terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Bispo Robinson Cavalcanti confirma na Paróquia Anglicana Espirito Santo ...

Rev. Jorge Aquino - Natal/RN

O NÓ GÓRDIO

Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4.
A expressão “cortar o nó górdio” refere-se a um nó cuja história remonta ao século VIII a.C. Dizia a lenda que o rei da Frígia de nome Górdio, que foi coroado, para não esquecer de seu passado humilde, ele colocou a carroça com a qual ganhou a coroa no templo de Zeus, amarrando-a com um nó a uma coluna. Este era impossível de ser desatado. Logo após a sua morte, aquele que desatasse o nó seria o senhor de toda a Ásia.
Quinhentos anos se passaram sem que ninguém conseguisse desatar o nó, até que Alexandre, o Grande, ao passar pela Frigia, ouviu a lenda e, intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. É daí que deriva a expressao “Cortar o nó Górdio”, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.
A palavra nó não se encontra na Bíblia, mas é possível vê-la nas entrelinhas. A segurança daqueles que foram salvos está fundamentada no caráter de Deus. Nele, não há sombra de mudanças. Ao salvar o homem, Deus deu alguns “nós”, não somente um nó górdio que pode ser cortado com facilidade, mas sim um “nó divino” impossível de se desatar. A salvação do homem é inteira e completamente uma ação divina. O homem, pela queda, tornou-se cego e profundamente inábil para reconhecer e agir em direção a Deus.
Os homens nascem espiritualmente mortos, sem forças para se moverem em direção a Deus. Mas Deus, em Sua infinita misericórdia, se inclina em direção ao homem, para saciar a sua fome, da fome não da comida que perece, mas fome de Deus. E me inclinei para dar-lhes de comer. O Senhor não veio do céu para reformar o homem, mas para fazer um novo homem. O mais hábil escultor, ainda que disponha das melhores ferramentas, é incapaz de esculpir alguma coisa em madeira podre. O nosso Deus, figuradamente, é o hábil escultor que não esculpiria algo sobre uma natureza corrompida e roída pelo verme do pecado e condenada a morte.
O que Deus fez? Atraí-os com cordas humanas. Esta profecia se cumpriu anos depois com a vinda do Verbo a este mundo. O Verbo se fez carne e habitou entre nós na plenitude da graça e da verdade. Eis o grande fato de que o Evangelho nos fala, a perfeita expressão de Deus, tomando a própria natureza do homem, indo ao encontro de todas as necessidades humanas. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. João 1:14. A graça surge então com o poder de dar a vida e levar o homem a recebê-la: “A Glória do unigênito”, dando a conhecer o Pai. É um mistério insondável: o Verbo em carne.
A verdadeira relação do homem com Deus se deu na Cruz. A cruz revela imediatamente a verdade da condição do homem e a misericórdia de Deus. Assim, Cristo tomou o lugar do homem, em graça. Era preciso que o Filho do homem fosse levantado, fosse rejeitado na terra pelo homem, cumprindo assim a expiação perante o Deus de justiça. Cristo levantado da terra atrai a Si todos os homens. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. João 12:32. Cristo não está na terra, está levantado da terra.
Levantado na cruz, entre Deus e o mundo, e levando sobre Si o pecado, Cristo tornou-se o ponto de atração para todo o homem vivente. Levantado da terra como vítima perante Deus e não sendo da terra como vivente sobre ela, Jesus tornou-se o centro de atração para todos, porque todos os homens estavam afastados de Deus. O nosso Senhor enfrenta a morte, e na Sua morte aniquila o poder da morte que estava sobre todos os homens.
Tudo o que Deus é em Sua natureza veio a nós e brilhou nesta maravilhosa Pessoa: Jesus, cheio de graça para o coração e verdade para a consciência pecadora. Com laços de amor, é um laço, e não um nó, que pode se atar e desatar figuradamente, significando o livre acesso do homem em receber ou rejeitar a graça de Deus. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome. João 1:11-12. Jesus Cristo levantado na cruz, recebido com os olhos da fé, deu-nos o poder de sermos feitos filhos de Deus.
