que nós não somos governados pelo calendário, e sim pelo propósito de Deus. O nosso Senhor tomou a cruz de forma voluntária. Ele foi para a cruz não por ser incapaz de escapar dela, mas para cumprir os desígnios de Deus. Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. Gálatas 4:4-5.

A terceira expressão aparece em João 8:20: Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora. Aqui encontramos outra tentativa para prender o Senhor. Eles estavam furiosos não pelo que Ele fazia, mas pelo que Ele dizia de Si, "Eu sou a luz do mundo". A idéia de Deus-homem entre os homens atormentava e confundia os judeus. Na visão do judaísmo, admitir que Deus se fez carne é uma grande blasfêmia. A revelação de Deus que se fez homem não cabe na mente de nenhum homem, mas, para aqueles a quem Deus se revela, é um milagre. A quarta expressão encontra-se em João 12:23: Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Agora, pela primeira vez, o Senhor revelou que sua hora havia chegado. Em Cana, Ele disse que aquela ainda não era sua hora Mas, aqui, Ele anunciou que sua hora havia chegado, a hora quando Ele, como Filho do homem, deveria ser glorificado. Entretanto, qual é o significado Dele ser glorificado? Estas palavras foram dirigidas no momento em que o nosso Senhor foi procurado pelos gregos. Por isso, em vista desta conexão, o significado está no fato que a salvação se estenderia a todos os povos. O Senhor seria glorificado por todas as nações.
O Senhor anunciou que a hora era perfeita, madura para a benção de todas as famílias da terra através da semente da mulher. Externamente, todos estavam prontos para a Sua glória terrena, inclusive os gregos que procuravam o homem perfeito. As multidões O haviam proclamado Rei; os romanos, silentes, não ofereciam oposição. Mas o Salvador sabia que, antes de ser coroado, Ele deveria primeiro executar a obra de Deus. Ninguém poderia estar com Ele em glória exceto por Sua morte. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24. Para seus seguidores, a cruz era o mais profundo lugar de humilhação, mas o Salvador a considerou como sua glorificação.

A quinta expressão está em João 12:27: Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Este foi o início das dores do Salvador antes que a nova criação fosse estabelecida. Ele foi tomado por um profundo horror da hora que viria. Isto era o prelúdio do Getsêmani. Isto nos revela algo do Seu sofrimento íntimo. Sua angústia era extrema: horror, aflição, tristeza, seu coração estava sofrendo tortura. O que ocasionou tudo isto? O insulto e o sofrimento que Ele estava para receber das mãos dos homens? Não. Sua angústia tem um só motivo: "Ele foi feito maldição por nós". Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro). Gálatas 3:13-14.
"
O que devo eu dizer?" Ele não pergunta: O que devo escolher? Não era indecisão no propósito, não era indecisão da vontade. Ele se sujeitou, sem hesitação, à vontade do Pai, dizendo: "Foi precisamente por esta causa que eu vim para esta hora". Três vezes, Deus Pai falou audivelmente para o Filho durante a Sua jornada aqui na terra: a primeira foi, no início, no batismo das águas no Jordão quando Cristo desceu simbolicamente para o lugar da morte; a segunda vez, no Monte da transfiguração, quando Elias e Moisés falavam de Sua morte; a terceira e última vez, no final, quando da véspera de Sua morte. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. João 12:28.
A sexta expressão aparece em João 16:32: Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo. O nosso Senhor fala da pesada hora que está se aproximando. Isto foi dito para os discípulos para prepará-los e destruir a presente auto-confiança deles. Note a abertura: "Eis" ou "veja" "preste atenção". Eles ficariam dispersos, sem Pastor. Todo homem possui o seu próprio refúgio ou esconderijo. Cada um deles tem a sua própria segurança. Quando a tempestade estourasse, todos se refugiariam em suas casas, mas Cristo ficaria só. Por quê? Porque somente Ele estava qualificado para realizar a redenção do homem. "Contudo, não estou só". Quão gracioso é o Senhor ao dirigir estas palavras para os discípulos! A expressão também os prepara para que, quando a "hora" chegar, saibam que não estão sós. Isto nos prepara para o verso seguinte: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 12:33. Ninguém está imune das aflições deste mundo, mas confiantes na vitória que nos foi dada em Cristo.
A sétima e última expressão em João 17:1 nos revela que tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Nenhum homem, até então, tinha colocado as mãos sobre o Salvador, porque sua hora não havia chegado. Este é o momento em que todas as profecias se cumprem, o momento em que o sol se recusa a brilhar, momento de trevas. Este é o instante em que o pecado da humanidade foi derramado sobre Jesus. Este é o momento em que também o Senhor derrama a Sua alma no coração de Seu Pai, para benção daqueles que Lhe pertencem. A cruz O venceu, e Nele nós somos vencidos! Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. João 19:30.
O Senhor, cujos olhares de amor tinham sido até então dirigidos para os Seus discípulos sobre a terra, eleva, agora, os olhos ao Céu, dirigindo-Se a Seu Pai. Era chegada a hora de glorificar o Filho, para que, na glória, o Filho glorificasse o Pai. A Sua obra e a Sua Pessoa davam-Lhe esse direito: "Pai glorifica a teu Filho", o Filho glorificado com o Pai em Cima, no céu! O Filho glorificou perfeitamente o Pai aqui na terra. Nada tinha faltado àquilo que manifestava o Pai, fosse qual fosse a dificuldade a vencer no cumprimento dessa missão. Ele manifestou o nome do Pai àqueles que o Pai lhe tinha dado do mundo. Pertenciam ao Pai, e o Pai tinha-os dado a Jesus. Sua hora não poderia ter chegado, como dito por Jesus, no início, "minha hora não é chegada", mas, agora, no final, Ele diz: é chegada a minha hora. Entre este dois períodos de tempo, nenhuma força, por mais poderosa que fosse, poderia mudar aquilo que já estava pré-determinado por Deus. A cruz era uma realidade espiritual antes do mundo ser mundo, e ninguém poderia interferir até que se cumprisse o propósito eterno de Deus. Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra. Efésios 1:10.
 
Soli Deo Glória.

