sexta-feira, 30 de março de 2012

CONTRASTES PERIGOSOS DO CRISTIANISMO ATUAL



E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. AT.2:42-47.


Quando lemos o relato bíblico sobre os primeiros passos da Igreja Primitiva, imaginamos uma igreja perfeita. Todos perseveravam na doutrina dos apóstolos, isto é, de Cristo; havia comunhão, o partir do pão, a adoração e oração. Havia alegria e singeleza, louvor e bom testemunho diante do povo. Esse era o perfil da igreja chamada Primitiva.

No entanto no capítulo 5 e 6 de Atos, percebemos que alguns problemas começaram a aparecer. Na leitura do texto chegamos à conclusão que a igreja do primeiro século não era perfeita. A Igreja Primitiva tinha problemas, assim como temos hoje. A questão da distribuição de alimentos, por exemplo, para as viúvas de origem judaica (de fala hebraica) e as de origem helenista (de fala grega), pode até ter como causa a barreira do idioma. Isso foi resolvido com a instituição dos diáconos.

Porém, a Igreja recém formada passava por problemas de ordem interna e externa. A Igreja estava inserida num contexto teológico e filosófico contrário à revelação da Pessoa e Obra de Cristo. A Aliança da Graça em Cristo Jesus era resistida pelo enraizado costume legalista dos fariseus. Em aproximadamente cinco décadas após o início da Igreja, a Igreja de Corinto situada numa das maiores cidades do mundo romano e uma das mais corruptas, também sofria de problemas internos e externos.

Além dos problemas de divisões internas por alguns se acharem mais espirituais do que outros irmãos, a igreja sofria também ataques em relação à doutrina e à moral, fruto de pressões de ideologias do contexto mundano. O orgulho espiritual, a falta de amor e de firmeza bíblico-teológica eram questões cruciais que o apóstolo Paulo precisava tratar.

Através dos séculos a Igreja vem sofrendo desses mesmos problemas básicos: a falta de amor, o desequilíbrio teológico e a sedução do mundo e de suas filosofias. O Iluminismo surgido na França do século XVII acreditava que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.

O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada.

Esse pensamento subsistiu durante muitos séculos, até que após a Segunda Guerra Mundial houve um colapso geral da confiança no Iluminismo, no poder da razão para proporcionar os fundamentos para um conhecimento universalmente válido do mundo, incluindo Deus. A partir desse colapso da confiança nos critérios universais e necessários à verdade, tem florescido o relativismo e o pluralismo – a pós-modernidade.

Enquanto o relativismo afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar, o pluralismo num sentido amplo é o reconhecimento da diversidade onde todos tem verdades.

A pós-modernidade é definida por muitos autores como a época das incertezas, das frustrações, das desconstruções, da troca de valores. O pós-modernismo nega a existência de qualquer verdade universal e ataca o conceito de verdade, alegando que a mesma só é válida se funciona para você.

 
Na corrente filosófica atual absolutos não existem e o pragmatismo exclui a fé, isto é, não se deve dogmatizar em temas como teologia bíblica, divórcio, aborto, relacionamentos sexuais fora do casamento, céu e inferno, porque o pós-modernismo é a rejeição de toda expressão de certeza.

No relato da Igreja Primitiva em Atos 2 qual era o sentido da reunião dos cristãos? Para que se reuniam? Reuniam-se para ouvirem o ensino central sobre a vida e obra de Cristo, com foco em sua morte e ressurreição e a chamada ao arrependimento. Reuniam-se para a comunhão baseada na mesma fé, no mesmo amor e no mesmo Senhor. Reuniam-se para o partir do pão na Ceia do Senhor no templo e também em casa, louvando e adorando, buscando a intimidade com Deus através das orações em todo o lugar e em todo tempo.

O primeiro contraste que podemos perceber está no motivo central pelo qual muitos buscam se reunir. Enquanto a Igreja Primitiva se reunia por causa de Cristo, na igreja contemporânea muitos buscam um grupo social, outros um lugar com bons valores éticos, outros ainda buscam alívio da consciência através da religião.

Enquanto na Igreja Primitiva a koinonia significava literalmente “ter em comum”, na Igreja Contemporânea a prática é buscar os próprios interesses. Valores como a mutualidade podem até soar bonito, mas na prática há muitas panelas fechadas. O pão até é partido, mas somente entre os queridos e não com os verdadeiramente necessitados da comunidade.

As orações na Igreja Primitiva não tinham lugar nem hora, mas eram feitas por causa do desejo da comunhão com o Senhor, da intercessão e confissão de pecados. Na Igreja Contemporânea, a oração ocupa quando muito o momento antes da refeição.

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis. 2Tm.3.1.
O pós-modernismo com seu relativismo e pluralidade, sutilmente prega que a Igreja se adapte às novas culturas. Sugere que os cultos devam ser mais “modernos” sem aquele toque de reverência e temor diante de Deus e que ao invés da centralidade do louvor ao Cristo que morreu e ressuscitou, tenhamos músicas com estilos musicais globais que tragam prazer e agrade a todos.
 

O grande perigo está quando a verdade objetiva da centralidade de Cristo não existe mais e as teologias e liturgias passam a ser dirigidas pelo gosto do tempo presente. Neste caso é o “sentir” que tem impulsionado a tomada de decisões e não o transformar do evangelho puro e simples da graça de Deus em Cristo. A ausência da fé radical na Palavra de Deus como verdade absoluta leva as pessoas ao relativismo teológico-moral que passam a aceitar ideias contraditórias e mundanas como normais.
O pós-modernismo se caracteriza por um espírito de pluralidade e aceitação em detrimento da suficiência de Cristo. É a relativização da verdade das Escrituras que passa a ser estudada e discutida nos termos da cultura e não como autoridade inerrante de Deus. Neste sentido a mulher submetendo-se ao marido é coisa cultural daqueles tempos, marido como cabeça da mulher tem de ser redefinido como outra coisa, mas não cabeça.

Na sociedade em que vivemos, o que antes era convicção, hoje é opção e na Igreja de nossos dias a santidade passou a ser sugestão e não algo devido à Nova Vida no nascido de novo em Cristo Jesus. O velho “aceite a Jesus Cristo” ainda está presente para aliviar a consciência e “dar poder” ao aceitante que não precisa negar-se a si mesmo e nem arrepender-se.

A igreja é orientada pelo pragmatismo, por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo. Por isso hoje o significado da oração e seu espaço na reunião da igreja foi esvaziado. Confiamos mais em nossos recursos e menos em Deus. As ferramentas tecnológicas tornaram-se mais eficientes que a comunidade e a comunhão.

Ao contrário dos de Beréia citados em Atos 17:11, em nossos dias somos forçados a não querermos nos aprofundar no estudo da Palavra de Deus, mas obtermos conhecimento de forma fácil, prática e rápida, sem necessidade de estudo e verificação das Escrituras.

 
De uma maneira geral podemos pontuar que no contexto social pluralista a verdade é relativa e não absoluta, onde a autoridade é sinônimo de opressão; onde não há padrão de certo e errado e prezamos mais o estético do que o ético. Ser politicamente correto é melhor do que afirmar uma convicção bíblica e a melhor espiritualidade é a mística e esotérica.

O individualismo hedonista valoriza a experiência e o sentir-se bem como critério de decisão. Todos têm suas verdades e a busca pelo novo é contínua para satisfazer seus anseios insaciáveis. A bênção é um produto conquistado pela justiça própria.

Nesta linha afirma-se que Jesus Cristo é o Salvador, mas não que a cocrucificação com Ele é a única maneira do homem ser salvo. Nesse ambiente pluralista a suficiência de Cristo como verdade absoluta não é fundamental, pois uma pessoa pode ter outras experiências que também lhe proporcionam felicidade.

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 1 Coríntios 3:11. Qual é o centro da doutrina dos apóstolos? Jesus Cristo é o centro da doutrina dos apóstolos! De onde procede todo referencial da vida cristã? Nas Escrituras Sagradas. Onde o regenerado encontra plena satisfação? Na pessoa de Cristo, pois incluído na morte de Cristo para o pecado, para si e para o mundo agora não vive mais a velha vida.

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:1-2.