E para aqueles que O receberam, efetua-se uma eterna salvação. Isto significa que uma vez filho, filho para sempre, uma vez salvo, salvo para sempre. Uma pessoa que nasce no Brasil será sempre brasileira, esteja onde estiver; sua nacionalidade jamais será mudada. Eis o “nó divino”: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. João 10:28-29. Dois fatos importantes: Primeiro, não haverá falta de vida. O que Deus nos deu em Seu Filho foi vida. E vida em abundância, vida que jamais se extinguirá, vida eterna. É uma vida que se manifestará por toda a eternidade.
Segundo, ninguém arrebatará as ovelhas da mão do Salvador. Nenhuma força superará o poder Daquele que as guarda. O Pai nos deu o Seu Filho, e Ele é maior do que todos aqueles que pretenderem nos arrebatar das Suas mãos. Preciosa revelação, na qual a glória da Pessoa de Jesus é identificada com a segurança das Suas ovelhas, com a altura e a profundidade da graça de que elas são os objetos do Seu amor. Nó que ninguém pode desatar.
A graça não se perde com a marcha do tempo e não se limita ao tempo. Novamente podemos ver nestas palavras do apóstolo Paulo mais um “nó divino”: Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:31-39.
A nota de vitória soa imediatamente nas perguntas desafiadoras, cujo propósito é assegurar o que está “em Cristo” de sua segurança inconquistável, de modo que possam gozar de uma confiança invencível em Deus. A revelação dada por Deus é que nada, absolutamente nada, pode separar o cristão do amor de Deus. Muitos são persuadidos a crer erradamente, mas a realidade da experiência cristã não se perde. Viver ou morrer, estas duas coisas cobrem tudo que possa eventualmente nos acontecer. Se o nosso último inimigo, a morte, não nos pode separar porque Cristo já a venceu e tirou dela o seu aguilhão, então temos certeza de que nada que precede aquela crise pode nos separar do amor de Deus. É um “nó divino” que jamais será desatado.
Os anjos maus e principados hostis, que se alegrariam em nos ver separados de Cristo, perderam completamente o poder para conseguir sua vontade malevolente pela grande vitória de Cristo na cruz. Cristo tomou posse de toda a história, e o cristão não deve ceder à tentação de se desesperar no conflito presente, nem ter nenhuma preocupação temerosa com aquilo que o futuro possa lhe trazer. Denney diz com muita propriedade: O amor de Cristo é o amor de Deus, manifestado a nós Nele; e é apenas Nele que é manifestado um amor divino que pode inspirar a triunfante segurança do cristão”.
Por outro lado, o nó górdio exemplifica os problemas que surgem no nosso dia- a- dia, problemas que, aos nossos olhos, são difíceis ou impossíveis de se resolver. Alexandre, o Grande, encontrou uma solução à sua maneira. Ele usou a força do seu braço para sair da crise. O nosso Deus permite que passemos por crises. Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata. Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas; fizeste que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso. Salmos 66:10-12. Podemos dizer que estamos diante de um “nó divino”. Então, como vamos nos livrar destes “nós”? Usando a força do braço? Procurar um caminho mais fácil? O profeta Samuel nos ajuda a pensar: Deus é a minha fortaleza e a minha força e ele perfeitamente desembaraça o meu caminho. 2 Samuel 22:33.
Uma vez que estamos em Cristo, estamos perfeitamente seguros. Nada pode destruir aqueles que estão sob a segura guarda do amor de Deus. Se uma criatura executou um feito deste, dando um nó impossível de se desatar, o que pensar de um “nó” dado pelo criador? O que Deus fez por nós, em Cristo, durará eternamente. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Hebreus 9:11-12.
O homem que pensa indaga: Onde posso pôr minha confiança? Em que posso confiar com absoluto senso de segurança? E a resposta é uma só. Ponho minha confiança neste Senhor que executou uma eterna salvação, “um nó impossível de desatar”. Amém.