O TEU AMOR E O MEU PECADO

Tem misericórdia de mim ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Salmo 51:1­­
Quem é Deus e o que Ele quer comigo? Quem sou eu e o que tenho para oferecê-lo? No que se refere à nossa relação com Deus a resposta para estes questionamentos é um convite à desistência de qualquer possibilidade e potencialidade humanas e à experiência da suficiência Divina! Ao ser humano não resta alternativa senão a rendição incondicional a “Pessoa que é amor”; que manifesta o amor que não pode ser vencido e nada pede em troca!
O título deste este estudo faz uma distinção entre a Pessoa e a obra Divina e a nossa humanidade. Entre aquilo que Deus é e pratica e aquilo que podemos ser e produzir como pessoas. Em essência Deus é amor, Ele só sabe amar! A Sua intenção é revelar este amor através da Sua graça. É esta graça que nos convence de que Ele nos ama sem nenhuma condição prévia.
Há uma tradução hebraica do Salmo 51:1 que diz “Concede-me Tua graça, ó Deus, conforme Tua benevolência, e por Tua imensa misericórdia apaga minhas transgressões”. Esta tradução deixa bem claro que, no relacionamento com o amor do Pai Celeste, nada pode ser originado, mantido ou consumado pela via humana e terrestre. Dai a necessidade de reconhecermos a nossa verdadeira condição e clamarmos por este amor Divino.
Tem misericórdia de mim ó Deus... A misericórdia é o olhar Divino para a vida humana. É a única maneira pela qual o Senhor se achega a nós. É a ponte celeste construída na estratégia Divina para que o Seu amor invada as nossas vidas. Neste maravilhoso Salmo Davi suplica ao Senhor que se achegue a ele porque já reconheceu o fato de que, por si mesmo, ele jamais poderia fazê-lo. A misericórdia só pode vir do Divino para o humano, e esta ordem nunca foi, é ou será invertida.
Segundo a Tua benignidade... Numa tradução mais exata pode-se dizer: por teu amor. No entanto, a experiência com o amor misericordioso do Pai obedece a critérios Divinos. O pedido do rei de Israel só foi atendido porque Yhaweh agiu de acordo com quem Ele é e em conformidade com a Sua vontade soberana, não de acordo com nenhuma expectativa ou ação humana deste rei. Caso contrário poder-se-ia entender que Davi foi “merecedor” da misericórdia de Deus despendida a ele. Este rei dá-nos a declaração de que foi vencido por um amor infinitamente maior do que o seu próprio pecado.
Benignidade... Esta palavra pode ser traduzida como “bondade amorosa” ou “amor que atrai”. É a capacidade que Deus tem de ser essencialmente bom. É generosidade Divina apesar da maldade humana. É amor afetivo de quem gosta e é compassivo com a raça que criou apesar da sua opção pela rebelião ao projeto inicial da criação: um relacionamento fundamentado no amor da Trindade. É o amor Divino que inclui a misericórdia direcionada ao Seu objeto de amor (a humanidade) que se encontra desde então numa condição perdida e lastimável.
A benignidade Divina é a manifestação do amor que é capaz de atrair o ser humano mesmo contra a sua vontade! Benignidade é o amor de Deus que nos constrange e destrói toda a nossa pretensão humana que se opõe à vontade soberana Divina. A benignidade Divina é avassaladora quando destrói e conquista o desejo humano por soberania. Não há como “fazer viver” a velha natureza humana quando este amor benigno nos conquista!
O apóstolo Paulo entendeu muito bem a grandeza, o poder atrativo e as implicações deste amor benigno Pois o amor de Deus nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram 2 Coríntios 5:14. Aqui a palavra constranger equivale a “deixar sem defesas”! A posição humana diante do amor Divino é totalmente passiva, pois, nada pode fazer para merecê-lo ou atraí-lo. O constrangimento vindo de Deus é produzido pela revelação do Seu amor por nós!
Logo, todos morreram... Significa dizer que quando recebemos a revelação da obra de Deus em Cristo a única alternativa que nos resta é vivermos na atração operada por este amor que nos mata e faz viver uma vida que não podemos produzir em e por nós mesmos! A palavra traduzida por constrange tem significados mais específicos no sentido de que o amor de Deus nos insere, impele, controla, mantém reféns ou demarca. Ou seja, no sentido da teologia paulina todos os que morreram em Cristo reproduzem a vida do Pai, que está no Filho e pela ação do Espírito.
Em outras palavras, o que Davi está querendo dizer no verso um deste Salmo é: “Senhor, olhe para mim com o Teu olhar amoroso”. A benignidade redentora do Pai é a Sua capacidade amorosa de nos enxergar através da Sua própria bondade! A benignidade Divina nos ensina que Ele é movido a amor, se revela e se relaciona através do Seu amor! Toda a atividade de Deus se resume em amar! Desta atividade amorosa dependem todas as Suas demais ações na criação e na história da redenção.
Das tuas misericórdias... É a “ternura do gostar”. É na benignidade com a humanidade que se vê somente na doçura da Divindade. Nada do que somos ou fazemos pode alterar o tipo de amor que Deus tem por nós. O estoque das misericórdias Divinas jamais poderá ser esgotado. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as tuas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade Lamentações 3:22, 23. “Se nossos pecados forem em número como os cabelos de nossa cabeça, as misericórdias de Deus são como as estrelas dos céus” C. H. Spurgeon.
A misericórdia é uma relação que une dois seres, um ser humano que vive em sua carência existencial mais profunda e Outro Divino que pode supri-la totalmente com a suficiência da Sua presença!
Não há nada que possamos ou precisamos ser o fazer para agradarmos e sermos aceitos pelo Deus cuja essência é o amor e Seu único plano é nos amar. Pois, tudo o que queremos, sentimos, pensamos e fazemos que não seja originado e capacitado pelo amor Divino, é movido e marcado por tentativas humanas que nos afastam Dele. Nosso pecado é caracterizado pela não aceitação da experiência de sermos absorvidos pelo amor do Pai e pela tentativa vivermos a não dependência deste amor. Por esta razão a revelação da Sua graça nos proporciona uma troca completamente desproporcional: o Seu amor pelo nosso pecado!
Fora do amor de Deus não existe nenhuma espécie de amor capaz de perdão e restauração. Os amores familial, humanitário, solidário e erótico não são suficientes para expressar a natureza e a dimensão do amor do Pai. O amor de Deus não pode ser explicado ou analisado a partir das possibilidades criadas pelas manifestações “mais legítimas e nobres” do amor humano. O amor de Deus tem origem Nele mesmo e por isto não pode ser comparado a nenhuma expressão do amor humano. Quando o amor Divino nos invade todas as possibilidades de amor humano não têm mais sentido último.
A benignidade do Salmo 51 é a graça Divina caminhando em nossa direção sem que a desejássemos ou a merecêssemos. É a doçura com qual Deus se move em nossa direção. É o único amor que cura a nossa humanidade caída e falida espiritual, emocional, racional e fisicamente. Este amor não é encontrado em nossa humanidade e invalida todas as tentativas humanas de plágio. Não há nenhuma possibilidade de fusão entre o amor de Deus e as formas de amor humano.
Daí, o contraste e as tensões constantes entre aquilo que somos e fazemos e a essência amorosa e graciosa da pessoa Divina. Diante do amor que Deus só resta-nos a possibilidade da rendição pessoal e incondicional a este amor que não impõe nenhuma condição para nos amar! O critério para a liberação da misericórdia Divina é o Seu amor e não o meu pecado. O que somos e fazemos não é levado em conta quando a misericórdia do Pai entra em ação. Por esta razão, não podemos ter medo daquilo que O Senhor quer ser e fazer em nós!
O Salmo 51:1 nos mostra como O Espírito do Senhor revelou a realidade deste amor a Davi. Só é possível contemplar a grandeza deste amor Divino quando se tem a consciência da malignidade do pecado humano. A benignidade Divina mostra-nos o quanto somos perversos sem a Sua aceitação. Ensina-nos que o clamor ao amor benigno de Deus é a única possibilidade de experimentarmos a vida Do, a restauração produzida Pelo e a identificação com O Deus que é amor. É o amor de Deus nos constrangendo e desconstruindo toda a possibilidade humana que se opõe à vontade Divina. A benignidade do Pai é a única solução para a dissintonia entre a vontade humana caída e a vontade Divina.
O Salmo 51 começa com um clamor pelo Deus que ama sem contabilizar méritos ou deméritos humanos. Traz um reconhecimento claro e eficaz da nossa transgressão (pecado) e nossas transgressões (pecados). Este amor celestial e gracioso exalta a pessoa Divina e humilha e pessoa humana! O amor do Pai só é revelado através do grande paradoxo entre o eu humano e o Divino! O Deus a quem Davi clamou só se revela aos fracassados! “O ser humano verdadeiro é o ser humano vulnerável” (Anselm Grün - A Cruz: a imagem do ser humano redimido).
Deus quer matar a nossa velha vida pelo impacto produzido pela revelação do Seu amor redentor. E, consequentemente, quer nos fazer viver a nova vida gerada por Seu amor que é benigno e invencível! Será que nos vemos assim? Será que nos vemos carentes desta misericórdia? O contraste entre a misericórdia e o pecado só pode levar à morte do velho homem. Supliquemos para que o Pai das misericórdias revele aos nossos corações este amor que nos aceita sem nenhuma condição!
Quem é Deus? Ele é o amor! O que Ele quer comigo? Quer amar-me! Quem sou eu? Um pecador! O que tenho para oferecê-lo? O meu pecado e os muitos pecados que ele produz! Só quem já recebeu a revelação e foi alcançado pelo amor misericordioso do Pai poderá clamar por misericórdia como o fez Davi.
No Salmo 51:1 a misericórdia e a benignidade Divinas nos dizem a cada momento: (1) desistam de querer ver amor em vocês; de tentarem ser bons com bondade própria: de acharem que existe algo de bom no ser humano e na humanidade e (2) creiam que somente o amor de Deus é o único que gerar vida e ser visto em vocês!
 
Soli Deo Glória.
 