 

A Igreja deve ser uma comunidade de contraste de Deus no meio da sociedade. Não uma ambiguidade, não um contraste de desprezo, de discriminação ou de mera oposição, mas de plena certeza de fé. Por causa de Cristo e de Sua obra, que tem por essência o amor, a Igreja carrega as marcas de Cristo em sua vida. Por causa do seu chamado, cada um de nós tem o encargo de ser “sal da terra” e “luz do mundo”, pois para isso mesmo a Igreja existe no mundo.

Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.  2Tm 2:19.


 

Solo Deo Glória

quinta-feira, 29 de março de 2012

A DOR ADORMECIDA

 
E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Marcos 11:25.

Já vimos, em outra ocasião, que ninguém, no jogo desta vida, vive sem cotoveladas. Nestes estudos sobre a anistia, já constatamos também que é impossível um convívio normal isento de feridas e contusões. Todos nós, em algum momento de nossa existência, acabamos trombando com alguém ou recebendo alguma trombada que machuca e deixa sequelas graves.

Tanto o que bate como o que apanha, de alguma maneira, termina sofrendo certas dores em razão dos esbarrões. As relações, daí para frente, não ficam à vontade. Há sempre uma ponta de desconforto por detrás dos bastidores e uma dor importuna, que pode até ficar adormecida nas entranhas, mas continua irritando os tecidos emocionais.

A história da humanidade é uma crônica escrita com as dores agudas da alma, que evoluem lentamente até se tornarem em dores crônicas e difíceis de serem curadas. As pessoas que foram contundidas e não receberam o tratamento gracioso da cruz de Cristo, costumam ficar amarguradas no íntimo, embora a maioria se apresente muito bem na fotografia.

Parece que neste texto de Marcos, Jesus está mexendo exatamente nessas feridas crônicas, aparentemente camufladas com a arte do faz de conta. Tudo parece muito bem, contudo a inflamação se dissemina sorrateiramente por baixo dos panos.

O contexto deste assunto em pauta começou com a maldição de uma figueira mentirosa. Jesus se aproxima de uma planta em busca de frutos. E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Marcos 11:13.


Diante desta improdutividade da figueira, Jesus nos surpreende amaldiçoando-a. Este episódio é, no mínimo, muito curioso. Se não era a época certa da frutificação, por que Jesus acabou por condenar aquela planta à morte? Que radicalismo é este, Senhor? Parece um grande absurdo ou total incoerência da parte do Criador do universo.

Não há, na verdade, nenhum exagero por aqui. Jesus não foi cruel com a planta. A árvore apenas estava fingindo. No Oriente Médio, a figueira quando tem folhas, necessariamente tem frutos. Se aquela planta tinha folhagem e não tinha frutos é porque havia alguma anomalia entre os seus galhos. Neste caso, a figueira era apenas uma grande farsa no pomar. Ela estava realmente demonstrando algo falso com a sua aparência.

Esta figueira infrutífera era uma representação patente do povo de Israel que estava vivendo uma grande mentira sistemática. Ele se identificava como sendo o povo de Deus, mas não dava os frutos divinos em seu modo de vida. Como pode um filho do Deus perdoador não perdoar as pessoas que o magoa, assim como o seu Pai, que sempre perdoa?

Quando os discípulos viram que a figueira que Jesus amaldiçoara, havia secado desde a raiz, ficaram perplexos. Então, Jesus inicia um ensino da fé que move montanhas e da oração pela fé, que deve ser tratada concomitantemente com o perdão pessoal, em consequência das raízes da amargura que permanecem no íntimo, ainda que, como uma dor adormecida.

Jesus foi enfático: quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa conta alguém, perdoai. O imperativo aqui implica numa categórica ordem aos seus filhos que estiverem orando, bem como, numa subvenção graciosa, garantida pela soberania divina.

Deus Pai não daria esta ordem aos seus filhos, sem antes prover generosamente todas as condições necessárias para o perdão. Uma vez feitos filhos de Deus, pela graça, também fomos habilitados pela vida de Cristo para perdoar aos nossos ofensores, como o Pai nos tem perdoado.

 

 

A questão agora fica assim definida: quem é filho de Deus já foi perdoado por Deus e se tornou, mediante o novo nascimento, num perdoador por natureza. Como filhos de Abba, todos estamos habilitados a perdoar assim como ele nos tem perdoado. Por isso o imperativo: perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.

Esta ordem é somente para os filhos do Pai celestial. Os pais só devem requerer obediência de seus filhos. Deus não ordenaria aos filhos do Maligno que perdoassem. Este mandamento é apenas para os seus filhos legítimos, que estão capacitados a perdoar com o perdão que Ele mesmo lhes tem doado gratuitamente. (Porém, perdoar não significa convivência forçosa com o ofensor).

Ora, se sou filho de Deus, e vivo neste mundo de trombadas, estou sujeito às contusões diárias, mas, também, estou equipado, pela vida de Cristo, que habita em meu ser, a perdoar aos meus agressores, assim como Ele me perdoou; embora, o perdão não me coaja a coexistir com eles.

Muitos discípulos de Cristo ainda vivem sob a custódia de alguns sentimentos doloridos do seu passado. Eles já foram perdoados total e cabalmente pela graça, mas continuam cultivando emoções dolorosas nos canteiros subterrâneos de suas almas ressentidas. Creio até que sejam salvos, mas ainda vivem melindrosos e malacafentos, cultuando os seus melindres e bochechando a raiz de amargura como se fosse um xarope para curar a sua dor de cotovelo.

O perdão é a única alternativa para a saúde emocional dos salvos. Não existe outra opção para os filhos de Deus, senão perdoar. Foi numa encruzilhada dessas que os discípulos de Jesus quiseram saber até quantas vezes seria admissível perdoar alguém.

A cultura rabínica sugeria que até três vezes seria aceitável. Além disso, era falta de vergonha ou “o sangue seria de barata”. Pedro, em seus exageros clássicos, oferece uma cifra elevada de sete vezes. Porém, Jesus nos espanta com um número estratosférico retirado dos anais históricos.

O Senhor Jesus nos assegura que devemos perdoar 70 x 7 = 490 vezes. Este produto foi retirado da proposta de um humanista inveterado de nome Lameque, descendente de Caim, depois de ele haver ferido e matado pessoas por agressões insignificantes. (Gênesis 4:23-24)

O número sete, apresentado por Pedro, era a cobertura de perdão oferecida por Deus a Caim quando matou o seu irmão Abel. Mas Lameque não aceitou esta proteção e requereu um alvará de soltura bem mais abrangente. Ele queria que o seu pecado fosse perdoado por 490 gerações. Este número é, pois, a resposta de Jesus ao requerimento de Lameque.

O que Jesus estava propondo era uma disposição inflexível e permanente em perdoar. A questão aqui não é de álgebra ou aritmética. Jesus não estava dando aula de matemática, mas de saúde psíquica e libertação espiritual. Se você e eu não perdoarmos aos nossos ofensores realmente, nós nos tornaremos prisioneiros perpétuos de um ódio camuflado.

A prisão de segurança máxima, impossível de se empreender uma fuga, é aquela construída com as grades invisíveis do ódio. Como dizia o Cardeal parisiense do século XVII, François Fenelon, "quem tem mil amigos, nem sempre os encontra; quem tem um inimigo, encontra-o em toda parte". Este inimigo, com certeza, vive escondido debaixo dos nossos próprios trajes.

Para onde você for o inimigo vai junto, mas sem passagem, nem passaporte. Se você for ao restaurante, ele vai com você e come junto, mas só você paga a conta e ele ainda regurgita em seu prato. A dor adormecida no íntimo é uma dor sufocante e atormentadora.

Como disse Brennan Manning, citando o seu amigo Robert Rohr, "quem não aprende a transformar a dor, acaba passando adiante", ou seja, a dor e a vergonha que não são tratadas acabam sendo repassadas para a geração seguinte. Isto é: se não perdoarmos de fato, o feto já vem sofrendo em seu íntimo com a nossa amargura adormecida.

A questão básica é como tratá-la. Para mim, só há um remédio à vista: a cruz de Cristo Jesus. Para podermos perdoar de verdade precisamos morrer juntamente com Cristo na cruz e recebermos a vida da ressurreição como a única capaz de perdoar completamente.