Solo Deo Glória

A CRUZ E A MISSÃO DA IGREJA


A Cruz -
Maria, mãe de Jesus, nunca tinha imaginado que o seu primeiro filho pudesse ter uma manjedoura como berço. Muito menos, que o seu filho, fosse terminar seus dias em uma cruz. A morte de Jesus contrariou as expectativas dos discípulos. Apesar de serem avisados, não acreditaram que seu líder pudesse ter o fim que teve. Contudo, os discípulos e Maria mãe de Jesus, presenciaram uma cena que mudou radicalmente a história humana. Os discípulos viram o seu mestre ser ultrajado e crucificado. Maria, também viu o seu filho, outrora carpinteiro, padecer as crueldades da crucificação.O suplício da cruz era o mais bárbaro e terrível castigo aplicado pelo império romano. A crucificação foi uma invenção dos povos bárbaros, que mais tarde foi apropriada pelos gregos e romanos. Por meio da cruz, Roma eliminava os rebeldes políticos, os ladrões e os escravos indesejados. Os legionários romanos tratavam sem piedade os pobres condenados. Após sofrerem terríveis torturas e humilhações, eram obrigados a carregar a parte transversal do instrumento de morte, até o lugar da execução. Ali, os condenados eram desnudados e deitados para serem pregados na cruz. Logo em seguida eram levantados, ficando a dois ou três metros do chão. Com Jesus de Nazaré não foi diferente.A cruz de Cristo é paradoxal. Se de um lado é execrável, de outro, é gloriosa. A cruz é o degrau mais baixo descido por Deus, mas é também o ponto mais alto da história da salvação. Ela está revestida de mistérios inexauríveis. Jesus Cristo crucificado trouxe a reconciliação entre Deus e os homens. Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo... Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens. 2 Coríntios 5.18-19. O Cordeiro de Deus sacrificado na cruz, satisfez a justiça de Deus e restabeleceu o relacionamento entre Deus e a humanidade. A cruz cobriu o fosso de separação causado pelo pecado. Identificados com Cristo na Cruz - Na cruz se deu a união entre o Deus redentor e o homem pecador. Cumpriram-se as palavras de Jesus: Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim. João 12.32. Fomos retirados de Adão e colocados em Cristo. Da mesma forma que os homens estavam em Adão em sua tragédia, estavam em Cristo participando da redenção. Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Romanos 6.3-4. A atração no corpo de Cristo significou a nossa morte com Cristo, o nosso sepultamento com Cristo e nossa ressurreição com Cristo. A chave da porta da revelação da crucificação, está na preposição "com". Por meio da atração na cruz, fomos e estamos identificados com Cristo. A cruz é um divisor de águas. Aqueles que crêem em sua identificação na cruz do Calvário são transformados em novas criaturas. O pecador, ao se render aos mistérios redentores da cruz recebe a vida da ressurreição. Porém, o incrédulo continua atrelado à sua velha vida caracterizada pelo pecado. Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna. João 3.14. No deserto, os israelitas, diante da serpente de bronze levantada numa estaca, tinham duas opções: crer ou não crer. Da mesma forma, todo homem tem essas duas opções diante de Jesus crucificado. Bem, todo homem sabe que Jesus foi crucificado para sermos reconciliados com Deus?A grande questão é, que nem todos os homens sabem destes fatos. Como tomar posse das inesgotáveis riquezas da graça de Deus? Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? Romanos 10.14. A Missão da Igreja - Deus nos colocou no corpo de Cristo, destruindo o corpo do pecado para que assim, fossemos feitos corpo de Cristo. Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado. Romanos 6.6. Mortos para o pecado, estamos vivos para Deus. Esse povo chamado para a vida chama-se Igreja. Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo. 1 Coríntios 12.27. A Igreja é o corpo de Cristo no mundo. O corpo, além de delimitar a individualidade, funciona como mediador entre o mundo interior e o exterior da pessoa. O mesmo acontece com a Igreja. Ela é o corpo de Cristo na terra, nesse sentido, ela é a encarnação de Cristo. Por meio dela, Deus continua executando o seu plano de reconciliação no mundo.A cruz forma e consolida a comunidade da fé. Ela é o alicerce da unidade da Igreja. Jesus em seu corpo convergiu todos os homens, derrubando todas as barreiras da separação. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar um si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade. Efésios 2.14-16. A cruz nivela todos os homens, e nivela por baixo. Todos são pecadores. Assim, ela põe fim a toda forma de discriminação quer seja racial, social, sexual e cultural. A comunidade reconciliada com Deus é possuidora de muitas coisas em comum. Entre elas, a consciência da grandiosidade do pecado e o viver sob a cruz. Esta é a base da comunhão entre os crucificados.A Igreja é a comunidade das testemunhas da crucificação. O testemunho dos crucificados é que eles foram reconciliados com Deus por meio de Cristo. Assim, o mundo em todas as gerações vem a conhecer a mensagem da reconciliação. Os pés, as mãos e a boca dos cristãos são os canais de comunicação de Deus com o mundo. O apostolo Paulo afirma: Deus nos deu o ministério da reconciliação... e nos confiou a mensagem da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconcilie-se com Deus. 2 Coríntios 5.18 e 20 Essa é a missão da Igreja.A Igreja cumpre a sua missão na dimensão do amor. Pois, o que move o pecador a sair do seu estado e vir em direção a Deus é o amor. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor. Oséias 11.4a. Cabe apenas a cada membro, não interromper o fluxo de amor que permeia o corpo de Cristo, o qual dá unidade à Igreja e atrai os pecadores a Cristo. Assim, muitos em muitos lugares, poderão testemunhar: De longe se me deixou ver o Senhor dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí. Jeremias 31.3.