 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O HOMEM CUJOS OLHOS FORAM ABERTOS

Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo. João 9:24-25.
Quando olhamos a situação do mundo, ficamos profundamente impactados e oprimidos com a prevalecente doença da cegueira espiritual. Não estaríamos muito errados se disséssemos que a maior parte dos problemas das pessoas tem sua origem na cegueira espiritual.
Por outro lado, há uma cegueira religiosa tão perigosa quanto à cegueira do mundo. Tomemos por base a vida de Saulo de Tarso. Não há dúvidas quanto à sua cegueira. Seu zelo por sua religião histórica era um zelo cego.
O que aconteceu com Saulo de Tarso? Ele viu Jesus de Nazaré, e isto foi o suficiente para lançá-lo por terra. Para tirá-lo do judaísmo foi necessário um poder fora da terra, visto que, ninguém tem verdadeira visão espiritual por natureza.
Na verdade, todos nós nascemos espiritualmente cegos. Não há em nós uma só fagulha de vida espiritual. Para vermos precisamos de algo que vem do “céu” como uma ação direta de Deus; Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer. Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém. Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco. Atos 9:3-8.
Quando os olhos espirituais de Saulo de Tarso foram abertos seus olhos naturais foram cegados para a sua religião. A utilização dos olhos naturais para conhecer Deus, pode ser apenas uma indicação de quão cegos somos. De modo que a visão espiritual é sempre um “milagre” do céu - uma luz do céu. Isso significa que aquele que vê espiritualmente, tem um milagre como fundamento da sua vida. Toda a nossa vida espiritual brota de um milagre: é o milagre de receber a visão nos olhos que nunca viram.
O que é o inicio da vida cristã? É um ver. Foi esta a comissão que o Apóstolo Paulo recebeu logo após a sua conversão: Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. Atos 26:16-18.
A vida cristã deve ser um movimento progressivo, numa linha em direção a um fim. A linha e o fim é Cristo. Podemos dizer que a nossa salvação foi uma questão de nos ver como pecadores ou, que é ver Cristo morrendo por nós e nós Nele.
A carta de Paulo aos Gálatas pode ser assim resumida: o cristão não é alguém que faz isso aquilo, ou que deixa da fazer isso e aquilo, por ser proibido. O cristão não é governado pelas coisas exteriores de um modo de vida, uma ordem ou sistema de regras.
O cristão é aquele que recebeu no seu íntimo a Pessoa de Cristo: Ele está incluído nesta revelação: Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue. Gálatas 1:15-16. Esta é apenas outra forma de dizer: “Ele abriu meus olhos para que eu veja”.
Acontece que, o cristianismo se tornou, amplamente, apenas uma tradição. A Verdade foi dividida em “verdades” inscritas em um “livro dourado de doutrina evangélica”. Estas doutrinas estabelecem os limites do cristianismo e são apresentadas de muitas formas. Elas são servidas convenientemente acompanhadas com piadas e ilustrações interessantes e atrativas, cuja “originalidade” e “singularidade” são previamente estudadas.
Têm alguma chance de serem entendidas por causa das roupagens com que são vestidas, dependendo também da habilidade e da personalidade do pregador ou mestre. As pessoas dizem: “Gosto do seu estilo, da sua maneira ou do modo de dizer as coisas”.
Todavia, quando o falatório é despido das piadas, histórias e ilustrações, e da performance teatral do pregador ou mestre; quando todos esses “farrapos” são removidos do discurso, perguntamos: Onde está a verdade? Onde está Cristo?
Lamentavelmente, esta é a grande verdade em nossos dias. Num sentido, podemos afirmar que nunca houve um tempo como o atual, tão carente de pessoas que possam dizer: era cego e agora vejo.
Essa é a necessidade em nossos dias. A esperança se prende nisto: que pessoas sejam levantadas neste mundo; neste mundo negro de confusão, caos, tragédia e contradição que possam dizer: “Eu vi”.
O que precisamos não é de uma suposta nova visão ou uma nova verdade. Não são novas verdades e tampouco a mudança da verdade. Precisamos daqueles que apresentam a Verdade como homens que “viram”.
Não somente homens que estudaram ou que leram, mas homens que viram. Como aquele que encontramos em João 9, em sua manifestação de assombro: “Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”.
Esta é a necessidade de nossos dias, homens que viram. Porém, o homem cujos olhos foram abertos, vai enfrentar o inferno. Este homem do nosso texto teve que encarar seus pais que temeram ficar do lado do filho, por conta do sistema religioso que se levantou com muita fúria.
“Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”. Tal experiência produz um impacto profundo que nos governará por toda a vida. Se um homem realmente vê, nele existe vida e elevação. Se, em nossa pregação estivermos oferecendo algo de segunda mão, ainda que estudado e pesquisado, mas sem “luz”, não produzirá vida em outros.
Não precisamos de uma nova revelação. Tudo já nos foi revelado em Cristo. Desde o início da nossa experiência até a consumação, a vida espiritual deve caminhar dentro deste segredo: Eu vi!
A nossa caminhada cristã começou ali e deve seguir até a consumação final, de forma que você e eu sejamos mantidos nesta atmosfera de “assombro”. O fator assombro repetido muitas vezes, tornando cada nova ocasião como se fosse algo que nunca tivéssemos visto. O fator de assombro é: eu vi!
Pense um pouco! Pense em você nascendo cego e vivendo até a maturidade sem ter visto nada, e de repente, seus olhos são abertos para ver tudo e todos. O sentimento de assombro estaria ali. O mundo seria um mundo maravilhoso.
Podemos imaginar o sentimento daquele homem que outrora era cego e que agora podia contemplar a luz do dia. Ele dizia constantemente: “É maravilhoso ver todas as coisas! “De fato tudo é muito lindo”!”.
O que é produzido pela revelação do Espírito Santo é sempre um impacto espiritual no coração; É um sentimento marcante, constante e crescente - um Novo mundo, um Novo universo. Esta é a maior necessidade de nosso tempo: Eu era cego, e agora vejo!
É uma necessidade crescente porque a vida que recebemos está em movimento. Isto está evidenciado na oração do Apóstolo Paulo pelos crentes da cidade de Éfeso: Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos. Efésios 1:15-18.
Por que ele deseja que os crentes de Éfeso tenham o espírito de sabedoria e de revelação? O fato importante é que aquilo que ouvimos pode ser facilmente esquecido, mas aquilo que vemos não é esquecido facilmente.
É fácil esquecer doutrinas, porém é difícil esquecer aquilo que se vê. Portanto, a questão colocada aqui na oração é olhos iluminados. Isto é Visão, ou seja, quando vemos que somos libertados de nós mesmos e do nosso estreito horizonte.
Quando nascemos de novo, ganhamos em nosso interior a vida de Cristo. E quando oramos pedindo espírito de sabedoria e de revelação, isto significa que queremos que Deus amplie nossa visão para conhecê-Lo, na revelação de Cristo.
A grandeza da Pessoa de Cristo está além de nossa compreensão. Por isso, precisamos de espírito de sabedoria e revelação a fim de que O conheçamos mais e mais, e nos tornemos parecidos com Ele.
Precisamos saber que no momento do novo nascimento abriu-se a porta para a Vida eterna, e que temos um longo caminho a percorrer. E, nesta caminhada, o Espírito Santo, pela operação da Cruz, escreverá a biografia de Cristo em nossas vidas.
No vaso de barro está o tesouro, e a preciosidade desse tesouro está muito além da nossa compreensão. Nós necessitamos que o Senhor abra os nossos olhos para ver quão precioso esse tesouro é.
Por um lado, vemos esse vaso de barro – a casa terrestre do nosso tabernáculo que está prestes a se desfazer. Por outro, vemos a sobre-excelente grandeza do poder do Senhor para conosco.
A regeneração pode ocorrer num pequeno espaço de tempo. Entretanto, o propósito de Deus em nos fazer semelhantes ao seu Filho é um processo. Portanto, a chave hoje é ver.
Não é pelo fato de pedirmos a Deus para nos dar algo mais. Ele já se deu a nós. O que Ele poderia nos dar Ele já nos deu e já está em nós. O que precisamos pedir a Deus é que nos dê o espírito da sabedoria e de revelação para que possamos ver.
A Graça que lançou o fundamento trará a pedra de arremate, com aclamações de “Graça, graça!” - a Graça de Deus abrindo nossos olhos para vermos mais e mais. Que possamos dizer: Eu era cego, agora vejo! Amém.
 