E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Marcos 11:25.
Esta é uma ordem de Pai para filho. Como já disse anteriormente, Abba não requer obediência dos filhos do Diabo.

Se você não for um filho de Deus, você nada tem a ver com este mandamento. Mas, se for um dos seus filhos tem tudo a ver, e não tem opção: ou perdoa ou perdoa.

Este perdão não é quando a outra pessoa tem alguma coisa contra você. Neste caso, o procedimento é o seguinte: Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta. Mateus 5:23-24.

Quando o seu irmão estiver embirrado com você, por alguma coisa que você tenha feito, a alternativa é buscar a reconciliação com ele. Se, contudo, ele não quiser se reconciliar com você, então o entregue ao Senhor e espere o tempo da graça em sua própria vida. Porém, se é você que está magoado com a pessoa que o ofendeu, a ordem do Pai é: perdoa.

Neste caso, o perdão envolve a cifra de 490 vezes ao dia, pela mesma falta. Se você e eu não perdoarmos de verdade, por mais grave que seja a ofensa, fica claro que não somos filhos de Deus. Além disso, vamos apodrecendo vagarosamente em nossas entranhas emocionais, nesta vida, aguardando o tempo em que arderemos no tártaro, na vida futura. Isto não é ameaça tola, nem argumento para constranger os covardes. É apenas a constatação dos fatos bíblicos.
Quem não perdoa de fato é escravo dos piores sentimentos, o ódio; e vítima do mais severo dos déspotas, o seu próprio ego ferido. Enquanto o perdoador vive de férias no palácio do amor incondicional, o amargurado vegeta na masmorra da murmuração, sorvendo o fel do seu próprio ressentimento e envenenando quem se aproximar do seu quintal de espinhos.

Filho querido de Abba, observe! E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Marcos 11:25.

 

Solo Deo Glória

A TELEOLOGIA DO HOMEM


Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36

No princípio, Deus criou Adão e Eva e os colocou no Jardim do Éden e disse: “muito bom”. Toda a criação estava em perfeita harmonia com Ele e cumprindo os propósitos que havia estabelecido. (Gênesis 1:31).

A palavra teleologia é a junção de telos (acabado, completo, perfeito) - do grego téleios(adjetivo) (propósito, objetivo, meta) mais logos (tratado, discurso, estudo), doutrina acerca das causas finais que pretende explicar os seres pelo fim a que aparentemente estão destinados, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade.


A questão de sentido, propósito e significado da vida é antiga, vem lá do Éden, porém, creio que hoje em dia, muitas pessoas ao viverem na intensa busca por satisfazer seus mais profundos anseios, desconhecem o propósito para o qual foram criadas sob o ponto de vista de Deus, ou até mesmo, que todas as coisas criadas tenham um determinado propósito. Isso é a clara afirmação de que não compreendem nada a respeito do caráter de Deus.


Diferentemente de todas as coisas criadas, Adão e Eva podiam se relacionar com Deus que os criou a sua imagem e semelhança. Ao cair da tarde, Deus descia e passeava pelo Jardim do Éden com o homem e a mulher, que lhe dedicavam adoração num relacionamento de alegria, prazer e intimidade (Gênesis 3:8).


No entanto, toda essa harmonia foi quebrada quando Satanás plantou em suas mentes a semente da rebeldia contra Deus e seu propósito divino. Uma desorientação tomou conta de suas vidas e na tentativa de esconderem sua vergonha fundaram a “religião folha da figueira”. Rapidamente aprenderam a culpar a outros pelas consequências do seu próprio erro. Buscando de alguma forma eliminar o profundo sentimento de culpa, saíram pelo mundo por vezes querendo fazer algo para Deus, em outras o rejeitando.


O que foi de fato essa tragédia que afetou a humanidade e que tem reflexos profundos sobre nossas vidas hoje? A resposta é: o ser humano perdeu o propósito da vida; esqueceu quem ele é, não sabe de onde vem e nem para onde vai. Esqueceu o propósito da existência, e na busca por uma resolução dessa crise busca respostas em qualquer um que lhes ofereça esperança.


A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me
verei perante a face de Deus? Sl 42:2
 Essa é a condição que nosso mundo vive hoje. Consequentemente, a vida é cheia de confusão e por isso as religiões se multiplicaram em todo o mundo. Mas a “folha da figueira” só trata com a condição externa do homem e o deixa com a confusão no seu interior. Apesar disso, tentamos viver fazendo mil coisas e usando ao máximo do entretenimento para não dar tempo de enxergarmos nossa realidade.

Quem pode nos fazer entender porque estamos aqui, e qual o propósito da vida? Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:33-36.


Segundo as Escrituras, fomos criados por Deus para um relacionamento de amor, de adoração a Deus e desfrutá-lo para sempre. Agostinho cunhou uma das frases mais conhecidas sobre a maior necessidade do ser humano - “Fizeste-nos para Ti, e nosso coração permanece inquieto enquanto não repousa em Ti”. (Santo Agostinho, Confissões, Livro I).


Esse é o eco da voz que clama pelo motivo para o qual nascemos: para adorar e glorificar a Trindade Santa para sempre, acima de todas as criaturas. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2:9-11.


É isso que tem acontecido nas igrejas evangélicas de nossos dias? É isso que cada um de nós faz todos os dias? Infelizmente, o que é chamado de adoração, em muitas igrejas, pode ser tudo, menos o que reflete a comunhão, intimidade e liberdade da presença de Deus. É assim que funciona a religião “folha de figueira”, da satisfação pessoal, do interesse, do exibicionismo e da cultura do prazer.


O que é adorar a Deus? João descreve no capítulo 9 do seu Evangelho, que quando o cego de nascença curado por Jesus, reconheceu e creu no Filho de Deus, se prostrou e adorou. A adoração é fruto primeiramente do reconhecimento de quem Deus diz ser, que se segue pelo desejo de intimidade, com alegria e prazer, mesmo em momentos de sofrimento.


Celebrar ao Senhor é adorá-lo sem reservas, certo do seu amor incondicional e do propósito para o qual vivemos. Se não soubermos por que estamos aqui e nem para o que fomos criados, tudo o mais não terá sentido real, pois por mais tempo que vivamos ou por maior emoção que tenhamos em algum momento de louvor, isso não será suficiente.


Em nenhuma cultura no mundo se achou algum povo que não cultuasse algo. Por excelência o homem é um adorador, ele adora porque essa é a maior necessidade do seu ser - de se prostrar e reverenciar. É o homem que tem sede de Deus, porém se ele não desfrutar da adoração ao Deus Todo Poderoso, buscará outra coisa para adorar.


Deus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade. É impressionante pensarmos num Deus soberano, que não precisa de nada, que é completo em si mesmo, pois Ele é o criador de todas as coisas, mas que mesmo assim procura adoradores. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Atos 17:25-28.


Foi Deus que buscou Adão e Eva após terem pecado assim como é Deus que nos busca hoje. Ele se interessa por cada um de nós e deseja que vivamos no propósito para o qual nos criou. De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí. Jeremias 31:3. Podemos acreditar que existem pessoas sinceras que desejam descobrir qual é o propósito da vida, mas sem a revelação divina, em essência acaba buscando saciar o seu vazio de Deus em coisas ou pessoas, como no trabalho, no conhecimento, no entretenimento ou no prazer sexual. Esse é o reflexo do homem após a queda.


A. W. Tozer disse que “Adoração é a razão plena para a existência do homem. Nascemos para adorar, e para adorar, nascemos de novo.” Somente o homem regenerado tem condições de adorá-lo de forma aceitável por Deus. Embora tenha sido criado para refletir a glória de Deus, agora ele reflete sua própria pecaminosidade e se não nascer de novo nunca encontrará significado para sua vida.


Você crê que Deus é Espírito e que a adoração é algo espiritual? Porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado. 1 Coríntios 3:17. Quando uma pessoa é vivificada pelo Espírito de Deus, através da obra de Jesus Cristo de morte e ressurreição, ela é tornada uma nova criatura e templo do Espírito Santo. Jesus disse que os que adoram devem fazê-lo em espírito e em verdade.