Solo Deo Glória

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NO DESCANSO DE DEUS

Uma voz diz: Clama; e alguém pergunta: Que hei de clamar? Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva...Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão? Isaías 40:6-12.
O descanso está intimamente ligado à revelação do que somos e do que Deus é. A razão pela qual o descanso se liga a estes dois fatos é que, primeiramente, o homem toma conhecimento de sua fragilidade e, depois ele ganha a revelação da suficiência do Senhor. No texto acima citado, o profeta Isaías, inspirado por Deus, nos dá uma visão desse fato quando fala da insignificância do homem, comparando-o com uma erva, e, ao mesmo tempo, revelando a grandeza do nosso Deus.
Deus quer revelar a fragilidade do homem para que este pare de lutar e se renda completamente ao Senhor. Enquanto acharmos que podemos alguma coisa, não encontraremos o descanso. A analogia feita pelo profeta, comparando o homem com a flor da erva, mostra a sua transitoriedade: pela manhã, a flor surge mostrando a sua formosura, porém, horas depois, ela está completamente murcha e sem vida. Assim é a vida do homem.
O mesmo profeta teve uma visão. Ele viu a glória do Senhor, e essa visão não é a visão da carne mas sim do espírito. Visão não é algo que vem de nós mesmos, é algo que vem de cima, vem de Deus. O Espírito de Deus revela os propósitos de Deus no espírito do homem regenerado. O que ele viu? O profeta viu o Senhor da glória. No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos! Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Isaías 6:1-8.
Tudo começa por uma crise, “no ano da morte”, e nada melhor do que uma crise para revelar a fraqueza. A crise na vida dos filhos de Deus tem como propósito revelar a suficiência de Cristo. Na crise, Deus abre os nossos olhos para vermos a Sua glória, “eu vi o Senhor”. Necessitamos de revelação para ganhar a visão. A visão do que? Da nossa insuficiência, “ai de mim” e, subseqüentemente, a revelação da suficiência de Cristo, “a tua iniqüidade foi tirada”. Esta declaração se assemelha ao brado de vitória pronunciado pelo Senhor, “está consumado”. Aqui está a suficiência da obra da cruz.
A crise do profeta o fez ver o Senhor, e, ao vê-Lo, a sua consciência foi tomada do sentimento de total miserabilidade. Mas encontrou no Senhor a sua libertação, “a tua iniqüidade foi perdoada”.
A visão da nossa incapacidade vem pela revelação da palavra de Deus. Pelo que ainda que te laves com salitre e amontoes potassa, continua a mácula da tua iniqüidade perante mim, diz o SENHOR Deus. Jeremias 2:22. Salitre? Este produto químico tem um efeito semelhante ao da soda cáustica, ácido destruidor. Potassa, solução coada contendo o álcali (ácido usado pra desmanchar gorduras) era evaporada em potes de ferro, formando uma massa marrom, que então era aquecida fortemente em fornos para eliminação dos resíduos de carvão. Estas duas soluções tinham como objetivo a purificação. Estes elementos têm suas origens na natureza, portanto representam as coisas criadas. Isto significa que o poder de purificação não está no poder da criatura e sim do criador. A regeneração do homem é um assunto exclusivamente de Deus.
Quão fundamental é a revelação da nossa incapacidade! Este sentimento de impotência nos levará a encontrar, na Pessoa do Senhor Jesus, a nossa total suficiência. Então, na revelação do que somos, mais a visão do que Deus é, nos conduzirá ao descanso de Deus. O apóstolo Paulo encontrou em Cristo o seu descanso: Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Filipensses 3:7-9.
No caminho para Damasco, Deus se revelou na Pessoa de Jesus ao apóstolo. Este foi lançado por terra, ficando sem ver por três dias. Estes três dias são representativos, pois para cada dia ele sofreu uma perda: perda da visão do sistema religioso, perda da visão do mundo filosófico e do mundo romano. Estes três mundos eram de grande importância para Saulo, mas, ao ganhar a revelação da grandeza de Deus, ele considerou tudo como lixo. Saulo era um homem forte em si mesmo, ele era auto-suficiente: Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais. Filipenses 3:4.
Mas, a sua força não foi suficiente para sustentá-lo. No caminho para Damasco, o nosso Senhor o lançou por terra. Foi o seu fim. Por isso, ele confessou: Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2:19-20. Foi o fim de uma vida natural, de uma vida auto-suficiente para encontrar em Cristo o seu descanso. Mas esta experiência não ficou no passado, na vida de Paulo, é para todos que crêem. Se Cristo não for o centro de nossas vidas, jamais encontraremos o genuíno descanso. A despeito de tudo que se vê, se ouve, possui ou sente, nada é suficiente para dar descanso às nossas almas. Quantidade alguma de atividades ou de sucesso nos dará descanso.
O que é que Jesus concede aos que vêm a Si? E quem são os que Ele chama? O nosso Senhor é a fonte de toda a benção, convida a todos os que estão cansados e oprimidos para dar-lhes o descanso. Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11:28-30. Talvez os homens desconheçam a origem de toda a miséria, ou seja, a separação de Deus, o pecado. De qualquer modo, o mundo já não satisfazia os seus corações; eram miseráveis e, por conseguinte, os objetos do coração de Jesus.
O amor do Pai, em graça, na Pessoa do Filho, buscou os miseráveis para dar-lhes descanso, não meramente alívio ou simpatia, mas descanso a todo aquele que respondeu ao seu convite. O Senhor é o único que sabe do que precisamos. Ele nos ama de uma maneira exclusiva. Era a perfeita revelação ao coração daqueles que necessitavam de paz, de paz com Deus. Bastava vir a Cristo: Ele se encarregava de tudo e dava descanso. Mas há, no descanso, um segundo elemento. Este segundo elemento se relaciona aos momentos difíceis durante a nossa presença neste mundo. Porque, mesmo quando a alma se encontra perfeitamente em paz com Deus, este mundo apresenta ao coração muitas causas de perturbação.
As “noites escuras da alma” vem para todos de uma forma ou de outra, mas vem. A solidão chega quando Deus parece ter escondido a Sua face. Mas, Aquele que nos convida para Si, oferece perfeito descanso, pois, Ele está “assentado sobre um alto e sublime trono”. Nada pode perturbar aquele que ali se encontra. É o lugar do perfeito descanso para o coração. Conta-se que, há muitos anos, um homem velejou dos Estados Unidos para a Inglaterra num barco a remo com um único assento. Na comemoração da sua chegada, um repórter perguntou à esposa dele se ela teria duvidado do sucesso do marido. Ah, não – respondeu a esposa – eu conheço quem fez o barco.
Como filhos de Deus, podemos dizer: Porque sei em quem, pus a minha confiança, e estou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu tesouro até esse dia. 2Timóteo 1:12. O nosso Pai celestial é suficientemente grande para manejar tudo. Que Deus nos dê visão para vermos a Sua suficiência para que haja pleno e perfeito descanso das nossas almas! Voa a cotovia e do seu ninho canta./ Anunciando em voz alta / Sua confiança em Deus, e assim é feliz. / Embora surjam nuvens lá no céu. Ela não tem celeiro, e semente não semeia, / Contudo canta bem alto, e vive sem cuidados. /Nos dias nublados, e na escassez do pão, /Ela canta, e envergonha/ Os homens que, com medo da necessidade, se esquecem/ Do nome do Pai celestial./ O coração confiante está sempre cantando,/E se sente tão leve como se asas possuísse;/Dentro dele jorra uma fonte de paz. Tragam o bem e o mal, hoje ou amanhã,/O que quiserem trazer, /Sua vontade sempre há de prevalecer. Do Livro - O Segredo de uma vida feliz. Hanna Whitall Smith.