Soli Deo Glória.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O CRIME DA LETRA

E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. 2 Coríntios 3:4-6.
O termo configura a palavra e essa exibe um significado. A letra grafa um termo que designa uma palavra que tem um sentido. A escrita é o desenho de um vocábulo que traz uma acepção. Água, por exemplo, é um termo que define uma idéia, que expressa um fato. O termo é o diagrama da palavra, enquanto a palavra é como a casca da banana que conserva o fruto. Há um valor verdadeiro em cada palavra que o termo apresenta. Quando eu escrevo o termo água, ele me remete para um conceito que me traz a avaliação da coisa, na base da experiência. Se eu sei o que é água, então o termo me conduz à palavra que coliga com a realidade. A idéia de água é identificada na palavra descrita. Se eu não tenho a definição do termo, então a palavra fica sem sentido para mim. Se eu escrever hudatos, o termo fica incompreensível para muita gente. É preciso uma explicação que traga sentido ao termo. Mas este termo é apenas a transliteração da palavra água, na língua grega. Quem não sabe o termo grego, não sabe o significado da palavra e fica sem entendimento. Por outro lado, o significado das palavras conhecidas varia de cultura para cultura e de pessoa para pessoa. Segundo Paulo, há palavra na letra, mas ela vai além da escrita, pois a letra é em si mesma morta, e do ponto de vista do espírito, ela é mortal. Não há vida espiritual no termo. A expressão da vida encontra-se na vivificação da palavra que sai da boca de Deus. O termo sem a fecundação do Pai e a revelação do Espírito é uma urna funerária que conserva uma expressão morta. A letra sem o Espírito é homicida.
A escrita é a codificação da palavra, porém esta palavra precisa ser avivada pela ação do Espírito Santo, a fim de produzir o resultado espiritual em cada pessoa. O termo gráfico é como um carvão que só pode acender se for inflamado, e só pode ficar incendiado se for soprado pelo Espírito. Sem a vida divina o vocábulo é um mero defunto e sua operação é sinistra. A letra da Escritura sem a vivificação da Trindade é uma composição literária de grande valor histórico, mas sem qualquer importância para o avivamento. A letra sem o sopro do Espírito é delito. Um dos maiores crimes contra a igreja é a pregação da letra fria. Há muita gente morta em conseqüência de uma mensagem rigorosamente letrada. É uma proclamação bíblica e ortodoxa, mas não tem vida espiritual. Estou convencido de que em muitas ocasiões tenho sido culpado desse tipo de pregação, e que há uma multidão de cadáveres religiosos em razão da letra morta. Jesus foi muito claro ao dizer: O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. João 6:63.
O termo limita a palavra. Quando eu denomino uma realidade com um termo, não significa que eu a compreendo. Além disso, definir um termo é colocar fronteira no seu perímetro. A palavra de Deus ultrapassa o alcance da nossa mente, por isso, delimitá-la é prejuízo de proporções inimagináveis. O apóstolo Paulo afirma com a maior exatidão: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14. A mente, ainda que seja o terreno da compreensão humana, encontra-se limitada pelos conceitos tridimensionais. Como a realidade espiritual transcende a fronteira da matéria, fica impossível a sua conceituação. A questão ao anunciar a palavra de Deus requer mais do que explicação lógica. A grande necessidade na pregação é a revelação da palavra e a sua vivificação. Uma coisa é a exegese do texto, outra bem diferente é a unção decorrente da intimidade como o Espírito de Deus, que revela e vivifica a palavra. Saber dissecar os termos não gera vida nas pessoas. Só o Espírito produz vida espiritual por meio da sua palavra. A grande crise na pregação moderna é a falta de conhecimento pessoal da palavra de Deus aliada à ausência de revelação e vivificação do Espírito. Hoje se fala muito de unção como sinônimo de sentimento inflamado. Mas, ainda que a emoção tenha lugar numa experiência verdadeiramente espiritual, essa emoção acalorada nunca foi semelhante à unção espiritual. É fogo estranho no altar do Senhor. Um pregador ungido é alguém controlado pelo poder do alto e cheio de domínio próprio, cujo objetivo é transmitir, com fidelidade, a palavra de Deus revelada e vivificada pelo Espírito Santo ao coração dos seus ouvintes. Por isso mesmo, nunca se deve confundir a unção espiritual com essa animação do sujeito na pregação. Mas a alma excitada é um expediente carnal muito comum na exposição da palavra de Deus. Para o apóstolo, o crime da letra é um homicídio da vida espiritual. Se alguém ficar preso à escrita é um morto espiritual e matador. Ainda que a letra seja vital para o conhecimento da palavra de Deus, permanecer aprisionado a ela, é matança. É importante que se conheça a Escritura, pois ela, à semelhança dos trilhos para o trem, é o suporte para a revelação. Todavia, não se pode continuar na vida cristã sendo contido pela letra.
Assim como a agulha magnética aponta para o Pólo Norte, a Escritura aponta para a pessoa de Cristo. Ela é uma biblioteca que testemunha da vida magnífica de Cristo. Jesus disse para os seus contemporâneos: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:39-40.
De acordo com Jesus, a Bíblia é o álbum de sua pessoa, o cardápio do seu banquete, a anamnese de sua história, o mapa da sua andança, a revelação de sua identidade e a receita da única vida que realmente faz sentido. A Escritura distingue essa fonte suficiente de vida e a oferece como exclusiva para dar significado ao ser humano. Ninguém se relaciona pessoalmente com retrato, nem come cardápio. Mesmo que a carta geográfica seja indispensável para a orientação dos peregrinos, nenhuma pessoa anda sobre os traçados das cartas. Além disso, todos nós precisamos de alguém vivo para nos relacionar. Apesar de o cardápio ter valor na escolha da comida, ele não é o alimento. A Bíblia é o cardápio do céu, mas Cristo é o único mantimento. Eu preciso do cardápio para conhecer e escolher os pratos, porém eu não me alimento dele. Jesus é o maná do menu de Deus e só ele pode nos satisfazer realmente. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. João 6:35. Ele não é lição preciosa para a nossa vida. Ele é o pão cotidiano.
A letra é útil para nos conduzir ao manjar, contudo a letra não nos nutre. A alimentação específica da vida espiritual é Cristo. Não existe outra comida que possa atender às necessidades do espírito fora da pessoa de Cristo Jesus. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. João 6:48-50.
O crime da letra é a desnutrição e a morte. Sem comida a vida perece. Alguém desnutrido é um aspirante a defunto. Cristo é o verbo encarnado e o pasto das ovelhas. Não existe outra pastagem para o crente além da pessoa de Cristo. Se não encontrarmos a pessoa de Cristo em nossa leitura bíblica, não encontramos a vida e o alimento espiritual. Só Cristo pode contentar a nossa alma e alegrar o nosso espírito com a sua vida. Ele é o único alimento espiritual que pode dar significado ao ser humano. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. João 6:57.
A fome da alma é um apetite por Deus que apenas Cristo pode satisfazer. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi. Isaías 55:2-3.
A nação israelita ficou apenas com o cardápio, deixando de comer o verdadeiro pão que veio do céu. Mas a igreja atual passa pelo mesmo lance crítico. Hoje em dia nós nos esmeramos na qualidade estética do cardápio e na sua melhor tradução, e apesar disso, pouca gente tem comido do pão de Deus. As versões bíblicas são fantásticas e as encadernações primorosas e ainda assim o povo está morto espiritualmente e com fome, pois a letra mata. Erudição não mata a fome do espírito. Madame Guyon falava de uma leitura textual que deve enfocar a pessoa de Cristo. Quando estivermos lendo a Escritura precisamos parar a cada instante para entrarmos em contato com o Cristo que habita em nosso espírito e que se revela no encadeamento das palavras que estamos lendo. Se não houver esta afinidade entre o Cristo que vive no espírito do crente e o Espírito de Cristo que se manifesta na palavra, nós estamos sem vida. Como vimos anteriormente, podemos ter uma pregação ortodoxa e profundamente escriturística, mas sem a vida espiritual. A grande necessidade da igreja atual é de um avivamento bíblico. Precisamos de centralidade na Bíblia, mas carecemos, além disso, da vivificação e revelação do Espírito Santo. A letra sem o hálito fresco da boca Divina é um esqueleto literário, sem o poder de vivificar. O palácio real sem a realeza é simplesmente um museu. A letra da Escritura sem a vida manifesta de Cristo é bibliografia ou história. A grande necessidade da igreja é de comunhão pessoal com o seu Salvador e Senhor, por isso, não basta fazer a mera leitura da Bíblia, já que é imperativa a revelação do Espírito para torná-la viva na experiência do crente. Sem a luz do Espírito a letra se configura numa arma assassina, e nós, os pregadores, em múmias criminosas. Vem Senhor vivificar e revelar a tua palavra em nosso ser.
 
Soli Deo Glória.