É adoração em espírito e em verdade e não da maneira que achamos melhor que Deus quer e recebe. Uma pessoa ou um grupo pode demonstrar devoção, humildade e profunda emoção e ainda assim não experimentar verdadeira adoração. A verdadeira adoração está baseada num relacionamento de intimidade com Deus, que se manifesta no espírito por meio da verdade de Deus em Jesus Cristo.


Só há uma maneira de adorar a Deus: é através de Jesus Cristo. Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. Hebreus 13:15. Pensar que podemos adorar a Deus da forma que desejamos, que tudo é válido, desde que seja com sinceridade, tem sido uma das estratégias do diabo para causar o desvio do foco que é Jesus Cristo. A. W. Tozer disse: “É possível passar por uma experiência religiosa sem Deus e até rejeitando o Deus da Bíblia”.


Deus anseia pelo relacionamento conosco. O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Sofonias 3:17. A nossa dificuldade está em crermos que somos tão queridos e preciosos para Deus quanto Ele diz que somos.


Wayne Jacobsen, autor do livro “Deus me Ama”, diz o seguinte: “A mensagem de Jesus não foi: Aproxime-se de Deus ou você arderá no inferno, e sim: O Reino de Deus se aproximou de você e você pode participar dele. Você tem um Pai que o ama mais do que qualquer pessoa o amou ou o amará e agora pode descobrir o que significa ter uma relação diária com Ele. Se escolher não participar, seus pecados o destruirão”.


Que possamos em meio a tantos barulhos, tantas coisas para fazer, chegar ao entendimento que nosso espírito, alma e corpo têm sede de Deus e enquanto nossa prioridade não for o relacionamento com Ele, o prostrar-se em adoração, o prazer e a beleza da intimidade com nosso Pai, estaremos distantes do propósito para o qual fomos criados. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz. Salmos 36:9.


Oração: “Senhor, eu te adoro, te adorarei eternamente, quero te adorar na beleza da tua santidade, no prazer da tua intimidade, pois para isso nasci, para isso o Senhor me criou!”


Solo Deo Glória

quarta-feira, 28 de março de 2012

EU ME ARREPENDO DE SER BOM

Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus em espírito e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne; eu ainda mais.
Filipenses 3:3


Recentemente, ao ver uma entrevista concedida por um poeta e compositor brasileiro, fiquei admirado com um de seus versos que dizia mais ou menos o seguinte: “Deus me livra de mim, e da ruindade de gente boa, da bondade de gente ruim, Deus me livra de mim.” A profundidade de tal poesia despertou minha atenção, especialmente no que se refere a sua relação com a verdade do Evangelho, isto porque, ela revela inicialmente uma necessidade primordial: a de sermos livres ou libertos de nós mesmos.


Porém, sabemos que este é um problema que só a Cruz de Jesus Cristo pode resolver. As palavras do poeta apontam também, para as dificuldades que encontramos, quando tentamos diagnosticar o caráter das pessoas, levando em consideração apenas a aparência e o comportamentalismo externo das mesmas.


Quanta ruindade sendo feita por gente que tenta passar uma imagem de boa pessoa, ou que vende a imagem de bom, ou que tem um compromisso histórico com a bondade! Quantos pastores ladrões, padres pedófilos e crentes desonestos! São tantas as ações aparentemente bondosas, feitas por pessoas de índole duvidosa, que nos deixam tontos e confusos.


Além do que, o clamor por livramento do poeta, diante de Deus, aponta para a farsa da falsa gente boa, ao mesmo tempo em que revela um engodo - uma “ação bondosa” porém, realizada por gente ruim, essencialmente ruim. Algo que encontra amparo na palavra de Deus que diz: Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Romanos 3:10. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Romanos 3:12.


É difícil para nós admitirmos que Deus possa dar uma inspiração desta a alguém que julgamos estar fora do alvo de sua revelação - se bem que este assunto merece por si só, outra reflexão - ao passo que nós, que nos julgamos íntimos de Deus, ainda usamos o tipo de recurso que Paulo chama de ... boa aparência na carne... Gálatas 6:12, para testemunharmos de Deus ou identificarmos o testemunho de alguém.


Isto é bem próprio de uma religião babilônica, judaizante e humanista. Precisamos entender que nós não somos judeus, nós somos cristãos, e que: Não se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam. Mateus 9:17.


Tal procedimento tem origem babilônica e satânica, pois cogita das coisas dos homens e não das de Deus. Neste contexto, a Graça é uma ofensa, pois ela tira toda a condição do homem, ou melhor, do velho homem, de se vangloriar, tendo em vista que o Evangelho da Graça expõe sua realidade de maldade. O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. João7:7.


A Cruz, pelo contrário, decreta o fim da vanglória humana e do mundo, como um sistema administrado pelo diabo, tendo o homem como seu escravo e serviçal. Assim que, diante da verdade só existe uma maneira de Deus agir em relação ao homem – com Verdade, Graça, Misericórdia e Amor.


Mas, como diz Paulo Brabo: “A graça é tão difícil de definir quanto difícil de acreditar. É por certo um monstruoso escândalo à religião e à moral, porque sustenta, basicamente, que Deus não acolhe as pessoas pela consistência de seu desempenho religioso, ético, social ou profissional, mas unicamente pela sua graça, seu próprio cavalheirismo, graciosidade e inclinação em perdoar.


Segundo a visão de mundo do novo testamento, é apenas devido a esta postura graciosa de Deus que gente sem nenhum mérito, como nós mesmos e o vil ladrão crucificado ao lado de Jesus, pode ser acolhido no Reino sem nenhum trâmite adicional.


A boa nova da graça explica que Deus não escolhe pessoas por seu desempenho admirável, porque do contrário não teria ninguém para escolher. Admirável é Deus.”


Talvez você discorde. Mas, com base em que? Amados, vamos pensar juntos. O que você teria em você mesmo para recompensar o favor de Deus em Cristo? Pense bem. Como você poderia atribuir um preço para recompensar algo que é imensurável em seu valor? Além do que, isto seria uma tentativa de fazer de Deus um negociante e, por extensão, fazer do sacrifício de Cristo uma mercadoria barata.


O pensamento, doutrina ou a maneira de agir, que faz de Deus um negociante, nega a excelência da revelação de Deus trazida em Cristo Jesus, o qual veio nos revelar Deus como Pai. ... Pai nosso que estás no céu... Lucas 11:2. E, um Pai, não quer negociar com seus filhos, antes, quer fazer dos filhos, seus herdeiros.


É por isto que a Bíblia vai nos ensinar que, em Cristo Jesus, nós fomos feitos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, logo somos também herdeiros, herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Romanos 8:17.


O grande problema é que não somos acostumados com o amor, o Amor de Deus, ou melhor, com um Deus que é Amor. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. 1 João 4:8. Não conseguimos perceber que a grande mensagem da Cruz é Deus dizendo: Eu te amo de uma maneira inexplicável, Eu te amo. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.


É por este motivo que corremos o risco de abraçarmos o evangelho da percepção ótica, e não o Evangelho da fé. Além do que, temos dificuldades em perceber quando estamos abraçando o evangelho da circuncisão e tudo o que nele está implicado - aquilo que Paulo vai chamar de outro evangelho. É por isso que o apóstolo começa a sua exortação dizendo: Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da falsa circuncisão. Filipenses 3:1-2.


Mas, quantas vezes nos aproximamos de Deus, sustentados pela nossa boa conduta moral e religiosa? E, quantas vezes fugimos de sua presença tendo em vista os nossos pecados? Quando assim agimos, ainda que inconscientemente, estamos afirmando duas coisas. A primeira delas diz que temos algo a oferecer a Deus, e não é o cordeiro Santo imolado, logo, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu em vão. Gálatas 2:21. A segunda diz que o sacrifício de Jesus Cristo é insuficiente para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. 1 João 1:9.


Isto significa negar o sacrifício de Cristo e a graça de Deus. É manter o homem como agente de sua própria justificação, santificação e redenção, e não Cristo, mas a Bíblia sagrada nos ensina que, mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; 1 Coríntios 1:30.