Solo Deo Glória

ATRAVESSANDO FRONTEIRAS

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra. Atos 1:8.
Quando o assunto é saber e fazer a vontade de Deus, os cristãos encontram muitas dificuldades. As razões são inúmeras mas, o cerne da questão é o sempre o mesmo: deixar de ter a Palavra de Deus como guia de fé e prática. É cada vez mais escasso o número de cristãos que buscam a orientação da Bíblia com o objetivo de descobrir a vontade de Deus para suas vidas. Porém, ela continua sendo a única fonte segura para conhecermos a Deus e Sua maneira usual de trabalhar e agir.
O livro de Atos é uma magnífica descrição do modo como Deus age para levar o seu povo a cumprir os seus desígnios. Nele está registrada a história da expansão do evangelho desde Jerusalém - o centro religioso dos judeus - até Roma, o centro político e geográfico do mundo antigo. Este livro escrito pelo médico Lucas, tem sido chamado desde o segundo século de: Atos dos Apóstolos. No entanto, se prestarmos atenção em todos os acontecimentos, ele deveria ser chamado de “Atos do Espírito Santo” ou “Atos do Cristo Ressurreto”.
Se por um lado, o livro de Atos relata a vontade expressa de Deus e seu agir, por outro, Ele registra as dificuldades dos discípulos de Jesus em discernirem a Sua vontade. No livro de Atos, vamos encontrar um “grupo” de preconceituosos que não conseguiam enxergar nada que estivesse fora do seu círculo racial. Apesar de Jesus, em todo o seu ministério, ter demonstrado que a graça não se limitava ao povo judeu, os discípulos ainda viam o mundo a partir das lentes “bairristas” do judaísmo.
O Senhor Jesus sempre dizia e demonstrava com suas ações que, o amor de Deus não se limitava a um único povo. Porém, a lição não havia penetrado em suas consciências. Nem mesmo a ordem do Senhor Jesus: Ide portanto, fazei discípulos de todas as nações, Mateus 28:18, reiterada pelas suas últimas palavras: Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, Atos1:8, não conseguiram motivá-los a avançar com o evangelho aos quatro círculos concêntricos – Jerusalém, Judéia, Samaria e confins da terra.
O Espírito Santo foi dado, tanto para capacitar os apóstolos a levarem o Evangelho por todo o mundo e para todos os povos, como também, a sua descida no dia de Pentecostes demonstrou que, o Espírito não era somente para eles. A concessão da capacidade sobrenatural aos cristãos para falarem em línguas tinha como objetivo, a evangelização de todos os povos.
Com o poder do Espírito Santo ainda vibrando através de seus testemunhos, os apóstolos não hesitaram em cruzar rapidamente o primeiro dos quatro limites mencionados por Jesus. Eles evangelizaram Jerusalém sem problemas. Os críticos logo se queixaram: Enchestes Jerusalém de vossa doutrina. Atos 5:28. O comentário era que, em Jerusalém se multiplicava o número dos discípulos, Atos 6:7. Porém, permaneceram somente ali.
Deus lançou mão de medidas extremas para impedir que a salvação - em Seu Filho - dada à humanidade, acabasse como propriedade exclusiva de um único povo – os judeus. A solução divina foi muito simples, embora penosa. Ele dispersou os cristãos mediante uma perseguição. Os inimigos que atacaram os seguidores de Jesus jamais sonharam estar cumprindo a vontade de Deus: Levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. Atos 8:1.
Porém, nem mesmo a perseguição conseguiu desalojar os apóstolos de Jerusalém. “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.” Filipe, não o apóstolo Filipe, mas um dos sete diáconos que aparecem no capítulo 6, foi quem abriu o caminho para o segundo ciclo de evangelização conforme Atos 8:4-8, Filipe, descendo `a cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo... houve grande alegria naquela cidade. Somente depois que Felipe, um “leigo”, abriu as portas para o povo samaritano é que, Pedro e João foram enviados pelos demais apóstolos, para aquela cidade vizinha.
Enquanto isso, o mesmo leigo corajoso chamado Felipe, avançava como um soldado em batalha, a serviço do Espírito Santo, em uma nova missão transcultural. Ele, diante da ordem do Espírito Santo, obedeceu e foi pelo caminho do deserto, onde encontrou um etíope que assentado no seu carro vinha lendo o profeta Isaías . Era um eunuco, alto oficial de Candace rainha dos etíopes, e sua dúvida estava no versículo 7 de Isaías 53. Como cordeiro foi levado ao matadouro; e , como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca, Atos 8:32. O eunuco pediu explicação a Felipe, o qual começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus, Atos 8:35. O etíope aceitou a Palavra e pediu para ser batizado naquele mesmo dia. O evangelho estava chegando até a Etiópia.