SANTIDADE COM SANIDADE



Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes:Santos sereis,porque eu, o Senhor,vosso Deus,sou santo. Levítico 19:2.
 
O Deus da Bíblia é santo de fato e o povo do Deus da Bíblia deve ser santo por graça. Só Deus é essencialmente santo, e só ele pode conceder gratuitamente santidade ao seu povo. O Deus santo não amplia sua convivência com um povo contaminado pela corrupção pessoal, nem se envolve com a falsificação coletiva das outras nações. "Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus". Levítico 20:26.
O coração do ser humano é corrupto em face da natureza do pecado. Ora, se a parte está depravada, o todo se encontra corrompido. Se o coração do gênero é perverso, as relações da sociedade estão contaminadas. Os membros infectados adoecem o conjunto, e esta coligação de pervertidos reforça a corrupção dos componentes. Aqui há uma retro alimentação.
Entretanto, as Escrituras mostram que sem santidade ninguém poderá ver a Deus. Ainda que a santidade não seja um atributo da humanidade e que nenhum ser humano seja santo em si mesmo, ainda assim ela é requerida para o relacionamento com Deus. Isto implica no fato de que precisa haver uma ação sobrenatural que origine uma santidade imputada.
A santidade significa: exclusividade divina. O povo santo é uma aldeia que pertence somente a Deus. Esse é o primeiro significado de santidade. Um povo de propriedade exclusiva de Deus. Essa privacidade é fundamental para a comunhão interpessoal com o Deus santo. O Senhor escolheu o seu povo dentre outros povos para que fosse santo. Mas não o elegeu porque fosse melhor ou maior. A seleção foi baseada apenas no amor de Deus, sem levar em conta qualquer qualidade ou mérito do povo. "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos,

mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito". Deuteronômio 7:7-8.

A santidade sugere singularidade. "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor". Deuteronômio 6:4. Deus é único e o seu povo é particular. Javé optou por uma nação baseado apenas em seu amor. Isto quer dizer que não há atributos que determinem o seu amor. Toda expressão afetiva que se fundamenta em predicados não pode expressar o amor divino.
A preferência de Deus é motivada unicamente pelo seu amor incondicional, pois amor divino condicional é uma incoerência do seu caráter. Deus é sempre amor e nos elege para sermos seus filhos por causa do seu amor eterno em Cristo. Arthur W. Pink disse com muita propriedade: "O grande erro que muitos do povo de Deus cometem é esperar descobrir em si mesmos aquilo que só pode ser encontrado em Cristo". A santidade do povo de Deus é uma conseqüência da escolha divina estribada em Cristo, mediante a imputação do seu caráter. Nesse ponto nós encontramos a santidade objetiva que depende totalmente da suficiência de Cristo. Buscar santidade em nós mesmos, fora de Cristo, é a manifestação mais evidente de insanidade pessoal. O povo de Deus é santo porque Cristo é a sua santificação. "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. Nós temos na pessoa de Cristo um pacote de medidas que nos garante uma salvação perfeita, completa e eterna. Viver pela graça é viver somente pelos merecimentos do Senhor Jesus Cristo. Tanto a aceitação como a posição dependem da união com Cristo.
Cristo é a nossa santidade. O escritor aos Hebreus no capítulo 10 verso 10 nos diz que: "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas". Aqui vemos claramente a nossa santificação objetiva pela obra de Cristo. É uma santidade totalizada e permanente. Assim, neste aspecto da santificação, você, que confia tão-somente em Cristo para a sua salvação, já é santo. Tentar encontrar santidade em nós mesmos pode nos levar ao farisaísmo legalista ou à alucinação. Se quisermos ser santos, precisamos olhar para fora de nós mesmos e firmemente para Cristo. Só nele poderemos localizar a verdadeira santidade que nos santifica de verdade. "Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele". Efésios 1:4. Cristo é a nossa justiça e a nossa aceitação. Ele é o Advogado da nossa causa e o Juiz que nos julga. Ele é o santo que nos justifica e a santidade que nos aperfeiçoa. Somos irrepreensíveis diante dele, porque ele mesmo é objetivamente a nossa santificação. Do ponto de vista legal ninguém poderá ser mais santo do que já o é em Cristo. "Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Colossenses 1:22. Mas há também uma santificação subjetiva promovida pelo Espírito Santo que é progressiva em nossa experiência. A santidade que temos em Cristo é fora de nós e em união com Cristo, mas a santidade do Espírito e dentro de nós é crescente. Ambas vêm a nós pela graça, por causa dos merecimentos de Cristo. Mas uma é plena e concluída, enquanto a outra é de fato evolutiva. A santificação do Espírito é ampliada a cada dia, por meio da graça.
Só aquele que é santo pode crescer em santidade. "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se". Apocalipse 22:11. A natureza sempre evolui em seu cerne. Aqui temos a santificação daquele que é santo. Não há crescimento em santidade no ímpio, nem progresso do santo em impiedade. Todos evolucionam naquilo que são em essência.
A santidade de Cristo em nosso favor se torna uma matriz de santificação operada pelo Espírito Santo de modo progressivo. Aquele que é santo objetivamente em Cristo, por meio da graça administrada pelo Espírito, acende em santidade, subjetivamente, até a estatura da varonilidade de Cristo. Quem é santo se santifica ainda mais através da graça de Deus. E assim, quanto maior for a consciência da santidade, maior será o crescimento na santificação.
É bem verdade que o aumento em santidade acena sempre para uma maior consciência da nossa natureza pecadora. A história da igreja comprova que aqueles que têm subido o monte mais alto da santificação, acabam concluindo que são realmente os piores pecadores. Parece que a verdade é: quanto mais santo, mais certeza de sua pecaminosidade. Mesmo assim, a vida cristã é a manifestação evolutiva da santidade de Deus. Se o produto do pecador é o pecado, o fruto do santo é a santificação em santidade com sanidade. Não se trata de uma obsessão legalista, mas de uma evolução saudável da vida de Cristo capacitando-nos a obedecer com alegria tudo o que diz respeito à vontade do Pai para as nossas vidas. Entretanto, a santificação não indica que o cristão é um ser extraordinário, mas que Cristo é tudo nele. Pink dizia que "na pessoa de Cristo, Deus atinge uma santidade que suporta o mais profundo escrutínio, sim, que alegra e satisfaz o seu coração, e o que quer que Cristo seja diante de Deus, ele o é para o seu povo", só que isso precisa evolucionar em nossa compreensão e experiência através da operação graciosa do Espírito Santo em nós. Por isso, a santificação não é nada mais ou nada menos do que o desenvolvimento da vida de Cristo em nosso interior.
A santidade progressiva se alimenta do pão nosso de cada dia na pessoa de Cristo. Comer diariamente este maná atualizado é crescer em santificação saudável. Participar da mesa da graça não é uma questão de empenho, mas de prazer, uma vez que a santidade compulsória é um tenebroso sanatório. Sem alegria não pode existir vida cristã autêntica. "Cantem de contentamento e se alegrem os que têm prazer na minha santidade; e contem sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na felicidade do seu servo"! Salmo 35:27. (Paráfrase).
Sem alegria a santidade é um peso insuportável. O progresso da vida espiritual caminha sempre movido a regozijo como agente de festa. Tenho observado que, de um modo geral, a santificação no muque tem cheiro de axila, paladar azedo como limão, ar de desgosto e uma pose deprimida. Contudo, a santificação pela graça é uma vivência de celebração permanente, enquanto a santidade sem júbilo é como um velório na madrugada.
A santificação significa que Deus é mais glorificado em mim quando eu sou mais satisfeito nele. Quanto mais eu me alegro no Senhor, mais eu cresço em santidade. Como disse John Piper, "a glória do pão consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela sacia a sede". Ora, se Cristo é a satisfação da minha fome espiritual e a abastança da minha sede de significado, logo ele é a razão da minha evolução em santidade.
"Não existe santidade sem luta", mesmo assim, essa peleja não está destituída de prazer. Se retirarmos o deleite da experiência de santificação, ela não passa de uma conduta rígida e atormentadora. A santidade com saúde é uma realidade espiritual com satisfação. Santo a fórceps é aborto moral e desgosto permanente. A alegria é fundamental no processo da santificação.
Para concluir quero apenas confirmar: a santidade não é uma via para chegarmos a Cristo, mas Cristo é o caminho para a santidade. "Sede santos, porque eu sou santo". 1 Pedro 1:16. Contudo, é bom lembrar que isto não é um imperativo crucial, ainda que seja uma ordem, sua motivação é o gozo de uma vida livre e bem-aventurada. "Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra delícias perpetuamente". Salmo 16:11.
 