Quando olhamos para o texto de Filipenses 3:4-11: Ainda que eu também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo justiça própria que procede da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e à comunhão de seus sofrimentos, conformando-me com Ele na sua morte; para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos. O que vemos?


Vemos um Paulo arrependido de sua bondade. Paulo não está arrependido por ter se prostituído, roubado ou adulterado. Ele se arrepende de sua conduta religiosa impecável, de todas as suas orações diligentes, porém vazias, feitas de si para si mesmo, dos seus jejuns e de seus dízimos, que têm o poder de convencê-lo de que ele não é como os demais homens. Ele se arrepende da sua obediência a um deus que não é pai, de todo o seu zelo religioso contra “hereges” que afirmam que Deus é Amor e age por Graça. Arrepende de ser justo, porém uma justiça que não vem da fé; de ser irrepreensível, de ser bom, porém sem Cristo.


Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
Gálatas 2:19-20. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:8-10.


Que Deus nos livre, do nosso principal pecado, a incredulidade, que não nos permite dar crédito à verdade de Deus. Não há nenhum justo, nenhum sequer. Romanos 3:10b. Se formos justos em nós mesmos Cristo de nada nos aproveitará, não entenderemos Sua voz que veio chamar pecadores, e recusaremos sua vocação, por não nos entender como tais.


Muitos recusam o chamado de Cristo, não por causa de suas más obras, e sim, por causa das “bondades” que realizam. São bons demais para se considerarem pecadores e desprezam o chamado daquele que não veio chamar os justos, e, sim, os pecadores ao arrependimento. Lucas 5:31. Que o Pai nos perdoe de sermos bons demais para Ele.


Solo Deo Glória

segunda-feira, 26 de março de 2012

NO FUNDO DO POÇO



Então, dali, buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma. Quando estiveres em angústia, e todas estas coisas te alcançarem, então, no fim de dias, te virarás para o Senhor, teu Deus, e ouvirás a sua voz. Deuteronômio 4:29-30.

A opulência dá um certo sentimento de auto-suficiência. O homem que se basta, fica insuportável. É difícil estar em posição elevada e não ter estima elevada por si mesmo. Uma pessoa satisfeita em todas os sentimentos e realizada em suas iniciativas torna-se intolerável no seu relacionamento.

Dentre todos os tolos, o presunçoso é o pior. Uma boa opinião acerca de si mesmo é a ruína de toda virtude. Ninguém pode fazer nada por aquele que se satisfaz. O egoísmo não é apenas pecado, mas encontra-se na raiz de todo pecado. Os egocêntricos são os que destroem a si mesmos. Uma pessoa cheia de si, supondo que tudo pode, é a expressão mais radical da obra satânica.


Por isso, Deus mostrou bem claro ao povo israelita que a sua fartura e esplendor iria levá-lo a uma posição de grandeza intragável. Mas, em virtude de sua misericórdia, o Senhor iria permitir a escravidão do povo, para deste modo humilhá-lo e fazê-lo voltar-se ao Senhor.

O desespero do homem é o princípio de uma esperança em Deus. Quando se chega lá no fundo do poço é que se tem a possibilidade de olhar para cima. Todos os tronos de Deus são alcançados descendo-se as escadas. Antes de José assumir o governo do Egito, ele aprendeu a reinar na cela subterrânea da prisão, aceitando a soberania de Deus em sua vida. Só pode buscar ao Senhor aquele que não se basta.



Mas quando na sua angústia se convertia o Senhor ,Deus de Israel, e o buscava, o achava. 2 Crônicas 15:4.
O melhor e mais eficiente tratamento para o orgulhoso é a humilhação. Quando alguém não se humilha diante de Deus é preciso ser humilhado, a fim de quebrantar este coração resistente e poder receber os benefícios da salvação.

A Bíblia mostra que Deus resiste aos soberbos, , porém, graça aos humildes. Tiago 4:6b. Então, a misericórdia divina humilha os arrogantes, para que estes humilhados, busquem com todo o coração, a humildade de coração e sejam em Cristo, abençoados por Deus.



Só o homem verdadeiramente vencido e quebrantado pelo poder de Deus tem a real condição de humildemente buscar o governo de Deus em sua vida. Ninguém consegue aceitar a soberania absoluta de Deus em sua vida, se antes não chegar nos limites totais de sua insignificância. Buscar o Reino de Deus em nossa vida como a prioridade principal é a mais eloqüente prova de nossa rendição completa.

Só há lugar de importância suprema para Deus quando reconhecermos a nossa reles condição de pecadores indignos e desgraçados.

E é neste contexto que as tribulações exercem um papel de grande valor. Quando o tapete nos é tirado e os meios humanos ficam fragilizados, nós somos levados a perceber nossa finitude e falência, e assim, acabamos caindo na realidade. A aflição, por si mesma, não santifica; ela cansa e angustia, deprime e seduz. Porém, a presença de Deus e o uso que ele faz dela, à medida que a relaciona com nossa vida como um todo... é que torna a adversidade salutar.


Quando a tribulação realiza seu papel de nos destituir da grande prepotência, e clamamos pela graça de Deus, então sua missão foi cumprida.





As aflições nos impelem a Deus, assim como as doenças nos levam ao médico. Tenho aprendido mais com as provações da vida do que com as suas vitórias. Se não fossem os ventos fortes, o tronco das árvores seriam moles. Se não fossem as duras provas, o caráter dos santos seria podre. As tribulações são, na maior parte das vezes, ferramentas com as quais Deus nos molda para coisas melhores. Muitos que corriam bem na vida cristã foram atrapalhados pelo sucesso material e o progresso social. Na abundância, eles encheram a agenda de compromissos e se esqueceram de Deus.

O homem é aquele que mais se ilude consigo próprio. O êxito nos negócios faz-nos pensar na independência pessoal. Ter controle nos empreendimentos não significa ser Senhor da vida. É duas vezes tolo aquele que é sábio a seus próprios olhos, está enredado no mais terrível engano, pois supõe viver a vida por sua sabedoria, sem a direção absoluta de Deus. Por isso, algumas vezes Deus leva seu povo a um deserto, ara poder falar-lhe com tranqüilidade.

As estrelas brilham mais intensamente nas noites mais escuras. De igual modo, brilha a graça de Deus nos corações acoitados pelo escuro das aflições. Só dá valor a uma vela ou a uma pequena luz que seja, aquele que se acha privado da menor luminosidade. Algumas vezes, Deus deixa seus filhos caminharem sozinhos no escuro, para que possam perceber a importância de sua presença. Quem entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu Servo? Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. Isaías 50:10. Quando nos encontrarmos tirados do comando da vida, sentiremos a maior alegria se Deus a conduzir.

O pecado fez do homem um ser muito arrogante, e deste modo, ele só busca a Deus, de verdade, quando não tem mais nenhuma alternativa a recorrer. Alguém definiu pecado, como a atitude soberba de viver a vida em total independência de Deus. O pecado não é tanto um ato errado como uma atitude arrogante e insubmissa. Muitas vezes fazendo coisas certas nós estamos vivendo em pecado, pois o que fazemos independe da vontade de Deus e é feito com as nossas forças e sob o nosso inteiro patrocínio.

Quando Deus permite que os cristãos passem pelos caminhos mais difíceis é porque tem propósitos superiores para os abençoar. A adversidade é o pó de diamante com o qual o céu dá polimento às suas jóias. Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Hebreus 12:6. No podium de Deus não sobem os que tem medalhas ou certificados, mas aqueles que tem cicatrizes determinadas pelo tratamento da graça.

 É na dureza da provação que vemos as almas que anseiam pelo Senhor. Enquanto uns se amarguram quando passam pela fornalha da aflição, os filhos de Deus compreendem com alegria o privilégio deste ajustamento. Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo quando passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Tiago 1:2-3. Nenhum homem deve pensar que é melhor porque está livre de dificuldades. Deus não o considera apto para suportar algo maior.

Se você se julga melhor por não passar por grandes provações, cuidado, esta pode ser uma trágica realidade. Quando as almas são provadas e amadurecidas, mesmo que seja de maneira mais comum e simples, Deus está esculpindo as colunas do seu templo.


Solo Deo Glória

FUGAS E RESISTÊNCIAS


Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas. 1 Timóteo 6:11-12.