Em Atos 9:32 e 11:18 vemos os apóstolos seguindo as pisadas de Felipe. Pedro foi ensinado pelo Senhor através de uma visão a estar livre dos seus preconceitos anti-gentilicos. Pregou para Cornélio e viu a manifestação do Espírito Santo descendo sobre os gentios.
Em seguida o evangelho também chegou em Antioquia, local onde os seguidores de Jesus foram pela primeira vez chamados de cristãos.. Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.” Lemos então: “A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor. Atos 11:21.
Diante da imobilização dos apóstolos e do envio de outro “leigo” – Barnabé - para a pregação do evangelho em Antioquia, o missionário e escritor Don Richardson, ironicamente escreve: “Porque um delegado para Antioquia? Será que Pedro, João e o resto deles estariam sofrendo de uma enfermidade humana muito comum, chamada ‘febre de quartel-general ?”’
O próprio Don Richardson apresenta algumas possíveis hipóteses. Será que eles desejavam permanecer juntos, desfrutando da comunhão dos irmãos? Será que precisavam permanecer em Jerusalém para garantir que a cidade Santa fosse o centro da nova fé, assim como era do judaísmo? Seria porque eles teriam se casado e suas esposas não queriam acompanhá-los em suas longas viagens? Ou era o medo de perderem suas posições de autoridade caso se aventurassem em algum trabalho missionário?
Assim, os apóstolos permaneceram em Jerusalém ano após ano, em lugar de avançar pelo poder concedido a eles por Deus, em missões transculturais. Quem poderia qualificar-se para realizar o que os apóstolos, escolhidos pessoalmente por Jesus e cheios do Espírito, estavam em grande parte deixando de fazer?
Aquele que poderia ser o último aos olhos da igreja primitiva a assumir este posto, foi quem Jesus comissionou. Saulo, Saulo... por que me persegues? Atos 9:4-6. De perseguidor Saulo se torna perseguido e tornar-se-ia o grande missionário e a figura preeminente da igreja durante aquele período. Sobre Paulo, o próprio Jesus ao incumbir Ananias de uma missão, proferiu as seguintes palavras: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome. Atos 9:15
Juntamente com Barnabé, Paulo organizou a igreja em Antioquia. Uma igreja sem as amarras das estruturas judaizantes. Dá-se então, a formação da Eclésia. A Igreja de Antioquia é a primeira com visão missionária - segundo a orientação do Espírito Santo. Disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que tenho chamado. Então, jejuando e orando impondo sobre eles as mãos, o despediram. Atos 13:2-3. Eles foram enviados para o mundo gentio.
Paulo e Barnabé declararam mais tarde, corajosamente. Eis aí que nos volvemos para os gentios, porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. Atos 13:46-47. A divisão tinha sido feita. O cristianismo e o judaísmo eram agora religiões separadas.
A lição do imperativo transcultural e universal não foi algo fácil de ser aprendido. E ainda hoje continua difícil para nós. Quando se trata de saber onde, e como Deus quer nos ver cooperando com ele, nosso melhor exemplo é Jesus. Jesus quebrou todas as barreiras que separavam a eternidade do tempo, a divindade da humanidade, a santidade do pecado. E na cruz destruiu todas as barreiras geográficas, raciais, econômicas, sociais e culturais quando atraiu para si mesmo toda a humanidade para ser liberta do pecado. “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todo a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer”. João 12:31-32.
Durante a sua vida, Jesus cumpriu cabalmente, todas as tarefas que Deus lhe deu. Jamais deixou de realizar a vontade do Pai. Mas Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também... Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz igualmente. Porque o Pai ama ao Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz; e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis. João 5:17,19,20.
O Pai trabalha e Jesus se dispôs a trabalhar com o Pai. Jesus diz que nada faz por sua própria iniciativa, mas faz apenas aquilo que o Pai está fazendo. Pelo fato de existir um relacionamento de amor entre os dois, o Pai sempre mostra tudo o que Ele mesmo está fazendo. Este é o segredo para fazermos sempre a vontade de Deus: perceber onde Deus está agindo e juntar-se a Ele.
Ainda há muitas fronteiras para serem atravessadas pela Igreja. Mas, assim como Cristo atravessou todas as fronteiras para nos resgatar e nos dar a sua vida, nós também agora podemos atravessar todo tipo de fronteiras para fazê-Lo conhecido. Esta é a nossa missão: conhecer a Cristo crucificado, e torná-lo conhecido por todo lugar, por meio da graça. para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confesse que jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2:10,11.