Soli Deo Glória.

CRESCENDO EM MENOS

Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno. 1 Pedro 3:18.
Crescendo em menos não significa crescer menos ou ter um crescimento menor. Estou tocando, com este tema, no avanço em redução, sem qualquer tentativa de atear fogo na tendência ao acréscimo. Aqui, não pretendo abordar o aumento da montanha, mas o alargamento do buraco. Crescer em menos é evoluir na vacuidade ou esvaziamento de si próprio.
O ser humano vive cheio de si e continuamente pensando em crescer cada vez mais, em mais de si mesmo. A ambição do pecado propõe tornar a pessoa sempre mais, melhor e maior. Somos uma raça infectada pelo germe da grandeza, importância e notoriedade. Crescer em menos é algo contrário à nossa índole. Nós não temos a disposição das raízes de se desenvolverem para baixo e às escondidas, já que apreciamos escalar às alturas como as hastes em busca da culminância. Quem cresce ruma aos píncaros da glória não suporta o anonimato e a vida de solitude. O ostracismo revela a angústia existencial dos ensimesmados. O profeta Oséias, usando uma metáfora, fala de uma espécie de planta estranha, nestes termos: Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como lírio, e lançará as suas raízes como o cedro do Líbano. Oséias 14:5. Esse arbusto tenro como a lilácea tem raízes profundas como uma árvore enorme e frondosa. O Israel de Deus é um vegetal esquisito, pequeno e frágil por fora, mas com raízes gigantescas que descem às profundezas da terra.
Crescer para baixo, ocultamente, é uma das evidências da vida espiritual autêntica. No reino de Deus não há passarelas para exibições, nem vitrines para exposições dos produtos. A vida secreta dos filhos de Deus é a grande demonstração da realidade espiritual.
O incremento no terreno da graça não conta com os méritos humanos. Quando alguém cresce em graça, significa que progrediu na compreensão dos seus deméritos. Quanto mais a graça floresce na alma do filho de Deus, menos dignidade se confirma na sua vida diária. O salvo pela graça jamais ostentará um atestado de bons antecedentes ou o menor currículo vitae.
O apóstolo Paulo aprendeu, com duras penas, que o crescimento na graça passa pela extenuação. Crescer em fraqueza é desenvolver-se em graça. A graça está para fraqueza, assim como o alimento está para a fome. Foi deste modo que ele ouviu do Senhor: a minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12:9.
A fraqueza extrema é a abertura para a dependência total do crente em Cristo. No reino da graça o enfraquecimento é a via do poder divino. Nós só dependeremos completamente de Deus, se cada um chegar, de fato, ao fim de si mesmo. Quanto menos independência pessoal, mais dependência sobrenatural do Senhor. Quanto mais fraqueza humana, mais força divina.
Paulo foi ainda mais longe quando se deliciava na debilidade e fazia festa com a sua atonia pessoal. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte. 2 Coríntios 12:10. Vemos aqui, com nitidez, que o crescimento na fragilidade humana é a ampliação do poder de Deus. A fraqueza humana escancara as portas da onipotência divina.
A lei do crescimento no reino de Deus mostra que crescer em menos de nós é crescer em mais de Cristo. No evangelho, a plenitude do Espírito Santo é o resultado dos efeitos da cruz de Cristo, que promove a desocupação do egoísmo em nosso íntimo. O esvaziamento precede o enchimento. Na matemática celestial o cálculo de subtração vem antes da conta de adição. Não vivo eu, mas Cristo é a primeira operação da aritmética santa no acordo da Igreja de Deus.
João Batista, um primo mais velho de Jesus, entendeu claramente que o crescimento espiritual é de cima para baixo. Crescer no conhecimento de Cristo é decrescer em nossa estimativa particular. Conhecer mais de Cristo é minguar cada vez mais em nossa avaliação. Foi assim que João concluiu: convém que ele cresça e que eu diminua. João 3:30.
A vida cristã não é uma biografia de emergente que gosta de badalação, aprecia as luzes dos holofotes e ama ser colunável. Ser cristão é ser menos diante da opinião pública. É preciso primeiro drenar esse tumor inchado da imagem insuspeita e de valor subjetivo de nossa alma, para que a identidade de Cristo se manifeste docemente em nosso homem interior.
Os filhos de Deus vivem na presença de Deus e na dependência de Deus. Andrew Murray foi categórico ao afirmar: "ter vida em si mesmo é prerrogativa exclusiva de Deus e do seu Filho... a mais alta honra para uma criatura é buscar vida, não em si mesma, mas em Deus". A nossa personalidade cristã é formada pela comunicação da vida de Cristo em nosso ser, por isso não carecemos da consideração e aceitação social para demonstrar quem somos.
Todo aquele que foi aceito incondicionalmente pelo Pai através do Filho e de sua obra na cruz é uma nova criatura que tem sua identidade permanente como filho de Deus, e que não precisa da anuência pública para ganhar reconhecimento na sociedade. A vida secreta da família divina é o estilo mais adequado para a convivência do povo de Deus.
A invisibilidade pública e a visibilidade confidencial na presença do Pai é o sinal de trânsito seguro da intimidade espiritual. O cristão anda na luz do Senhor, mas fora do olhar dos expectadores humanos. Jesus foi muito aberto com relação a este assunto: guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de sedes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste. Mateus 6:1.
Se quisermos crescer na vida cristã, devemos crescer em menos diante da opinião dos outros. O caminho do peregrino será diretamente iluminado por cima, todavia as laterais estarão sempre cobertas por véus. Jesus desvendou a prática da contribuição, oração e jejum vedando aos homens a informação do acontecimento. Veja, por exemplo, como ele resume a questão da oração. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Mateus 6:6.
A fé cristã não é um espetáculo que requer platéia. O verdadeiro culto não é um show que exige expectadores. Nós não precisamos de relatório para ser aprovado diante do Senhor. Como insistia Murray: "não há outro caminho que leve à vida verdadeira – o permanecer em Cristo – que não seja aquele que nosso Senhor trilhou antes de nós: o caminho da morte, isto é, o caminho da cruz". Sem a morte desta vida exibida não haverá cristianismo verdadeiro. O ego precisa sair de cena, mas não existe outro instrumento de convencimento senão o caminho da cruz. Só a morte de Cristo na cruz e a morte do pecador com Cristo podem dissuadir o velho homem de sua disposição arrogante de se exibir diante do auditório. A vida em secreto é a atitude apropriada e ajuizada da nova criatura que teve o seu caráter transformado pelos efeitos da cruz de Cristo e que, no dia a dia, apresenta as marcas desta cruz, levando o morrer de Jesus como evidência de sua fé em Cristo.
Crescer em menos é crescer em direção ao pó. A humildade é o humano rumo ao húmus. Quando reconhecemos que somos apenas areia movediça sem qualquer vida em si mesma, ajoelhamos reverentes diante da majestosa soberania de Deus. Antes, ele dá maior graça, pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Tiago 4:6.
Humildade não é rebaixamento em busca de exaltação. Sabemos que muitos se maquiam com os traços da humildade para receberem as migalhas da louvação. Contudo, "a humildade é aquela virtude que, quando você percebe que a tem, já a perdeu". Só Jesus foi realmente humilde de coração e somente através dele podemos ganhar uma humildade sem ostentação ou necessidade de apreço. Crescer em humildade é crescer em isenção de cuidados especiais, na ausência de interesses particulares ou prestígios reservados. Agostinho dizia: "para os que desejam aprender os caminhos de Deus, a humildade é a primeira, a segunda e a terceira lições". Mas é bom lembrar que não há graduação, nem formatura em matéria de humildade. Nenhum mortal pode se considerar humilde, sem correr o risco da arrogância espiritual.
O crescimento em humildade e submissão vem sempre crescendo em menos de nós e mais de Cristo, sem que seja necessário demonstrar que somos menos, nem que Cristo é mais. A vida equilibrada da fé adota a postura sensata de reconhecer a nossa insignificância, sem aviltamento, bem como a nossa dependência total do Senhor, sem misticismo ou fanatismo. Temo este espiritualismo que aniquila a individualidade e mistifica o relacionamento com Deus. Menos de nós e mais de Cristo é a expressão saudável no crescimento da eterna salvação de Deus, que nos transforma em seus filhos, destituídos desta carência de importância humana, uma vez que fomos revestidos da importância plena da vida de Cristo, porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Colossenses 3:3. Aleluia.
 