A história do homem na Terra tem sido uma trajetória de fugas e resistências. Todas as vezes que ele se sente ameaçado por qualquer sintoma hostil, fora do seu controle, ou oprimido por alguém, sua reação natural é fugir ou resistir. O ser humano sempre procura escapar daquilo que o amedronta ou assusta. E resiste àqueles que lhe causam coação. Desde que o pecado tomou conta do coração humano, a fuga tem sido uma marca de nossa espécie. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. Gênesis 3:8. O medo assumiu o controle da alma, depois que a culpa tomou conta da mente. A melhor alternativa agora era fugir e ocultar-se com disfarces e proteções. Com máscaras de folhas e barreiras de troncos, o homem tentar encobrir as suas falhas, fugindo e escondendo-se da presença de Deus. Em face da transgressão moral e de sua rebeldia espiritual, cada passo de sua existência tem se caracterizado por uma postura essencialmente resistente. Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Atos 7:51. Estevão estava mostrando aqui que os judeus eram resistentes ao Espírito por tradição genética. Desde Adão e Eva que nossa conduta racial vem se demonstrando obstinada com relação às revelações divinas.


Mas há fugas que são absolutamente inúteis. Todo mecanismo que nos predispõe a distanciar da presença de Deus, causa um total absurdo. Ninguém pode fugir da presença de Deus. O salmista pergunta com muita inteligência e responde com sabedoria inconfundível: Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa. Salmo 139:7-12.


A Bíblia fala da insensatez de um profeta que pretende fugir da presença de Deus. Freqüentemente encontramos pessoas com esta atitude insana. Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor. Jonas 1:3. Muitos expedientes têm sido elaborados com a finalidade de prover o distanciamento do homem da presença de Deus. Mas todos eles correspondem ao mecanismo da avestruz que enfia a cabeça na moita, deixando todo o seu corpo de fora. O ser humano pode não ter consciência da presença de Deus, porém, jamais conseguirá fugir de sua presença.


Por outro lado, há uma necessidade fundamental da fuga relacionada com alguns tipos de envolvimentos. As Escrituras instigam a inevitabilidade de fugir da idolatria. Fugir da presença de Deus é impossível. Contudo é imperioso que fujamos de tudo aquilo que assume o lugar de Deus. Portanto, meus amados, fugi da idolatria. 1Coríntios 10:14. A essência da idolatria é ter pensamentos indignos acerca de Deus. Por este motivo é forçoso para a saúde espiritual que fujamos de qualquer forma de idolatria. Um ídolo na mente é tão ofensivo a Deus quanto um ídolo na mão. Tudo aquilo que esfria o nosso desejo de intimidade por Jesus Cristo, se constitui numa postura idólatra que deve ser renegada a qualquer custo. Ninguém deve resistir à idolatria, mas fugir dela. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. 1João 5:21.


Do mesmo modo que devemos fugir da idolatria, somos exortados a fugir de tudo aquilo que aparenta piedade mas desmerece o poder de Deus. A Bíblia mostra que os tempos do fim serão tempos difíceis, pois os homens se mostrarão bastante egoístas, avarentos, arrogantes... tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. 2Timóteo 3:1...5. Piedade exterior e corrupção interior formam uma mistura revoltante, que deve ser abominada em uma fuga permanente. A Palavra de Deus não sustenta qualquer envolvimento com este tipo de pessoa que aparenta santidade sem a demonstração poderosa da vida de Cristo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. 1Coríntios 5:11. Está claro que é preciso fugir das companhias fingidas. William Secker afirmava com razão: Uma prostituta maquilada é menos perigosa do que um hipócrita disfarçado. Não adianta combater este tipo de comportamento; neste caso, a fuga é a única atitude satisfatória para o equilíbrio emocional do crente.


Fugir de Deus é um despropósito, mas fugir da impureza é necessário para a manutenção da singeleza de coração. A impureza contamina a mente, corrompe a moral, contagia o corpo, emporcalha as relações e polui a linguagem. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa comete é fora do corpo; mas aquele que pratica a impureza peca contra o corpo. Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espirito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 1Coríntios 6:18-19. O texto aqui exige a fuga da impureza e não o combate. É humanamente impossível alguém entrar no fogo sem se queimar e sair dele sem cicatrizes; como também, é inadmissível envolver-se com a impureza sem trazer as marcas de suas manchas. Deus não pede que nós resistamos à impureza, mas fujamos dela, do mesmo modo que sustenta a fuga de todo o tipo de paixões determinantes da juventude. Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. 2Timóteo 2:22. A Palavra de Deus sustenta a mensagem que nos mantém fora do perímetro das paixões, por isso, fugir delas é a única alternativa viável. Ninguém é capaz de impedir o surgimento das paixões, nem tão pouco é competente para resistir à sua fúria. A grande arma contra a impureza e as paixões é escapar de sua influência, retirando-se o mais distante possível dos seus limites.


As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre. Salmo 119:160
. Nada mais seguro do que o terreno da verdade. Ainda que as verdades, como as rosas, tenham espinhos, os homens retos as levam sempre junto ao coração. Nossas almas devem ser o santuário e o refúgio da verdade. É uma grande estupidez tentar resistir à verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto a fé; eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles. 2Timóteo 3:8-9. Provavelmente estes dois homens fossem os sacerdotes de Faraó que tentaram com as suas artes mágicas resistir a Moisés, e acabaram desacreditados com o poder da verdade divina, revelada nas Escrituras.


Se há alguém que nós devemos resistir com a verdade e em plena confiança de fé, este é o Diabo, o pai da mentira. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Tiago 4:7. Não podemos fugir de Deus, mas devemos fugir da idolatria, da hipocrisia, da impureza e paixões da mocidade. Não podemos resistir à verdade, porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da verdade, 2Corintios 13:8, mas devemos resistir ao Diabo, porque ele fugirá de nós. Muitos fogem do Diabo, porque resistem à verdade. Mas só aqueles que confiam na verdade de Deus podem resistir ao Diabo, pois têm a certeza de que ele fugirá. Quem tenta fugir de Deus resiste à verdade. Quem resiste ao Diabo com fé na verdade de Deus, tem a garantia da sua fuga. De quem fugir e a quem resistir, eis a questão!


Solo Deo Glória

OS CONVIDADOS DA FESTA

O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Mateus 22:2



O velho mundo, o mundo imundo desse lixo das ambições, das competições, das paixões cegas, da política sórdida e dos pódios imponentes divide os sujeitos que se sujeitam às suas regras sujas e nojentas nesse jogo baixo, em heróis e vilães; em vencedores e derrotados; em bem sucedidos e fracassados; em iluminados e obscuros.

Essa é uma divisão baseada na hierarquia do mérito, que classifica as pessoas de acordo com as conquistas e valores alcançados. Foi neste contexto rico de virtudes humanas, que Jesus apresentou uma parábola focalizando a “graça vulgar”.

A religião judaica, pós Babilônia, se constituiu numa estrutura fenomenal de peso na excelência, sob a sombra do humanismo satanista de Ninrode, o caçador das almas na fortaleza de Anu, ou no palácio das trevas. Esta é a ditadura da meritocracia.

Segundo Jesus, Satanás é o personal trainer do humanismo, valorizando a autocompaixão da vítima e o desempenho arrogante do ego, acima de tudo. Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens. Marcos 8:33. Pedro havia se enredado nas malhas do direito sindical do velho Adão.

Satanás é o advogado dos direitos humanos do humanismo. Ele insiste na tese da divinização humana. Seu projeto é provar que o ser humano pode se tornar, de fato, independente de Deus. Para isso, ele faz algumas concessões. Por exemplo: permite até uma pregação da graça, desde que seja condicional. É graça sim, mas...

O evangelho é a favor da redenção do ser humano total, porém, é contra tudo o que for de cunho humanista em essência. Deus ama apaixonadamente todos os seres humanos, jamais as suas pretensões de autossuficiência ensoberbecida. Um ser pessoal realmente finito e independente do Deus onipotente é um perigo permanente. Um dos traços que caracteriza essa pretensa independência é a escassez de oração.