Solo Deo Glória

PERDÃO, POR NÃO PERDOAR!

Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Mateus 18:21.
Certa ocasião C. S. Lewis disse: “Todos consideram o perdão uma idéia muito bonita até precisarem perdoar alguém”. Ray Pritchard, em seu livro O poder terapêutico do perdão conta que recebeu um e.mail de um desconhecido que estava lutando para perdoar aqueles que o feriram. Tratava-se de uma pessoa que, por causa de fatos ocorridos em sua infância, vivia nutrindo raiva e ódio em seu coração. Era um homem que havia sido abusado por um vizinho quando criança. Esse trauma, aliado ao fato de não ter recebido carinho e atenção de seus pais, transformou a sua vida num caos.
Eis um trecho daquilo que estava no e.mail: “Só este ano, por meio da oração e da ajuda de um conselheiro cristão, é que estou começando a deixar o passado para trás. Ainda tenho dificuldade de lidar com a raiva, e talvez até do ódio, que sinto do meu pai. Precisei ir ao cemitério visitar o túmulo dos meus pais e ter uma conversa de cerca de duas horas com eles para começar a deixar para trás essa raiva que me manteve num estado de tristeza constante ao longo de grande parte da minha vida adulta”
Ray relata que este homem tinha prazer em ajudar as pessoas. Porém, julgava-se capaz de “consertar” pessoas e problemas. Foi somente quando começou a confrontar os fatos de sua infância, sem poder negá-los ou consertá-los é que pôde reconhecer que só Deus poderia fazer isso. Esta foi sua primeira lição para aprender o que é perdoar.
Essa história ilustra muito bem como o perdão é uma questão de disposição interior. O perdão é fundamentalmente uma decisão interior de recusar-se a viver no passado. É uma escolha consciente que nos levar a cortar os fios que nos prendem ao passado e que, conseqüentemente, nos impedem de estar inteiros no presente. Esses fios podem ser tão sutis, que nem nos damos conta de que eles ainda nos mantêm ligados a um passado recente ou muito remoto. Experiências antigas deixam marcas tão profundas em nossas vidas de tal modo que, mesmo não tendo consciência delas, interferem em nossas ações cotidianas.
Na realidade, o perdão é uma questão espiritual. O perdão começa no íntimo do coração para depois se manifestar exteriormente. Em sentido profundo, todo perdão, mesmo aquele oferecido a alguém que lhe causou grande mágoa, é algo entre você e Deus. As pessoas podem ou não entender ou reconhecer esse fato. A questão do perdão é como um espelho fiel do estado do nosso coração em relação à compaixão, sensibilidade interpessoal e misericórdia. Por esta razão, é um assunto tão importante para todo cristão se aprofundar. Neste texto vamos analisar principalmente dois aspectos do perdão. Primeiro, porque devemos perdoar e, segundo, porque podemos perdoar.
O Senhor Jesus ensinou preciosas e redentivas instruções sobre o perdão. Para os rabinos da época de Jesus, o perdão deveria ser concedido a uma pessoa até três vezes. O apostolo Pedro querendo ser mais generoso arriscou um novo parâmetro: até sete vezes. Porém Jesus demonstrou o poder ilimitado do perdão, setenta vezes sete. Em seguida contou essa história.
Um homem que devia uma quantia enorme (10.000 talentos) ao rei foi convocado para fazer um acerto de contas. Com pernas trêmulas, dirigiu-se ao palácio, certo de que sairia de lá para a prisão ou para o cativeiro. Devia ao seu senhor uma quantia que jamais poderia pagar. As perspectivas mais sombrias se projetavam sobre ele e toda a sua família. “Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga.” Mateus 18:25. Sua única esperança era saber que o rei gozava de merecida fama por ser um governante misericordioso e justo. Então decidiu clamar por misericórdia para que protelasse a cobrança de sua dívida.
O rei fitou-o com profunda compaixão, bem consciente de que o homem jamais conseguiria quitar a enorme quantia, “mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida”. Mateus 18:27. Saindo do palácio, encontrou um companheiro que lhe devia uma pequena soma. De repente, foi tomado de uma fúria incontrolável, “e, agarrando-o, sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves.” Então a cena se repetiu. O seu companheiro clamou por misericórdia e pediu que prorrogasse a cobrança de sua dívida. “Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida”. Mateus 18:31.
Algumas pessoas, que presenciaram as duas cenas foram procurar o rei para relatar o acontecido. A reação do soberano não se fez esperar. Mandando chamar de novo o homem que havia perdoado, confrontou-o com sua maldade. “Que grande mal você praticou! Quando me suplicou, perdoei a enorme quantia que me devia. Não seria de esperar que mostrasse a mesma compaixão para com aquele que lhe devia uma quantia muito menor?” Mateus 18:32-33. Assim, o rei ordenou aos guardas, que entregasse aquele homem aos torturadores até que toda a divida fosse paga. O Senhor Jesus conclui a história dizendo: “Assim também meu Pai celeste vós fará, se do intimo não perdoardes cada um a seu irmão”. Mateus 18:35
Essa história, registrada em Mateus 18:23-35, foi contada por Jesus para ilustrar a importância do perdão. Não era a primeira vez que Jesus usava o conceito de dívida ao ensinar sobre o perdão. Em Mateus 6:12, ele mostrou como devemos orar dizendo: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.” No final da oração Ele deixa bem claro as conseqüências de não perdoarmos a quem nos ofende. Se não perdoarmos, não seremos perdoados. E como vimos na história do credor incompassivo, nosso destino será o de viver nas mãos dos atormentadores.
Esta história revela a natureza e o modo de agir de Deus. Expõe o coração cheio de misericórdia e compaixão de Deus em comparação ao coração insensível, impiedoso e sem compaixão daquele que não perdoa. A Bíblia demonstra que “Deus é grandioso em perdoar” Isaías 55.7. No salmo 130 lemos a seguinte indagação: “Se tu, ó Senhor, observares as iniqüidades, ó Senhor, quem subsistirá? Mas contigo há perdão; portanto és temido.” Salmo 130:4. O coração de Deus expressa a graça que perdoa. Sendo assim, os filhos de Deus devem ser imitadores do Pai e do Filho, sempre dispostos a perdoar. Como está a sua vida neste momento? Seu coração está cheio de amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, mansidão e domínio próprio ou está cheio de inquietação, angústia, raiva, ressentimento, amargura?