Soli Deo Glória.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Papai Noel Era Bispo

O personagem histórico do qual deriva a atual figura do Papai Noel foi São Nicolau, Bispo de Mira (atual Demre) na Turquia, que viveu no século IV, foi preso mais de uma vez sob o Imperador Diocleciano, por não negar a sua fé em Jesus Cristo, mas não foi martirizado, tendo uma vida longa. Foi uma pessoa bondosa, que amava as crianças e a elas distribuía presentes, e possuía vestes episcopais vermelhas. Foi declarado santo, por se atribuir ao mesmo a realização de vários milagres em vida. Uma Basílica foi construída em sua honra, quando faleceu. Com um carisma de “ajuda” a sua memória foi venerada rapidamente no Leste Europeu, entre bizantinos e coptas. Com a invasão islâmica à Turquia, os seus restos mortais foram transladados, posteriormente (1087) para a Basílica de Bari, na Itália.
No século XVI se viu, na Alemanha (talvez associado à figura germânica de Odin), a propagação da prática de, no dia 06 de dezembro, se associar à sua figura a distribuição de presentes, entrando pelas chaminés. Os holandeses, que o denominavam de SinterKlass trouxeram essa versão meio religiosa-meio folclórica para a Nova Amsterdam (depois Nova York). Ali os anglo-saxões o rebatizaram de Santa Klaus, e estilizaram a ideia do trenó e das renas, em razão da neve do inverno.

Em 1823 Clement C. Moore escreveu a novela “Uma visita de São Nicolau”, concorrendo, ainda mais, para a sua popularização. No século XX o personagem foi popularizado, inclusive com o apoio da Coca-Cola. Hoje, com variações de versões locais, o Papai Noel (ou equivalente) foi se espalhando por todo o mundo, com suas lendas, sendo, no caso do Brasil, personagem popular nos centros de compras.

Creio, que, a essa altura, não dá para negar a presença dessa figura culturalmente alinhada de um velhinho bem nórdico (morrendo de calor nos trópicos), mas sim, que se pode “recristianizá-lo”, resgatando, entre os cristãos, a figura piedosa e amorosa do personagem original:São Nicolau, meu colega Bispo…

Como Nicolau, expressemos a todos o amor de Cristo, em forma de solidariedade e presentes, especialmente para as crianças.

Soli Deo Glória

JESUS, O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14:6.

Chegamos agora à sétima expressão registrada no evangelho de João, referente à Pessoa do Senhor Jesus Cristo: O caminho, a verdade e a vida. Cristo, como Aquele que desceu do céu, "o trigo da terra", elevado às alturas, e assentado na glória, veio ser o tudo na vida do Seu povo. É inefavelmente precioso para aqueles que estão em Cristo descobrir que o Senhor Jesus preenche todas as coisas e que Nele temos completa redenção.

Ele é o caminho: Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne. Hebreus 10:19-20.
Nenhum homem na face da terra ousa aproximar-se da presença de Deus fora de Cristo, e este novo e vivo caminho foi aberto pela cruz. É inútil entrar por qualquer outro. Os homens podem esforçar-se para entrar nele por outros meios, mas é impossível. O sacrifício da cruz é divinamente suficiente e único para nos conduzir à presença de Deus. O nosso bendito Senhor deixou toda a glória do céu pela vergonha da cruz, a fim de guiar o Seu povo remido, perdoado, e apresentá-lo inculpável diante do nosso Deus e Pai. Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis. Colossenses 1:22.

O Senhor Jesus em Sua própria Pessoa preenche todas as condições necessárias para nos levar a Deus; Nele somos levados, em perfeita justiça, até Deus. Todo o caminho está entremeado com o sangue. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. João 6:56-57. Comer a Sua carne e beber o Seu sangue falam da nossa íntima união no Seu corpo. A Sua morte é nossa morte e a morte, para nós, é a morte da natureza perversa que herdamos de Adão. A Sua ressurreição também é nossa. E agora, livres do poder do pecado e da morte, podemos nos alimentar da graça infinita Daquele que realizou tudo isto por todos nós. Cristo é a verdade. O Senhor Jesus não diz que vai nos mostrar a verdade. A verdade não se refere à palavra a respeito de Cristo; o próprio Cristo é a verdade. Corremos o perigo de examinar as Escrituras e não encontrarmos o Senhor. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:39-40. Por outro lado, o objetivo maior das Escrituras é mostrar a Cristo. A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Lucas 24:44. Podemos falar de muitas doutrinas por muitos anos, entretanto, se não tivermos a visão de Cristo vivendo em nós ou se Cristo não for nossa verdade, nossas obras serão mortas.

Uma coisa é termos a Bíblia em nossas mãos, em nossas casas, nas nossas igrejas, e outra, muito diferente, é ter a verdade da Bíblia revelada na Pessoa de Cristo brilhando em nossas vidas. Quão importante é tudo isto, nestes dias de deturpação da verdade de Deus. Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus. 2Coríntios 2:17. Na presença de Deus, tudo está resumido em Cristo.

Conhecer a verdade de Deus sem a visão de Cristo é o mesmo que pedir para um cego discorrer sobre o sol, e o que o cego pode ter são vagas impressões sobre o mesmo. Alguém disse: Vocês perderam a "visão" do cristianismo porque abandonaram o "Livro". Não havendo profecia, o povo se corrompe. Provérbios 29:18a. Em outra tradução é: Onde não há visão, o povo se desintegra, ou ainda, se torna em ruínas.

Eu sou a vida
, diz o Senhor. Vida é o próprio Cristo. Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. Atos 3:15. Se não tivermos a revelação deste fato, "Cristo é a nossa vida", com certeza entraremos num labirinto inextricável. Vida cristã não é tentar viver a vida de Cristo, mas, sim, Cristo vivendo e manifestando a Sua vida em nós. E, se existe vida não há um pingo de necessidade de realizarmos qualquer esforço pois, esta vida, a vida de Cristo, flui naturalmente.

O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. João 10:10.
Fica implícita aqui não só a abundância da própria vida, mas, igualmente, a abundância da fonte de vida, fonte esta que jamais se extingue. O Salmo 23 revela de forma maravilhosa o que isto significa: "nada nos faltará", "pastos verdejantes", as "águas de descanso", com sua "mesa preparada" e seu "cálice transbordante". Tudo isso temos em Cristo. Enfatizamos que o caminho é Cristo, a verdade é Cristo, e a vida é Cristo. O Senhor Jesus Cristo é suficiente em todas as questões desta vida. É tudo em Cristo, de Cristo e por Cristo. Se a obra de Cristo é suficiente para a consciência, se Sua bendita Pessoa é suficiente para o coração, então, com toda a certeza, a Sua preciosa Palavra é suficiente para o caminho. Podemos admitir, com toda a confiança possível, que possuímos no divino volume das Sagradas Escrituras tudo o que poderíamos precisar, não apenas para atender às necessidades de nossa senda individual, mas também para as variadas necessidades da Igreja de Deus, nos mínimos detalhes de sua história neste mundo. Charles Henry Mackintosh.


O conhecimento de Jesus Cristo é vida eterna. Quando Pedro confessou Cristo como o Filho do Deus vivo, a resposta de Jesus foi: Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Mateus 16:16-17. Este é o único meio pelo qual alguém é agregado à família de Deus. É pela revelação da Pessoa de Cristo, que não é apenas uma doutrina. Não podemos esquecer jamais que o Cristianismo não é um conjunto de opiniões, um sistema de dogmas ou um determinado número de pontos de vista. É uma realidade viva por excelência, um relacionamento íntimo com a Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Esta revelação, sendo recebida pela fé, atrai o coração para Cristo. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo João 12:32.
Estamos num mundo, onde passamos por dificuldades, provações e sofrimentos; mas podemos descansar quanto Àquele que se revelou a nós em todas as nossas necessidades e fraquezas, nada temos que recear. Pois, Ele diz: EU SOU O QUE SOU.
 
Soli Deo Glória.
 