O humanismo, em seu fogo teomaníaco, isto é: em sua tendência narcisista de se autovalorizar, ao contemplar sua beleza no espelho do poço, bem como o seu desejo apolíneo de perfeição, sempre aprova, como convidados de honra em suas festas, os iluminados, os bem sucedidos, os vencedores e os heróis. Esse é o padrão do mundo e da religião ilustrada com os lubrificantes humanistas.

Essa casta inchada não gosta da graça plena. Como já disse, até admite a graça vigiada e protegida nos bastidores. Mas será sempre uma graça sob custódia. Para essa gente esnobe é inconcebível uma aceitação incondicional, baseada apenas no amor furioso do Pai. Mas foi exatamente nesse contexto de altivez que Jesus contou essa parábola das bodas, onde o Rei enviou convite para essa turma preconceituosa e a mais maquiavélica que existe neste planeta: os religiosos em todos os seus matizes.

Ninguém pode ser mais velhaco do que um humanista com a máscara polida nas oficinas da religiosidade. Veja que não foi um súdito qualquer que enviou o convite. Foi nada mais e nada menos do que o próprio Soberano. Então, enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; mas estes não quiseram vir. Mateus 22:3.

E por que não quiseram? O que estava por trás dessa recusa? Não se tratava de um convite de Sua Majestade, o Rei? Como um vassalo pode rejeitar a convocação do seu Soberano? Tem piruá em excesso neste saco de pipoca.

No contexto judaico antigo, pós babilônico, os convidados costumavam pagar pelos custos da festa e, ainda hoje, em algumas comunidades sionistas eles mantêm este hábito de excelência e gentileza. Mas a festa das bodas do filho do Rei não pode ser subvencionada. O assunto em pauta aqui é a graça plena de Deus, que é definida como sendo um favor imerecido e sem qualquer reciprocidade do beneficiário.

Essa rejeição ao convite do Rei cheira à justiça própria. O orgulhoso não recebe esmola alguma, nem o soberbo acolhe a graça em sua plenitude. O rabino Menachem Mendel Schneerson chamava tudo aquilo que era de graça, como se fosse o “pão da vergonha”. Foi exatamente isso que levou os convidados do Rei a recusar o convite.

Jesus insiste na persistência da graça. Deus não desiste do rebelde facilmente, por isso, há sempre um novo convite divino sendo despachado pelo correio dos céus. Enviou ainda outros servos, com esta ordem: Dizei aos convidados: Eis que já preparei o meu banquete; os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas. Mateus 22:4.

Agora, a coisa ficou bem clara. O banquete tinha um patrocinador exclusivo e a festa tinha o seu dono. O cardápio foi preparado pelo próprio Rei, o “Chefe” da cozinha, que usou como ingredientes o que ele mesmo produzia e, “tudo estava pronto”. Então, o que cabia aos convidados era vir e banquetear-se. Isto aqui é graça plena.

O que aconteceu em seguida é, de fato, muito estranho: Eles, porém, não se importaram e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram. Mateus 22:5-6.

Como pode? Que reação bruta essa, diante de um convite tão generoso? O Rei estava apenas oferecendo tudo graciosamente. É uma loucura essa atitude. Mas, essa é, sim, a real resposta do mérito diante da graça imerecida. Perseguição.

Uma parte dessa turma do merecimento se tornou indiferente e foi cuidar dos seus afazeres; a outra, mais ensandecida, ficou fula de raiva e atacou feito fera ferida quem estivesse por perto anunciando a graça plena. Eu não sei bem o que gera essa revolta, todavia, a coisa é realmente feia. Já vi bem de perto algo parecido, não igual, mas é de arrepiar uma estátua de pedra. A fúria dos religiosos acuados é horrorosa.

A graça ofende tanto o mérito, que acaba desencadeando indiferença crônica, por um lado, e revolta aguda, pelo outro. Agora, só uma manifestação soberana do Rei, a fim de intervir nesta situação absurda. O rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Mat 22:7.

Tudo indica que não há remédio para a antigraça. Para essa religião sem graça, só a morte dos assassinos dos que pregam as boas novas e fogo nas muralhas dos indiferentes. Aqui, me parece, tem um indício apontando para a cruz de Cristo. É imperiosa a morte do velho Adão em Cristo crucificado. Mas, só um milagre! Saulo de Tarso foi um destes antigraça conquistado pelo milagre da suficiência da graça plena.

A graça é assunto para os fracassados. É coisa para falidos. Nada melhor do que uma boa dose de insucesso para prover a falência total do ensoberbecidos.

Os desqualificados não têm dificuldade em receber a esmola da graça. Eles são os verdadeiros convidados para a festa. Então, disse aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. Mat. 22:8-9.

No salão da festa, no banquete da graça plena, a dignidade dos convidados é a total ausência de méritos. Por que o Rei afirmou que os primeiros convidados não eram dignos? É exatamente pela absoluta falta de indignidade. Somente aqueles totalmente indignos são dignos de participar do ágape da graça.

O Rei então manda buscar nas marginais, os marginais; nas vielas, os vilães; nos becos, esquinas e ruas todos quantos encontrassem, fossem maus ou bons, vadios e ativos, mas que não fossem dignos de méritos, e que enchessem o salão da festa. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados. Mateus 22:10.

Na celebração das bodas do Filho do Rei é tudo gracioso. Até a roupa de todos os convidados era presente do Rei. Ninguém poderia entrar no recinto da festa com as suas próprias vestes. Os trajes, na Bíblia, tipificam a justiça. Por exemplo: a justiça do ser humano é vista pelo profeta Isaías como trapos de imundícia. Deste modo, como poderíamos participar desta festa nobre, vestidos com os andrajos da justiça própria?

Foi assim que o Rei percebeu um penetra no salão, quando estava saudando os convidados. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial. Mateus 22:11. Vejam que os inimigos da graça de Cristo não são apenas os indiferentes e os agressivos, mas também os fingidos. Como pode esse sujeito “esperto” ter entrado pela portaria sem ser visto? É aqui que reside um grande problema. A aparência: o disfarce do lobo em pele de cordeiro.

Muitos usam suas túnicas de justiça humana de tal modo parecidas com a legítima vestimenta da justiça de Deus, que conseguem ludibriar até os seguranças treinados. Nada pode ser mais enganoso do que um fariseu vestido com as roupas do Cordeiro. Contudo, não passa no controle de qualidade. Basta só uma olhadela do Rei, e tudo fica totalmente esclarecido. E perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Mateus 22:12.

O Reino do Pai é o Reino da graça plena. Neste caso, ninguém participará na festa das Bodas do Cordeiro vestindo seus trajes sujos de justiça própria, nem jamais poderá enganar Àquele que conhece as entranhas da alma e as entrelinhas da moda.

A grande confusão na portaria do salão foi, sem dúvida alguma, a cor do branco e do quase branco da túnica. As cores semelhantes confundem até os mais preparados de todos os porteiros. Mas não se deixe enganar; o Rei não come gato por lebre.

O limite da graça é a sua rejeição deliberada. Agora já não resta opção. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos. Mateus 22:13-14. O que adianta tentar passar por bom moço?

O chamado da graça é abrangente. A escolha é seletiva. Muitos são conclamados e poucos selecionados. Então, qual será o critério? Com toda certeza é a indignidade. Foi assim que o filho caçula, da parábola do Pai pródigo de amor, entrou na festa.

Considere este texto com todo cuidado de quem ama a verdade no íntimo. Veja você, por esse exemplo, quem são os convidados da festa. Peste atenção nos detalhes da história. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Lucas 15:21-24.
O convite para a festa, diz: vem. A confirmação do convidado, assegura: eu não sou digno. Então, a ordem na portaria é: entre, bendito de meu Pai. Celebre. Aleluia!

Solo Deo Glória

ATIRANDO PEDRA NO TELHADO

 
A quem perdoais alguma coisa, também eu perdoo; porque, de fato, o que tenho perdoado (se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios. 2 Coríntios 2:10-11
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A expressão: “atirando pedra no telhado” é uma figura de linguagem que ilustra a ofensa. Ninguém vive neste mundo sem algumas pedradas pela frente e por trás. Feridas e contusões fazem parte da tragédia no dia a dia de cada um de nós. Há sempre alguém com estilingues jogando algo escabroso em alguma pessoa distraída ou desprotegida.