Na Sua parábola, Jesus mostrou claramente que o homem não desejou perdoar seu conservo. Ele estava ensinando que não perdoamos porque não queremos. “Querer” diz respeito à nossa vontade, à maneira como agimos. Quando isso acontece estamos bloqueando a ação do Espírito em nossa vida. A inquietação, a angústia, a raiva, o ressentimento e a amargura são os atormentadores que se instalam em nosso coração para nos perturbar, e nos impedir de gozar a liberdade que o perdão traz. Ressentimento ou raiva é o “veneno” que mais tem destruído vidas no mundo em que vivemos.
Muitos dos problemas existentes a nossa volta tais como: desentendimento familiar, falta de unidade e harmonia entre cônjuges, pais e filhos, problemas de solidão, depressão, descontrole emocional, vários casos de enfermidades psicossomáticas e até loucura, podem ser conseqüências diretas da falta de perdão na vida de uma pessoa. “Perdoar é libertar um prisioneiro e depois descobrir que esse prisioneiro é você mesmo.”
Se quisermos ser verdadeiramente inteiros e portadores de uma vida que expresse a vida de Cristo temos que reavaliar os nossos sentimentos em relação aos outros. Quando Jesus usou a palavra dívida, quis mostrar um aspecto fundamental do ato de perdoar. A palavra grega traduzida como “perdoar” significa literalmente cancelar ou remir. Significa a liberação ou cancelamento de uma obrigação. Por isso, foi algumas vezes usada no sentido de perdoar um débito financeiro.
Se pensarmos em termos de dinheiro, fica mais fácil entender exatamente por que Jesus usou essa expressão. A escritora Wanda de Assumpção, exemplifica com as seguintes palavras: “Suponhamos que você me peça 5000 reais emprestados, prometendo pagar-me em dois meses. Esse dinheiro é meu por direito e posso dispor dele como quiser, mas estou contando com ele para saldar meus próprios compromissos no final dos dois meses. Se, passado o prazo, você não me pagar, quem sairá perdendo? Você usou o dinheiro que não era seu como quis e agora não tem como pagar. Eu fiquei sem algo que era meu, a que tinha direito, e que agora me faz muita falta. Se eu perdoar a sua dívida, ficarei mais pobre na mesma quantia que você me deve.”
Em outras palavras, perdoar é doar a perda. É aceitar o prejuízo. É privação de algo que, por direito, era meu. Tenho que absorver a perda daquilo que faria uma diferença grandiosa em minha vida. E se eu vier a passar fome ou outra necessidade básica por sua causa, ficará ainda mais difícil me conformar com essa perda. Toda vez que a fome apertar ou o frio me incomodar, vou me lembrar de que você usou como quis aquilo que agora me faz tanta falta.
Vejamos por que é tão difícil perdoar. Usando essa analogia, vamos pensar agora em termos de alguma mágoa ou ofensa que alguém tenha cometido contra nós. O que acontece na área financeira acontece também na área pessoal. Todos nós temos certas necessidades básicas que precisam ser satisfeitas. Da mesma forma que precisamos de água e alimento para sermos saudáveis, nossa alma precisa de amor e afeto para sermos emocionalmente saudáveis. Todo ser humano precisa da segurança de sentir que alguém o ama incondicionalmente, e que o valoriza por ser quem é, não por alguma coisa que possa fazer. Assim, quando alguém me rejeita, de alguma forma maltratando, desprezando, abandonando, gritando comigo, cobrando ou criticando, está tirando um pouco da minha segurança e do significado da minha vida.
Quando alguém tira algo precioso de mim, quando não sou amado, quando não me tratam bem, é normal me sentir diminuído, com medo, confuso e sozinho. Fico então diante de duas alternativas. Na primeira, exijo que o meu devedor devolva aquilo que me tirou. Afinal, dívida é dívida! Por isso, fico agarrado ao pescoço do devedor até que devolva o que me tirou, remoendo vez após vez a ofensa cometida contra mim. Na segunda alternativa, decido perdoar, abrindo mão do que me é devido e até desejando que a outra pessoa possa fazer bom uso daquilo que é meu. Mas, muitas vezes dizemos: “Sim, sei que devo perdoar. E quero perdoar. Mas não consigo.”
Nós somente podemos perdoar, porque fomos perdoados, aceitos e reconciliados. A boa nova do evangelho é que Jesus pagou o preço por nossos pecados com sua morte na cruz. O perdão, então, é um ato no qual o ofendido livra o ofensor do pecado, liberta-o da culpa pelo pecado. Este é o sentido pelo qual Deus “esquece” quando perdoa, como diz Hebreus 8:12: “Pois serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados e de suas iniqüidades não me lembrarei mais” .
Entretanto, Deus já nos deu o suprimento que precisamos para perdoar. Deus por meio do Seu Filho Jesus Cristo, já proveu tudo o que precisamos para usufruir de uma vida plena de alegria e gozo, abundante em realizações. Esta é a vida que Jesus prometeu nos dar. Primeiramente, Deus perdoou todas as nossas dívidas e nos vivificou por meio de Cristo Jesus. “E a vós outros que estáveis mortos nos vossos pecados... vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os nossos pecados, tendo cancelado o escrito de divida que era contra nós...” Colossenses 2:13-14a. Deus aceitou a morte de Jesus como o pagamento de nossos pecados e nos transferiu para uma outra esfera de vida, mediante a nossa união na morte e ressurreição com Cristo. Em segundo lugar, Nele temos a satisfação de todas as nossas necessidades. “…pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2 Pedro 1:3, grifo meu). Assim, em Jesus, temos o amor incondicional por que tanto anelamos.
Como disse Henri Nouwen. “O Evangelho liberta-nos da cadeia de ferimentos e necessidades, revelando-nos uma compaixão que pode fazer mais do que apenas reagir fora das necessidades que brotam de nossos ferimentos. Faz isso trazendo-nos a uma aceitação que antecede a qualquer aceitação ou rejeição humana. E esse amor original a tudo abrange; detém o poder de amar inimigos tanto quanto os amigos; o poder de permitir-nos amar desse modo. Esse é o amor que nos faz filhos e filhas do “Altíssimo”’. Esta é nossa verdadeira identidade. Nada pode nos tirar desta posição de aceitos e amados de Aba.
Por pertencermos ao reino dos céus, já ganhamos crédito ilimitado para perdoar todas as ofensas, feridas e prejuízos desta vida. Além disso, toda vez que perdoamos uma dívida, recebemos imediatamente a mesma quantia multiplicada na nossa conta. Esse crédito, nada mais é do que o amor de Deus que temos em Cristo Jesus.
Solo Deo Glória