 

AINDA QUE... TODAVIA

Ainda que a oliveira não floresça, nem haja fruto na vide, ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento, ainda que as ovelhas sejam exterminadas, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor e exultarei no Deus da minha salvação. Habacuque 3:17-18.
O livro de Habacuque é o oitavo dos profetas menores. Embora tenha mais de dois mil e quinhentos anos, sua mensagem é atualíssima. Os tempos podem mudar, mas o coração dos homens não. Ele ainda é prisioneiro das mesmas ambições, desejos e inclinações pecaminosas. Henrietta Mears diz: “o livro de Habacuque começa num vale profundo e termina nas alturas excelsas”. Ou seja, ele vai do desespero à esperança, do temor à verdadeira fé.
Desde a queda de Adão e, consequentemente, de toda a raça, - como está escrito: Porquanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Romanos 5:12 - o sofrimento tornou-se algo inerente na vida diária do ser humano. Todos, indistintamente, passarão por sofrimentos. O sofrimento vem para o rico e para o pobre, para o crente e para o descrente. A verdade é que o sofrimento não faz acepção de pessoas.A palavra de Deus é clara em dizer: Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. Não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Romanos 8:22-23.
Deus tem uma medida de sofrimento para cada ser humano. É verdade que muitos, por suas escolhas erradas, atraem o sofrimento para suas vidas, por não saber discernir o precioso do vil, e por querer andar segundo a sua própria vontade em detrimento da vontade de Deus. Lembre-se do que a palavra de Deus diz em: não vos enganeis: Deus não se deixa escarnecer. Tudo que o homem semear, também ceifará. O que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. Gálatas 6:7-8.
Diante dessa verdade, fica uma pergunta inquietante: o que temos semeado em nossas vidas? É certo que a colheita desses frutos virá. O apóstolo Paulo tinha em sua mente plena convicção de que todas as coisas que lhe aconteciam estavam debaixo da soberania de Deus. Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Romanos 8:28.
A maldade, o pecado provocado por outras pessoas contra os filhos de Deus, está debaixo da soberania do Pai e não foge de seus propósitos em trabalhar na vida do seu povo. Nenhuma pessoa vai dizer ou fazer algo para um amado do Pai, gerando qualquer desconforto, sem que o próprio Deus não conheça e de alguma forma não o tenha permitido. O salmista diz: Pois tu, ó Deus, nos provaste, tu nos refinaste como se refina a prata. Tu nos deixaste cair no laço, e cargas pesadas nos colocaste nas costas. Fizeste com que os homens cavalgassem sobre as nossas cabeças, passamos pelo fogo e pela água, mas nos trouxeste a um lugar de abundância. Salmos 66:10-12. Toda circunstância gerada contra os eleitos de Deus está no seu controle.
O problema é que o ser humano não quer demonstrar fraqueza, não quer reconhecer sua total incapacidade, e, muito menos, sair do controle, ou seja, render-se. Porém, o Senhor só opera na fraqueza, ou melhor, no reconhecimento da fraqueza. Este mundo é a grande escola de Deus para o tratamento do ser humano. Deus precisa imprimir seu caráter na vida de seus filhos. E como Ele vai fazer isso? Através do sofrimento. Assentar-se-á como fundidor e purificador de prata, purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como a prata. Então eles trarão ao Senhor ofertas em retidão. Malaquias 3:3. Esse versículo bíblico intrigou algumas mulheres num determinado estudo bíblico. Elas ficaram pensando o que essa afirmação significava em relação ao caráter e a natureza de Deus. Descobriram que, no refinamento da prata, é preciso que o artesão fique sentado segurando a mesma no centro da chama, onde ela é mais quente, para queimar as impurezas. Deve manter seus olhos na prata o tempo todo em que ela estiver nas chamas, pois se a prata ficar um minuto a mais que o devido, pode ser destruída. O refinamento da prata termina somente quando o artesão vê sua imagem nela.
Nossos dias são dias de conflitos, solidão, estresse, ansiedade, depressão e medo, e todos, sem exceção, estão sujeitos às tempestades da vida. As adversidades chegam sem pedir licença. O profeta Habacuque declarou embaixo da dependência de Abba: “Ainda que”! Não importa a dor, a perda, o sofrimento, quando os olhos estão postos no Deus de toda a graça, pode-se caminhar feliz pelo vale da sombra da morte e, ainda assim, estar alegre e exultante na soberania de Deus. Este mundo é a escola de Deus para tratar com todo o ser humano. As adversidades só têm um propósito: tirar aquilo que não agrada o grande Refinador. Deus quer imprimir em cada um de seus filhos a Sua imagem, ou seja, o caráter de Jesus Cristo. E nós precisamos disso. O salmista é claro em dizer: Antes de ser afligido andava errado, mas agora guardo a tua palavra. Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos. Bem sei, ó Senhor que as tuas leis são justas, e que em tua fidelidade me afligiste. Salmos 119:67-71-75.
E para os que não nasceram de novo, Deus precisa levá-los ao fim de si mesmos, para que reconheçam a Cristo como único Senhor e Salvador. Deus está com os olhos fitos em cada um de seus eleitos, cuidando de cada um como a menina dos olhos, dizendo: Ainda que meu pai e minha mãe me desamparassem, o Senhor me recolheria. Salmos 27:10. E, também: Pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de modo que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, jamais me esquecerei de ti. Isaías 49:15.
Por vezes, a tendência do cristão é ficar com os olhos fitos na figueira e esperar frutos dela: alimento, figo, ou melhor, o doce do figo. Mas, quando isso não acontece, quando o fruto não vem, o que fazer? Habacuque começa sua profecia com choro e medo, e a termina cantando e confiante. O que produziu a mudança em seu coração? Certamente foi a certeza da soberania de Deus em todos os aspectos da história do seu povo. O Senhor tem o seu caminho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés. Naum 1:3-b. E, também: Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Salmos 46:1-3. Quando se mantém o olhar somente para figueira, depara-se com fraqueza e desespero. É preciso aprender, pela graça de Deus, a olhar firmemente para o autor e consumador da fé. Certamente, quando os olhos estão postos naquele que pode todas as coisas, não precisamos entrar em desespero, pois sabemos que Ele está no controle de TUDO!
O sofrimento, na vida do ser humano, baseia-se em perdas: seja da saúde, do emprego, afeto, bens materiais ou até mesmo de um ente querido. Toda pessoa que passou por alguma perda, via de regra sente-se culpada por isso. Mas, é bom lembrar que, como seres finitos, todos estão sujeitos a perdas e não se tem como evitá-las. Se não há como evitar o sofrimento, pode-se torná-lo menos doloroso ao buscar e andar na presença de Deus Pai. Tu me farás ver a vereda da vida; na tua presença me encherás de alegria, com delícias perpétuas à tua direita. Salmos 16:11. Isto porque: Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Salmos 46:1.
Muitas vezes, aquele que está sofrendo procura não falar e até mesmo nem pensar naquilo que traz sofrimento, como um meio de fuga. Por outro lado, só encontraremos a cura ao extravasarmos todo sentimento que causa a dor. Quando se evita falar acerca desse sentimento, o corpo reage de forma negativa, trazendo doenças físicas e emocionais. O rei Davi foi claro ao dizer: Enquanto me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido o dia todo. Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor tornou-se em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Disse: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado. Salmos 32:3-5. Quando confessamos nossos pecados primeiro ao Senhor e também a um irmão de confiança, estamos dando o primeiro passo para a cura.
Jesus foi claro ao dizer: Disse-vos estas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo. João 16:33. Ele e somente Ele pode dar graça aos seus filhos para viverem tanto nos dias fáceis e alegres, quanto nos dias difíceis e tristes. Muitas pessoas, quando recebem um não de Deus, em momentos de dor, ficam duras como o salmista: A minha alma recusou ser consolada. Salmos 77:2-b. Toda pessoa vitimizada por um ego doído acha-se no direito de não receber o consolo de Deus. Não se dobra à soberania de Deus, pois quer que a sua vontade seja feita tanto na terra como também deveria ser feita no céu. E, assim, jamais poderá tocar na dor do outro, pois recusa-se a receber o consolo que somente o Pai celestial pode conceder. Bendito seja o Deus e Pai de nosso senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Somente aquele que passou ou está passando pela tribulação pode ser consolado por Deus e, assim, pode ser um canal de bênçãos para aqueles que também estão sendo atribulados.
Que o nosso Deus e Pai possa abrir os olhos do nosso entendimento para que possamos enxergar além da tristeza e assim glorificar seu Santo nome! Amém.
 
Soli Deo Glória.