As críticas ferinas, as acusações injustas e as traições inesperadas são muito mais frequentes do que realmente gostaríamos de admitir em nossa ingênua imaginação. Além de que, somos também atiradores disfarçados em pacientes bem espertos.

Os bastidores dos relacionamentos estão sempre cheios de lixo composto pelos seixos atirados das janelas dos vizinhos, parentes e de gente muito próxima. Mesmo nos encontros entre aqueles que ‘consideramos’ nossos amigos de verdade, encontramos restos de brita atirada, como se fosse apenas sujeira pelas calçadas.

Ninguém está isento de ser machucado, esfolado e ferido neste mundo de tantas pedreiras, de onde, com certeza, as pedradas virão de todos os lados. Entretanto, a questão básica, aqui, não é a ferida sangrando, mas o hematoma que nunca sara.

As pauladas nossas de cada dia, precisam ser tratadas cuidadosamente na sala cirúrgica do Calvário. A dor da alma carece de uma medicação radical sob a acurada terapêutica da cruz de Cristo Jesus. É preciso um perdão furioso para tratar o furúnculo da amargura que infecciona os tecidos dos relacionamentos interpessoais.

 
Jesus não suportaria tanta dor moral naquelas seis horas atrozes na estaca, se não estendesse o seu perdão a todos os seus algozes. Quando ele orou: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem, Lucas 23:34a, além de conceder o alvará de soltura aos seus ‘apedrejadores’, estava abrindo, para si mesmo, as portas de um cárcere muito apertado de sofrimento alucinante, decorrente de amargura. Perdoar é um imperativo do amor.

Com certeza, a dor aguda dos cravos, apesar de sua cruenta crueldade, não pode ser comparada com a dor sufocante e ininterrupta da amargura interior, consumindo a alma. O cálice da cruz seria mais amargo, se Jesus não tivesse perdoado aos seus inimigos.

O perdão tem mão dupla, mas a via principal é para quem o está liberando. Aquele que perdoa é o mais beneficiado no caso. Ele se livra da condição de ser transformado numa penitenciária de segurança máxima e de se converter num carcereiro apoquentador, sempre preocupado com a fuga do réu.

O perdão liberado liberta muito mais o que perdoa, do que aquele que é perdoado. O verdadeiro alforriado, neste caso, é quem exerce o perdão, uma vez que a amargura, de contínuo, cobra um imposto muito pesado do amargurado.

Temos na Bíblia alguns exemplos de pessoas magoadas que podem ser estudadas aqui, tanto no que diz respeito ao ressentimento armazenado, como também, pelo desprendimento em perdoar, financiado pelo amor perdoador de Deus.

Há uma dupla intransigente e cabeçuda que começou uma brigar feroz na barriga da mãe. Esaú e Jacó fizeram do útero de Rebeca, sua mãe, um ringue onde um tentava nocautear o outro. Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. Gênesis 25:22.

Essa perrenga histórica saiu do ventre da mãe tomando dimensões terríveis, com o mais novo pegando no pé do mais velho. A disputa entre os dois continuou até que se tornasse numa amargura crônica. Esaú foi vítima de um “golpe baixo” do irmão, em razão de sua própria mentalidade vulgar, no que diz respeito aos valores familiares às avessas.

A disputa dos gêmeos vem gemendo pelos bastidores da história de povos e nações que se engalfinham até hoje, nas cavernas do Oriente médio, por causa de uma amargura insidiosa que insiste em agredir as entranhas da alma de gerações em gerações.

Os irmãos briguentos, apesar de terem feito uma ‘reconciliação dramática’, não tiveram um relacionamento amistoso daí para frente. A Bíblia, falando num texto sobre Esaú, deixa claro: atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando- se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; Hebreus 12:15.

Fica evidente, no contexto, que o assunto se refere ao desgostoso e amuado Esaú, quando, em seguida, diz com concisão: Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado. Hebreus 12:17.

Remorso, choro e lamento não quer dizer que houve verdadeiro arrependimento, nem reconciliação formal significa que houve perdão. Há muita gente agindo com diplomacia no palco, enquanto esconde uma mágoa no camarim da sua alma.

Não é possível vivermos na terra sem cotoveladas, pedradas e pauladas, mas também, não é possível vivermos com um mínimo de saúde mental, sem perdoar os nossos agressores. O ódio aos algozes é algo agonizante para as emoções benfazejas.

Na casa de Jacó, ainda temos um caso bem curioso a observar. O seu filho José, “figura ímpar da prole”, foi alvo da inveja dos seus irmãos ambiciosos, que suscitaram uma crise gravíssima, provocada por este sentimento mesquinho, no seio da família.

José foi vendido como um escravo e, em consequência de sua conduta irrepreensível, acabou comendo o pão que o diabo amassou com a cauda. Durante uns 13 anos de sua biografia, ele sofreu, injustamente, desprezo, acusações e prisões, sendo mantido como um criminoso numa masmorra. Ele foi vítima do ‘olho gordo’ dos seus irmãos.

Nada pode ser mais atroz para uma pessoa correta, do que o sofrimento causado por acusações e injustiças. A lama ácida e fétida atirada sobre o linho branco deixa uma mancha de difícil remoção. A dor da tirania é esmagadora. José tinha razão para se vingar.

Entretanto, quando os ventos mudaram de direção e ele passou de réu condenado na cadeia, a ser o segundo homem mais importante do reino, no Egito; com a faca e o queijo na mão para retaliar os seus irmãos invejosos, se quisesse; sua atitude foi bem diferente de quem nutre a vingança por debaixo dos panos.

A pessoa tratada pela graça de Deus não tem opção. Ou perdoa ou apodrece. José não se fez de coitadinho. O perdão era a sua única alternativa como filho de Deus. Favorecido pelo Cordeiro imolado, desde a fundação do mundo, ele espreme o carnegão e responde aos irmãos culpados: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Gn 50:19-20.

Não existe atalhos ou uma segunda via no caminho do perdão na vida dos filhos de Deus. Como também não existe pecado tão grave que a graça de Cristo não nos garanta a disposição de liberar o perdão de modo legítimo. Já falei: é a graça que nos habilita.

Se eu e você não estamos perdoando, de fato, os nossos ofensores, por mais grave que sejam as suas ofensas, com certeza, Satanás estará levando vantagens sobre nós e causando um barraco horroroso no meio da igreja de Cristo. É tudo o que ele mais gosta.

O perdão não é um opcional no desempenho da fé cristã. Corrie Ten Boom, que foi um exemplo cristão na defesa anti-sionista na época da segunda Guerra, disse: “não há outra forma de tocar o oceano do amor de Deus, senão perdoar e amar os inimigos”.


 
Não há escolha: ou perdoo ou pereço no meu mau humor. A agonia do magoado o atribula ao extremo e o mantém distante de verdadeiras amizades. Ninguém, minimamente sadio, gosta de conviver com gente feroz, ferina e fértil em fabricar lesões.

Os intrigantes vegetam entre o veneno que os consome intimamente e a dor que tenta inocular no próximo. Contudo, a toxina que é injetada no outro acaba também o intoxicando ainda mais. James Coulter afirmou: “o espírito que não perdoa como forma de orgulho é o assassino número um da sua vida espiritual”.

Para Jesus, a nossa oração só tem esta prioridade: perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não nos deixes cair em tentação. Lucas 11:4. Parece que a tensão da tentação, neste caso, é não querer perdoar.

O perdão é um dom maravilhoso da graça de Deus e o portal que conduz à sala da comunhão. Li a história de uma mãe que perdoou o assassino do seu filho e, durante o período da condenação, ela o visitou semanalmente cuidando dele na cadeia. O resultado foi a sua conversão a Cristo e a transformação de um inimigo, num amigo da família.

Nós sempre teremos alguém atirando pedra em nosso telhado de barro; cabe a cada um de nós, subsidiados pela graça do Pai, consertar todas as goteiras, sem, entretanto, jogar os cacos das telhas quebradas no quintal daquele que nos alvejou. Bendito seja para sempre Aquele que nos garante tão grande empreendimento. Aleluia! Amém.

Solo Deo Glória